Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 26
Capítulo XXVI




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Rima andava de um lado para outro no quarto, com os pés descalços sobre o tatame impecavelmente limpo da pousada. O vestido branco e leve, e seus cabelos ondulados, revoavam atrás das suas costas, no ritmo dos passos apressados e impacientes. Sua paciência para apenas observar o andamento das coisas há muito já havia estourado, e ela estava a ponto de explodir, se não fizesse algo logo.

A despeito disso, Nadeshiko continuava tão tranquila como sempre, sentada sobre as pernas no seu elegante kimono lilás e azul-claro, apreciando o um fumegante chá verde. Apenas aquela visão, que lembrava alguma Ojou-sama de família tradicional, fazia o sangue de Rima ferver. Como ele conseguia ficar tão tranquilo com tudo aquilo que estava acontecendo com ela?!

— Rima… você vai continuar me fuzilando com os olhos dessa maneira? Por que, neste caso, eu vou ter que parar de tomar chá, por que não é nada relaxante ficar com você batendo os pés dessa maneira para mim… - Nadeshiko entoou, de olhos fechados, soltando a caneca sobre a mesa baixa, sem nenhum ruído.

— Relaxante! Relaxante? – Rima repetiu, exasperada, jogando os braços para o alto – Como você espera que eu relaxe?? Faz três dias. Três dias! Que nós estamos nesse buraco!! Meu pai até já foi embora daqui, e nos deixou presas nessa porcaria de pousada, com aquele megane idiota que só sabe sair correndo quando nos vê! Já é terça-feira! E nós devíamos ter ido embora no domingo! E você espere que eu sente aí do seu lado e tome chá, como se nada estivesse acontecendo?

— É, eu espero – Nadeshiko confirmou mais uma vez, fazendo Rima trincar os dentes de raiva.

— Nós já estamos atrasados!! Você sabe, já perdemos duas aulas, e as provas finais estão chegando…

— Como se você fosse uma aluna exemplar… - Nadeshiko deixou escapar, de canto – Andei olhando seu histórico escolar e…

— Você fez o que?

— Ah, eu olhei seus documentos da escola! – Nadeshiko deu de ombros – Você pode imaginar, como sua segurança, eu tenho que ter acesso a todas as suas informações pessoais, seja elas sigilosas, ou não. O que quero dizer, é que suas notas não são nada dignas de uma herdeira… você não tem nenhum motivo para ficar nervosa com isso…

— Seu… - ela rosnou – Eu só quero ir embora daqui!! Seja para a escola, ou qualquer outro lugar… eu só não aguento mais isso!!

— Eu disse para você confiar em mim, eu tenho um plano.

— Um plano?? Você fica me enrolando com essa história de plano, e não faz nada além de tomar banho e servir chá! – Rima acusou, apontando o dedo indicador.

— Nós estamos em uma fonte termal, o que você espera que eu faça? – Nadeshiko suavemente pronunciou, sorrindo docemente para Rima, que franziu os olhos, irritada com aquela atitude displicente.

— Eu não sei! Você pode dar um jeito naquele quatro-olhos ridículo! Pode explodir essa pousada em milhões de pedacinhos! Pode me sequestrar, se quiser, e me levar pra longe daqui!! Qualquer coisa! Mas faça alguma coisa! – ela bateu os pés, parecendo prestes a arrancar a cabeça de alguém agora.

— Então… - Nadeshiko sorriu, mudando a voz repentinamente, para a surpresa de Rima, que parou subitamente com sua crise apenas por ouvir isso.

Ergueu uma das mãos, ainda quente por causa do chá, na direção da loira, enlaçando os seus dedos e conduzindo-a para mais perto, até que ela sentasse à sua frente. – Você quer que eu te sequestre, é? – ele estreitou os olhos, de modo provocador, causando um arrepio involuntário no corpo da garota – Talvez… eu goste mais da ideia de você se casar, e eu ser o seu amante secreto… - ele sussurrou, e rima corou furiosamente, esquecendo completamente da sua fúria anterior.

— O que você é? Um host? – ela replicou, ríspida, querendo disfarçar o embaraço e as sensações que a voz rouca e baixa de Nagihiko causavam, desviando o olhar. Nagihiko acariciou seu rosto redondo, lentamente, sorrindo de canto ao notar o rubor que se assomava, intensamente, na pele clara. Inclinou-se para a direita, fechando os olhos e se aproximando, pronto para beijá-la.

Porém, é claro, antes que pudesse sequer chegar perto de conseguir, ouviu ruídos de passos vindos do corredor. Afastou-se de Rima, como se nada a perturbasse, e voltou a se concentrar no chá. Desconcertada pelos atos repentinos do outro, Rima demorou alguns segundos para perceber a porta sendo arrastada, e uma das empregadas da pousada curvando-se respeitosamente, antes de passar uma mensagem.

— Mashiro-sama. Uma pessoa espera para encontra-la, no hall de entrada. Ela diz que é um assunto do seu interesse, e de extrema urgência.

— Ahn? Tem alguém querendo falar comigo? – Rima arqueou a sobrancelha, desconfiada. – Será que… - ela se dirigiu à Nadeshiko, então – Eu liguei para a Amu domingo… será que é ela que veio para cá, querer saber o que está acontecendo…?

— Nós só vamos saber indo até lá – Nadeshiko se ergueu, ajeitando a barra do kimono, e então curvou-se ligeiramente para a atendente – Diga que nós estamos a caminho.

A atendente assentiu, e se afastou, a passos ligeiros.

— Vamos Rima. Não é educado deixar uma visita esperando. – Nadeshiko assumiu novamente sua pose séria, e foi andando logo atrás de Rima, pelos corredores vazios àquela hora da tarde. Logo que chegaram na entrada, notaram uma figura impaciente, que andava de um lado para o outro da mesma forma que Rima fazia minutos antes. Tinha cabelos vermelhos, cor de fogo, e ondulados levemente, meio bagunçados, na altura dos ombros, e quase da altura de Nadeshiko, com um corpo bem curvilíneo, apesar da pouca idade que aparentava. Assim que seus olhos castanhos e nervosos se focaram nas duas garotas que se aproximavam pelo outro lado, ela soltou uma exclamação estranha que poderia tanto ser de alívio quanto um lamento.

— Você deve ser a Mashiro Rima-san… - ela olhou para Nadeshiko, após analisar rapidamente as duas garotas – M-me desculpe por…

— Sinto muito, eu não sou a Rima – Nadeshiko a interrompeu, depois do mal-entendido. A garota se admirou, começando a se desculpar imediatamente, parecendo ainda mais desesperada do que quando chegou. – Eu sou Fujisaki Nadeshiko. Essa é Rima – ele indicou a loira, que parecia mais impelida a obrigar Nadeshiko a fingir que era ela do que se revelar – Acho que vou deixar vocês conversarem…

— Não! – Rima foi mais rápida, segurando a manga do yukata – Qual é o assunto que você tem para tratar comigo? – ela se dirigiu para a garota, diretamente.

— Ano… etto… - ela se remexeu incomodada, esfregando as mãos uma na outra – É sobre… o Sacchan… d-digo, Satoshi-kun… o seu… n-n-noivo… - Rima fez uma expressão que sugeria que ela estava prestes a vomitar, antes de assentir, ainda que a contragosto – Eu sou amiga de infância dele, meu nome é Takano Meiko… - ela se curvou, ainda inquieta, olhando para todos os lados. – E-eu queria conversar com você…

— Vamos para algum lugar lá fora, então… Nadeshiko, você vem junto! – ela não hesitou em arrastar Nadeshiko para fora. Meiko a seguiu, ainda constrangida, até chegarem ao jardim e se acomodarem nos bancos mais afastados. O por do sol iluminava o local, projetando longamente as sombras das arvores e dos arbustos. Nadeshiko educadamente ficou observando lago próximo, como se não estivesse prestando atenção na conversa das duas – Então, o que você quer falar sobre ele?

