Damnares escrita por Meg_Muller


Capítulo 2
Darin - O Filho da Sorte




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Floresta Gnuzo

“Astrid,

Já avisei pra Tia Ofélia que eu vou sair da floresta pra encontrar os meus pais. Sei que você gosta de morar na floresta Astrid e então não pedi pra você vir comigo e ao sair da floresta vou encontrar o Chad que mora na terra grande onde tem muitos damnares, e agora que eu sei que também sou um damnare eu vou ver se os meus pais também moram lá.

A Laila disse que talvez meus pais tenham me perdido na floresta e não conseguiram me achar, mas como eu já tenho 12 anos eu vou procurar porque já sou forte pra ficar sozinho agora.

Meus pais devem saber por que eu não tenho asas e nem posso sentir muitos cheiros.

Obrigada por cuidar de mim e me ensinar a caçar animais e lutar contra bichos, mas eu já consigo tomar conta de mim e fazer essas coisas sozinho. Quando eu encontrar o Chad ou os meus pais na terra dos damnares eu peço pra ele virem aqui voando e me trazerem pra te visitar.

Peça desculpa a Laila por ter ido embora sem avisar pra ela, mas ela queria vir comigo e eu não posso levá-la porque pode ser perigoso pra ela que é humana, e que não consegue ver a luz ou as coisas.

Não se preocupe porque eu volto Astrid, e trago o meu pai comigo pra conhecer você e a Tia Ofélia.”

A damnare sentiu uma sensação de desespero a invadir, Darin havia saído da floresta? Pretendia sair? Há quanto tempo aquela porcaria de carta estava jogada sob sua mesa?

Abriu as longas asas negras enfiando o papel que acabara de ler dentro da bolsa suja que trazia. O desespero agora começara a dar lugar a uma sensação de culpa... porque diabos ela fora dizer à criança que ele era diferente da melhor amiga por pertencer a uma raça diferente?

Voou o mais rápido que conseguiu pra fora da velha moradia que ela construíra pra si mesma em uma direção não tão certa ainda, se Darin soubesse que o maior dos seus desejos traria sua morte prematura talvez não fosse tão insano a ponto de deixar a floresta que ela e Chad fazia questão de mantê-lo dentro desde que nascera pra sua sobrevivência.

Sentiu uma pontada no peito ao imaginar o que aconteceria se qualquer damnare o encontrasse antes dela. Se ele seria morto imediatamente ou se seria levado a Aodh devido aos seus curiosos olhos vermelhos, qualquer das opções causava calafrios na jovem damnare.

Parou de sobrevoar entrando nos limites da floresta voando entre as árvores em busca do pequeno mestiço que se achara grande o suficiente pra abandonar os braços de quem o protegia. Talvez Chad nunca estivesse certo a respeito de esconder dele a verdade sobre sua origem, se tivessem dito de uma vez que o pai o preferia morto ao invés de perambulando sobre seu reino ele não teria feito tal estupidez.

Aumentou a velocidade enquanto apenas árvores e animais eram vistos, sabia o quanto era perigoso voar aquela velocidade a um nível tão perto do chão, mas não importava, não era ela quem estava em maior risco de vida no momento.

Ainda lembrava-se da primeira vez que o vira no colo de Chad coberto pela capa negra do damnare, tão indefeso e desprotegido que por fim ela acabou aceitando a proposta absurda de Chad de ajudar a escondê-lo de tudo e de todos.

Eram bem nítidos em sua mente os primeiros passos dele, os primeiros saltos e as primeiras caças, era praticamente isso que ensinara a ele que sempre ficava mal-humorado por não ter garras grandes como a dela ou mesmo asas como as dela. Mas por fim ele se contentara ao conhecer Laila e perceber que ela ele poderia proteger e não ser protegido.

Foi em direção ao chão ao ver uma minúscula figura feminina sentada sozinha à beira de um lago.

-Laila! – Ela chamou pousando não com tanta cautela fazendo a menina se assustar com o vento.

-Ast? – A menina perguntou reconhecendo a voz esperando que falasse novamente e assim percebesse onde Astrid se encontrava.

-Sou eu. – A jovem confirmou tocando as mãos da menina pra que ela tivesse idéia de onde ela estava. – O Darin, tem idéia de pra onde ele foi?

