Damnares escrita por Meg_Muller


Capítulo 4
Sede de Vingança - Parte 1




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Alana estava deitava na cama real enquanto empregados iam e vinham preocupados com a preparação de tudo para a cerimônia. Azolf ia homenagear um dos melhores reis que o reino já vira. O reino perdera um líder e a menina em soluços perdera o pai.

Não devia chorar. Seu pai odiava choro, lamento e arrependimento. Porque ele sempre disse que ao invés de derramar lágrimas, deveria derramar sangue culpado dos inimigos ao lado. Ela não era tão forte quanto eles, não fizera nada além de gritar ao ver as figuras monstruosas que chamavam de damnares.

E eles levaram o que ela tinha de mais precioso. Parou de chorar limpando o rosto quando tudo por um segundo ficou claro em sua consciência. Sabia o que seu pai ia querer que fizesse. Ele sempre dissera o quanto ela era mimada e fraca. Pois agora ela mudaria isso pra sempre.

Levantou da cama dos seus pais e saiu pelo corredor apressada em busca do único que ela achava que poderia ajudá-la naquele momento. Não ia mais ser fraca. Não ia mais gritar. Não ia mais chorar. Ia honrar a morte do seu pai do jeito que ele se orgulharia de ver se ainda estivesse vivo.

-Alana! – Ouviu uma voz feminina soar autoritária, sem demorar muito pra encontrar a figura feminina da mãe. – Está quase na hora da cerimônia e você com esses trajes!

A mulher agora estava a poucos passos da filha que só queria ter continuado seu caminho sem ser interrompida.

-Preciso fazer algo importante. – Alana murmurou quando sentiu as mãos da rainha segurarem-na pelo pulso a arrastando em direção ao seu quarto.

-Mais importante do que se preparar pra cerimônia em homenagem a memória de seu pai?  - A mulher rebateu sem desistir de arrastar a pequena pelo corredor.

-Mas estou pronta assim! Papai gostava desse vestido! – A menina brigou ainda tentando se soltar da mãe que agora já entrara no quarto da princesa, onde já havia um vestido lindo preparado pelos servos em cima da cama.

-Olhe pra si mesma, meu bem. – A mãe murmurou agora um pouco mais calma ao ouvi-la falar do pai e imaginando o que ela estava passando. – Tem até sangue nesse, filha. Vamos vestir outro, tudo bem?

Alana olhou pra baixo percebendo as gotas de sangue que realmente estavam em seu vestido, não era do seu pai, era do garoto que o seu pai ferira antes de morrer. Darin... não sabia o que pensar. Estava tudo tão turvo na sua mente e a única coisa que continuava latente era o corpo do seu pai sem vida ao seu lado. Apenas isso.

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Darin acordou dando um longo bocejo e sentando no lugar onde dormira. Olhou ao redor tentando identificar onde estava. Tudo estava sujo, desorganizado e com um fedor horrível de sangue. Sorriu reconhecendo o lugar inóspito que a Astrid chamava de casa.

Sorriso que não durou muito até que imagens da noite anterior começaram a invadir sua mente. Humanos. Gritos. Cortes. Sangue. Damnares. E tudo parecia se misturar e depois não fazia mais nenhum sentido. Passou a mão pelo próprio corpo sem identificar nenhuma cicatriz ou algo que indicasse que tinha sido ferido, talvez tivesse sonhado tudo aquilo.

Levantou em busca de algo comestível, parecia ter um buraco na sua barriga, sentia como se não tivesse comigo por dias. Então lembrou a desvantagem de estar na casa de Astrid. Ela nunca comia nada de bom. Mas às vezes deixava umas frutas na mesa que ele conseguia alcançar.

Por conseguir voar o lugar que Astrid morava era enorme e quase todos os lugares eram impossíveis de alcançar para alguém do tamanho dele que ainda por cima não tinha asas. Conseguiu ver uma cesta de maçãs que infelizmente não seria dele por estar em uma prateleira quase dois metros acima. Tentou saltar, jogar algo pra alcançar, mas por fim acabou puxando a mesa de modo que pudesse subir e facilitar o salto pra alcançar a cesta.   

Foi bem sucedido afinal mordendo a maçã, satisfeito e sentindo todo o sabor doce da vitória, literalmente. Na terceira maçã viu a sombra de alguém com asas ser feita na porta da casa e em segundos Astrid entrou, sorrindo ao vê-lo com a cesta.

-Que bom que acordou. – Ela murmurou colocando duas cestas que acabara de trazer em cima da mesa, que pelo cheiro ele podia jurar que eram pães e outras frutas, itens que não fazia parte da alimentação dela. – Trouxe pra você, pequeno.

Ele levantou num rompante saltando pro lado dela abrindo a cesta, ansioso. Já estava mesmo cansado das maçãs.

-Trouxe só pra mim, Ast? – Ele perguntou curioso já com metade de um dos pedaços de pão que tinha na cesta na boca. – Você nunca traz essas coisas pra mim. Sempre diz daquele jeito chato “Se não gosta de carne, come na Ofélia” – Ele continuou imitando a cara de brava que ela fazia quando ele reclamava da comida dela.

-Eu estou de bom humor hoje então. – Ela murmurou sorrindo de novo fazendo-o fita-la mais curioso ainda. Astrid não era conhecida pelo seu bom humor e muito menos pela sua gentileza. Foi quando a observou bem e percebeu alguns cortes na asa e até um buraco tapado com alguma gosma verde.

-O que aconteceu? – Ele perguntou fazendo-a perceber pra onde ele olhava. Droga. Não queria entrar naquilo agora.

-Nada... – Ela murmurou encolhendo as asas atrás de si pra tirar a atenção do menino. – Eu trouxe até morangos, acredita?

Darin não parecia mais preocupado em comer, já tinha até deixado o pão de lado e se aproximado dela em um salto.

-Isso parece de uma flecha... – Ele murmurou pensativo tocando nas asas dela que se mexeu desconfortável. – Isso foi uma flecha humana, Ast?

-Darin, isso foi...

Uma imagem repentina do corredor de um castelo, sangue, gritos, Astrid e Chad voando em sua direção vieram subitamente a sua cabeça. Os humanos foram extremamente hostis com ele imagina com Astrid e Chad.

-Bestas... – Ele murmurou com a voz fraca visivelmente atordoado – Era assim que chamavam damnares... minha mãe...

-Darin, não pensa nessas coisas! Ontem foi um dia que deve ser esquecido e...

-Esquecido!? – Ele praticamente gritou e ela pode sentir o cheiro de lágrimas mesmo que o pequeno não a encarasse – Ele disse que eu matei minha mãe... porque eu sou um monstro...

Astrid não soube o que dizer e em poucos segundos as lágrimas dele já corriam livremente acompanhadas por soluços. Ela não soube o que dizer apenas puxando ele pelos braços e deixando que ele dissesse tudo o que queria entre seus braços.

Todos os flashes começaram a fazer sentido, e agora iam bem além do castelo e as crianças. Ia pro começo de tudo. A carta que ele deixara pra Astrid, a floresta e os dois damnares que ele conheceu perto do rio.

-Até os damnares... me chamaram de aberração... – Ele murmurava entre soluços em um som quase inaudível. – Ele era enorme, de olhos vermelhos e...

Astrid sentiu o corpo do menino enrijecer, e ela imaginou que tinha sido por se lembrar de Lars, mas quando ele forçou o corpinho pra longe do dela a afastando com as mãos, ela engoliu seco imaginando que ele se lembrara do que ela temia.

-Você... – Darin murmurou passando as mãos pelas próprias costas pra constatar que a cicatriz estava ali. Estreitou os olhos inchados de choro pra Astrid que abriu a boca sem conseguir dizer nada.

Ela não conseguia dizer se a expressão dele era confusa, revoltada ou simplesmente assustada. Só o que queria era ter algo pra dizer que soasse melhor do que um: Enfiar as garras em você foi o melhor que eu pude fazer.

-Eu não tinha outra opção, pequeno. Se o Lars te encontrasse eu não sei...

Darin tomou aquilo como ela confirmado tê-lo atacado em um dos seus momentos mais frágeis, assim como praticamente todos que conhecera fora daquela floresta. Ele até pensou que ela pudesse ter algo pra dizer, mas estava tudo turvo demais.

Ele tinha sido acusado de matar a própria mãe, chamado de aberração pelos damnares e a única menina além de Mais que o “vira” o acusava de ter comido o irmão dela. Era demais. Até mesmo Astrid tinha o agredido da forma mais covarde possível.