— Mashiro-san… e-eu sei que não estou em posição de pedir qualquer coisa, nem de exigir nada, mas… eu… eu não quero que você se case com ele! – Meiko enfim conseguiu dizer, erguendo os olhos marejados para Rima. Ela se surpreendeu por um momento, mas sorriu compreensivamente logo depois.

— Eu não pretendo me casar com ele nem nada disso! – ela se apressou em dizer. Meiko paralisou, digerindo aos poucos a informação inesperada.

— Não? M-mas… eu pensei que… - ela engoliu as lágrimas, respirando fundo – Você não vai…?

— Eu ainda não sei como, mas eu vou me livrar desse casamento, o quanto antes melhor. – Rima adicionou, seguramente – Talvez você queira me ajudar…

— E-eu? Mas, eu… eu só queria…

— Você é apaixonada pelo Hanada-san? – Nadeshiko indagou subitamente, sem encarar as duas garotas.

— Hanada…?

— Homura – Rima corrigiu.

— Ap-p-paixonada… e-eu… - Meiko parecia querer se afundar naquele lago, apenar para não ter que encarar Rima e Nadeshiko, que se entreolharam, entendendo tudo de imediato. O rosto dela se coloriu, do mesmo tom do cabelo, e ela ainda gaguejou coisas indecifráveis antes de conseguir se pronunciar inteligivelmente – E-eu sei que p-pode parece estranho… b-bem eu sei que Sacchan tem muitos… muitos defeitos mesmo… Ele é mimado, egoísta, e só faz o que tem vontade… realmente, e-eu nem sei o que eu estou fazendo aqui… - ela balançou a cabeça, e Nadeshiko concordou com tudo, imaginando como raios uma garota como Meiko havia acabado gostando de alguém como Satoshi.

— Ele sabe disso? – ela indagou, já imaginando a resposta.

— C-claro que não! – ela disse mais do que rápido, com os olhos agora úmidos pelo constrangimento – Por favor, não diga a ele… eu só não quero vê-lo se casando à força… como imagino que você também não deve querer, Mashiro-san… Mesmo que eu saiba que Sacchan nunca me escolheria, eu ainda quero que ele seja feliz, e capaz de escolher com quem ele dividirá essa felicidade…

— Sinceramente, acho que aquele imbecil não merece toda essa consideração – Nadeshiko se pronunciou, erguendo-se do banco e andando até a beira do lago, que se movia lentamente – Ainda mais se ele foi idiota o suficiente para não perceber o que estava bem à sua frente. Mas, eu tenho que dizer, nossos interesses se coincidiram, então… nós vamos ajudar, Meiko-chan, você e aquele baka…

— Ah… o-obrigada, Fujisaki-san… Mashiro-san… - Meiko se ergueu, curvando-se respeitosamente logo depois – Eu ainda não sei como, mas vou me esforçar para pensar em algo.

— Na verdade… eu já tenho um plano. – Nadeshiko virou-se, com um sorriso pronto que Rima conhecia bem – É bem simples, na verdade… mas acho que pode funcionar. Meiko-chan… você estaria disposta a se declarar?

— O q-que??? – Meiko quase despencou, tamanho o seu choque.

— Hey, Nadeshiko, você está indo rápido demais! – Rima saiu ao socorro da garota, revirando os olhos para a falta de tato do garoto.

— Mas… se a Meiko-chan se declarasse, e o Satoshi aceitasse os seus sentimentos… então ele teria um ótimo motivo para recusar o noivado, e vocês dois ficariam livres. Quero dizer, sendo ele um garoto, seria muito mais fácil para o seu pai, Rima, aceitar a recusa…

— Você tem razão quanto a isso, mas não pode obrigar ninguém a se declarar!! – Rima bradou –… e não a trate com tanta familiaridade – completou, rosnando apenas para ele.

— Eu faço! – Meiko se adiantou. Ainda com o rosto corado, ela parecia um pouco mais decidida – Eu vou me d-declarar…

— Você não precisa fazer isso hoje, Meiko-chan! – Nadeshiko disse, fazendo os olhos de Rima chisparem – Pode se preparar, antes de fazer isso. Eu sei que é algo importante, e não deve ser tratado levianamente…

— Obrigada… eu vou… vou me esforçar…

— Você não quer tomar um banho na onsen com a Rima-chan? – ela sugeriu, sorrindo docemente – Ela já está aqui há um bom tempo, e ainda não aproveitou as termas, por que não tem nenhuma amiga… a-além de mim, claro…

— Ah, eu adoraria acompanha-la, Mashiro-san… - Meiko se apressou, prestativamente – Além disso, p-podemos pensar em algo para o… o plano… da Fujisaki-san… - ela se remexeu, inquieta.

Rima suspirou, e aquiesceu. Finalmente, conseguia ver uma luz no fim do túnel, então não custava nada ser um pouco condescendente de vez em quando. Já era quase noite, e as três andaram de volta até a pousada, e ninguém questionou a presença de Meiko ali. Ela já era meio conhecida, por passar bastante tempo com Satoshi, e por sorte, eles não o encontraram, ou então, a ruiva teria corrido para longe, de tanta vergonha. Era a primeira vez que admitia os seus sentimentos para alguém, pois, naquela cidade pequena em que moravam, o seu único amigo era mesmo Satoshi. Nadeshiko sentia muita pena dela por isso.

— Nee, Fujisaki-san não vem também? – ela indagou, quando enfim chegaram na área de banho feminina, e Nadeshiko já ia tomando o rumo contrário.

— Ah, b-bem, eu já tomei banho antes, e…

— M-mas… - Meiko baixou os olhos, insegura. O fato era que ela se sentia mais a vontade com Nadeshiko, que era tão simpática, do que com Rima, que parecia um tanto hostil, mesmo contra a sua vontade, ainda que tivessem se conhecido há pouquíssimo tempo – E-eu ainda não sei o que devo fazer, q-quero dizer…

— Venha, Nadeshiko. – Rima ordenou, com os olhos virados para o lado oposto, e o rosto ligeiramente ruborizado – Se você usar uma toalha e fechar os olhos, não tem nenhum problema…

Nadeshiko arquejou, completamente surpresa. Não sabia como reagir a isso, mas antes que pudesse, Rima abriu as portas e conduziu todas até o vestiário. O que ela estava pretendendo?

Enquanto Rima e Meiko iam para os vestiários mais próximos, Nadeshiko correu para o mais privado que conseguiu encontrar, e despiu-se, hesitante, enrolando-se até o peito com uma toalha branca. Apesar de se sentir constrangido com tudo aquilo, ainda estava um tanto animado com a ideia de tomar banho com duas garotas… então não via motivos para negar o pedido de Rima… ainda que todas as células do seu corpo gritassem para ele que aquilo era muito errado. Nadeshiko soltou também o rabo de cavalo, e amarrou os longos cabelos violeta em um coque meio malfeito, usando a mesma fita vermelha. Depois de pendurar cuidadosamente o yukata em um canto, enfim saiu, encontrando Meiko, que parecia um pimentão ambulante, ao lado de Rima, que encarava irritada a parede oposta com o cabelo preso em dois coques enormes, ambas enroladas em toalhas iguais a de Nadeshiko, que engoliu em seco percebendo pela primeira vez a enrascada em que havia se metido.

Eles foram então, até a fonte externa, que era mista. Nadeshiko foi a primeira a correr para a água, querendo esconder seu corpo o quanto antes. Rima sentou um pouco afastada, escorando-se em uma pedra, e Meiko ficou ao seu lado, ainda envergonhada.

Nadeshiko tentava focar seu pensamento em algo longínquo, como quantas xícaras de café Ikuto teria vendido hoje, ou se Tadase já tinha tomado alguma atitude quanto à Hitomi… apenas para não ter que pensar no fato de que estava tomando banho com duas garotas. Isso por que, o pensamento que havia sido empolgante segundos atrás, agora era completamente apavorante. O que raios ele estava pensando quando aceitou aquela ideia estapafúrdia de Rima?!

Rima, aliás, parecia completamente arrependida de ter sugerido isso. Encarava Meiko com furor, ainda que ela mesma não percebesse… tudo por que, perto dela, Rima sentia-se completamente lisa e reta (coisa que ela realmente era), e só agora percebia o quanto fora idiota em chamar Nagihiko e deixa-lo ver aquilo, mesmo que ele não parecesse estar prestando atenção nisso agora.

O silêncio esmagador e constrangedor durou pouco, pois logo Nadeshiko iniciou uma conversa banal qualquer, e Rima esqueceu rapidamente sua irritação. Meiko se juntou à conversa, e rapidamente, as três começaram a planejar com cuidado como deveriam proceder.

A conversa, no entanto, não durou muito mais, assim que ouviram o ruído da porta de fora se abrindo. E dela surgiu Satoshi, enrolado em uma toalha na cintura, que ficou completamente pálido ao ver as garotas. Nadeshiko acenou cordialmente ao vê-lo, fazendo-o tremer compulsivamente de medo. E, quando viu Meiko perto delas, teve o ímpeto de sair correndo… e realmente o fez, antes que qualquer um percebesse, de volta para o vestiário masculino.

— Sacchan… - Meiko murmurou, melancolicamente – Eu… eu quero falar com ele…

— Então vá! – Rima incentivou – aproveite… e tente falar com ele!

— Mesmo que não consiga se declarar ainda… - Nadeshiko também impulsionou, delicadamente, sentindo-se um pouco culpada por afugentar o garoto.

— Eu… e-eu vou! – ela pronunciou erguendo-se da água. Rima deu um tapa em Nadeshiko, discretamente, fazendo-a virar o rosto para o outro lado. Meiko correu para o vestiário feminino, e então, provavelmente, teria saído correndo atrás de Satoshi, mas isso não teria como Rima e Nadeshiko ficarem sabendo.

— Então, acho que devemos ir também… - Rima disse, inexpressivamente, preparando-se para sair também.

— Não, espera! – Nagihiko a segurou há tempo, com a sua voz normal projetando-se – por que você me deixou vir até aqui? Eu não entendo! – ele indagou rapidamente, tentando encarar Rima, que desviava o olhar do dele – Você queria tanto assim tomar banho comigo, Rima-chan?

— C-claro que não, baka! – Rima protestou, com o rosto vermelho – Eu só não queria levantar suspeitas!

— Mas você não pode negar que… eu e você, aqui neste lugar, e nesses trajes… e você ainda deu um jeito de fazer Meiko-chan sair… isso é ainda mais suspeito, não acha? Por acaso… - Nagihiko baixou a voz – Mashiro Rima, você está tentando me seduzir?

— Idiota! – ela soltou a mão de Nagi do seu braço, e recuou – Claro que não!! Como se eu fosse fazer algo desse tipo!

— Então… porque?

Rima baixou o rosto, escondendo os olhos com a franja molhada. Demorou tanto para dizer algo, que Nagihiko pensou que não conseguiria uma resposta. Mas então, subitamente, ela ergueu o rosto em chamas, encarando-o profundamente.

— E-eu fiquei curiosa! – ela admitiu, com a voz aumentando uma oitava – Sabe… eu queria saber… se seu corpo era mesmo masculino… é isso…!

Nagihiko se esforçou para conter uma gargalhada. O rosto de Rima estava tão desconcertado agora, que ele tinha certeza absoluta que ela o mataria afogado ali mesmo se ousasse rir dela nesse momento. Ele respirou fundo, tentando encarar a situação de forma séria. Pigarrou, forçando uma máscara de seriedade, embora o canto dos seus lábios tremessem, loucos de vontade de rir.

