Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 29
Capítulo XXIX




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/136935/chapter/29

Rima não conseguia pregar os olhos, naquela noite. O dia inteiro havia ficado tensa, praticamente congelada, temendo os olhares severos e profundos que a Sra. Fujisaki lançava para ela, como se tentasse ver o que raios o seu filho havia visto naquela garota. Além disso, aquelas tranças apertavam sua cabeça, que já latejava em protesto, e os óculos incomodavam seus olhos. Tudo o que ela queria era uma boa noite de descanso, e esquecer todas aquelas preocupações, e depois de tomar um banho relaxante na enorme banheira da mansão, pensou que poderia ter direito ao menos a isso. Mas estava redondamente enganada.

Em um gesto de aprovação… ou talvez fosse algum tipo de teste, a mãe de Nagihiko fez questão que ela ficasse no quarto dele. Ou seja, eles teriam que dormir juntos. E pior, em um futon de casal, especialmente preparado. Rima queria morrer, ao ver aquela preparação no quarto do garoto. Ele, com um sorriso despreocupado demais para quem estava à beira de um ataque de nervos no dia anterior, apenas disse “Não é como se não tivéssemos dormido assim antes. E além do mais… acho que ela gostou de você…”. Rima queria socar aquela cara irônica que ele tinha, até que ficasse irreconhecível, por fazer piada do constrangimento dela.

E agora, graças a isso, apesar de toda a exaustão física e mental que sentia, ela não conseguia descansar, com Nagihiko estava bem ali do seu lado, dormindo como um garoto, abraçado a ela sem nenhuma cerimônia, e com a possibilidade de alguém chegar a qualquer momento… Tudo bem, ele estava certo quando disse que eles dormiam assim muitas vezes… mas, isso era na casa dela! Com a porta trancada! Ela se sentia segura em seu próprio quarto! Não era como agora, em um lugar desconhecido, onde se sentia avaliada a cada passo que dava, com medo de errar, de falhar…

De repente, ouviu passos na escuridão. Seu coração acelerou, e ela se apressou em fechar os olhos, tremendo ao ouvir os ruídos se aproximando. Encolheu-se contra o corpo de Nagihiko, que ainda a segurava protetoramente, mesmo enquanto dormia. A porta do quarto se arrastou, e Rima fingiu dormir, apesar de estar tão agitada por dentro que qualquer um a perceberia o seu fingimento.

— Nagihiko. – um sussurro cortou o ar. Foi quase inaudível, mas como se estivesse respondendo a um chamado instintivo, Nagihiko abriu os olhos e soltou Rima, sentando no futon e olhando para a porta. Ela não se atreveu a mostrar que estava acordada.

Sem uma única palavra, Nagihiko se levantou, e seguiu a sua mãe, que estava ajoelhada ao lado da porta há poucos segundos atrás. Rima resolveu abrir os olhos, logo depois que ouviu a porta sendo arrastada de volta ao lugar, e intrigada, tentou entender o que acontecia.

Sua curiosidade venceu o bom senso sem muito esforço, e lentamente, ela se levantou. Abriu a porta tão lentamente quanto podia, andando a passos cuidadosos pelo corredor que parecia não ter fim. Finalmente, viu uma luz remota infiltrando-se pela divisória de madeira e papel, e parou atrás dela, tentando ouvir alguma coisa.

— … então, Nagihiko. Quero saber como você está indo com sua missão. Suponho que você não ficou apenas brincando por aí com garotas, e não se esqueceu do que deveria fazer, correto? -  a voz da mulher parecia ainda mais severa, se é que isso fosse possível. Era como um chefe falando com seu funcionário, e não uma mãe e o filho.

— Hai, Okaa-sama. – Nagihiko respondeu com polidez e submissão – Eu obedeci a todas as suas ordens. Fiz tudo o que foi preciso para conseguir o emprego de segurança, e me submeti a todas as exigências, para…

— Que tipo de exigências? – ela o cortou, rígida.

— Não vale a pena expor os detalhes. – ele desconversou – Apenas, saiba que eu consegui infiltrar-me entre o quadro de funcionários da família Mashiro com sucesso, assim como me foi ordenado. As informações que passei são o suficiente para notar isso, não são?

Rima ofegou, confusa. Que tipo de informações Nagihiko estava falando…? Será que ele ainda escondia alguma coisa dela? Apurando os ouvidos, ela resolveu ouvir mais, antes de tirar qualquer conclusão precipitada.

— Sim, eu admito que você tenha passado todos os dados referentes aos assuntos que nos interessam com muita precisão. Mas, você sabe muito bem que nosso objetivo principal não é ter conhecimento sobre as finanças ou os negócios do grupo Mashiro. Essa empresa já nos prejudicou mais do que podemos avaliar! Você sabe muito bem, Nagihiko, você presenciou!