Saltou do lugar onde estava o mais forte que conseguiu conseguindo atravessar a porta. O que se arrependeu pouco tempo depois lembrando que a damnares morava em uma montanha e pra subir ou descer da casa dela tinha que se usar toda a cautela possível.

Esperou o impacto com o chão que não veio ao sentir algo segurá-lo por ambos os punhos.

-Me larga! Eu não preciso da sua ajuda! - Ele gritava enquanto balançava o próprio corpo na intenção de que ela o soltasse, o que seria complicado em vista da altura que ambos estavam em relação ao chão.

-Filhote estúpido, está tentando se matar!? – Ela perguntou áspera enquanto voava curiosamente na direção oposta a sua casa.

-Nada que você não tenha feito! Não tentou me matar também? – As palavras dele sairiam quase tão ásperas quanto ás dela se não tivessem uma frustração enorme nas entrelinhas.

-Eu não tentei te matar idiota! – Ela rebateu ainda sem interromper o vôo enquanto ele não desistia de se ver livre das mãos dela.

-Estava só treinando então! Me atacando enquanto eu corria ensangüentado por ter sido atacado por alguém quase igual a você! E o Chad também! Ele é um general de damnares, tipo de guerra! Vocês mentiram! Me enganaram esse tempo todo! – Astrid apenas o ouvia gritar formulando em sua cabeça tudo o que estaria prestes a contar pra ele. – Me larga sua mentirosa! Me solta aqui mesmo, eu não preciso de você!

A damnare finalmente chegou onde pretendia. Era uma montanha enorme, a maior que Darin já tinha visto do topo e sem pensar duas vezes ela o colocou em uma pedra fixa ao solo. Há tantos metros do chão que Darin sentiu um frio na espinha.

-É melhor não tentar saltar de novo... – Ela murmurou pousando ao lado dele que secou as lágrimas que ainda escorriam com as costas das mãos, como se ela não pudesse vê-lo chorando. – Você pode ver de Umbra até Belzor dessa montanha.

Astrid apontou algum lugar atrás dele para o qual o pequeno olhou seguindo os dedos dela. Era um lugar tão grande que ele nem conseguia enxergar o fim. Tinha um rio enorme que saia da floresta onde eles moravam e iam até lá, onde ele supôs ser Umbra.

As árvores tinham um grande espaço entre si, o que facilitava o vôo na opinião dele e tinha muitas, muitas montanhas, de todos os tipos e formas que se podia imaginar. E muito ao fim você podia enxergar uma torre, ou um castelo, não sabia dizer ao certo pela distância.

-Umbra, onde os damnares vivem e sentem a liberdade de não ter que lidar com humanos. – Ela comentou apontando agora pra uma fileira de montanhas que formavam o que ele diria ser uma quase barreira, interrompida apenas pelo rio que vinha da floresta Gnuzo. – É impossível que um humano chegue lá pelas montanhas, e improvável que tentem pelo rio.

-Eles não conseguiriam nas montanhas sem asas... – Darin constatou observando bem tudo o que lhe era mostrado, Astrid nunca tinha contado nada daquilo antes, nem comentado a respeito de damnares ou humanos fora da floresta Gnuzo onde moravam. – Mas porque não pela floresta?

-A floresta Gnuzo é o lugar aonde humanos não vão por medo de damnares e outras coisas horríveis que eles dizem ter por lá... – Ela murmurou voltando atenção para o outro lado. – Nessa direção é Alzof e Belzor, logo além da floresta Gnuzo. Olha, dá pra ver minha casa... não é agradável.

-Sua casa é torta e parece fedorenta até a essa distância Ast. – Ele falou em um tom brincalhão enquanto ela fazia uma expressão ofendida. – Acho que Chad pode conseguir sentir o cheiro ruim mesmo daqui.

Os dois riram por algum tempo até que Darin voltou à expressão anterior, lembrando de afinal porque estava ali e todas as outras coisas que ainda martelavam na sua cabeça que ele ainda não conseguia entender. Ast era sua melhor amiga e não uma assassina, e Chad não parecia ser do tipo que mentia. Tudo dava voltas e voltas.

-Eu sinto muito... – Ela murmurou sentando no chão de frente pra visão magnífica da floresta por aquele ângulo. – Eu te machuquei, mas minha intenção era te salvar e não te matar.

-Enfiando as garras em mim? – Ele perguntou cedendo um pouco e sentando observando a mais velha.

-Não tinha outra opção, Lars não ia parar até que estivesse morto... – Ela começou e ele sentiu uma pontada ao ver que até mesmo o outro que o atacara ela conhecia. – Ele estava seguindo o cheiro do seu sangue, e eu não podia fazer nada contra ele sem te tirar dali primeiro. Te deixei ferido o suficiente pra que se transformasse em humano e te levei até Azolf, tentei voltar antes que voltasse ao normal, mas...

-Tudo bem, Ast. – Ele comentou vendo a posição desconfortável em que ele nunca a vira antes. Nem se lembrava se já havia a visto pedir desculpas antes. Provavelmente nem o Chad tenha a visto dizer que sentia muito. – Você me salvou duas vezes, então. Só estou bravo, porque todo mundo queria me matar... e eu nem sei por quê.

Astrid suspirou percebendo que era apenas até ali que ela iria com tudo aquilo. Com toda a mentira e abafamento sobre a criança e seu passado. O que acontecera no dia anterior era a prova de que a tática do Chad não era nem a mais fácil e nem mesmo a mais segura.

-Aquele que te atacou na floresta Gnuzo era Lars, um dos filhos do Lorde dos damnares Aodh. – Ela começou sentando de frente pra ele tomando toda a cautela possível pra não fazer aquilo parecer tão grotesco quanto era. – Lars é ruim, e não gosta de ninguém nas terras deles.

-Nem outros damnares?

-Outros damnares sim, mas você não é apenas um damnare. Você é especial. Você é damnare e humano. – Ela falou devagar medindo cada palavra.

-Minha mãe é humana, eu sei agora Ast. E ela morreu. Mas eu nem encontrei meu pai... ele vive na terra dos damnares, não é?

Podia dizer que sim e fazê-lo voltar a uma busca perigosa naquelas terras. Podia dizer que não e provocar na cabecinha dele outras milhões de possibilidades ou ela poderia apenas dizer que ele estava morto. Mas não podia manter Lars calado por tanto tempo, e se quando ele descobrisse fosse da pior forma possível?

-Ele, bom Darin, seu pai não é um damnare bom... – Ela murmurou na esperança de que apenas aquilo acabasse com a exorbitante curiosidade dele. – Seu pai é um dos motivos pros humanos acharem que somos monstros...

-Mas ele ficou com a minha mãe! – Ele rebateu lembrando-se de quando Laila explicara sobre como funcionava a vida de crescidos. – Laila disse que duas pessoas se amam e assim vem um filho! Eles se amam e pedem as estrelas, que se perceberem que eles se amam de verdade dá um filho a eles. Então as estrelas me deram. Meu pai não pode ser ruim com humanos, Ast.

Astrid olhou incrédula pro garoto a frente percebendo que aquilo ficara bem mais complicado do que planejara. Como explicaria que o inescrupuloso Aodh violentara a mãe dele em um plano macabro pra acabar com a união de Alzof e Belzor, sem derramar uma gota de sangue damnare? Já que ele não considerava o próprio filho um legitimo damnare.

-Tudo bem não saber sobre meu pai Ast, não se sinta mal. – O menino acalmou percebendo a expressão desesperada dela. - Mas você conhece o damnare que me atacou?... Olhos vermelhos e cabelo igual ao seu e rosto também e até as asas bem grandes assim... Sabe porque ele fez isso? Porque se eu voltar lá quero explicar pra ele...

-Você não vai voltar lá! – Ela explodiu em um tom bem mais agressivo do que gostaria fazendo ele fita-la assustado depois de ter sido interrompido. – É que, o Lars não é bom. E nem Aodh o pai dele... eles não gostam de filhos de damnares com humanos Darin.

Ele afirmou com a cabeça se perguntando se estaria tudo bem se ele perguntasse se eles tinham motivo pra isso. Porque era uma coisa tão boba na opinião do menino.

-Mas ele falou dos meus olhos! As crianças também! Ele disse que eu era uma aberração por eles serem vermelhos... mas os dele também eram e, os seus... os seus também são.

Agora tinha chegado a um ponto crucial. O que provava o parentesco entre Darin, Aodh, Lars e até mesmo ela. Até tinha vontade de contar ao pequeno que eram irmãos, mas isso envolvia tantas outras questões. Como explicaria pra uma criança que o irmão faria de tudo pra vê-lo morto, e o pai do mesmo jeito se soubesse que ele ainda vivia.

