Damnares escrita por Meg_Muller


Capítulo 5
Sede de Vingança - Parte 2




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Aodh se mantinha altivo olhando pra algum ponto fixo na parede. O salão do castelo mais frio de Umbra estava cheio de damnares que olhavam seu mestre, apreensivos, dentre eles o próprio filho, e o mais fiel general.

-Tem certeza disso? – O Lorde perguntou para um damnare em específico que estava exatamente no meio do salão.

-Foi o que o humano disse antes de perder a cabeça, meu Senhor. – Ele murmurou de cabeça baixa sem ter a audácia de fitar os olhos vermelhos do mestre diretamente.

-Então eles vão tentar novamente... – Aodh murmurou se convencendo do que o damnare informara. – Belzor e Alzof me fascinam com a audácia e esperança inútil deles. Tão comoventes e estúpidos esses humanos.

Todos ouviam em silêncio as ordens que ele daria dessa vez. Se impediria da mesma forma que tinha feito anos atrás, se tentaria uma abordagem mais ofensiva. A dúvida pairava no ar até que o Príncipe resolver acabar com o silêncio.

-Podemos atacar em um confronto direto e acabar de vez com tudo isso. Nosso exército é grande o suficiente! – Lars bradou e alguns até pensaram em concordam com ele, mas não moveriam o lábio enquanto Aodh não o fizesse.

-Confronto direto Lars? – O lorde perguntou olhando nos olhos do filho que sentiu um frio na espinha. – Acha que tem um pai tão estúpido quanto você?

Lars abriu a boca, porém não conseguiu rebater, ninguém nunca o rebatia ou o confrontava. O que ele dizia era lei e todos seguiam porque essa era a regra. E se ele tinha a esperança de que fosse daquela forma com ele um dia, faria o mesmo.

-Não há porque derramar sangue em uma guerra equivocada. – O general de longos cabelos negros comentou chamando a atenção pra si.

-Derramar sangue? – Lars retrucou, porque ao menos com Chad ele ainda podia discutir. – Acha que perderemos pra uma raça tão inferior como a humana?

O tom de Lars tinha sido extremamente agressivo, provocando alguns murmúrios no salão.

-Eles podem não ser fortes ou ter asas, mas existem em uma quantidade evidentemente superior. – Chad rebateu ainda impassível – E habitam em ambiente coberto por árvores pequenas e principalmente em campos abertos. O que seria uma desvantagem. E ainda teríamos que atravessar a floresta.

-Não fale como se...

-Não faremos um confronto direto. – Aodh declarou interrompendo o próprio filho enquanto olhava seriamente pra Chad. – Caso haja guerra será em nossas terras e não ao contrário. Não deixarei que sangue damnare se espalhe em uma terra pobre de uma raça como a humana.

Todos pareceram assentir mesmo os que não concordavam como Lars e seus poucos seguidores. Porém Aodh ainda não havia deixado claro o que ia fazer. Só sabiam por certo que alguma coisa ele teria que fazer. Belzor e Alzof não podiam se unir. Seria uma ameaça a se tomar conta. Não queriam humanos mais fortes e organizados, estava bom do jeito atual.

-Saiam todos enquanto reflito sobre o que farei. – Todos os damnares, cada um representando sua família ou clã começou a caminhar pra fora do salão. – Lars e Chad, os dois ficam.

Lars lançou um olhar repulsivo a Chad que nem fez menção de relevar. Achava o mais novo um imaturo e presunçoso que não precisava ser levado em consideração.

-Pretende usar a mesma estratégia da ultima vez? – Chad perguntou imaginando se a resposta do seu Lorde seria positiva, forçando-o a pensar que outro mestiço seria trazido ao mundo.

-Atacar uma princesa que caminha pela floresta e estuprá-la forçando-a a ter um filho bastardo e mestiço? – Aodh falou com um tom quase debochado. – Não acredito que vá ter a mesma eficiência.

O Lorde damnare ainda se lembrava de quando viu a pobre rainha Elisa caminhar sozinha pelos arredores de Belzor. Pobre Elisa. Mal previa o que lhe esperava.

“Aodh se mantinha entre as árvores com suas asas escolhidas a espreita da jovem que utilizava o rio pra se refrescar. Nunca fora fã de humanas, carne humana ou qualquer relação com ela era simplesmente asqueroso demais pros seus padrões.

Ela era Elisa, a mais velha das princesas de Belzor e a destinada a se casar com o Rei de Alzof. Os humanos queriam se unir, a raça damnare não era grande o suficiente pra ainda ter que lidar com aquela raça repugnante se organizando contra eles.

Iria dar um jeito naquilo sem derramar uma gota de sangue damnare, e o jeito mais simples de se vencer uma guerra é colocando seus inimigos um contra o outro. E ele ia aproveitar da melhor maneira possível os patéticos tabus humanos. E fazer algo que ele não acreditava que sentiria prazer, mas faria pelo seu povo. E para a destruição de outros.

Aproximou-se em um salto sucinto envolvendo a boca dela com as mãos, pra não dá-la a oportunidade de estragar tudo com seus gritos. Abriu as asas voando por entre as árvores pelo caminho que tinha traçado até certa caverna. Imaginava o que aconteceria com aquela mulher depois que tivesse terminado. A vida dela estaria acabada, assim como seu casamento e a união que ele tanto queria impedir.

Elisa se rebatia como podia contra o corpo forte que havia aparecido como um vulto e agarrado sua boca, logo depois sua cintura e quando tentava se desvencilhar percebia que nem no chão estava mais. Ele ia a uma velocidade impressionante, seu coração batia rápido, um monstro a levava pra algum lugar que ela não conhecia, e ela não conseguia esquecer o fato de que estava totalmente nua.

Em um instante ela se lava na fonte do rio, e em outro momento apenas sente o vento frio e forte contra sua pele desnuda e úmida, Nunca tinha sentido tão sensação. Nunca tinha voado, nunca tinha sido seqüestrada. Nunca tinha sentido tanta insegurança e incerteza sobre o que viria a seguir.

Aodh finalmente encontrou o lugar que procurava entrando de repente, e ela sentiu um alivio momentâneo por não estar mais com aquele frio agonizante contra sua pele pálida. Seu coração batia forte e então sentiu a respiração dele no seu pescoço, percebeu quando ele abriu a boca.

-Eu vou soltar, e se você gritar... – Ele parou pra respirar e estava levemente ofegante, como se recuperasse o fôlego do vôo rápido que tinham feito até ali. – Eu te mato.

A jovem engoliu seco balançando a cabeça positivamente, sentindo as mãos dele soltarem sua cintura e logo então sua boca. Pensou em gritar, mas não teve coragem ao ver a figura masculina. Não era tão maior que ela, mas as asas quase alcançavam o topo da caverna. Além disso, suas orelhas pareciam maiores, e seus olhos... seus olhos eram o que não a deixava desviar a atenção.

Ela nunca tinha visto nada assim na vida, que espécie de monstro era aquele? Eram os monstros da floresta Gnuzo que todos sempre falavam? E a pergunta que a fez se encostar na parede úmida da caverna e descer até o chão. O que ele ia querer com ela?

Aodh sorriu com a cena, a pobre humana tremia no chão sem conseguir parar de olhá-lo. Ele conseguia sentir o cheiro do medo. O terror nos olhos dela. A pele nua exalando um cheiro que ele nunca achou que ia apreciar.

-O que... o que.... o que é você? – Ela perguntou com a voz trêmula sem fazer questão de esconder o pavor.

-Acho que a pergunta que devia te interessar mais é o que eu quero. – Ele murmurou se aproximando da pele pálida que tremia por medo dele, receio do que ia acontecer e provavelmente até pelo frio.

-P-por favor n-não... – A princesa gaguejou sentindo a respiração dele em seu pescoço. – E-eu... te d-dou o q-que quiser....

-Eu sei. Você vai me dar exatamente o que eu quero. – Ele respondeu cínico zombando do que ela tentava dizer enquanto deitava o corpo dela colocando o seu por cima.

-S-sou da realeza! – Ela recomeçou já sentindo até aonde aquilo chegaria com um desespero a invadindo. – Te dou o que quiser! Pelo amor dos deuses, não! Sou noiva, não...

Aodh esqueceu o corpo feminino olhando nos olhos dela ao ouvir a ultima frase proferida. Riu com o comentário, era exatamente por estar noiva que aquilo estava acontecendo, mas aquilo seria informação demais pra ela.

-Então vamos fazer isso rápido pra poder voltar pro seu noivo. – Ele murmurou arrancando de uma vez a capa que usava. Fazendo-a se arrepender do que tinha dito ao sentir o ser estranho invadi-la sem o menor pudor.

Gritou de dor sendo interrompida pelas mãos dele sobre sua boca instantaneamente. Tentou gritar e se debater, mas o corpo masculino sobre si não parecia reagir a nenhum esforço dela. A única coisa que tinha poder pra fazer era deixar que as lágrimas começassem a se formar e rolar livremente em pouco tempo.

A dor era alucinante, ela nunca tinha sentido aquilo na vida e nunca esperou que pudesse sentir tanto nojo e dor na mesma situação. Aquilo não tinha fim e o desespero dela também não. O suor, o cheiro e as mãos grossas sob sua boca. Estava sendo violentada e aquilo tornaria a vida dela miserável.

Como se casaria estando tão suja como estaria depois daquilo? O que seria do seu futuro? De seu reino sem ela? Milhões de imagens se misturavam na sua mente, do mesmo jeito que o suor de ambos se misturava ao sangue dela, que escorria e descia pelo chão da caverna. Aquilo era o fim, podia sentir chegando.

Aodh riu com o cheiro que ele sabia de onde vinha. Sentiu seu corpo atingir finalmente o prazer que queria ter evitado. Não era certo algo como sêmen damnare invadindo uma mulher de raça inferior, ainda mais repulsiva como a humana. Mas não tinha conseguido evitar. E saiu de dentro dela o mais rápido que pode.

Tirou as mãos da boca dela e a moça não tentou gritar, apenas se encolheu juntando os braços abraçando a si mesma. Estava tão deplorável a coitadinha, ele até pensou em ficar e se deliciar com a cena mais um pouco, mas não podia se permitir aquilo. Pegou sua capa e colocou novamente em poucos segundos e olhou com um meio sorriso pra figura feminina.

-Você é um maldito... – Conseguiu ouvir a jovem murmurar com desprezo. – Porque não me mata logo?

Ele riu e balançou a cabeça negativamente abaixando o corpo um pouco pra que ela pudesse ver a feição dele claramente.

-Não vou te matar, vou te levar pra casa.

-Queria apenas... arruinar minha vida então? ... – Ela murmurou perguntando mais pra si mesma do que pra ele enquanto uma sensação de vazio a invadia.

Ele não respondeu apenas pegando o corpo feminino nos braços, Elisa não reagiu. Não moveu um músculo. Não soltou uma palavra. Aodh abriu as asas e se lançou com ela pra fora da caverna, seguindo pelo mesmo caminho que viera antes.

-Porque não... me mata... eu não vou gritar... – Ela murmurou encolhida com uma voz penosa que o fez rir. Os cabelos negros, os olhos azuis e a expressão desolada. Algo nela a tornava não tão desprezível.

Colocou o corpo dela na margem do rio que a encontrara. Ela gemeu com a água fria contra a sua pele e ele sentiu algo que não soube descrever. Tão frágil, tão fraca, tão humana e tinha mais um detalhe que não tinha coragem de admitir.

-Me.. mata... – Ela pediu uma ultima vez e ele nem se deu ao trabalho de ouvir mais nada. Elisa ainda soluçava entre lágrimas quando ele abriu as asas e alçou vôo pra longe daqui. Ia voltar pra Umbra e se orgulhar de si mesmo por arruinar a chance dos malditos humanos."

-Lorde Aodh? – Chad chamou novamente vendo a desatenção do mestre para com o assunto.

-No fim eu nem planejava engravidá-la... – Aodh murmurou mais pra si do que pros outros dois na sala. – Só arruinar o casamento, mas tudo funcionou pelo mesmo afinal.

Lars arregalou os olhos ao ver o pai entrar naquele assunto. Abriu a boca pensando em começar a falar sobre o garoto que encontrara na floresta anos atrás, sobre a falsa idéia do pai de que tudo estava morto e enterrado. Seu filho está vivo, e é um mestiço bastardo que anda livremente pela floresta Gnuzo.

Chad o olhou com o canto dos olhos, ele não faria agora o que Astrid o impedira de fazer por tantos anos. Estava certo. E Lars fechou a boca da mesma forma que abrira, e não pronunciou uma palavra.

-Não sei se o que fiz antes será efetivo agora. – O Lorde recomeçou trazendo os pensamentos dos outros dois na sala de volta a ele. – Conheça a nova princesa e veja o que vale a pena se fazer.

Lars acenou com a cabeça sabendo que aquela era uma ordem direta a ele. E seu pai não dava muitas ordens diretas a ele. Era sempre Chad, o confiável e impecável general. Sempre tão eficiente. Se Lars pudesse contar tudo, a primeira coisa que gostaria de ver seria a cabeça de Chad sendo exibida pra todos no reino com a comemoração de morte ao traidor.

-Se provocar uma guerra desnecessária, for ferido ou sequer derramar sangue de qualquer damnare em terra humana. – Aodh declarou olhando no fundo dos olhos de Lars. – Eu mesmo arranco seus olhos pra não ter prova nenhuma de que você é meu filho.

Lars engoliu seco enquanto Chad pensava bem mais adiante. Se o príncipe ia procurar a princesa de Alzof ele teria que passar pela floresta Gnuzo, nenhum problema já que ele não pensaria em entrar. Mas aquilo começava a ficar meramente ameaçador pra paz na região que ele mais prezava.

-Vou te trazer orgulho, meu Senhor. – Lars murmurou e Aodh assentiu olhando curioso pra expressão de Chad.

-Preocupado com a ineficiência do meu filho, Chad? – Ele perguntou fazendo Lars lançar um olhar mortal pro lado, esperando que a resposta de Chad fosse aceitável.

-De maneira alguma, meu Senhor. Acredito na capacidade do filho de um Lorde como o Senhor.

==

Darin conseguia sentir o sangue subir a sua cabeça de tanta revolta. Reconhecia aquele rosto feminino perfeitamente agora. Os gritos o acusando de monstro assassino, a forma repugnante como ela o olhara e as palavras absurdas daquele que ela chamava de pai.

-Arrancar a cabeça de quem salvou uma criança. – Ele começou alcançando-a em um salto. – De um monstro que você chamava de pai.

-Como você ousa! – Alana gritou manejando a espada contra ele que não precisou do mínimo esforço pra segurar o pulso dela e apertar até que ela soltasse a espada.

A princesa gemeu de dor e tentou usar tudo o que tinha contra ele, desde o outro braço até chutá-lo com as pernas livres. Darin sem muita paciência pros golpes que não causavam nele o mínimo efeito, simplesmente pegou a jovem pelo pescoço erguendo-a do chão.

-Que diabos... pirralho... – Olhou pra trás por cima do pescoço reconhecendo aquela voz.

Astrid já estava de pé limpando um filete de sangue que escorria pelo canto da sua boca. Todos os homens que antes usavam seus artifícios para manter Astrid impotente haviam esquecido-se de continuar, ao ver a pobre princesa nas mãos do mestiço.

Astrid sorriu. O cheiro já era suportável e o som agudo já não existia. Humanos, com seus sentimentos um para com os outros se tornavam tão mais fracos e impotentes. Os homens até tentaram voltar ao que torturava a damnare antes, mas não foram cedidos com a oportunidade.

Até a tontura dela já havia passado, infelizmente pra eles. Nem tiveram muito tempo pra pensar até sentirem as garras da jovem contra eles, de dois em dois a uma velocidade não tão rápida quanto Darin, mas igualmente impressionante. Ela abriu as asas usando-as pra deixar outros desacordados. Pobres humanos, tão inúteis sem seus brinquedinhos.

Darin nem percebia que ainda tava com as mãos nos pescoço de Alana e sorria pra Astrid por vê-la bem. A jovem princesa em agonia tentava se ver livre do membro que a sufocava.

-Olha que você nem é tão lentinha assim... – Ele brincou fazendo-a olhar pra ele depois de acertar o ultimo do exército ainda de pé.

-Se ainda tivesse algum de pé eu até faria uma competição pra te derrubar de vergonha. – Astrid rebateu em um resmungo.

Ele riu, mas foi interrompido pelo gemido involuntário da damnare de cabelos roxos, suas asas sangravam muito apesar dela se manter de pé sem tanta dificuldade.

-Vou... matar... os dois – Alana murmurou com dificuldade, já que não tinha acesso há muito oxigênio na posição em que estava.

Astrid fez uma expressão confusa enquanto Darin apenas jogava o corpo feminino no chão sem esforço, ela gemeu de dor enquanto tentava sugar todo o ar que conseguia.

-Ainda não sei por que humanos são tão idiotas... – Darin murmurou olhando pra princesa e voltando a Astrid logo depois. – E você precisa de algo nas asas, nunca vi tanto sangue na vida.

Ela encolheu as asas tentando diminuir a sensação que ele tinha das feridas e dando os ombros.

-Nem é tão grave assim... – Ela murmurou se encostando, em uma arvore pra recuperar o fôlego. Tinha passado por muito em poucos segundos, e tudo bem bater em todos os humanos, mas a dor agora que seu sangue esfriava, latejava.

-Não precisa se fazer de forte agora... eu consigo...

O som de algo aterrizando de forma nada cautelosa interrompeu o jovem mestiço. O damnare de olhos violetas tinha uma expressão bem diferente da de sempre. Seu olhar continha certo desespero.

-Por deuses o que houve aqui? – Chad perguntou se aproximando de Astrid sem nem olhar pra Darin. – O cheiro do seu sangue pode ser sentido desde o rio.

O tom da voz dele era extremamente preocupado e não demorou muito pra que ele observasse tudo em volta. Vários humanos jogados no chão desmaiados, não sangravam. Era por isso que não conseguira prever a situação.

-Humanos resolveram... invadir... – Astrid murmurou encostada na arvore sem demorar muito pra sentir os braços de Chad ao redor da sua cintura. – Eu não preciso... de ajuda...

-Invadir Gnuzo? Estão loucos? – Chad perguntou chocado ignorando o gênio de Astrid ao garantir que não precisava dele. – Não há nada errado em precisar de alguém Ast, quanta infantilidade.

-Não estamos loucos! Só queremos tornar a guerra mais justa! – A jovem humana comentou sem ser chamada novamente, levantando do chão onde Darin a tinha jogado.

-Se houvesse uma guerra contra da sua raça contra damnares, criança. – Chad começou calmo. – Você não estaria viva, não acha?

Alana engoliu seco pensando em algo pra dizer, e o gemido de Astrid tirou toda a atenção da princesa de volta para a damnare.

-Vou te levar para a Ofélia. – Chad informou pensando no único lugar em que ela poderia ser tratada. Abriu as asas e olhou uma ultima vez para a princesa. – Esse é um péssimo lugar pra alguém como você.

-Como pra todos os humanos. – Darin completou forçando o hostil.

-Não só, ela é a mais nova caça do Lars. Deveria ter mais cuidado em andar fora do território humano. – Darin não teve tempo de perguntar por que, Chad abriu as asas e saiu sem falar mais nada.

Alana correu até a própria espada apontando novamente pro mestiço que olhava Chad e Astrid desaparecerem entre as arvores.

