Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 28
Capítulo XXVIII




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O carro alugado preto, de vidros escuros, parou de repente. O motorista disse que chegaram ao destino final, e Rima respirou fundo, sentindo-se de repente, muito nervosa. Nadeshiko, ao seu lado, dormia tranquilamente há horas, e por isso mesmo, não sabia nem remotamente qual era o destino das duas naquelas férias de verão. Depois de alguns segundos apenas pensando, Rima tomou coragem, e cutucou a bochecha de Nadeshiko com o indicador, fazendo-a acordar.

— Nós já chegamos… - ela murmurou, repentinamente nervosa. Nadeshiko abriu os olhos e os esfregou, atordoada e desorientada. Olhou ao redor, tentando se localizar.

— Mas onde nós estamos, afinal? – ela bocejou. Inclinou-se sobre Rima, preguiçosamente, para olhar pela janela. Assim que seus olhos se focaram logo a frente, reconhecendo aquela rua, e aquela casa, seu queixo despencou. Trêmula, ela tentou fitar Rima, que se encolhia no banco, temerosa pela reação de Nadeshiko – Rima… i-isso é…

— É a sua casa, Nadeshiko. – Rima disse simplesmente. Nadeshiko sentou para trás no banco, em choque. Seu rosto pálido não demonstravam nada além de absoluta descrença.

— Rima… por que você fez isso? – ela, com alguma dificuldade, conseguiu enfim dizer.

— Você nunca me fala sobre a sua família, eu estava curiosa! Fiz uma pequena pesquisa, e consegui encontrar o endereço correto… Então, pensei que talvez, depois de tanto tempo, sentisse falta deles! Eu fiz mal…?

— Claro! Quero dizer… claro que não… - Nadeshiko hesitou, e vendo o semblante preocupado que a garota exibia, tentou se retratar. Respirou bem fundo, tentando se acalmar – Rima… Eu não posso aparecer em casa, assim tão de repente! Não com você! E… não vestido como garota…

— Seus pais não sabem sobe seu emprego? – ela indagou.

— Não de todos os detalhes. Enfim, eu não posso simplesmente…

— Ah! Então o problema são as roupas? Certo, entendi. – Rima avançou, sem deixar o garoto terminar de falar, e se pronunciou para o motorista – Leve-nos para a loja de roupas mais próxima daqui!

Poucos minutos depois, eles estavam entrando em uma loja de tamanho mediano, no centro da cidade. O motorista os esperava do lado de fora, mas Nadeshiko andava na frente, direto para o setor masculino. Parecia muito mais nervosa do que queria deixar transparecer, e Rima não conseguia entender o motivo para tanta afobação. Ela não tinha feito bem, em trazer Nagihiko para visitar sua família?

Sentada em um pufe em frente aos provadores, ela esperava não tão pacientemente assim. Detestava ter que esperar, e ainda mais, quando Nadeshiko a proibiu de dar opiniões sobre as roupas que escolheria. Batendo os pés no chão, ela sobressaltou quando enfim, a cortina do provador foi aberta.

— Então… o que acha?

Com os cabelos violeta soltos atrás das costas, e a voz mais grave e aveludada se projetando, Nagihiko foi quem surgiu por trás da cortina. Rima sentiu seu coração dando um looping completo, batendo num ritmo tão acelerado que ela não conseguia nem respirar direito. Ele usava calças escuras, e um tênis preto e branco nos pés. A camiseta branca, com estampa de palavras escritas em inglês, era encimada por uma camisa xadrez azul-marinho, aberta e com as mangas dobradas até abaixo do cotovelo. Não era nada extraordinário, na verdade, parecia até bem normal. Porém… era a primeira vez que Rima via Nagihiko usando roupas masculinas de fato. Ela mal conseguia se lembrar de como respirar, e seu raciocínio havia ido para o espaço. Que ideia genial havia sido aquela? Ela estava a ponto de ter uma síncope!!! E única coisa na qual conseguia pensar naquele momento, era no fato de que… ele era… ele era lindo!

— Ah… e-eu acho… q-quero dizer…b-b-bem… f-ficou… ficou aceitável… - ela fechou os olhos, sentindo o rosto entrar em ebulição agora. Não podia fita-lo diretamente, ou seu cérebro entraria em curto de vez. Nagihiko riu, corando ligeiramente, mas ainda apreciando a reação nervosa da garota. Pelo menos, vê-la daquela maneira perturbada aliviou um pouco da sua inquietação.

— Que bom que gostou, Rima-chan… - ele sorriu de maneira exagerada, com o único propósito de embaraçá-la ainda mais. Rodeou a cintura de Rima com a mão, fazendo-a quase perder o equilíbrio – Mas… tem um pequeno detalhe…

— O que é? – Rima se esforçou para ser coerente, embora ter Nagihiko tão perto de repente não fosse a melhor forma para isso.

— Você não pode aparecer comigo na minha casa. Quero dizer! – ele se apressou em dizer, ao perceber o olhar contrariado da loira – Não como você mesma, entende? Se eles souberem que você é Mashiro Rima, e que é a minha… protegida… seria um problema. Então, será que eu posso apresenta-la com algum outro nome? Adotar um disfarce seria o ideal…

— Por que isso? – Rima se desvencilhou do meio abraço de Nagihiko, começando a se irritar.

— Apenas… eu só posso dizer que seria ruim se eles soubessem quem você é. Ainda mais chegando de surpresa, sem avisar… - ele segurou a mão pequena de Rima na sua, e preparou o seu olhar mais convincente. O coração despreparado dela deu outro solavanco – Será que você pode fazer isso por mim?

Como já estava fraca pela aparição não planejada da versão masculina de Nagihiko, e não era de forma alguma imune àquele tipo de olhar suplicante, a resposta de Rima só podia ser uma.

— Q-que tipo de disfarce você sugere?

O próximo passo foi seguir as orientações de Nagihiko, que parecia muito hábil naquela arte de se disfarçar. Ele comprou óculos de grau para ela, com a armação vermelha, quadrada e espessa, que escondiam parte da sua face. Depois, amarrou os cabelos dela em duas enormes tranças, com fitinhas nas pontas. Rima não gostou nem um pouco disso tudo, mas parecia ter perdido todas as suas forças de argumentação diante do verdadeiro e natural Nagihiko. Quando enfim terminaram, e pagaram por tudo, Nagihiko já não parecia mais tão apreensivo. No entanto, Rima sim, arrependia-se até o último fio de cabelo trançado por ter tido aquela estúpida ideia.

A próxima parada foi, novamente, a casa dos Fujisaki. Aquela enorme mansão parecia agora imponente demais para Rima. Ela não havia prestado atenção da primeira vez que passaram por ali, mas a casa da família Fujisaki era enorme, só não tanto quanto a sua própria casa, apesar de não poder haver comparação entre as duas, sendo que a de Nagihiko era inteiramente constituída do mais tradicional estilo japonês. Na cabeça da pequena Mashiro, a única incoerência era como raios alguém criado em uma casa como aquela foi parar em um emprego de segurança de uma colegial, como ela.

Apesar disso, o medo de repente falhar na hora de conhecer os pais de Nagihiko a atemorizou mais do que qualquer uma das suas dúvidas existentes. Sim, pois… só agora ela percebia esse detalhe, mas nesse momento, estava indo para ser apresentada aos pais do seu namorado! E logo nesse dia, Nagihiko tinha que insistir nessa ideia de disfarce patética… Rima se sentia milhares de vezes mais insegura tendo que se apresentar daquela forma ridícula. Ela queria poder desistir de tudo agora!

 Mas Nagihiko sorria com tanta tranquilidade, a despeito da sua atitude estranha de mais cedo, que ela sentiu que não poderia dizer isso a ele. Subitamente, ele segurou a mão dela entre a sua, e, enquanto o motorista tirava as malas do carro, Nagihiko se precipitou na direção da sua casa.

Apertou o interfone, e aguardou. Segundos depois, um pequeno bipe, e uma voz chiada.

— Fujisaki-sama! – a voz era masculina, e parecia genuinamente surpresa. Rima olhou ao redor, esperando ver a pessoa que falava ali por perto, afinal, já sabia que era Nagihiko quem estava ali, mas tudo o que encontrou foi uma câmera de vídeo, com sua lente especulativa apontada direto para eles. Ela corou, encolhendo-se atrás de Nagihiko – Eu não esperava vê-lo aqui logo agora! Será que… deu algo errado…

— Não, eu estou perfeitamente bem, obrigado. Apenas… abra o portão, sim? Tem alguém me acompanhando…

— Alguém? Oh, sim… como vai, jovem senhorita…

— Depois, Masato, depois! – Nagihiko fitou seriamente o interfone, como se de fato a pessoa com quem falava estivesse ali, e então, com alguns resmungos sendo ouvidos através dos chiados, o portão da frente abriu-se. Apesar de ser antigo e tradicional, ele era também eletrônico.

A primeira visão de Rima, ainda atrás de Nagihiko, foi de um magnífico jardim. Um lago cortava o caminho entre eles, e uma ponte de madeira curvada o atravessava, seguindo por um caminho de pedras entre a grama bem cortada, até a entrada do pequeno palácio que era a casa dos Fujisakis. Havia carpas no lago, Rima observou, enquanto seguia Nagihiko pelo caminho. Boldos, sakuras, e dezenas de outros tipos de árvores se abriam diante deles, refletindo a luz do sol. Pedras, mais adiante, formavam um maravilhoso jardim japonês, do tipo que Rima só via quando ia às termas, ou a museus e templos.

— Sua casa é linda, Nagi… - ela sussurrou, distraída vendo uma das carpas dar um salto no lago.

— Obrigado – ele riu, verdadeiramente orgulhoso. Espere até ver a praia que fica aqui perto…

Não pode terminar o seu comentário, pois logo, uma austera mulher saiu do interior da casa, seguida por mais duas garotas mais jovens, que andavam curvadas e com passos miúdos. A mulher fitou Nagihiko com ar de superioridade, e ele permaneceu imóvel, no pé das escadas que davam acesso à entrada, sustendo o seu olhar, com Rima em seus flancos. Ela tinha cabelos castanhos, presos em um coque firme e elegante, e trajava um belo kimono, inteiramente rubro, com flores de lotús bordados nas pontas, e o obi branco e dourado na cintura. Seus olhos, cor de âmbar como os do filho, não deixavam transparecer emoção alguma. Rima não conseguia decifrar o que ela estava pensando, e isso a assustava de uma maneira inteiramente nova.

— Okaa-sama… - Nagihiko sorriu, deixando Rima por um momento, enquanto andava até o encontro da mulher – Senti muitas saudades… - ele disse, curvando-se rapidamente, para então dar à sua mãe um logo abraço. Por um breve instante, Rima achou que ela não fosse corresponder. Mas então, surpreendendo-a, a Sra. Fujisaki deixou escapar um sincero sorriso, e abraçou seu filho com vontade.

— Também senti sua falta, garoto ingrato! Nenhum telefonema! Nem mesmo para me dizer se ainda estava vivo! Tem ideia das coisas horríveis que passaram na minha cabeça, com você morando sozinho em uma cidade grande?

— Gomenasai, Okaa-sama – Nagihiko esfregou os cabelos, sem graça. Era a primeira vez que Rima o via sendo submisso de uma forma tão espontânea.

— Vejo que trouxe companhia… - os olhos dela faiscaram na direção de Rima. Por um momento, a loira havia esquecido da sua posição, distraída que estava com a cena de reencontro. Mas logo seu coração voltou a bater alto e nervoso, lembrando-a de todas as suas preocupações.

— Então, Okaa-sama… quero que conheça a minha namorada… - Nagihiko desceu até onde Rima estava, e a conduziu frente a sua mãe. Rima corou furiosamente, e mal podia abrir os lábios para pronunciar alguma palavra. Era a primeira vez que Nagihiko se referia assim à ela. Aquele dia estava repleto de primeiros momentos, de fato. – Essa é… Ri- ele hesitou – Riyoko. … Aisaka… Riyoko, é o nome dela.

Rima tentou não demonstrar surpresa com aquela história tão repentina, e mesmo sem entender o motivo para querer tanto assim esconder a identidade dela, curvou-se respeitosamente frente à mãe dele.

— É um prazer conhecê-la, Fujisaki-san – ela disse, usando o seu tom mais polido e refinado, que havia sido moldado por anos e anos de aulas de etiqueta. Ergueu o rosto, e sentiu uma onda de alívio ao perceber que a mãe de Nagihiko agora tinha um sorriso para ela também, embora seus olhos ainda fossem severos.

Ela soltou um suspiro, como se estivesse tendo que se conformar com aquela situação, ou como se pensasse que filho pudesse arrumar coisa melhor… ou ainda uma mistura das duas coisas, e convidou Rima para entrar.

As empregadas, que os seguiam onde quer que fossem, serviram chá em uma mesa na varanda, de onde tinham uma visão privilegiada do jardim lateral. Nagihiko segurou sua mão, enquanto ela se acomodava no lugar indicado, sorrindo para ela como uma forma de dizer que estava tudo bem. Pelo jeito que ele a olhava, Rima tinha certeza de que havia sido aprovada, ou pelo menos tolerada, pela severa Sra. Fujisaki.


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Notas finais do capítulo

Desculpa pela demora, minna-san... as aulas, os trabalhos da faculdade, isso realmente toma muito tempo, e ainda suga toda minha criatividade! eu fico sem espaço, nem inspiração, pra escrever... vou tentar consertar isso, mas peço paciência...

Espero que gostem do que eu consegui dessa vez~ não prometo postar logo, por que agora eu comecei a trabalhar, então... é, isso aí...

Obrigada por tudo!! Volto assim que der! Essa fic vai ter um final, ganbatte yo!



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