-Não há nada com os olhos! Lars é um idiota que acha que é melhor que todos os outros!

-E é por causa deles que você não gosta de Umbra?

-Exatamente. Pra mim eu sou melhor em Gnuzo na floresta proibida, com você e Ofélia e a...

-Laila! – Darin quase gritou pra si mesmo tendo esquecido ela completamente com tudo o que acontecera. Era devia estar enfurecida com ele.

-Ah, e eu resolvi uma coisa depois de tudo o que aconteceu... – Astrid murmurou puxando o menino de repente – Vou te treinar e te deixar forte.

-Forte como o Chad? – O menino perguntou sentindo o coração bater mais forte com um sorriso de orelha a orelha.

-Mais que isso... – Ela murmurou com um sorriso travesso. – O que acha de começar?

Antes dele conseguir responder sentiu seu corpo ser jogado pra fora da pedra em que sentava sentindo a adrenalina o consumir por longos segundos. Seu corpo caia a uma velocidade impressionante enquanto o vento forte o fazia esquecer tudo. Quando estava prestes a atingir uma das árvores sentiu braços ao redor da sua cintura e gargalhou alto.

-De novo! De novo! – Ele gritou divertido enquanto Astrid apenas sorria satisfeita por ele se dar por convencido com as respostas que ela dera, quando ele viesse perguntar sobre a mãe, a guerra e tudo mais ela diria aos poucos e tentaria aprender a ser sutil. O que não seria tão fácil.

-Mais rápido! Mais rápido Ast!

Mas por ele valeria á pena. A esse ponto era difícil imaginar algo que não faria pelo filhote que ainda gritava eufórico enquanto voava em seus braços.

-O que é aquilo? – Astrid parou pra prestar atenção pra onde ele apontava aonde uma nuvem de fumaça era formada aparentemente próximo ao castelo de Belzor.

-Não tenho a mínima idéia. – Ela murmurou tratando de mudar a rota tentando entreter o garoto e fazê-lo tirar a atenção de qualquer coisa que o levasse ao reino humano.

==

O reino inteiro se reunira pra ver o corpo do rei ser queimado em virtude de sua honra e valor nobre. Até a realeza de Belzor se fazia presente naquela cerimônia. Alana ouvia a mãe chorar atrás de si e não derramou uma lágrima sequer. Não ia dar esse prazer aos assassinos do seu pai, ia fazê-los chorar ao invés.

Todos expressaram seus sentimentos a ela e a rainha e saíram aos poucos. A menina esperou calmamente até o fim de tudo e buscou na multidão quem gostaria de ver. Nada. Apenas os mesmos rostos desconhecidos continuavam a vir e dizer elogios ao seu pai e prestar condolências.

-Eu sinto muito, Lana... – Ouviu Nico murmurar se aproximando em um abraço, correspondeu a um dos melhores amigos. – Eu posso pedia pra minha mãe pra ficar alguns dias se quiser...

Alana apenas assentiu com a cabeça sem saber exatamente o que dizer. Seria bom tê-los por perto de qualquer forma. Olhou pro lado vendo a mão de Otto estendida e os olhos castanhos cheios de revolta.

Ignorou a mão dele se aproximando e envolvendo os braços no corpo dele, que correspondeu murmurando algo que ela não conseguiu escutar, mas ainda assim ficou satisfeita ao ouvir a voz dele.

-Eu vou ajudar você e se clã Otto. – Ela murmurou com a voz fraca, porém decidida. – Agora eu também quero caçar damnares.

O menino de cabelos castanhos abriu os olhos olhando pra menina, incrédulo.

-Princesas não caçam Alana... – Ele murmurou com um tom de voz que ela nunca tinha escutado antes, era gentil e terno.

-Então não quero ser princesa. – A frase fez com que Otto e também Nico se assustassem agora, mas nem tiveram tempo de discutir, logo lá estavam mais desconhecidos querendo se mostrar presentes no momento de dor da princesa.

== Fim da primeira parte ==

As duas rainhas degustavam seu chá da tarde olhando sorridentes uma pra outra. Enfim o que tinham esperado tanto tempo pra acontecer tinha finalmente se concretizado.

-Não quero estragar o momento, Ana. – Uma delas começou olhando pela janela onde a vista era o jovem príncipe conversando com uma bela morena de cabelos curtos – Mas não acha que era com Alana, que Nicolas devia estar conversando? Eles estão noivos agora! Não fica bem ele e essa criada ficarem...

-Mina já não é criada há muito tempo... – Ana comentou calma apesar de também sentir certo incomodo entre a jovem e o príncipe de Belzor. – E eles são amigos há anos, Helena.

-Assim como sua filha e o Capitão da Guarda. – A rainha de Belzor murmurou com desgosto. – Todos aqui comentam que ela passa tempo demais com ele.

-Otto? – A rainha de Azolf perguntou balançando a cabeça negativamente. – Isso é apenas parte da obsessão que ela tem por monstros desde a morte do pai.

-Eu entendo o luto, mas isso não é motivo pra se comportar de forma tão fora dos padrões para uma princesa. – Helena rebateu fazendo Anna finalmente assentir com a cabeça.

-Vou falar com ela, Até ela precisa perceber que é uma nova agora e tem responsabilidades e uma imagem a manter.

Helena sorriu conseguindo o que queria, pensava no que era melhor pro seu filho e pro seu reino. E do modo desordeiro que Alana se comportava ultimamente não era o mais adequado.

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A morena prendeu os longos cabelos negros em um rabo de cavalo enquanto se aproximava do campo de treinamento de Belzor. Vestia um vestido simples feito de pano pra criados com alguns remendos, e não exibia nenhum pouco do brilho exigido pra uma princesa.

Ela conseguia ouvir o tilintar de espadas de onde estava fazendo-a apenas apressar o passo, feliz por finalmente ter voltado a Belzor e aquele campo, que era literalmente um dos seus lugares favoritos.

Chegou fitando de longe o belo capitão com seus cabelos castanhos desalinhados, travando um duelo de espadas contra um dos seus homens assim como vários outros. Mas era só ele que ela enxergava.

-Princesa! – Alguém gritou fazendo com que todos parassem pra olhar a figura feminina na beira do campo, ela acenou com um belo sorriso se aproximando agora que já havia atrapalhado mesmo.

-Como sempre se perdendo da realeza... – Ouviu o dono dos belos olhos cor de mel murmurar fazendo alguns rirem e ela mesma mostrar a língua tendo em vista a forma como estava vestida.

-Só gosto de me vestir de acordo com a situação. – Ela respondeu cruzando os homens que a olhavam, alguns com aversão a atitude e outros com apenas divertimento.

-E qual a situação? – Ele perguntou quando ela finalmente o alcançou no centro de todos os que treinavam.

-O de sempre... – Alana afirmou tirando a parte inferior do vestido revelando as calças que ela usava, assim como um cinto no qual prendia uma espada.

-Pensei que fosse parar com essa mania, se princesas não lutam imagine noivas. – Otto murmurou com certa frustração na voz fazendo-a abrir a boca, mas não conseguir pronunciar nada.

-E de qualquer jeito hoje estamos sérios aqui. – Comentou o que antes lutava com Otto percebendo a situação. – Temos que treinar pro grande plano.

-Grande plano? – Ela perguntou curiosa enquanto Otto balançava a cabeça negativamente pro homem que tentava falar.

-Isso. Vamos entrar na floresta Gnuzo amanhã assim que o sol subir ao topo, damnares são mais lentos com luz intensa. Agora que o nosso exército dobrou!

Os olhos de Alana brilharam e ela olhou pra Otto que já balançava a cabeça negativamente sem nem fitar os olhos verdes dela.

-Não mesmo.

-Pois então direi a todos em ambos os reinos que não haverá casamento, e veremos se consegue ir com apenas metade dos seus homens.

Otto sentiu seu sangue ferver com a audácia da jovem. Ela provavelmente não teria coragem de fazer algo tão infantil só por não ir também, não é? E metade dos seus homens realmente era de Alzof desde a notícia do casamento dela e Nicholas.

-Não tem como te lavar pra algo tão perigoso assim. – Ele murmurou esperando que ela entendesse enquanto a morena apenas lançou um olhar enfurecido virando-se de costas e ameaçando sair.

-Pois então já comece a rever seus planos pra apenas metade dos homens, Capitão.

-Não seja mimada, Alana.

