I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 9
Capítulo 8




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No quarto de Dougie, estavam todos reunidos. Ele estava se sentindo ótimo, e já estava fazendo piada do que tinha acabado de acontecer.

— Onde está Brenda? – Júlia olhou em volta e não me viu. – E quem está com Harry?

— Sua pergunta responde sua pergunta. – Dougie fez um trocadilho. – Ok, estou mesmo bêbado.

— Ele quis dizer que você mesmo já se deu a resposta. – Tom riu.

— Deixou os dois sozinhos? Não vai acontecer nenhum homicídio?

— Não...

— Vai me dizer que eles se transformam quando estão sozinhos? Igual Jekil e Hyde? – Júlia se sentou, involuntariamente, na cama com Dougie.

— Bem, eu posso dizer que seria um mosquito agora, para ver o que fazem. – Danny riu.

— O médico deve vir em meia hora, eu acho. - Júlia foi aleatória.

— Então deixemos que fiquem mais um tempo juntos.

— JUNTOS? – Ela engasgou com saliva. – O que quer dizer com juntos?

— Vou te mostrar. – Tom a segurou pela mão e a conduziu, em passos miúdos, até o corredor. Tentando ser silencioso, levou Júlia até a porta do quarto de Harry.

— Preciso ver como estão os outros. – Eu disse, sonolenta. Fazia alguns minutos que estávamos ali, quietos, sozinhos.

— Eles estão bem. – Harry sussurrou em meus ouvidos. – Só descanse, amanhã teremos que refazer tudo mesmo. – Ele temia que eu fugisse mais uma vez, como sempre fazia.

— Mas eu...

Harry segurou-me pela face, as duas mãos em minhas bochechas, e olhou diretamente para meus olhos verdes. Eu senti seu corpo tremer, e podia apostar que não era efeito dos remédios. Tom tinha razão, e aquilo era extremamente irritante.

Mas nada. Seus olhos estão vermelhos como fogo, e ainda assim estão lindos. – Ele fraquejou. Ele sempre fraquejava comigo por perto, era mesmo um frouxo. – Vamos... você precisa disso tanto quanto eu.

— Preciso do que?

Sem que eu entendesse o que ele estava falando, e sem que eu esperasse qualquer reação como aquela, ele se aproximou, olhos fechados, e tocou meus lábios suavemente. Contra a minha vontade, meu corpo amoleceu imediatamente, como se derretesse em seus braços. Harry segurou-me, para evitar que escorregasse, e me beijou. Eu senti sua língua, o calor da sua língua, e suas mãos em meu corpo. Ele estava muito quente, e sua pele grossa de tantas bolhas, mas meu organismo estava prejudicado. Eu só conseguia sentir seus lábios sobre os meus, e mais nada.

— Mas vejam!!!! – Júlia falava a mesma coisa sem parar, desde que Tom a arrastou de volta para o quarto de Dougie. Ele temia que eu o pegasse e o servisse como jantar.

— Vejam o que? – