Shiroi Tsubasa escrita por Shiroyuki


Capítulo 15
Capítulo XV


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi particularmente difícil de escrever, mas acho que no final das contas ficou bom... espero que gostem n_n
Boa leitura o/



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A luz de emergência piscou hesitante por alguns segundos até ligar finalmente, iluminando parcamente o espaço apertado. Ao perceber que não estava mais no escuro, Rima afastou-se de Nadeshiko, fitando com o rosto corado a parede oposta.

— O que aconteceu? – indagou com a voz sussurrada, enquanto sentava no chão e abraçava os joelhos.

— Acho que o elevador quebrou… ou faltou luz… – Nadeshiko disse, sentando ao lado de Rima, longe o bastante para não incomodá-la.

O silêncio tornou-se denso e pesado, e fazia Nadeshiko sentir-se ainda mais presa. Olhava a cada segundo para a figura encolhida ao lado. A vontade de abraçá-la surgia esmagadoramente intensa, quase incontrolável. Rima encarava o vazio com os olhos trêmulos, os braços finos ao redor das pernas a faziam parecer ainda menor. Sua pele estava mais pálida que o normal, e o suor frio a deixava seu rosto fracamente cintilante. Sua aparência frágil fazia Nadeshiko querer fazer algo para ajudá-la, era evidente que ela estava enfraquecida, mas ainda assim ela tinha receio de acabar sendo intrusiva novamente. Nadeshiko então percebeu que não importasse o quanto ela hesitasse, Nagihiko jamais hesitaria em fazer o que ela precisava, mesmo que a própria Rima não soubesse o que era.

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O dia estava tão ensolarado e cintilante que doía aos olhos, mesmo sendo quase inverno.

— Então você quer dizer que aquela garota só te abraçou, e foi embora sem nem agradecer? – Amu quase gritou, indignada.

— Bem, foi isso aconteceu – ele riu sem graça, com a mão na cabeça. Era um pouco desconfortável falar sobre garotas com outra garota, mas ele não via opção, já que Kukkai ainda estava trabalhando no pet shop, e com certeza tiraria sarro da cara dele assim que o visse.

— E tudo isso foi só hoje de manhã? – ela repetiu, incrédula.

— Foi. – ele respondeu, sem conseguir acreditar também.

— Nossa, a sua vida anda mesmo muito agitada, Hotori-kun. Quem diria que há poucos dias atrás você mandava cartinhas de amor pra Nadeshiko…

— Tem razão… - ele respondeu sem pensar, olhando para o céu limpo logo acima. Aquele tom de azul o fazia lembrar imediatamente daquela garota estranha, que não se afastava dos seus pensamentos nem por um segundo.

— Eu tenho que ir por ali. Vou encontrar o Ikuto – Amu anunciou, atravessando a rua, mas Tadase não a ouviu, e continuou a caminhar.

Parou em frente a uma grande estrutura, subindo suas escadas logo depois. Ele adorava aquele lugar. Ao contrário de todos os outros adolescentes, que aproveitavam o domingo de tempo bom para sair e aproveitar sua juventude, Tadase estava entrando em uma biblioteca.

Ele realmente amava os livros e todas as sensações que eles trazem consigo, mas dessa vez, ele não estava indo para ler. Iria trabalhar como voluntário até o Natal, a escola o tinha recomendado, e ele estava ansioso por conseguir os créditos que o trabalho proporcionava. Seria importante para quando ele fosse para a universidade.

Entrou no prédio antigo e com ar imponente, indo direto até a sala da administração que ficava ao lado, para se identificar. Depois de pegar o uniforme, que se resumia em uma camisa social e um colete preto, com um crachá de identificação, ele se dirigiu ao segundo andar, onde iria organizar algumas prateleiras.

Depois de passar algumas horas passeando pela biblioteca inteira com o carrinho abarrotado de livros, distribuindo os volumes nos locais adequados, ele resolveu dar uma pausa. Seus ombros protestavam pelo esforço repetitivo de levantar e baixar o braço. Talvez fosse bom ler alguma coisa, afinal, ele já estava ali…

Estacionou o carrinho em um canto em que não fosse atrapalhar ninguém, e então se dirigiu para a seção de suspense e mistério. Nada melhor que uma boa história de detetives para relaxar os músculos e prender a atenção.