-Mimo? Sério, Otto? Espero há anos encontrar os malditos olhos vermelhos que mataram meu pai! Porque acha que eu treino todos os dias? Porque acha que eu vou me casar?

Otto suspirou olhando os olhos verdes que agora beiravam a raiva.

-Tudo bem, Lana, mas já vou avisado que não vai ser fácil...

Alana sorriu satisfeita voltando e agarrando em um abraço Otto que em frente a todos os seus guardas tinha que fazer de tudo pra não corresponder de uma forma muito calorosa.

Até agora o maior feito daqueles homens incluído o próprio Otto, tinha sido matar damnares que invadiam o território deles. Já tinham matado muitos, sempre apenas um de cada vez e em grande quantidade de homens. Tinham um ótimo plano arquitetado e muitos homens para a missão.

Era arriscado, mas eles agora tinham dois exércitos em um graças ao casamento e, além disso, os métodos tinham ficado bem mais eficazes. Iam pegar no mínimo um dos damnares que viviam naquela floresta e trazer a cabeça pra comemorar a vitória. Era só nisso que conseguia pensar enquanto observava o sorriso de Alana que agora já estava com a espada em mãos duelando contra seu antigo adversário.

Não sabia dizer o que sentia com aquela cena. Sabia que estava feliz pelo casamento porque por mais que ele admirasse a bela princesa nada podia ser maior do que a promessa de uma vida melhor que eles teriam quando Alzof e Belzor fossem um só. Como era pra ser desde a primeira tentativa há quase vinte anos atrás.

==

Astrid nunca conseguia se entediar olhando o jovem de olhos vermelhos exibir o quão bom estava seu reflexo com os peixes na água. Em segundos conseguia o que ela não conseguia em minutos, ele era definitivamente mais rápido há alguns anos.

-Oito! – Ele gritou jogando oito peixes ao lado dela esboçando um sorriso esnobe. Ele estava sem camisa exibindo o corpo forte e esguio que desenvolvera, com os cabelos negros molhados pela água do rio em que ele se encontrava. – Onde fica seu ego nesses momentos?

A damnare riu com o deboche dele apontando o par de asas atrás de si.

-Você não carrega o peso que eu carrego tá bom? Ser mais lenta que você pode ser justificado com isso.

Darin riu com a expressão zangada dela pegando mais alguns peixes em segundos impressionantes.

-Eu garanto que até as corridas eu ganharia se você não apelasse pra esses fatores. – Ele debochou se referindo as asas dela fazendo-a arquear a sobrancelha.

-Até parece, você continua um pirralho, Darin. – Ela murmurou levantando olhando curiosa pra algum lugar á esquerda. – Só que é um pirralho rápido agora.

-Até parece... – Ele rebateu parando ao perceber que ela continuava olhando pra algo que ele não tinha idéia do que era. – O que foi?

-Nada. Continua treinando que eu vou checar uma coisa. – Ela murmurou abrindo as asas.

-Tem certeza que não quer que eu vá junto? Com essa sua lentidão você sabe... – Ele debochou enquanto ela se preparava pra alçar vôo.

-Você é muito debochado pra um pirralho bobo, sabia? – Darin nem teve tempo de responder o comentário dela vendo-a sair em segundos perdendo a visão dela pela floresta.

Astrid olhou pra trás e o jovem continuava em sua busca aos peixes e sorriu. Era tão idiota. Olhou pra frente mais preocupada com outra coisa no momento, conseguia sentir cheiro de humano. Não era Ofélia ou Laila e definitivamente nunca tinha sentido antes.

Sentiu o cheiro perto do rio. Se um humano ultrapassasse a floresta e chegasse a Umbra, damnares provavelmente viriam checar de onde esse humano tinha vindo e como ele teria sobrevivido à floresta proibida. E ela não queria nem imaginar Chad tendo que trazer damnares aos montes pra aquela floresta.

Assim que viu o humano o viu correr desesperadamente, não sabia em que direção ele ia, mas não estava a fim de arriscar deixando alguém como ele correr livremente por ali. Ia dar um susto e jogá-lo novamente na fronteira com Belzor, que não estava muito longe.

Aproximou-se do homem ouvindo os gritos que já eram esperados e começando a voar em direção a fronteira por onde ele viera, estava tão desligada que mal percebeu quando ele tirou algo do bolso em meio aos gritos e atingiu seu pulso.

