Damnares escrita por Meg_Muller


Capítulo 3
Longe de Casa


Notas iniciais do capítulo

Nossa, primeiro agradeço e todos pelo apoio, pelas críticas e acreditem elas são fontes de inspiração.

Até mesmo as indignadas que eu realmente ri demais ao ler. Mas a todos que pediram: O Chad está nesse capítulo :D

Enjoy :)



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“Há muitos anos atrás a Rainha Elisa de Belzor se casou com o Rei Bram de Alzof e tentaram formar com o casamento uma aliança que transformaria os dois reinos em um só unindo o conhecimento de ambos e suas habilidades.

Infelizmente na noite do nascimento do primeiro do casal quando todos esperavam que a união fosse finalmente selada com um herdeiro de ambos os reinos uma tragédia aconteceu. Nossa querida Elisa morreu no parto e nosso querido príncipe nasceu sem vida.”

O velho senhor que encantava as crianças com suas histórias sobre o passado do reino parou por um instante para pigarrear, dando espaço pra que os pequenos que o ouviam cochicharem opiniões entre si e tirarem a atenção do velho senhor.

Eram quatro crianças: Alana a princesa de Azolf, Nicholas o Príncipe de Belzor, Mina a fiel seguidora da princesa e Otto o melhor amigo do príncipe. Quase todas extremamente barulhentas quando não entusiasmadas com algo que lhes era contado.

Alana era a que falava mais alto e a que possuía as vestes mais finas, afinal era a futura herdeira de Alzof. O maior orgulho do Rei Bram e de sua mãe que antes de concebê-la era uma nobre desconhecida nos corredores do castelo.

-Minha mãe ainda chora pela morte de Elisa... – Murmurou o moreno bem vestido de aparência nobre com curtos cabelos negros e olhos azuis incrivelmente gentis – Todos os anos em Belzor fazemos uma cerimônia dedicada a ela.

-Mas é claro, Nico. – Murmurou Alana com seu habitual tom de voz agudo. – Ela deve sentir muita falta da irmã que morreu de um jeito tão triste.

Os quatro pequenos afirmavam com a cabeça e o contador de histórias fitou o pequeno por alguns segundos ao lado de Alana e dos outros dois. Nicolas era inteligente e um ótimo representante de um reino que um dia seria seu: Belzor. Esse era o plano do Rei afinal, dar a sua filha a responsabilidade que ele não fora apto a desenvolver anos atrás. Iriam casar Nicolas e Alana e fazer com que por fim Alzof e Belzor se tornassem um reino só da mesma forma que tentara anos atrás.

-Meu irmão também morreu... – Alana começou novamente com toda a atenção do ambiente sobre ela. – Eu queria fazer cerimônia pra ele, mas o papai nunca...

-O Rei Bram não gosta porque deve ser triste pra ele. – Completou interrompendo a tímida menina ao lado do lado esquerdo de Alana que trajava roupas não tão finas, mas que era igualmente bela a princesa.

-Verdade Mina. – Apoiou Nico sorrindo pra pequena que abaixou a cabeça sorrindo de volta sem fitá-lo.

Agora Alana e Nico discutiam o fato dela contestar a atitude do pai e ele apoiar, Mina algumas vezes entrava na conversa concordando com Nico fazendo Alana lançar um olhar feio a ela por concordar com quem ela discutia. E ao lado direito de Nicholas como sempre estava Otto que ninguém sabia se prestava atenção ao não às discussões já que esse vivia sempre calado e só falava quando via grande necessidade.

O velho parou pra pensar no motivo da discussão infantil, imagine o que fariam se soubessem da verdade por trás da história contada. Se ele tivesse coragem o suficiente pra dizer a pequena princesa que o “irmão” que ela tanto queria homenagear em cerimônias por nascer morto era um pequeno mostro que tinha sido jogado no abismo horas depois de nascer e que a pobre tia Elisa de Nicolas tivera o mesmo destino horas após trazer a “coisa” ao mundo. Mas eles não precisavam daquilo, estavam saudáveis pensando daquela forma e até Belzor concordara não reclamou o corpo da rainha após saber do incidente, então não havia motivos pra trazer nada daquilo à tona. Tudo agora não passava de um passado distante que deveria ser apagado da memória de todos.

==

Astrid levantou vôo com o pequeno sangrando desacordado em seus braços. Seus cabelos negros conseguiam esconder as orelhas agora humanas, assim como o resto do seu corpo. Suas garras haviam desaparecido assim como suas presas e os outros detalhes do seu corpo que o faziam diferente de qualquer espécie já vista.

Não precisou de muito tempo até que não conseguisse identificar o cheiro de Lars que provavelmente se perdera procurando pelo cheiro do mestiço no meio da floresta. Agarrou mais ainda o filhote em seus braços, aquele podia não ter sido o melhor dos planos, mas foi no que ela conseguiu pensar no calor do momento.

Lars e o seu escudeiro fiel nunca pensariam que o sangue mestiço tinha se tornado humano assim de repente e uma hora ou outra concluiriam que o pequeno tinha apenas sumido de uma forma inexplicável, fato que a levou a enfiar as garras no próprio protegido para salva-lo da sua própria maneira.

Aquilo não seria tudo é claro, Lars voltaria irado ao castelo perguntando ao vento o porquê de ter um filhote com um cheiro estranho de olhos vermelhos no meio da floresta. E se Chad... bom era melhor não pensar em Chad no momento. Ela tinha feito o melhor possível e ele sabia que esse tipo de coisa podia acontecer desde que resolveu esconder tudo sobre o passado obscuro do menino dele.

Ele tinha sido criado em uma torre, porque aquela floresta sombria que o pequeno chamava de casa não passava de uma redoma pra tirar a atenção do mundo de sobre ele, que pra todos os efeitos tinha sido jogado de uma vala ainda bebê.

Passou pelo que os dois chamavam de casa sem interromper o vôo e continuou em direção a uma nação que o pequeno conheceu ao nascer. Não tinha outra opção. Ofélia era cega assim como a filha Laila e não fariam diferença nenhuma nas feridas do pequeno. Ela era a mais impossibilitada sabendo que tinha que voltar e falar com Lars antes que esse falasse com qualquer um principalmente com o pai.

Não queria nem imaginar o que aconteceria se Lars contasse a Aodh o que viu na floresta. O primeiro a ser morto seria Chad por não ter se certificado da morte da criança e sim acolhido e ajudado a protegê-lo por todos esses anos. E o pior seria o que aconteceria a Darin que passaria o resto da infância fugindo do pai e seu exército de damnares sedentos por um sangue mestiço derramado no chão.

Balançou a cabeça negativamente pra espantar os pensamentos. Viu a fronteira de Alzof e tentou aumentar a altura em que voava pra uma entrada mais furtiva. Estava de dia e seria praticamente impossível entrar sem ser percebida, até que por uma sorte que estava lhe faltando por dias viu quatro crianças brincando perto do rio. Duas bem vestidas com jóias reais. Perfeito.

Darin pra todos os efeitos agora era humano e ela uma damnare, eles o acolheriam e tratariam de suas feridas e Astrid voltaria antes do anoitecer pra buscá-lo, pra que ninguém o visse de nenhuma forma além de um pobre humano indefeso atacado por uma terrível damnare de cabelos roxos e olhos vermelhos.

Ela se aproximou iniciando os gritos e expressões desesperadas nos quatro que tentavam correr assim que a viram colocar o corpo de um menino no chão.

-Ele está vivo. – Foi só o que disse enquanto o terror continuava nos olhos das crianças tanto pelo ser de asas negras que acabava de alçar vôo quanto pela criança ensangüentada desacordada na beira do rio.

Alana percebeu Astrid fora do seu campo de visão e se aproximou do menino desacordado.

-O que está fazendo, princesa? Ele foi atacado pela besta não viu? Não tem como estar vivo! – Nicholas declarou se aproximando também.

-Mas ela disse que ele estava. – Ela rebateu agora em frente ao corpo se abaixando pra tocar a pele do pequeno.

-E agora acredita no que essas coisas dizem? – Ele perguntou incrédulo enquanto Mina e Otto também se aproximavam.

A jovem princesa colocou o ouvido bem próximo ao coração de Darin sujando-se parcialmente de sangue.

-Mina! Vá chamar um curandeiro! Ele pode estar vivo! – Ela declarou pra surpresa dos três. Mina assentiu com a cabeça sendo seguida por Nicholas em direção ao castelo.

Otto agachou pra ficar ao nível de Alana e tocou a pele de Darin desconfiado.