Chegando ao local pretendido, uma imagem inesperada o fez estancar. Cercada por algumas pilhas com dezenas de livros, uma pessoa ressonava a sono alto. Tadase arfou ao reconhecê-la. Quem seria senão Hitomi, totalmente entregue ao sono em meio à poeira de livros antigos?

Ele se aproximou lentamente, tomando cuidado para não fazer barulho. Ela estava debruçada sobre o que Tadase identificou como sendo Sherlock Holmes, com o rosto mais tranquilo do que Tadase jamais havia visto. Não podia negar o quanto ela parecia bonita agora, sem a carranca de sempre, ou a expressão de tédio.

Ele se inclinou subitamente, querendo observá-la melhor. Uma vontade intensa de tocá-la o surpreendeu. Ele realmente queria sentir a sua temperatura, a textura de sua pele sob os dedos, queria ver a sua reação quando o visse... queria ver seus olhos azuis mais uma vez! Isso não fazia sentido algum! Tadase sentia-se como um pervertido, sujo e indecente, tendo esses pensamentos tão súbitos, mas mesmo assim, não conseguia encontrar forças para se obrigar a sair dali.

Contrariando todas as suas convicções e sua razão, ele agiu por impulso, talvez pela primeira vez na vida. Afastou, com a ponta dos dedos, os cabelos negros que caiam displicentemente pelo rosto pálido da garota. Sua pele formigou de uma maneira estranha ao entrar em contato com ela, mas ele não conseguiu registrar esse pensamento. Afagou com o polegar a bochecha dela. Era macio. Então assim que era a pele de uma garota?

Aproximando-se ainda mais, ele fitava os lábios entreabertos dela. Eram tão… convidativos… Sua mente não estava funcionando direito mais… esses pensamentos perturbados não tinham qualquer coerência! Tadase sentiu a respiração fraca dela tocar seu rosto, fazendo-o queimar e enrubescer. Cerrou os olhos, ouvindo sua pulsação martelar no ouvido, alta e acelerada. Tocou seus lábios com os dela, tão suavemente quanto um colibri. Uma onda de emoções conturbadas e desreguladas varreu para longe qualquer vestígio de sanidade.

Repentinamente, ele sentiu um baque doloroso, e ao abrir os olhos, ele estava no chão. Hitomi, de pé, o encarava tão irritada quanto possível, com o rosto escarlate quase entrando em ebulição.

— O que você pensa que está fazendo garoto? – ela berrou, sem se importar com o local onde se encontrava.

— Me perdoe, Yamisaki-san! – Tadase pediu desesperadamente, com o rosto em brasas quase colado ao chão enquanto se ajoelhava – Eu… fui estúpido… Prometo que nunca mais irei causar problemas a você. Espero que perdoe a minha idiotice e ousadia.

Ele levantou como um raio, escondendo-se atrás da estante mais afastada. Ofegante, ele lutava para por ordem nos pensamentos. Só então percebeu o que realmente havia feito. Ele beijou uma garota! E sem que ela consentisse! Que tipo de monstro insensível sem consideração e sem raciocínio ele havia se tornado?!

Ainda um pouco trêmulo, ele puxou o celular do bolso. Precisava conversar com alguém, para saber o que deveria fazer agora. Olhou para os nomes na agenda. Amu? Ela devia estar com o namorado agora, seria insensato da sua parte incomodá-la nesse momento. E de qualquer forma, ele precisava dos conselhos de um garoto agora. Decidido, ele apertou o botão para ligar, colocando o telefone no ouvido.

— Alô, Kukkai? Posso falar com você?

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Em um gesto rápido, Nagihiko soltou os cabelos. Rima estava tão absorta nos próprios pensamentos que não notou. Ele se aproximou, colocando os braços ao redor da pequena figura paralisada, e antes que ela pudesse protestar, pressionou-a contra o corpo. Rima sussurrou algo inaudível, e ele a abraçou mais forte, encostando os lábios levemente no topo da cabeça dela, em meio aos cabelos desalinhados.