— Você ainda tinha duvidas quanto a isso? – ele disse baixo, e sem olhar para Rima, ou do contrário, acabaria perdendo o controle.

— Claro! – ela quase gritou, fazendo balançar os coques enormes dos dois lados da sua cabeça. – Eu nunca vi você em roupas masculinas de verdade, e nunca vi nada… nada que pudesse provar… a v-verdade… então, é claro que eu teria dúvidas!

— Hm… e você tem certeza agora…? – Nagihiko arriscou, incerto. Rima vacilou o olhar, entre o corpo do garoto escondido pela água, e as próprias mãos, e escondeu o rosto ruborizado. – Sabe, se você ainda estiver desconfiada, eu posso…

— Não ouse terminar essa frase, seu pervertido!!! – Rima o cortou, recuperando a voz que ela havia perdido em algum lugar entre as suas análises minuciosas no corpo do garoto – Eu já vi o bastante, eu acho… q-quero dizer… se prestar atenção, é fácil perceber… - ela foi baixando a voz à medida que ia falando -… que os seus ombros são meio largos… e você tem alguns músculos aqui… - ela indicou discretamente o braço do garoto, que sorriu, de maneira quase convencida. – Então, está tudo bem, eu já verifiquei!! Chega disso!!! – ela encerrou, por fim, querendo se livrar daquela situação embaraçosa o quanto antes.

— Mas… - Nagihiko intrigou-se, pondo uma mão no queixo pensativamente – E se eu fosse uma garota, o que você faria? – perguntou, fitando a garota, que voltou a corar.

— Eu… não sei… - Rima falhou, escorregando de volta para se escorar na pedra – Acho que eu a ficar com muita raiva de você, muita mesmo…

— Então, ainda bem que eu sou um garoto, nee? – ele riu sem graça, recebendo um olhar censurador da loira – Certo, certo… você não precisa se preocupar Rima. Quando tiver algum problema, você pode apenas vir e falar comigo, sabia? Não é necessário fazer todas essas coisas só para tirar uma dúvida boba como essa…

— Não era uma dúvida boba!! E, como você esperava que eu dissesse?? “Tire as suas roupas, eu quero ver se você é um garoto mesmo?” É isso???

— É uma boa maneira de começar…

— Idiota! – Rima bufou, virando o rosto irritado para disfarçar a vergonha que sentia – Eu nem sei por que fiz todas essas coisas! É muita humilhação.

— Você fez isso por que está apaixonada por mim, Mashiro Rima… só por isso. Pessoas apaixonadas fazem coisas idiotas, mesmo… - ele se aproximou, com um sorriso de canto que só deixou a garota ainda mais perturbada – Olha só para mim, eu não uso saia? - ele começou a enrolar um dos cachos que escapavam do coque nos dedos, erguendo o rosto de Rima na sua direção.

— Certo, então… já entendi… - ela sibilou, tentando escapar do olhar penetrante de Nagihiko, mas falhando miseravelmente. Nagihiko sorriu, acariciando a face de porcelana da garota, que cerrou os olhos, esperando, e se inclinando na direção dela, percebendo que não teria oportunidade como aquela nunca mais.

Mal haviam tocado seus lábios, porém, ouviram vozes próximas. Nagihiko afastou-se, aborrecido, mas não havia ninguém chegando na fonte termal naquele momento. Mesmo assim, as vozes continuavam a se aproximar, cada vez mais perto. Rima se assustou, olhando para os lados, mas Nagihiko logo percebeu.

— É do outro lado – ele sussurrou, indicando a divisória de madeira que separava a fonte termal do jardim externo – Acho que essa voz… é a Meiko-chan…

— Eles estão conversando, então? – Rima se encheu de esperanças, apurando os ouvidos, e se escorando na divisória.

— Shh, deixa eu ouvir… - ele se ergueu, apoiando o rosto na divisória também. Em silêncio, os dois esperavam para captar qualquer ruído.