-O que acha que uma damnare queria deixando um humano vivo e trazendo ele aqui pra que a gente cuidasse? – Otto perguntou desconfiado surpreendendo a menina, primeiro só por ter falado e depois pelo conteúdo.

-Não tenho certeza se ele está vivo, e... Damnare? – Ela perguntou sem se familiarizar com o termo.

-A raça daquela que trouxe ele aqui, prefiro não chamá-los de bestas. No nosso clã nós temos respeito pelas nossas presas. – O pequeno de cabelos castanhos falou exibindo certo orgulho.

-Vocês caçam aquelas coisas?

Ele apenas afirmou com a cabeça sem contato visual com ela. Apenas olhava o corpo do menino.

-Eles não deixam presas vivas. Nunca vi nada assim...

Alana riu pela forma que ele falava como se tivesse muita experiência. Era apenas um garoto como todos ali, mas ainda falava como se já tivesse estado em muitos campos de batalha.

-Então esse não foi o primeiro que você viu?

Otto deu os ombros olhando finalmente pra ela.

-Eu só sei sobre eles porque o meu pai me conta, não deixam pequenos irem caçar.

-Mas eles não são muito maiores que nós? E eles ainda voam!

-É, mas toda raça tem suas fraquezas. Eles não suportam sons muito altos porque a audição é mais aguçada, também enlouquecem com cheiros muito fortes porque o olfato é mais...

Otto foi interrompido por uma senhora que vinha acompanhando os dois pequenos provavelmente pra apenas confirmar a história que ela acreditou antes ser absurda. Soltou um pequeno gemido de choque antes de voltar correndo pro castelo em busca de alguém que realmente fosse ajudar em algo acompanhada pelos pequenos que a trouxeram.

-Ela se preocupou, não acha?– O menino murmurou sentando no chão quando os dois se viram sozinhos novamente.

-Como?

-Ela falou claramente “Ele está vivo”, parecia querer que cuidássemos dele pra falar isso, o que é estranho.

-Papai disse que eles não sentem Otto, bobagem pensar isso. Talvez ela só achou a carne dele ruim demais pra comer e jogou fora aqui no rio. Avisou que estava vivo só pra...

Os dois olharam um pro outro sem que nenhum pensasse em como completar a sentença e Otto desse os ombros.

-Ela era enorme não era? – Ele comentou mudando o assunto percebendo que nunca saberiam o que se passava pela cabeça de um ser como aquele.

Alana apenas afirmou com a cabeça enquanto os dois pensavam na cena chocante que haviam presenciado e no tamanho das asas do ser da raça que nenhum dos dois tinha visto até então.

-Porque acha que ela não atacou a gente também? – Alana quebrou o silêncio fazendo Otto fita-la pensativo.

-Acho que é porque eles só caçam a noite, meu pai disse que eles não gostam de andar por aí de dia...

-Ast... – Ouviram o murmúrio e sentiram um choque ao ver de onde vinha.

==

Lars entrou no castelo sentindo seu sangue ferver em busca de certo par de olhos violetas. Chad tinha ultrapassado todos os limites agora e era muito bom ele ter um motivo pra não ter sua cabeça rolando pelo chão daquele salão.

Não foi muito difícil encontrar um general em um dia como aquele. Lá estava ele treinando jovens damnares sendo fiel ao seu reino quando nas costas de Aodh cometia uma atrocidade como a que Lars achava que ele estava cometendo.

-General Chad. – Lars gritou fazendo todos os jovens que o viram cumprimentarem com singelas curvaturas.

-Estou um pouco ocupado aqui meu Lorde. – Chad respondeu com sua habitual calma fazendo Lars ficar ainda mais irritado se aproximando.

-Então prefere que eu conte a todos sobre o pedaço de carne estranha que eu encontrei na floresta chamando por você? – A tom dele não fazia questão de esconder sua fúria e Chad pareceu intrigado pedindo um minuto aos damnares que lecionava abrindo as asas alçando vôo até o jovem Príncipe.

-O que exatamente quis dizer com isso? – Perguntou quando o alcançou a uma distância segura do ouvi dos outros damnares.

-Um mestiço Chad! No meio da floresta com malditos olhos vermelhos que garantia te conhecer!

Lars explodiu com as palavras e Chad sentiu algo preso em sua garganta que nunca tinha sentido antes. Ia matar Astrid. Matar Lars. Matar Aodh? Ser morto? E o... Darin?

-Mestiço? – Ele perguntou com a expressão incrivelmente calma mesmo com o desespero que o consumia.

-Não se faça de perdido, general! Nunca trouxe o corpo do maldito bebê e meu pai sempre foi muito tolo de confiar apenas na sua maldita palavra.

-Onde está então a prova? Onde está o mestiço que garante me conhecer? – Chad perguntou tentando manter a voz firme sem o mínimo sinal de preocupação.

-Nós o perdemos. – O ouviu murmurar e sentiu o nó desaparecer, ele tinha chance de estar vivo afinal – Mas essa não é a questão. Vou agora mesmo contar ao meu pai o que...

-Como assim o perderam? Acha que ainda tem chances dele estar perdido na floresta? – Chad soltou provavelmente com um tom diferente do que gostaria já que Lars lançou um olhar ainda mais desconfiado.

-Se aquele sangue mestiço estivesse na floresta eu teria encontrado. Alguém o tirou de lá. Alguém que voa muito bem pra que eu conseguisse escutar... eu só não entendo como o cheiro desapareceu, e ainda por cima tinha cheiro humano lá depois! Coloca mais damnares naquela fronteira porque a situação já está absurda! Sangue humano em Umbra! Uma vergonha!

Chad engoliu seco, então Darin estava tão machucado a ponto de entrar em sua forma humana? Que diabos Astrid estava pensando quando deixou ele atravessar a fronteira sozinho? Ele estaria vivo agora?    

-Mas nada disso importa! Seu Lorde tem que saber o tipo de general que ele tem ao seu lado. Um que conta fatos infundados e mentiras descabidas a ele sem o menor pudor.

Chad nem teve tempo de pensar no que faria pra impedir Lars quando antes que o mais novo alçasse vôo os dois sentiram um cheiro muito bem conhecido fazendo ambos ficarem apreensíveis. Não seria possível... seria?

Astrid pousou da forma perfeita de sempre fazendo Lars arregalar os olhos e Chad balançar a cabeça negativamente. Os que antes treinavam com Chad olhavam a figura feminina chocados.

Os cabelos roxos iguais aos de Lars assim como os olhos vermelhos, seriam idênticos se não fosse pelos belos traços femininos que ela tinha assim como a falta de cicatrizes no rosto como as de seu irmão Lars.

-Astrid... – O príncipe murmurou ao ver um fantasma do passado ali na sua frente. Sabia que poderia ter sido ela a tirar o mestiço da floresta. Mas como e principalmente por quê?

-Você fala uma palavra sobre o que viu na floresta hoje. – Ela começou olhando ameaçadoramente pros olhos do damnare de olhos vermelhos. – E eu mato você.

==

-Eu já disse que ele precisa descansar. - A senhora que entrava no quarto comentou  pela quarta vez trazendo mais panos e água quente.

Os dois casais de crianças lançaram um olhar triste à mulher.

-Estamos cuidando dele. – Alana murmurou e todos assentiram até mesmo Otto que estava louco pra que o menino acordasse e contasse o que tinha acontecido.

-Gritando ao redor da cama? Não mesmo. – Ela rebateu colocando o que trazia em cima de uma mesa de madeira e apontando a porta aos quatro logo depois.

Eles saíram sobre protestos enquanto ela se preocupava mais com a criança na cama. Seus ferimentos estavam cicatrizando mais rápido do que ela esperava. O que era impressionante considerando a profundidade deles.

Molhou um dos panos e tirou os que cobriam o pequeno braço esquerdo estendido na cama. Os finos cortes feitos por garras no local estavam praticamente curados assim como os em seu pescoço. Tocou sua barriga pra trocar as ataduras que colocara ali quando sentiu ele se mover.

-Ast?... – Ele perguntou ainda sonolento enquanto abria os olhos calmamente.

A senhora fitou o rosto dele soltando um pequeno gemido ao vê-lo de olhos abertos. Azuis? Estava certa daquilo. E instigada também por causa daquilo.

-Fique calmo e quietinho, meu bem... – Ela murmurou preocupada com ele tentando outro movimento ainda tão debilitado. – Vou dizer ao Senhor Günter que já está consciente.

Assim que a senhora deixou o quarto apressada pra encontrar o que tomara de conta das feridas do garoto os quatro entraram como se esperassem aquilo a um bom tempo.