— Hai, Okaa-sama. – Nagihiko respondeu como uma resposta ensaiada. – Eu sei que os negócios dos Mashiro causaram prejuízo às nossas empresas legítimas, e que foi a construtora dele que demoliu praticamente toda a vila que ficava sob nossa proteção durante eras…

— Sim, meu filho. Todas aquelas pessoas desabrigadas, ficaram dessa forma apenas por causa da construção de um shopping. Isso não é justo, não acha?

— Sim, mas… isso o que você quer fazer, também não me parece justo! Quero dizer…

— Não adianta, Nagihiko! – ela o cortou, levantando a voz pela primeira vez. Rima e Nagihiko se assustaram ao mesmo tempo – Eu sei que seu senso de justiça é muito aguçado, mas isso não pode interferir na sua missão! Não importa o que, nós precisamos recuperar o nosso status. Depois daquele severo golpe nas nossas empresas… temos que recorrer a esse tipo de métodos. E além do mais, eu já contatei a família que se associou a nós, não temos escolha a não ser obedecer a ordens. Não há falhas nesse plano, Nagihiko, desde que você cumpra seu papel como foi ordenado. Agora, se apresse e vá dormir, antes que sua namorada note sua ausência. Conversaremos mais em outra ocasião.

Rima correu o mais rápido que podia para longe dali, e deitou na cama bem a tempo de ouvir os passos suaves de Nagihiko ecoarem pela escuridão, e então, ele abriu a porta, e a fechou novamente. Deitou ao lado de Rima, que continuava a fingir que nem tinha se movido, e ficou algum tempo fitando o teto, com os olhos parados. Logo depois, virou-se para ela, e a abraçou carinhosamente, fechando os olhos.

— Eu te amo, minha pequena… Rima… - ele sussurrou, seguramente, e beijou a sua face, tentando dormir logo depois. Aconchegou-se ao corpo pequeno dela, parecendo querer escoltá-la, protegê-la, ainda mais do que antes. Rima deixou-se ser acalentada, e com apenas um toque, todos os seus temores se evaporaram. Ela não entendia aquela conversa estranha, e nem queria entender. Nagihiko estava ali, ele era real. Ele a amava. Nada mais importava, além disso…

No dia seguinte, porém, nenhuma dessas recordações difusas vinha na mente de Rima. Ela não se recordava com detalhes da conversa que ouvira, e nem do medo que sentiu, e aquilo acabou se tornando nada mais do que um sonho na sua lembrança. Nagihiko e ela tomavam café da manhã juntos em uma das salas de jantar da casa. Para alívio da garota, a mãe dele não estava presente, embora ela ainda tivesse que usar o seu “disfarce”, de tranças e óculos enormes, e sentia-se ridícula por isso.

— Tem algum lugar onde você queira ir, Rima-chan? – Nagihiko indagou, sorrindo para ela. Rima ainda não estava acostumada a ser chamada desse jeito tão familiar pela voz masculina e rouca de Nagi, por isso, levou algum tempo para responder, tentando se recompor primeiro.

— T-tanto faz. Você conhece o lugar, então, pode escolher…

— Quer ir à praia? – ele sugeriu, animado – Podemos ir comer alguma coisa depois, e então…

— Com licença, bocchan… - uma das empregadas surgiu pela porta de correr, ajoelhada no chão – Sinto por interrompê-lo, mas há pessoas na entrada da casa, dizendo serem suas conhecidas. Eu devo mandá-los embora?

— Não, espere! – Nagihiko se levantou, com um súbito lampejo – Deixe-me ver antes.

Assim como suspeitava, Nagihiko enxergou pelo monitor da segurança, todos os seus amigos reunidos na entrada da sua casa, sorrindo tolamente para ele. Ikuto e Amu estavam lá, junto com Utau, Kukai e Yaya, assim como Tadase e Hitomi, e mais outro garoto que ele não conhecia ainda, mas que se chamava Sanjou Kairi.

— Boa tarde, intrusos… - Nagihiko falou pelo interfone, sobressaltando a todos.

— Yoo, Nadeshiko! – Ikuto cumprimentou, assim que ouviu a voz dele – Casa legal! Viemos visitar vocês! … onde está a baixinha? Não me diga que perdeu ela!

— Ela está aqui comigo, e está bem. O que vocês estão fazendo aqui? – ele indagou, cauteloso.

— Woow, a voz dele está tão diferente! – Yaya berrou, incrédula. – Parece até um garoto!

— Eu ainda não entendi o que está acontecendo… - Utau, que era a única que não sabia a verdade sobre Nagi, ainda não havia processado por completo as informações que havia recebido a menos de vinte minutos.

— Seus amigos são estranhos, Tadase – Hitomi sussurrou, intrigada.

— V-você se acostuma – Tadase respondeu em tom de desculpas.

— Você não vai abrir a porta pra gente? – Amu reclamou.