— Está tudo bem, eu estou aqui. – ele murmurou com a voz grave e melódica, enquanto acariciava os cabelos – Está tudo bem agora, viu?!

Rima encolheu-se nos braços de Nagihiko, deixando que as lágrimas quentes lavassem seu rosto e molhassem a camisa dele.

— I-isso é igual a-aquela vez. – ela balbuciou soluçando, abraçando-o com força – Esse lugar… tão p-pequeno… e-eu não q-quero ficar aqui!

Nagihiko não precisou perguntar para concluir que aquilo eram resquícios das memórias das vezes em que ela fora sequestrada.

— Não precisa ter medo, não está sozinha agora. Logo nós vamos sair daqui. Juntos. E eu não vou deixar que nada de ruim aconteça a você.

— Você já mentiu antes…

— Mas eu não estou mentindo agora, Rima! – Nagihiko exaltou-se, afastando Rima pelos ombros para encará-la – Eu não aguento mais todas essas mentiras! – Rima arfou, o encarando imprecisa – Eu daria qualquer coisa pra ter te conhecido de um jeito normal, sem essa coisa toda de segurança. E sem a saia também… Se eu fosse um garoto comum, e você uma garota comum, nós nos apaixonaríamos como qualquer outra pessoa, e você poderia confiar em mim, eu sempre estaria ao seu lado. Mas… sendo que nem eu nem você somos pessoas comuns… você pode se esforçar um pouquinho? Você pode confiar em mim? – pediu, fitando profundamente os olhos perdidos daquela garota.

Ela acenou brevemente, voltando a abraçá-lo com força.

— Eu confio – sussurrou contra a camisa dele. Nagihiko ou Nadeshiko, não importava mais. Aquela era a pessoa que sempre a apoiava e cuidava dela. Aquela era a pessoa era quem lhe dava forças. Era a ele que ela sempre iria recorrer, e de quem sempre iria depender. Não havia sentido em mentir para si mesma agora.

Nagihiko sorriu fracamente, acariciando Rima como um pequeno gatinho.

— Você me perdoa? – indagou, com voz suave, nem um pouco feminina.

— Perdoo… mas você tem que prometer que não vai mais mentir para mim… e também não vai me deixar sozinha. – ela disse com a voz abafada, tão baixo que Nagihiko teve que inclinar a cabeça para ouvi-la.

— Eu jamais deixaria você sozinha, Rima, sabe disso. E nunca mais enganarei você novamente. Você pode voltar a depender de mim, por que eu cuidarei de você, Ojou-sama.

— Não precisa me chamar assim – ela determinou, secando as lágrimas com as costas das mãos enquanto se afastava para trás, sentada sobre os joelhos, com as pernas de Nagihiko ao redor de si.

Ele sorriu, tirando o cabelo do rosto de Rima com a ponta dos dedos. Ela ruborizou com o toque, mas permitiu.

— Então você vai consentir a minha presença ao seu lado a partir de agora? – indagou, aproximando seu rosto do dela. Suas testas se tocaram levemente. Nagihiko afagou a bochecha de Rima, sorrindo enquanto via o rosto dela enrubescer ainda mais, imediatamente.

— Eu vou. Por favor, cuide de mim daqui em diante – ela fechou os olhos, inclinando a cabeça suavemente. Nagihiko correspondeu, tocando seus lábios com os dela.

A pequena loira rodeou o corpo do garoto com os braços frágeis, enquanto ele circundava sua cintura, apertando-a contra si. Aprofundou o toque, pedindo passagem com a língua receosamente, e ela cedeu, hesitante. Colocando a mão atrás da nuca, ele trouxe o rosto dela para mais perto, escorando as costas na parede do elevador e apoiando Rima no seu próprio corpo.

Rima sentia-se inebriada, mal conseguindo concentrar-se nos próprios pensamentos, nem mesmo se lembrava de como era respirar. Enterrou as mãos nos longos e lisos cabelos macios, aprofundando-se na sensação cálida que tomava todos os seus sentidos.