Darin ainda sentia seu corpo doer principalmente à parte inferior das suas costas e sua barriga, ainda não lembrava direito de tudo que tinha acontecido e ficou ainda mais perdido quando percebeu que nunca tinha visto o lugar no qual estava.

-Ele está acordado! – Uma voz estridente soou fazendo-o olhar pra porta e ver quatro crianças provavelmente quase da mesma idade que ele.

Viu os quatro se aproximarem curiosos da cama e se perguntou que lugar era aquele e como chegara ali e várias cenas invadiram sua cabeça. O grande damnare de cabelos roxos e olhos vermelhos e suas garras. Fechou os olhos lembrando as garras afiadas perfurando seu corpo. A primeira vez que tinha sido agredido na vida por alguém.

-Você está bem? – Abriu os olhos com a mesma voz feminina observando as crianças que agora estavam em pé ao lado da cama. – Como se chama?  

-Eu sou Darin... – Ele começou ainda confuso tentando entender como saiu sangrando da floresta e tinha ido parar em um lugar tão grande e bonito quanto aquele. – Onde eu estou?

-Na minha casa. – Ouviu a menina de cabelos negros e belos olhos verdes informar com um sorriso. – Está aqui há algumas horas.

-Uma damnare te trouxe... – Um menino de cabelos castanhos começou tocando no assunto calmamente. – Ela era grande e tinha asas muito enormes.

Os outros assentiram com a cabeça olhando pra ele curiosos com o que ele tinha a dizer enquanto ele finalmente lembrava as ultimas cenas que aconteceram antes de perder a consciência.

-Astrid... – Murmurou enquanto as garras dela nas suas costas passavam pela mente do menino como um filme de terror que ele não gostava de lembrar. Ela o atacara e o levara até ali? Por quê? Porque todo mundo resolveu atacá-lo de repente... ele não tinha feito nada a ninguém, tinha?

-Astrid? Quem é Astrid? – A morena perguntou ansiosa assim como os outros. O que ele não entendia o motivo. Eles nem o conhecia.

-É a damnare que me trouxe, eu acho. – Ele murmurou cansado tentando entender que diabos estava acontecendo sentindo que só queria estar em casa do jeito que era antes.

Os quatro gemeram em espanto.

-Porque diabos aquela besta te disse o nome dela? – Se manifestou pela primeira vez o pequeno príncipe de Belzor.

-Ela não é uma besta. – Darin quase gritou finalmente abrindo os olhos sem a expressão sonolenta fazendo os quatro se assustarem.

-Seus olhos... – Otto foi o primeiro a murmurar olhando o azul curioso dos olhos do menino.

-Azuis.- Concluiu Mina que assim como todos parecia chocada.

-Impossível! – Murmurou Nicholas observando bem procurando algo que dissesse que aquilo não era verdade. – Minha mãe não teve mais filho além de mim.

Darin apenas piscava curioso com toda aquela apreensão repentina que ele não tinha a mínima idéia do que significava. Do que eles estavam falando afinal? Seus olhos eram vermelhos! Vermelhos como sangue!

-Então pode ter sido a Elisa! – Alana declarou tendo sua teoria negada por todos.

-Ela morreu quando teve o filho, Alana! – Nicholas rebateu.

-Quem são seus pais? – Otto perguntou acabando com a discussão porque com a resposta todas as duvidas seriam esclarecidas.

Darin sentiu seu coração apertar no peito e lembrou-se de tudo que ele queria no começo de tudo. Só queria encontrar seu pai e tinha sido atacado violentamente por um damnare maior que o Chad. E depois atacado pela melhor mestra de todas e agora não sabia onde estava e ainda estava como um humano todo machucado.

-Eu não sei... – Ele respondeu triste enquanto voltavam a discutir e uma pequenina menina de olhos castanhos e roupas como as dele pegou em suas mãos.

-Eu também não... – Ela murmurou com seu olhar baixo sentindo ele segurar as mãos dela também em resposta. As mãos dela eram quentes e seu sorriso era fraternal, Darin sentiu uma onda de calor invadir seu corpo dando um pouco de conforto depois de tanta confusão. Mina não dizia nada enquanto os outros três discutiam. Apenas o apoiava de uma forma simples fazendo Darin responder ao meio sorriso.

-Ele só pode ser o filho que não morreu então. – Alana falou e não foi contestada por ninguém criando um silêncio incomodo no ambiente. – Você deve ser meu irmão que não morreu quando nasceu! Só pode ser.

Darin sentiu sua cabeça girar assim como todos os outros no ambiente. Alana sorria enquanto todos faziam expressões bizarras.

-É isso! – Completou Otto que parecia levar a serio a teoria da menina, era a única explicação pros olhos dele. – Aquela damnare te seqüestrou e todo mundo achou que já estivesse morto!

Sequestro? Astrid? IRMÃ? Sua cabeça girava novamente enquanto ele não entendia nem o começo de toda aquela conspiração. E as mãos que antes seguravam as suas o abandonaram.

-O que há com os meus olhos? – Ele perguntou finalmente fazendo Alana se manifestar primeiro como de rotina.

-São azuis como os dele. – Ela falou apontando os olhos de Nicholas. – Apenas herdeiros legítimos de Belzor têm essa cor de olhos, assim como os meus que são de legítimos herdeiros de Azolf, entende?

-Meus olhos são vermelhos. – Ele contestou fazendo todos rirem.

-Bestas tem olhos vermelhos, seu bobo. – Nicholas comentou fazendo Darin lançar um olhar furioso pela palavra bestas. Será que ele não conseguia falar damnare, qual era o problema daquelas pessoas afinal?

-Damnares não são bestas! São... – Darin foi interrompido pela senhora que vira quando acordara entrar no quarto, acompanhada de um velho senhor.

-Vocês aqui!? Saiam! Saiam! Saiam! – Ela começou expulsando um por um do quarto até que só ficasse ela e o senhor com o menino. – Aí está, se recuperando mais rápido do que o senhor podia prever, está até consciente.

==

Já havia anoitecido e Darin continuava com milhões de perguntas. As crianças de antes não haviam voltado ao quarto e ele estava dormindo há algumas horas. O velho curandeiro e a senhora que cuidaram dele nada sabiam responder e disseram que estava tendo alucinações por causa da imensa perda de sangue e não estava sendo coerente, assim que eu me sentisse melhor eles me ouviriam e procurariam minha família.

No fim o problema era que entendia o que estava fazendo ali e quem eram aquelas pessoas e porque falavam de damnares de uma forma tão grotesca. Os únicos humanos que ele conhecia era Ofélia, que o alimentara e cuidara dele por muito tempo e Laila que cresceu com ele na floresta. Ela era a única filha da Tia Ofélia e tinha nascido cega como ela.

De resto só conhecia Chad e Astrid, nunca tinha saído da floresta antes e em um só dia já tinha estado em três reinos diferentes. Porque ele não estava perto de Umbra, disso podia ter certeza.

Em meio aos pensamentos percebeu que já se sentia bem melhor. Sua barriga não doía e nem suas costas e não se sentia fraco, e um sorriso surgiu em sua face quando fitou suas garras. Finalmente. Voltara a ser ele mesmo e já estava quase forte o suficiente pra procurar por Astrid. Só ia dormir, mas um pouco e...

-Darin... – Ouviu um murmúrio feminino soar e olhou pra porta entreaberta que iluminava parcialmente o quarto escuro.

Ele levantou a parte superior do corpo se sentando enquanto via a figura feminina entrar com uma vela.

-Oi... – Ele murmurou enquanto ela caminhava até a janela abrindo-a pra que pudesse enxergar alguma coisa no quarto.

O grito estridente da princesa ecoou pelo castelo assim que ela viu a figura a sua frente. Os caninos eram maiores que os normais, as orelhas enormes e pontiagudas, as garras afiadas e principalmente os olhos vermelhos.

Todos começaram a correr em direção aos gritos desde servos, até nobres que se preocupavam com o bem estar da princesa que sem duvida era a autora de todo aquele alvoroço.

No quarto ela atirava tudo o que encontrava na direção do mestiço que não entendia nada.

-Não grita. – Ele pediu se aproximando dela entrando mais ainda sob a luz fazendo-a se desesperar mais.

-Monstro? O que fez com ele? – Ela gritava ainda atirando candelárias, panos, bacias e até cadeiras. – O que fez com meu irmão sua besta?

Ele se aproximou tentando explicar que ele era Darin, mas os gritos dela o abafavam e a cada passo dele ela corria com mais desespero e terror nos olhos.

Em pouco tempo ela correu pra fora do quarto fazendo-o segui-la pra explicar o que estava acontecendo. Que ele apenas voltara a ser o que era e que não tinha motivo pros gritos. Mas assim que saiu do quarto viu vários servos que iam atrás dos gritos da princesa olharem pra ele com o mesmo terror nos olhos que ela tinha.

-Céus! Um demônio! – Murmurou à senhora que cuidara dele desde que chegara e ele sentiu lágrimas começarem a brotar nos seus olhos.

Besta? Monstro? Demônio? Qual era o problema daquelas pessoas? Não conseguiam ver que ele não machucava ninguém? Que ele só estava perdido e longe de casa?

-Ele comeu meu irmão! Essa coisa comeu ele! Pobre Darin, o que fez com ele? – Alana ainda gritava aumentando o desespero do pequeno mestiço até que ele viu os olhos mais frios e desprezíveis que já tinha visto na vida.

-O que esse amaldiçoado faz no meu castelo? – A voz do rei soou fria e Darin sentiu as lágrimas rolarem, mas ninguém parecia perceber o desespero dele.

Nunca tinha machucado ninguém e nem ao menos falado com aquelas palavras horríveis com alguém e agora era olhado com medo e terror por todos exceto pelo enorme homem bem vestido que agora apontava uma espada enorme pra ele.

Ele só queria entender... porque todos pareciam querer matá-lo fora daquela floresta?

==

Os dois damnares voavam depressa sob a noite escura de Umbra e não demorou muito pra que deixassem o território damnare.

-Ainda não acredito que deixou isso acontecer. – Ele lançou frio sem parar um segundo de se concentrar no vôo pra olhar pra ela.

Astrid observou os longos cabelos negros dele que voavam contra o vento e fez uma expressão indignada sem interromper vôo também.

-Não fui eu quem decidiu esconder todo o passado dele!

-Acha mesmo que uma criança estaria melhor sabendo que o pai está feliz por achar que ele está morto e a mãe morta também por culpa dele?

-Não disse isso! Só acho que podíamos ter inventado alguma coisa!

-Foi você que mencionou damnares, Astrid! Por Aodh como eu não entendo qual o seu problema algumas vezes.

-Meu problema?! Eu fiz o melhor que eu pude por todos esses anos!

Ele ignorou a discussão com ela e fez menção de descer quando ela pigarreou alto.

-O que foi?

-Ele não está na floresta.

-Como é? – Chad perguntou tendo certeza que não poderia ficar mais estupefato do que já estava. – Pra onde levou ele Astrid?

-Alzof – Ela murmurou sem dar tempo a ele de retrucar voltando ao ritmo anterior de vôo.

-Como é? – Ele perguntou duvidando da sanidade dela alcançando-a na velocidade.- Que diabos achou que estava fazendo?

-Ele estava como humano e... – Ele se justificou sabendo que estava completamente errada colocando a vida dele em risco desse jeito – Eu não tinha lá muitas opções. Quem ia cuidar das feridas dele se não fosse os humanos?

-Entendo. Precisava voltar a Umbra e confrontar Lars ao invés de tomar conta da verdadeira vitima da situação. – Ele falou sem o tom calmo de sempre. – Quanto tempo achou que ele ia manter a aparência humana? Ao menos isso você calculou?

Ela olhou a lua sentindo um temor invadindo-a preferindo não encarar Chad e demonstrar isso. Achou que a conversa com Lars ia demorar menos ou que Darin estava muito ferido pra voltar ao normal tão rápido.

Os dois aceleraram mais ainda o vôo sem trocar nenhuma palavra um com o outro até que atravessaram completamente a floresta e chegaram perto da fronteira de Alzof.

-Você poderia morrer, sabe? – Ela murmurou com um tom não muito habitual pra ela. – Se Lars contasse pro Aodh talvez ele...

-Acha mesmo que eu não consigo me defender melhor que o Darin, Ast? – Ele perguntou enquanto ela balançava a cabeça negativamente.

-É só que eu realmente não queria que...

Astrid foi interrompida por gritos femininos ensurdecedores pra eles vindos do castelo. Trocaram olhares que traduziam o temor que se possuía da mente deles.

Segundos depois entraram sem pensar duas vezes no salão.

==

O rei com sua espada em punhos aumentou a tensão na porta do quarto onde Darin antes fora bem tratado e bem cuidado. O que ele não entendia, pois tudo mudara só porque os seus olhos não eram mais azuis? Ou suas orelhas tão pequenas?