-Agora não vai escapar, sou só eu e você. – Alana ameaçou fazendo-o rir debochadamente. Ela não podia estar falando sério.

Aproximou-se em um salto rápido arrancando a espada da mão dela e prendendo o corpo feminino contra uma árvore que estava um pouco atrás. Ela conseguiu sentir a respiração dele bem próxima e não conseguia se desvencilhar das mãos ou de qualquer outra parte do corpo dele.

-O que será que Lars quer com você? – Darin perguntou mais pra si do que pra ela, uma humana tão boba não sabia sobre ele, ou não pensaria em sair do quartinho real.

-Eu... não sei... quem é Lars. – Ela murmurou tentando manter a voz constante.

-É claro que não sabe. – Ele murmurou soltando o corpo dela, que pareceu respirar mais facilmente. – Você não estaria viva se soubesse.

Alana sentiu um frio correr por sua espinha. Finalmente percebia tudo que acontecia ao seu redor. Todos estavam inconscientes. Dois damnares tinham saído voando há alguns segundos. Tinha um “raça indefinida” na sua frente, e ela estava viva. Ilesa se podia dizer assim.

Milhões de coisas passaram pela sua cabeça até que finalmente encontrou a figura masculina de Otto jogada no chão a poucos metros. O estranho não parecia ter intenção de matá-la ou já teria feito. E ela não se via em condições de tentar contra ele de novo, pelo menos não ainda, pelo menos não sozinha.

Correu até o dono dos cabelos castanhos charmosos na opinião dela tocando o pescoço e qualquer coisa que indicasse que ele estava bem.

-Está vivo... – Ouviu Darin murmurar chamando a atenção dela. – Eu consigo ouvir o coração.

Darin não sabia o que estava acontecendo. Humanos invadindo. Astrid machucada e uma hostilidade que ele sabia existir, mas nunca havia presenciado. E o mais chocante até agora, ele estava lado a lado com a mais nova presa de Lars. Não ia desperdiçar uma chance como aquela. Daria muitas coisas pra ver aquele maldito par de olhos vermelhos de novo, daria qualquer coisa pra enfiar as garras no covarde maldito que sem piedade o tinha apunhalado como um animal anos atrás.

-Vamos antes que eles acordem. – Darin murmurou fazendo-a sentir certo desespero a invadir.

-Vamos pra onde!? Porque diabos acha que eu iria a algum lugar com você!?

-Eu não estou te dando opção.

-Você precisa treinar muito pra começar a aparecer ameaçador.

Darin já estava impaciente com todas as perguntas rodando na sua cabeça. Então com poucos gestos se aproximou da morena puxando-a pelo quadril, e jogando-a sob seu ombro esquerdo. Sob muita objeção da parte dela, é claro.

-Me larga maldito! Vão mandar todo o exército atrás de mim! Vão derrubar essa floresta e não vão descansar até me encontrar! Eles viram você! Vai se o primeiro a sentir a ira o Capitão de Belzor! Otto vai te massacrar e arrancar o seu rim! – A princesa gritava ininterruptamente enquanto ele tentava apenas ignorar.

-Eu vi toda a ira quando o joguei sem esforço contra uma árvore. – Darin debochou e ela ficou por alguns segundos sem saber o que responder. – E para de falar, sua voz ta começando a me irritar.

Darin já estava a toda a velocidade em direção a casa de Ofélia. Arrependia-se agora de não ter deixado a garota desacordada antes de carregá-la. Os gritos irritavam sua audição sensível a um nível absurdo. E isso porque a dele nem se comparava a audição de um damnare puro.

-Como ousa!? Ele te faria em pedaços! Eu te faria em pedaços se tivesse coragem de me colocar no chão e me enfrentar!

Ele riu pensando em como ela podia ser tão absurda, até que não agüentou mais os gritos e tirou-a dos ombros colocando-a sobre o galho que antes estava prestes a saltar.