Demorou poucos segundos pra que Astrid sentisse seu mundo girar. Se concentrou pra não soltá-lo e tentou continuar o caminho, mas tudo estava ficando turvo e seus olhos cansados. Não percebeu como, mas já podia sentir seus pés tocarem o chão e em pouco tempo um barulho ensurdecedor invadir sua audição.

O homem não estava mais no seu colo e ela colocou a mão na orelha, constatando que o ouvido sangrava pelo sangue em suas mãos, não agüentava mais aquele som agudo. E depois o cheiro horrível, e estava cada minuto mais tonta, em pouco tempo se percebeu cercada.

Que diabos era aquilo? Humanos? Sua resposta foi uma lâmina grossa de metal sendo enfiada em uma das suas asas. Urrou de dor. Não conseguia contar quantos e a dor era insuportável com todo o barulho, cheiro e suas asas sendo cortadas sem nenhum pudor agora.

==

Darin treinou por mais algum tempo se afastando do rio um tempo depois. Cheirava a peixe por todo o corpo, mesmo depois de tentar tirar o cheiro no rio. Agora teria que ir pra casa e buscar ervas que tirassem todo aquele odor.

Saltou tranquilamente até um cheiro fraco chamar atenção dele. Era sangue. Tinha que ser forte assim pra chamar sua atenção, e logo depois conseguiu ouvir um grito. Sentiu um frio na espinha. Astrid? Nunca a ouvira gritar. Nunca.

Foi na maior velocidade que conseguiu em direção ao cheiro fraco que ele tinha certeza, que se concentrasse o suficiente, conseguiria sentir. Não demorou muito até ouvir gritos de euforia cada vez mais próximos.

Até que chegou ao lado da fronteira com Belzor e fitou a cena mais chocante que já presenciara. Astrid estava no meio de um circulo formado por humanos sangrando. Tinha sangue dela em umas cinco espadas diferentes e sua asa estava sento destroçada.

Pulou no centro da roda jogando de uma vez dois que empunhavam espadas pra longe.

-Outro monstro! – Todos gritaram e esse foi o único que ele conseguiu entender. – Nunca pegamos dois deles!

-Monstro!? – Darin gritou enquanto jogava mais dois ao longe olhando pro homem de olhos castanhos que empunhava uma espada em frente a ele e não parecia temer. – Olha o que estão fazendo pra chamarem logo a mim de monstro.  

-Não confunda as coisas damnare. – O Capitão falou firme com a sua espada ainda contra o jovem mestiço. – Nós só estamos tornando essa guerra mais justa.

Darin não agüentou ouvir mais uma palavra antes de jogar a espada dele longe e levantá-lo pelo pescoço com apenas uma das mãos.

Todos tentavam fazer o que haviam sido treinados e espalhar mais ainda do pó com um cheiro detestável e insuportável pra damnares pelo ar, e arranharem as peças de metais que traziam uma nas outras fazendo um som agudo que não parecia incomodá-lo tanto quanto a de cabelos roxos ainda no chão.

-Otto! Solta ele seu maldito! – Darin olhou por cima do ombro a voz feminina que acabara de gritar e obedeceu jogando o jovem na sua mão contra uma árvore.

 -Você... – Ele murmurou pra morena de olhos verdes e longos cabelos negros que ele parecia reconhecer. Ela empunhava uma espada e fazia de tudo pra não tremer.

-Ela matou o meu pai e nada que você faça vai me impedir de cortar a cabeça dela.


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Notas finais do capítulo

Aeeeeeeeeeee...

Não falei que ia mostrar ao menos um pedaço de todo mundo grandinho?

E aí,o que acharam? Confuso? Estranho? Inesperado?

Eu realmente tentei fazer o melhor esse capítulo e ficou maior do que eu esperava, eu sempre falo... não dessa vez vai pequeno e quando vejo já foi.

Fiz de tudo pra que desse pra entender um pouco da dinâmica de tudo e no próximo tem um carinha q não aparece desde o primeiro capítulo (O papai :D), isso mesmo senhoras e senhores abram alas pra Aodh :)

Espero que tenham gostado e mandem tudo o que acharam, ok? Como sempre é muito importante ouvir a opinião de vocês e um bjããããão enorme pra todos os q estão acompanhando e apoiando.Isso é o que faz esses capítulos serem grandinhos. =)

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