— Certo, acho que não tenho escolha, não é? Entrem logo! – e dizendo isso, o interfone se desligou, e o enorme portão dianteiro começou a abrir-se, lentamente. O grupo começou a caminhar, ainda que inseguramente, para dentro dos domínios do Clã Fujisaki. Seguranças altos e fortes, vestidos com ternos negros, os encaravam com desconfiança em duas guaritas dos lados do portão. Havia um longo caminho a percorrer até a entrada da casa, e durante o trajeto eles sentiam-se extremamente vigiados, mas o jardim era exuberante, e toda a construção lembrava um daqueles enormes templos que eles visitavam nas viagens da escola.

— Hitomi-san… - Kairi, que até aquele momento não havia comentado sobre nada, chamou discretamente. – Esse lugar…

— Shhh. Eu sei, já percebi. – ela o cortou rapidamente antes que alguém notasse.

— Por que vocês estão aqui? – Rima apareceu de repente, vindo de dentro da casa, e correndo até eles. Mais atrás, Nagihiko andava com visível irritação na mesma direção.

— Que cabelo é esse, Rima? – Yaya berrou, exaltada, apontando para a loira que se aproximava – Parece o Espantalho do Mágico de Oz da peça da escola! E um espantalho Nerd, ainda por cima!!!

— Quieta, Yaya! – Rima quase arrancou a cabeça da garota ao tapar a boca dela com a mão – Meu nome é Aisaka Riyoko. Riyoko, entendeu bem?

— Mas por que? – como Yaya ainda estava impossibilitada de falar, Amu foi quem perguntou.

— Por que sim. Ninguém aqui pode saber quem eu sou… - ela sussurrou, soltando Yaya e limpando a mão na saia.

— Eu não entendi, mas isso parece legal! Tipo aqueles filmes de agentes secretos…

— É, é, tipo isso. – ela concordou, cansada.

— Wow, Nadeshiko fica mesmo bonito em roupas de menino, nee? – Yaya admirou-se, esquecendo rapidamente dos outros assuntos ao focar os olhos no garoto, que já parecia ter se conformado com a situação.

— Hm… obrigado… - ele murmurou sem jeito.

— É, não se pode negar que Nagihiko é um garoto lindo! Mas é tão estranho… – Amu riu – Faz tanto tempo que eu ouvi essa voz pela primeira vez!

— Como assim? – Ikuto a encarou sobressaltado, e Amu riu mais ainda ao vê-lo tão indignado.

— Eu estava errada em sentir ciúmes da Nadeshiko, Tadase – foi a vez de Hitomi se pronunciar – Acho que ele é até mais masculino do que você…

— Hitomi-chan! – Tadase reclamou, embora não soubesse como negar aquela afirmação.

— Esqueçam isso! – Rima bradou, já irritada com o rumo da conversa – Como é que vocês chegaram aqui, hein?

— Nossa família tem uma casa na praia aqui perto – Utau começou a falar, antes de qualquer um – O Tadase também vem com a gente todo ano, mas dessa vez ele trouxe a Hitomi. Ele convenceu o tio dela a aceitar por que estava usando saia e…

— Passe para a parte principal, Nee-chan! – Tadase protestou, enquanto Hitomi ria baixinho ao lembrar-se de como Tadako havia pedido permissão do tio dela para viajarem juntos.

— Bem, a Hitomi só podia vir se o irmão de criação dela, o Kairi, viesse junto – ela apontou para Kairi, que curvou-se respeitosamente à Nagihiko e Rima.

— O Ikuto me convidou! – Amu continuou – E eu pensei em chamar a Yaya. Eu teria convidado você, Rima… digo, Riyoko, também, se você já não tivesse viajado. Então, a Yaya trouxe o Kukai, e bem… estamos todos aqui!

— Eu fiquei sabendo que vocês iam viajar – Ikuto contou – E lembrei uma conversa antiga, em que o Nagihiko aqui – ele deu uns tapinhas “amigáveis” nas costas do garoto – dizia que a família dele morava por perto. Então, só precisei dar uma procurada…

— Em mapas? – Nagihiko imaginou se por acaso sua casa estava evidenciada em algum catálogo ou qualquer coisa assim.

— Não, no Google.

— Ah… claro…

— Certo, que tal irmos logo para a praia, hein?! – Utau se apressou em sugerir - Foi pra isso que a gente veio! Venham, Nagihiko, Riyoko-chan! Vamos para a praia juntos!

Rima hesitou, olhando para Nagihiko, mas ele apenas deu de ombros.

— Hm… é, por que não?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yoo, minna-san! Deixei mais algumas pistas, alguém quer arriscar em dizer qual o outro segredo do Nagi? Estou ansiosa para saber o que vocês acham o/

Até o próximo, bye bye~ ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Shiroi Tsubasa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.