Alana olhou pra baixo engolindo seco, odiava altura, ainda mais de forma tão insegura quando aquela. Se não fosse pela mão dele em seu pulso nada a impediria de cair se por acaso perdesse o equilíbrio.

-Você pode parar de gritar? Já percebeu que eu não vou matar, comer, cozinhar, ou seja, lá que diabos acreditem que os damnares fazem com humanos. – Ele comentou e ao invés dela afirmar positivamente, ela manteve o olhar orgulhoso.

-Não vai porque não conseguiria! Imagine o que fariam com o assassino da princesa de Alzof, eles te... – Ela foi interrompida por um empurrão e agora seu corpo estava suspenso no ar. Ele a segurava sem dificuldade com apenas uma das mãos, mas isso não pareceu tranqüilizá-la.

-Me sobe! Me sobe, seu babaca! Por céus me sobe! – Ela gritava em desespero tentando não olhar pra baixo.

-Podia ser mais educada... – Darin murmurou provocativo se deleitando com a situação.

-Me sobre por favor, maldito! – Ela gritou em resposta enquanto ele balançava a cabeça negativamente mostrando que não tinha sido suficiente. – Me sobre, pelo amor dos deuses! Eu paro de gritar!

Ele levantou o corpo satisfeito sem a menor dificuldade. Sentindo um tapa no próprio peito assim que ela se viu mais segura.

-Seu infeliz! Tava tentando me matar!? – Ela gritou ainda batendo nele com a mão que ele não segurava pelo pulso. – Se eu tivesse com a minha espada aqui, você sabe que...

Ele revirou os olhos bufando enquanto pegava ela pelas pernas, jogando sob seus ombros desistindo de melhorar aquele comportamento imbecil. Alana continuou com suas ameaças e reclamações.

Não demorou muito pra que chegasse até a velha cabana que Ofélia morava desde que ele conseguia se lembrar. Era um lugar simples, mas bem feito. O rio passava bem ao lado tornando a paisagem da cabana dela bem amigável.

-Darin! – Uma voz feminina gritou ao ver o mestiço que jogava Alana de qualquer forma no chão. – Por céus eu achei que tinha acontecido algo com você também!

-Até parece que humanos iam conseguir fazer alguma coisa contra mim... – Ele murmurou debochado enquanto Mina se aproximava com os olhos marejados. – São muito fracos pra isso, você sabe.

Laila riu abraçando o amigo ao alcançá-lo enquanto Alana se levantava praguejando pela forma que havia sido trazida, e pela forma que havia sido jogada no chão.

-Quem é ela? – Alana ouviu uma foz feminina perguntar e se atentou a figura feminina ao lado do jovem que a trouxera, era uma humana, era definitivamente uma humana.

-É uma humana idiota. – Darin murmurou e Alana ia discutir por saber que estava se referindo a ela, mas não conseguia falar nada olhando Laila tão próxima de Darin como se conhecessem um ao outro. – E a Ast?

-Ta praguejando e dizendo que não precisa de cuidados de ninguém... – Ela comentou risonha ao lembrar o gênio da damnare. – Se o Chad não tivesse aqui, minha mãe estaria correndo risco de vida.

Darin riu junto com a jovem enquanto Alana ainda olhava tudo intrigada. Tinha alguma coisa errada ali.

-Que tipo de veneno deu pra ela? Enfeitiçou ela!? Não sabia que damnares podiam fazer isso... – Alana acusou pensativa.

-Como é? – Laila perguntou confusa olhando pra figura da princesa que a olhava como se procurasse algo errado.

-É louca, Laila. Ignora. – Darin comentou dando os ombros indo em direção a cabana, agora já conseguia até ouvir as frases ofensivas de Astrid.

-Mas, de qualquer jeito o que ela está fazendo aqui? – Laila perguntou e o jovem não respondeu por já está entrando na cabana há vários metros de distância.

-Fui seqüestrada. – Alana respondeu diretamente. – Fui atacada e então seqüestrada.

-Darin nunca seqüestraria alguém, muito menos atacaria... – Laila afirmou confusa enquanto Alana balançava a cabeça negativamente se aproximando.

-É isso que damnares fazem. Eles atacam, e matam. Eu só não sabia do seqüestro porque nunca tinha visto um tão de perto... – A princesa explicou agora bem ao lado da melhor amiga do mestiço.

-Claro que não! – Laila rebateu ainda com o tom de voz suave de sempre.

-Você está mesmo muito enfeitiçada.

Laila pensou em rebater, mas um estrondo vindo da sua casa a interrompeu. Provavelmente Astrid já que era ela que saia estragando a porta depois de abrir as asas ainda dentro da pequena cabana.

-Não seja petulante Astrid! – Uma voz masculina grave soou e ela pareceu ignorar indo para o rio.

A damnares de cabelos roxos mergulhou no rio e o de cabelos negros pareceu desistir de persegui-la ao encontrar certa figura feminina. Seus olhos pararam ao enxergar a princesa ali e Darin suspirou imaginando o que viria a seguir.

-O que ela está fazendo aqui? – Chad perguntou com um tom de voz mais seco do que de costume. – Darin?

-Ah... – O mestiço começou sem saber ao certo o que dizer.

-Fui atacada e seqüestrada! E em pouco tempo meu exército vai invadir e transformar tudo isso em poeira! Junto com vocês!

Chad arqueou a sobrancelha com a petulância dela, Darin bufou e Laila gemeu. Ninguém entendia o que estava acontecendo. E provavelmente a mais perdida era a mais certa de si. A jovem princesa.

-Nós somos o menor dos seus problemas, humana. – Chad começou frio e algo na voz dele a impedia de debater. – O pior da raça damnare que o seu povo teme, procura você por cada centímetro de Belzor nesse momento.

Ela engoliu seco, encarando os olhos violeta que não parecia blefar.

-É por isso que eu a trouxe. – Darin explicou tentando parecer convincente. – Pra protegê-la das mãos terríveis de Lars.

-Você fala como se eu fosse idiota, Darin. – Chad rebateu enquanto Astrid voltava completamente ensopada, mas bem menos suja de sangue. – Você quer ver o Lars de novo, e não sei o que vai ser de você se seu desejo se realizar.

-Acha que eu não consigo me vingar do que ele fez comigo na floresta? – Darin explodiu olhando furioso pro mais velho. – Sou forte agora! Posso arrancar o fígado dele com minhas próprias mãos.

-Ah não pode não. – Astrid retrucou antes que Chad se manifestasse. – Ela não vai ficar aqui e servir de isca pra sua vingança estúpida. Ela volta pra porcaria do reino dela e eu pouco me importo com o que acontece depois.

Alana e Laila eram provavelmente as mais perdidas nos diálogos. A princesa não sabia o que dizer ou o que pensar, só sabia que a própria vida estava em risco. Que aqueles ali provavelmente não queriam matá-la, mas também não se importavam se isso acontecesse.

-Ela fica! E eu faço com o Lars o que ele fez comigo! – O jovem mestiço debateu e Chad nem pensou em perder mais tempo discutindo. Abriu as asas em direção a Alana, ia levá-la até Belzor e nem se preocupar em entrar no caminho de Lars e consequentemente Aodh.

Antes do damnare alcançá-la Darin entrou na frente olhando seriamente pra Chad.

-Vai ter que passar por cima de mim pra tirá-la daqui.


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Notas finais do capítulo

Oieeeeeeeeeee

Nem demorei tanto, nossa.. esse foi complexo escrever. Quis fazer a cena Elisa e Aodh o mais rápido e simples possível, mas que ainda desse a idéia de tudo o que aconteceu.

O que acharam da Alana? Ast? Mina? Chad? Darin e principalmente Aodh, né gente? Mas bom, deu pra entender tudo?Agora toda a história deve ter feito um pouco mais de sentido depois desse capítulo... e bom, agora vcs q tem q me dizer o que acharam e tudo mais.

Bjoooo e de novo eu nem sei como agradecer por todo o apoio de vocês!!!

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