Os olhos de Laila sempre tão inexpressivos e opacos por causa da falta de visão ficaram marejados de lágrimas.

-Ele foi embora, Ast. E disse que eu não podia ir porque humanos não podem ir até as terras de damnares porque são muito pequenos e fracos... – A menina falou entre soluços já deixando que as lágrimas rolassem. – Eu falei que era forte e ele disse que ia comigo, mas... ele não veio.

-Vocês iam juntos quando e por onde?

-Ontem ele me falou pra arrumar tudo. – Ela explicou mexendo as mãos pra que Astrid percebesse a pequena trouxinha de roupas que ela trazia nas mãos. – E hoje ele não veio.

-Por onde Laila?

-Pelo... pelo caminho do rio eu acho, ele disse que Chad sempre segue até o fim e...

Astrid balançou a cabeça negativamente soltando a menina e abrindo as asas impaciente fazendo-a se assustar novamente. Se ele já havia planejado aquilo desde ontem tinha chance dele estar...

Ela não quis terminar de pensar apenas abrindo vôo ali mesmo fazendo Laila se desequilibrar e cair de costas no chão. Tinha por certo que ela não estava tão machucada quanto Darin poderia estar e saiu o mais rápido que pode seguindo o caminho que Chad sempre usava pra voltar às terras do mestre Aodh. Como ela não havia pensado nisso antes?

Desde que ele se descobrira damnare pedia insistentemente a Chad que o levasse até onde ele morava, lá por haver mais damnares haveria uma chance maior de encontrar seus pais. Encontrar o pai. Astrid engoliu seco pensando no que poderia acontecer se Darin realmente encarasse Aodh.

“-Ast! Ast! Eu descobri o que significa Darin! – A criança gritava afoita correndo até a damnare de cabelos roxos com os braços pra cima.

Astrid estava como sempre esfolando algum animal morto no meio da sua cabana suja e com cheiro de sangue. Colocou a faca de lado ao ver o pequeno que como sempre invadia sua casa e abaixou até o nível dele pra entender o que ele falava.

-Calma criança... – Ela murmurou fazendo-o parar a poucos metros dela com um sorriso enorme.

-Eu descobri! É filho da sorte! – Darin declarou feliz enquanto ela não entendia o porquê do afobamento dele. – Porque meus pais me dariam esse nome?

-Na verdade seus pais... – Ela começou vendo o sorriso dele dar lugar a uma curiosidade apreensiva que se tornaria em algo não tão amigável quando ela terminasse o que pretendia falar. – Acharam que você teve muita sorte por nascer e então te deram esse nome.

Por fim ela não tivera coragem suficiente pra cuspir a verdade sobre ele.

-Sorte por nascer? – Ele raciocinou sentando no chão enquanto ela seguia o movimento dele sentando também enquanto o via pensar. – Então eu era doente quando nasci? Doente como a Laila?

Astrid movimentou a cabeça negativamente se perguntando o que dizer agora. Tinha ordens restritas de Chad pra não dizer nada desnecessário sobre o nascimento dele. Não queriam que ficasse traumatizado sabendo que só por nascer havia declarado a morte da própria mãe e que se o pai soubesse dele com vida não pestanejariam antes de mandar matá-lo.

-Mais ou menos criança. – Astrid murmurou levantando sentindo algo como culpa por mentir tanto pra ele a respeito de sua origem.

-Ah, então deve ser por isso que as minhas orelhas são maiores que as da Laila. – Ele calculou olhando pra ela que agora a via de costas. – Você e Chad, Ast! Acho que são doentes como eu então...

-Nós não... – Suspirou exausta percebendo a encruzilhada que se colocara agora.

-Chad não parece doente Ast! Nem você. – Ele concluiu ainda olhando curioso pra ela em busca de mais respostas.

-Nossa aparência não é uma doença Darin – Ela começou virando novamente de frente pra ele fazendo-o focar os olhos nela apreensivo. – É porque pertencemos à outra raça, uma raça chamada Damnares.

-Isso eu sei, Ast. – Darin respondeu afoito balançando as mãos. – Chad me contou o que vocês são quando eu perguntei sobre as asas, mas... eu? As orelhas e os olhos... Eu sou um damnare Ast?

-Sim. – Ela finalizou levantando querendo que ele parasse por ali.

-Mas e as asas e as garras grandes?

