Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 21
Capítulo XXI




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A paisagem passava correndo pela janela, tornando-se um borrão indistinto em verde e azul. O céu estava limpo e claro, e o único ruído que podia ser ouvido era o do motor do trem, ritmado a suave.

Nadeshiko olhava para o lado de fora, sem realmente ver o que passava, com a mente mergulhada em muitos pensamentos diferentes e que ela queria manter a todo custo afastado. Ao seu lado, Rima dormia tranquilamente, com a cabeça repousada no seu ombro e a mão pequena segurando bem firme no tecido da jaqueta que a segurança usava por cima de um vestido florido. Nadeshiko, distraidamente, tinha entrelaçado as mãos nos cabelos dourados da pequena garota, e agora, acariciava de leve, sentindo o discreto oscilar da respiração cadenciada dela.

— Rima... – Nadeshiko sussurrou, observando a garota cochilar e passando os dedos pela sua pele macia. A loira não ouviu a voz soprada e suave dela, e continuou adormecida, alheia ao toque carinhoso e ao olhar preciso de Nadeshiko – Seria muito mais fácil se eu não tivesse me apaixonado por você sabia? Você é uma grande fonte de problemas! Uma grande... adorável... irritante... e absolutamente fofa... fonte de problemas... Eu só queria... poder ser uma pessoa diferente. Que pudesse ficar ao seu lado de verdade...

— Aanh... – levantando lentamente, Rima esfregou os olhos, com o semblante confuso que sempre acompanha alguém que acaba de acordar – Você falou alguma coisa? – ela indagou, com a voz arrastada.

— Que você estava babando no meu ombro – Nadeshiko disse, sorrindo gentilmente, e Rima sobressaltou-se, limpando a boca com força, indignada.

— Idiota! – ela resmungou, afastando-se para mais longe no banco, e virando o rosto corado para o lado oposto.

— Hm... Rima-chan... – Nadeshiko chamou baixinho, com a voz repentinamente mais grave. Rima tremeu diante daquela voz, mas não baixou sua guarda, afundando o rosto na mão, que estava escorada no apoio do banco – Rima... Volta aqui... me abraça de novo... – ela enlaçou o braço esquerdo na cintura da garota, trazendo-a novamente para o seu lado – Eu não quero ficar longe de você ouviu? – sussurrou, pousando os lábios nos cabelos bagunçados dela.

— P-por que está falando essas coisas? – Rima disse, com a voz falhando. O tom de voz que Nagihiko usava naquele momento a assustava. Era como se ele pressentisse algo que ela não conseguia nem mesmo imaginar. Por um breve momento, ela sentiu como se ele soubesse que algo ruim estava para acontecer.

— Por nada. Só estou falando. – ela deu de ombros, e olhou ao redor rapidamente – Eu posso beijar você agora, Rima? – ele perguntou em voz baixa, vendo a loira dar um pequeno pulinho surpresa, com o rosto ruborizado.

— D-d-do que está f-falando?! T-tem muitas pessoas aqui!! E você está de vestido! – ela murmurou, nervosa e indistinta. Nagihiko não pareceu se importar, passando a mão ao redor do ombro dela.

— Ninguém vai ver... – ele sussurrou, levando a outra mão até a cintura de Rima e inclinando a cabeça, até tocar de leve os lábios dela, muito rapidamente, e depois se afastando, como se nada tivesse acontecido.

— Foi muito rápido – ela reclamou olhando para baixo, embaraçada – De novo.

Nagihiko sorriu, voltando a abraçar Rima, e sentindo a mão dela repousar em seu braço. Fechou os olhos e a tocou novamente, dessa vez de forma mais profunda, e por alguns segundos a mais. Rima suspirou, quando ele enfim se afastou, e os dois se desvencilharam, com os rostos ligeiramente corados, e com a apreensão incrivelmente instigante de que poderiam ser vistos a qualquer momento.

— Nadeshiko... – Rima chamou, após alguns instantes de constrangedor silêncio, percebendo que acabaria dormindo de novo se não iniciasse outro assunto – O que você fazia antes... antes de vir para a minha casa? – ela deixou escapar a dúvida que vagava pela sua mente desde que ela descobrira a verdade sobre seu segurança.

— Eu morava em uma cidade pequena. – Nadeshiko começou a falar, muito a vontade, mas um pouco surpreendida com a curiosidade repentina da garota – Estudava em uma escola média, treinava com a minha família, e... fazia alguns trabalhos de meio-período. Depois que me formei, comecei a trabalhar com meu pai e acabei sendo contratado pelo seu pai quase que imediatamente...

— O que? Você é mais velho? – Rima intrigou-se, olhando bem para a fisionomia da falsa garota, procurando talvez por sinais de idade.

— Apenas um ano – ele riu – Eu entrei na escola dois anos antes do que o normal, e acabei terminando antecipadamente.

— Ah, entendo – ela ponderou, incomodada com o fato de não saber quase nada sobre a pessoa que amava – E você... foi segurança de outra pessoa antes de mim?

— Não. Como eu disse, seu pai me contratou imediatamente, não houve tempo para fazer qualquer outra coisa antes.

— E você queria fazer alguma coisa antes? – ela baixou a voz, temendo tolamente que talvez Nagihiko a abandonasse de repente para seguir algum outro sonho que tenha deixado para trás.

— Eu gostaria de ter viajado um pouco, antes de começar a trabalhar nos negócios da família... mas não houve muito tempo para pensar nisso. Eu sou o filho mais velho, afinal. Eu também pensava que gostaria de me apaixonar antes de me concentrar nas minhas obrigações... mas parece que ao menos esse desejo foi realizado... e nós estamos viajando nesse momento. Então acho que não tenho nenhum arrependimento. – Nadeshiko sorriu, piscando um olho para Rima e vendo-a corar furiosamente.

— E onde você trabalhou antes...? – ela indagou novamente, disfarçando o embaraço, receando estar sendo muito invasiva, mas sem conseguir conter a sua infindável curiosidade sobre aquela pessoa.

— Em uma loja de conveniência, uma locadora de filmes, uma livraria e em uma lanchonete – enumerou, usando os dedos da mão.

— Parece que você já fez muitas coisas! – Rima não pode deixar de se impressionar.

— Acho que já estamos chegando – Nadeshiko observou, vendo que se aproximavam de uma estação, e tentando cobrir sua vontade de rir pretensiosamente ao ver o semblante maravilhado da loira.

Assim que Nadeshiko disse essas palavras, o trem parou, fazendo Rima se deslocar para frente com o baque. As pessoas do vagão começaram a lentamente se movimentarem para fora, e Nadeshiko se levantou, desamassando o vestido floreado, e estendendo a mão para ajudar Rima, que aceitou. Elas pegaram suas malas e andaram para o lado de fora, vendo a pequena estação da cidade, com algumas poucas pessoas por ali. Olharam ao redor, mas não havia nenhum sinal do pai de Rima ou de qualquer pessoa conhecida.

— Hm... o que devemos fazer, Rima-chan? – Nadeshiko indagou, dando mais uma espiada ao redor, e não encontrando nada.

— Papai disse que iria nos buscar... – Rima murmurou, um tanto insegura – Talvez... ele tenha se atrasado um pouco, não é? – ela riu melancolicamente. Por mais que tentasse disfarçar, Nagihiko podia ver através dela, e sabia que ela estava se magoando mais uma vez com o pai.

— Ah, ele pode estar lá fora, não é? Vamos lá ver – Nadeshiko arriscou, tentando reanimar Rima.

— Sim! Ele pode! Vamos lá! – a tentativa de Nadeshiko pareceu dar certo, por que Rima logo sorriu, segurando a mão da segurança e a rebocando na direção da saída.

Chegando à estrada da estação, as duas olharam ao redor, procurando por algo familiar. A única coisa que havia ali era um carro negro e luxuoso, estacionado. Rima sorriu brilhantemente, e avançou para descer as escadas, deixando Nadeshiko para trás com as malas.

— Papai! Eu sabia que você viria me buscar! – ela exclamou, correndo na direção do carro, quando a porta foi aberta, revelando a figura uniformizada de um motorista. Rima paralisou, encarando o homem que fez a volta e abriu a porta para ela. Nesse momento, Nadeshiko finalmente a alcançou, largando as malas no chão e se apressando para ficar ao lado dela.

— Sinto muito, Ojou-sama, seu pai estava ocupado e não pode vir buscá-la, por isso ele me enviou.

— E você é...? – Nadeshiko especulou educadamente, desconfiada. Mediu o motorista de cima abaixo, verificando seu modo de agir, e preparada para sair correndo a qualquer momento, caso ele se apresentasse como uma ameaça.

— Sou motorista da família Homura, que hospedará vocês durante esse final de semana – o motorista retorquiu polidamente. Nadeshiko assentiu, e encaminhou Rima na direção do carro.

— Me parece confiável – ela sussurrou para Rima, deixando que ela adentrasse o carro, enquanto o motorista pegava a bagagem e a colocava no porta-malas.

Assim que as duas se acomodaram no confortável banco de trás do automóvel e a porta foi fechada, Rima rodeou os braços frágeis nela, escondendo o rosto no seu peito.

— Ele não veio, Nadeshiko! – ela balbuciou contra o tecido da jaqueta, sem deixar cair uma única lágrima, por mais que estivesse com vontade – Ele me chamou até aqui... e mesmo assim...

— Está tudo bem, Rima-chan! Ele vai estar lá quando chegarmos à pousada dos Homura, e vocês poderão ficar juntos. E eu estou aqui, não estou? Você não vai ficar sozinha.

— Tudo bem... – Rima aconchegou-se em Nadeshiko, sabendo que o motorista não prestaria atenção nas duas, sendo que já estavam a caminho na estrada – E também... papai me contou que o lugar onde vamos ficar é um hotel muito famoso dessa região, que pertence a família Homura, e é um lugar lindo, com fontes termais, massagens, passeios, comidas... nós vamos nos divertir muito!

— Sim, nós iremos... – Nadeshiko sorriu, acariciando os cabelos da pequena.

Poucos minutos depois, o carro estacionou, em frente a uma enorme pousada requintada, de arquitetura no mais puro estilo japonês, rodeada unicamente pela floresta. O lugar era tão grande que não poderia ser visto inteiramente de uma vez só. Logo na frente, algumas das atendentes esperavam para recepcioná-los.

— Esse lugar combina com você, Nadeshiko... – Rima observou, sorrindo infimamente, enquanto admirava o local.

— Obrigada, Rima-chan... – Nadeshiko sorriu, sem saber o que poderia dizer. As duas avançaram, juntas, até a entrada.

— Sejam bem vindas ao Hotel Homura – as atendentes disseram todas em uníssono, curvando-se respeitosamente.

— Obrigada... o meu pai... você sabe onde ele está – Rima indagou incerta, e Nagihiko pode sentir no seu tom de voz o quanto ela estava sentindo a falta dele.

— Estou aqui, querida! – uma voz grave bradou ao longe, antes que as recepcionistas pudessem responder. O pai de Rima surgiu do hall de entrada, vestindo uma yukata verde-escuro, e parecendo muito mais jovial do que qualquer um já tivesse o visto. Tinha um receptivo sorriso no rosto, e Rima quase sentiu seu queixo cair ao vê-lo tão bem disposto. Não o via assim desde que... desde que... sua mãe era viva.

— Papai! Por que você não foi...

— Eu quis fazer uma surpresa – ele disse rapidamente, ignorando completamente a existência de Nadeshiko e abraçando Rima longamente, trazendo-a para o lugar onde estava anteriormente – Aqui, tem alguém que eu quero que conheça – ele disse, sem dar a garota chance de responder. Ele indicou uma pessoa que estava sentada em um dos sofás de recepção, que ao vê-los se aproximando, levantou-se galantemente, sorrindo elegante.

Era um garoto, de aparentemente 16 ou 17 anos. Tinha cabelos castanho-escuros, curtos e bem arrumados. Tinha indecifráveis olhos azuis, que olharam Rima de cima abaixo, de uma forma que deixou Nagihiko absolutamente irritado. Logo depois, seus olhos saltaram observadores para Nadeshiko, e voltaram imediatamente para Rima.

— É um prazer inenarrável finalmente conhecê-la, Mashiro Rima-san – ele disse polidamente, segurando a mão dela entre a sua e depositando um pequeno beijo em sua pele, levantando os olhos para observá-la melhor – Eu espero há muito tempo por essa oportunidade.

Rima ofegou, surpresa por aquele garoto conhecê-la, e discretamente, desvencilhou sua mão do toque firme dele. Olhou novamente para o seu pai, questionadora.

— Esse é Homura Satoshi, minha filha. – ele disse orgulhosamente, com um sorriso satisfeito no rosto – Ele é o seu noivo.


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