De qualquer forma as palavras ainda rodavam sua cabeça sem permitir o raciocínio, ele via a espada e não pensava e fugir ou lutar, pra onde? Pra Astrid que também o atacara? Pra Chad que era um general de guerra em um reino que todo mundo queria enfiar as garras em seu corpo? E pra floresta ele nem sabia o caminho... era o fim e ele nem sabia por quê. Nem relutava mais e as lágrimas corriam livres pelo rostinho já vermelho.

-Eu devia ter feito com minhas próprias mãos há muitos anos. – Ouviu o rei dizer causando um pequeno estalo em sua mente.

Muitos anos? O que ele queria dizer com aquilo? Ele por acaso o conheceu quando era menor? Sabia quem eram seus pais?

-Você... me... conhece? – Ele murmurou entre soluços erguendo o corpo pra olhar diretamente nos olhos do rei. – Sabe dos... meus pais?

-Eu mesmo vi sua mãe morrer depois de dar a luz a você aberração. Uma coisa como você saindo de uma humana... atrocidade aos nossos valores.

-Minha mãe era... – Não completou a frase, pois sentiu a lâmina passar pelas suas costas abrindo as feridas fechadas com curativos e fazendo a dor voltar com o dobro de agonia.

Alguns taparam a mão com a boca ao ver o sangue jorrar pelas paredes e pelo chão e até a princesa sentiu uma angustia que ela não sabia explicar. Ele era um monstro, tinha feito algo com seu possível irmão!

Darin sentiu seu corpo desfalecer no chão enquanto ninguém dizia nada e apenas soluços de Alana não permitiam que fosse um silêncio absoluto. Ele queria ter contado pra ela que não queria machucá-la e que ele era o Darin que ela achava ser irmão dela ele ainda não sabia por quê.

Queria ter entendido porque diziam que sua mãe era humana se ele era um damnare. Porque tentaram matá-lo tantas vezes. Porque nada parecia fazer sentido. E porque não conseguira nada do que tinha escrito naquela carta que deixara pra Astrid pela manhã.

Ouviu os soluços se transformarem em gritos e logo todos gritavam e a espada do rei não havia alcançado seu corpo desfalecido no chão. Dois pares de asas negras e vibrantes invadiram o local e em poucos segundos pode ouvir gritos chamando seu nome.

Astrid. Ele sorriu enquanto dois braços fortes que ele conhecia bem o pegava no colo sem se importar em sujar as nobres vestes com o sangue do mestiço que escorria novamente.

-Maldito... – Pode ver Astrid murmurar antes de ver a figura imponente do rei cair no chão desacordado. Talvez ele estivesse morto, e Darin sentiu um arrepio ao pensar nisso, apesar de que o próprio rei faria isso com ele se tivesse mais tempo.

-Paaaaaai! – Pode vir um grito desesperado e logo depois viu a morena correndo e agarrando o homem caído.

Astrid apenas a ignorou olhando pra Darin com certo remorso nos olhos ao olhar suas costas.

-Sinto muito, pequeno.

Darin não conseguia entender tudo direito. Ainda havia muitos gritos e assim que procurou assimilar melhor a situação sentiu seus sentidos sumirem e voltou ao nada. Estava inconsciente de novo.


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Notas finais do capítulo

Nossa, duas semanas depois mas olha o tamanho desse capítulo /o/

É o maior que eu já escrevi pq o próximo nosso Darin já é um jovem lindo mestiço. Mas as ultimas cenas serão muito bem explicadas por lembranças e de outras formas.

Falando nisso espero ter melhorado em uma das questões mais abordadas em comentários... tentei mesmo fazer tudo menos confuso! Digam-me se consegui!

Digam tudo que acharam sobre esse capítulo no qual eu apresentei diversos outros personagens importantes. Gostaram? Odiaram? Entenderam? Desprezaram? Digam o que quiserem apenas não ignore-o.

Ainda tenho bem mais leitores que reviews, mas o apoio de vcs tem sido fantástico e eu so tenho a agradecer.

Agora como sempre vou pedir pra falarem sobre o clima e sobre o capítulo /o/

Bjoo e até o próximo. Agradecimento em especial a recomendação: Hyuri e Princess-Nina eu nem sei o que dizer, realmente... valeu mesmo. A todos os reviews e favoritos tb, nem preciso dizer o quanto eles ajudaram em tudo.



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