-Você ainda é pequeno, Darin. – Ela murmurou com um sorriso. – Agora pegue uma faca e vamos caçar porque isso que eu peguei não vai ser suficiente.

Ele acenou positivamente com a cabeça enquanto ela esperava que aquela fosse a ultima conversa que eles tivessem sobre o assunto.”

Era culpa dela afinal, dela e da curiosidade eufórica do pequeno Darin que quando descobrira aquilo estava com nove anos, e agora aos doze se achava maduro pra desvendar a verdade por si só.

O pequeno era objeto de curiosidade pra todos então era normal ser pra si mesmo, tantas eram as peculiaridades do pequeno. Ainda se lembrava de estar limpando suas facas quando viu a casa ser invadida por uma criança humana extremamente machucada.

Pensou em expulsa-lo dali com apenas um golpe quando o ouviu dizer o nome dela da forma em que apenas Darin e Laila a chamavam, os olhos eram azuis e não vermelhos, assim como nada de garras, presas ou orelhas pontudas. Era um humano, mas algo naqueles olhos a fazia ter certeza de que era seu protegido.

Em menos de uma noite ele havia voltado a ser o pequeno filhote de damnare sem asas e as feridas estavam cicatrizadas, a explicação que ele deu é que havia caído e se machucado muito enquanto brincava nas montanhas e ela ainda se perguntava o porquê da súbita transformação, mas desenvolvendo uma teoria ao longo dos anos.

Bufou sem interromper o vôo, tirando a mente dos pensamentos e tentando se concentrar em achá-lo, pelo menos era mais rápida e isso dava a sensação de que chegaria a tempo.

-§-

Darin parou a caminhada exausto sentando a beira do rio e bebendo um pouco de água, nunca achou que seria tão longe chegar ao seu destino, mas fazer o que? Ele não tinha asas afinal... a forma mais rápida seria com os saltos que Astrid tanto se gabava por saber fazer bem.

-Um humano na fronteira do reino de Umbra?

O menino ouviu a voz fria soar e lembrou que era esse o nome pelo qual os damnares chamavam a própria terra. Enfim havia chegado à fronteira e ia esboçar o sorriso quando se lembrou da palavra que ele achara que fora dita sobre ele... Humano?

-Não é sempre que a caça é tão fácil assim... – Ouviu o ser murmurar e tinha certeza de que este se aproximava virando assim o rosto para fitá-lo.

-Mas que diabos... – O damnare murmurou ao ver os olhos vermelhos, as orelhas e as pequenas presas que ainda se desenvolviam na criança.

Sentiu sua cabeça girar se perguntando como não poderia ter sentido o cheiro de um damnares ou até mesmo de humano, e porque diabos ele tinha aqueles olhos e não tinha asas.

-Que diabos é você? – O damnare murmurou curioso se aproximando do pequeno instigado.

-Eu sou um damnare! Vim pra Umbra encontrar os meus pais.

-Um damnare? – O mais velho debochou abrindo as asas. - Você nem asas ou garras tem filhote.

-Porque eu sou pequeno ainda, elas crescem quando eu...

-Você nem cheira como um damnare! E as minhas asas cresceram comigo desde que nasci.

Darin esboçou uma expressão confusa com certa frustração.

-Mas o Chad disse que...

-General Chad? – Ele perguntou ainda mais curioso com a criatura a sua frente. – De onde alguém como você ia conhecê-lo?

-Ele me visita na casa da Astrid ás vezes... – A criança murmurou ainda mais confusa. – Ele é um general? Tipo... de guerra?

-Astrid... Astrid... – O damnare adulto repetia pra si mesmo com a certeza de que aquele nome era familiar enquanto ignorava o pequeno.

-Se sabe o que ele é você o conhece então, pode me dizer onde ele mora porque eu...

-Astrid! – O damnare explodiu eufórico pra si mesmo enquanto lembrava-se do nome. – Por acaso ela tem um belo par de olhos vermelhos?

-Sim! Sim! Iguais aos meus! – O menino comentou feliz ao ver que o homem conhecia dois dos seus protetores aumentando assim as chances dele mostrar o reino de Umbra pra ele.

Ao ouvir a frase do garoto o damnare lembrou que ele também possuía os curiosos olhos vermelhos, e que aquilo era ainda mais intrigante do que Astrid estar viva e um filhote sem asas conhecer Chad.

