- Patetico... – murmurei. Ele era tão patético.

Mantive meu olhar sobre ambos que permaneciam no local. Um sentado encostado na parede. Seus cabelos eram extremamente claros, sua franja cobria parte do seu rosto, mas eu me lembrava bem de como era sua face.

Ele era pálido e estranho, sempre andou calado, mas suas palavras nunca importaram muito. Eu o conhecia, um dia fui amiga dele, mas agora isso não tinha importância alguma, afinal meu amado morreu...

Não sorri, não tinha por que o fazer. Apenas fiquei parada observando-os.

Um caído com o cabo de aço envolto em seu pescoço, o mesmo encontrava-se desmaiado. E o meu ex-amigo apenas sentado encostado na parece enquanto uma flecha grande residia caída ao seu lado.

Seu ombro estava ferido. Podia-se ver o sangue escorrer por suas roupas e formar uma poça no chão abaixo de si.

Logo uma massa começou a tomar forma frente a Zero.

Cabelos loiros longos puderam-se ser vistos. Um corpo cheio de curvas logo fez-se presente.

Ah, ela já iria dar fim a minha diversão...

Em poucos segundos Lire mostrou-se completamente presente a mesma empunhava um arco grande para Zero.

Balancei a cabeça devagar desviando meu olhar dos vidros da janela. Me afastei do local ao qual me encontrava anteriormente e me dirigi ao píer.

Assim que me encontrei ao fim do caminho de madeira apenas fiquei parada observando o lago.

A água era gélida a aquele hora, ainda mais com essa chuva que teimava em não cessar.

Não respirei, eu não precisava mesmo.

Ergui meu olhar a fim de deparar-me com a imensidão negra e vazia da floresta que se estendia após o lago.

Diferente do que eu esperava encontrar, eu vi novamente aquela figura...

Ele estava apenas parado, seus cabelos albinos meio azulados balançavam levemente devido a brisa, seus olhos avermelhados pareciam ver alem de mim, apesar de que não havia nada alem de mim para se admirar, eu era apenas um espírito penado que buscava vingança...

Sua pele era meio pálida, um pouco fantasmagórica, mas ele estava longe de ser um fantasma. Pude notar que ele vestia apenas uma calça clara, e nada mais.

Ele não desviava o olhar de mim, mas também não saia de seu lugar por detrás da arvore velha.

Ficamos a nos encarar...

Eu já sabia o que ele queria, mas eu não podia fazer isso, não agora, não enquanto ainda houvesse escoria viva.

Balancei a cabeça devagar e logo voltei a encarar suas orbes carmesin.

- Se continuar estará perdida... – murmurou-o, mais ainda sim não deixei de escutar tal sussurro.

- Se esse for o preço, estou disposta a paga-lo... – respondi.

- O preço é muito mais alto que esse – disse-o e logo o silencio se instalou.

Eu estava disposta a pagar qualquer preço, afinal, tudo possuía um preço, eu sabia, e agora não seria diferente.

Vi-o abaixar o olhar para o lago.

- A escolha é sua, mas lembre-se: você ainda tem tempo para mudar de idéia – murmurou-o.

Fechei os olhos sentindo uma misera lagrima escorrer por meu rosto frio. Não havia volta, mesmo que eu quisesse.

Abri os olhos e voltei a encará-lo.

- Minha escolha já foi feita – afirmei.

Ele apenas balançou a cabeça levemente.

Logo suas longas asas albinas se abriram e ele tomou vôo.

Abaixei a cabeça observando meu reflexo.

Cabelos longos e rosados soltos, expressão fantasmagórica, olhos vazios...

Eu estava mesmo morta.

Não sorri.

Virei-me e voltei para a casa velha.

Talvez minha única alternativa para a salvação estivesse tomado os céus momentos atrás.

Agora eu estava sozinha...

- Ou talvez não...