— … Eu já disse que não quero me casar, Mei-chan! – ouviram a voz de Satoshi, próximo dali – Mas foi meu pai quem acertou isso, eu não tenho nada a ver com isso! Quero me livrar daquela tampinha o quanto antes! E além do mais…

— Além do mais… - a voz de Meiko soou fraca, mesmo para a distância em que estavam.

— Não é nada - a voz de Satoshi tremeu um pouco – O que estou dizendo, é que não vou aceitar essa história de casamento. Eu só preciso de uma boa desculpa para usar, e então, poder recusar logo esse noivado…

— Sacchan… e-eu queria dizer…

— Eu sei, eu sei, você acha que as pessoas devem casar com quem amam, e essas coisas… Mei-chan, você é uma romântica, devia parar de ler esses shoujos. Essas coisas não acontecem! Eu não vou me casar com aquela… garota lisa…

— Lisa… - Rima rosnou, com raiva, escondendo o busto com as mãos, por cima da toalha. Nagihiko riu disfarçadamente.

—… mas isso não significa também que eu esteja fazendo isso por causa de alguém ou qualquer coisa assim, não fique pensando que tudo é como nos filmes que você tanto gosta…

— N-não é isso, Sacchan! É que… eu não quero que você c-case, mas não por causa disso… e-eu queria dizer… eu quero que você… Sacchan… e-eu…

— Fala logo, Mei-chan, tem pernilongo aqui fora!! – Satoshi reclamou, fazendo Nagihiko revirou os olhos. Aquela não era maneira de tratar uma dama.

— Imbecil! – a voz de Meiko finalmente se projetou, muito mais furiosa e imponente do que eles jamais ousaram imaginar. Ela segurou Satoshi pelo colarinho, e selou seus lábios contra os dele rudemente. Já estava saturada daquela personalidade controversa de Satoshi, e provavelmente pretendia consertá-lo com um tratamento de choque. Talvez funcionasse.

Com o susto que a atitude repentina de Meiko causou, a toalha de Nagihiko escorregou para baixo, e Rima paralisou, atônita, sem saber para onde olhar primeiro. Foi uma sorte que ela não tivesse gritado, como foi seu impulso inicial, ou do contrário, teriam sido pegos em sua observação secreta. Nagihiko se apressou em subir novamente a toalha, pelo menos até a cintura, e seguiu na sua espionagem, ainda mais quando Rima não conseguisse mais prestar atenção em qualquer outra coisa agora.

— Satoshi, seu grande idiota!!! Eu quero que você olhe somente para mim, está ouvindo?? É por isso que não quero que você se case, e nem fique correndo atrás daquelas oferecidas da escola na minha frente! É por que eu te amo!!!

Depois disso, o barulho de passos indicava que Meiko havia saído correndo. Satoshi escorregou pela mesma parede que escondia Nagihiko e Rima (ainda em estado catatônico pela visão súbita), incrédulo e confuso. Nagihiko suspirou, largando seu posto de vigilância, e voltou para a água aquecida.

— Ah, que idiota esse Satoshi. Quero bater nele… - Nagihiko reclamou, passando a mão nervosamente pelas mechas de cabelo úmidas que grudavam no seu rosto. – Mas, pelo menos, a Meiko-chan conseguiu se declarar… nossa, ela realmente teve muita coragem, nee Rima-chan? Rima…?! – Finalmente percebeu que Rima não se mexera nem um centímetro de onde estava, e se preocupou. Aparentemente, não havia percebido que o incidente com a toalha havia sido percebido pela garota – Ei, Rima-chan, você está bem?

— E-e-eu vi… - ela balbuciou, desconexa – Nadeshiko… eu nunca mais duvido de você… v-você é um garoto mesmo…

— O que? Do que está falando?

— N-nada… vou dormir… - ela disse, inexpressiva e com os olhos fixos e vazios. Retirou-se da fonte termal com um passo de cada vez, e correu direto para o vestiário. Nagihiko ficou para trás, com um ponto de interrogação bem em cima da cabeça.

— Ahn? O que deu nessa garota?


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