O único com aquele belo par de olhos em seu reino era Aodh e sua perdida nem tão morta filha: Astrid. E agora um pequeno estranho também possuía o mesmo.

Imaginou qual seria a reação de Lars ao descobrir aquilo, perguntou a si mesmo se ele ficaria mais chocado com o fato da irmã está viva ou de ter um pirralho sem asas que ameaçava ser seu possível parente?

-Pode me levar, senhor? – O menino tentou novamente fazendo o mais velho sorrir maliciosamente.

-Na verdade eu posso levá-lo até alguém que vai ficar feliz em te ver o que acha?

-Feliz em me ver? Vai me levar até o Chad?

-Quase isso. – O outro respondeu se aproximando mais ainda da criança ficando cada vez mais confuso com o cheiro que emanava dela. Não o mataria por respeito aos olhos vermelhos, com um detalhe como aquele era melhor que Lars decidisse o destino do pequeno, ou até mesmo o próprio Lorde Aodh.

Sentiu seu corpo sair do chão com as garras do damnare encravadas na sua roupa, estava voando do jeito mais desconfortável que já voara na vida, mas ainda assim estava satisfeito de ir encontrar alguém que queria vê-lo e principalmente não ter que fazer isso pelo chão já que suas pernas não agüentavam mais.

-§-

Astrid chegou a fronteira da floresta com Umbre e nem pensou duas vezes antes de ultrapassá-la. Sentiu o cheiro inconfundível de um damnare misturado ao de Darin o que fez se desesperar mais ainda, tinha que ser justamente ele? O escudo e olhos de Lars, o único que ela odiava mais que Aodh naquele reino que ela jurara nunca mais voltar.

Voou o mais rápido que conseguiu seguindo o cheiro sem demorar muito pra acontecer o que temia que acontecesse. Lars estava perto e infelizmente Darin também, e pra terminar de acabar com a paciência dela lá estava o maldito cheiro de sangue, que não pertencia a um damnare.

-§-

Darin contorcia cada parte do seu corpo sentindo sensações que nunca se achou capaz de ter. Sua cabeça girava enquanto uma quantidade absurda de sangue escorria pelas feridas no seu pescoço e tórax e sua visão já estava mais que turva.

Ainda podia ouvir de longe o bater das asas daquele que agora provavelmente procurava por eles por todos os cantos daquela floresta a fim de findar o pouco de energia vital que ele ainda desfrutava.

Não conseguia entender porque aquilo estava acontecendo, o enorme damnare chamado Lars mal perguntara seu nome depois de fitar seus olhos vermelhos. Apenas avançou pra cima dele com um ódio nos olhos que o menino nunca tinha visto o golpeando sem remorso.

Parou de se arrastar como um indigente dizendo a si mesmo que não conseguiria mais fazer aquilo. Sentiu algo pousar ao seu lado e acreditou por alguns segundos não ser o mesmo damnare até sentir um par de garras encravarem acima do seu cóccix fazendo-o urrar de dor.

Sentiu seu corpo desfalecer e cair aos poucos em direção ao chão. Aquelas garras não eram como as outras, elas eram femininas e conhecidas. Ele sabia que a aterrissagem feita tinha sido por outro damnare, ele só esperava que tivesse sido de um não tão conhecido.

-Ast...

-Eu sinto muito...

Astrid passou as mãos sujas com sangue de mestiço sobre o rosto do pequeno, ela não tinha tido outra alternativa além daquilo.  


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Notas finais do capítulo

Hey,

Eu de novo e tenho que falar da minha frustração: Eu tenho quase o dobro de leitores com relação ao que eu tenho de reviews!

Extremamente injusto, devo dizer!

Saiam do armário e se mostrem dizendo algo mesmo que não seja algo lá muito bom, ok?

E quanto a este capitulo o que acharam? Foi praticamente focado em dois personagens mas eu tinha algumas cenas com os outros mas ia ficar muito confuso se eu colocasse.

Digam o que acharam do capítulo, dos personagens, do calor que está fazendo hoje e tudo mais.

Valeu mesmo por acompanharem e mandarem reviews e add aos favoritos, isso significa muuuuito pra uma guria q acabou de tentar começar a escrever.:D

Bjoo.