O elevador tremeu, com as luzes acendendo-se. Começou a descer, lentamente, porém, seus dois ocupantes nada notaram, absortos que estavam um no outro. Depois de parar, as portas abriram, fazendo o ruído característico. Só então se separaram, não por causa do elevador, mas por que o excesso de gás carbônico os obrigou a procurarem por oxigênio. Rima pôs-se de pé sem esboçar reação, desamassando o vestido, enquanto Nagihiko amarrava os cabelos que se encontravam em completa desordem. Os dois não trocaram olhares, constrangidos, então olharam para frente, onde a porta esperava aberta.

Uma velhinha, acompanhada por um pequeno chihuahua, os encarava com pavor, os olhos acinzentados transbordando indignação. Nagihiko acenou brevemente, reconhecendo a senhora que morava no apartamento ao lado do seu, mas ela não demonstrou identifica-lo, apenas entrou no elevador assim que Rima - corando até vapor sair de suas orelhas - e ele saíram.

— Essa juventude anda perdida! Onde já se viu, duas garotas se comportando dessa maneira! Inaceitável! Essa sem-vergonhice... é o fim dos tempos! – a velhinha resmungou, achando que ninguém poderia ouvi-la, e logo depois a porta do elevador fechou-se.

Rima seguiu Nagihiko, que agora voltara a ser Nadeshiko, se encaminhando para a saída. Suas pernas estavam um pouco bambas, e ela não conseguia levantar o olhar dos próprios pés. Não conseguia acreditar que havia mesmo feito tudo aquilo. Era diferente de quando ela estava sonhando… sentia-se tão… indecente!

— Ei, Fujisaki-san! – alguém chamou, fazendo-os parar – Você e a sua amiga estavam no elevador agora? A luz acabou de repente… vocês ficaram presas? – Nadeshiko reconheceu o zelador, e sorriu gentilmente.

— Não, nós entramos depois que a luz retornou – ela explicou, tão convincentemente que até mesmo Rima poderia acreditar. O zelador sorriu aliviado, cumprimentando as duas com a cabeça, e então voltou ao seu posto.

— Vamos para casa? – Nadeshiko indagou do lado de fora do prédio, com a voz tão suave que Rima mal podia conceber a ideia de que estava beijando-a a poucos segundos atrás.

— Sim. – respondeu apenas, fitando-a com o rosto baixo e corado. Nadeshiko sentiu o coração acelerando imediatamente, enquanto acariciava novamente os cabelos desalinhados de Rima. Será que finalmente as coisas se ajeitariam para ele?

— Como você consegue ser tão complicada? – perguntou com seu tom de voz normal. Rima sentiu um estranho arrepio ao ouvi-lo tão repentinamente. Ele ergueu o rosto dela com os dedos, obrigando-a a olhá-lo nos olhos.

— Do que você está falando? – ela respondeu com outra pergunta, tentando desafiá-lo.

— Foi preciso que um elevador emperrasse para que você seja sincera consigo mesma, Mashiro Rima. Isso é ou não é complicado?

— Um pouco… – ela resmungou, forçando o olhar para o chão. Virou o rosto e seguiu em frente, marchando a passos duros.

— Eu gosto de coisas complicadas – Nadeshiko deixou escapar, apenas para ver a reação da garota.

Ela cerrou os punhos, sentindo o rosto queimar. Impeliu-se a recuperar o semblante inexpressivo, o que era difícil quando ela podia sentir a presença daquela pessoa tão perto.

— Como se eu me importasse. – falou, com o tom de voz entediado que costumava usar tão bem, mas que soou um pouco falho e trêmulo quando dito agora.

— Viu?! É disso que eu estou falando. Eu gosto – ele completou, sorrindo abertamente ao vê-la corar ainda mais furiosamente, até as orelhas.

Sim, ele realmente gostava de coisas complicadas.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam dos dois casaizinhos love-love (um nem tanto)? Espero que tenham gostado!!
Quero aproveitar a oportunidade para fazer uma propagandiinha bem básica. Comecei a escrever uma nova fic com Shugo Chara e mais alguns outros animes, e adoraria que todo mundo desse uma olhadinha!
http://www.fanfiction.com.br/historia/173522/Inside
Também tem uma oneshot NagiRima que eu escrevi, seria bom se vocês pudessem ler também: http://www.fanfiction.com.br/historia/174780/Saigo_Ni_Shiawase
É isso n_n
Deixem reviews, onegai *--*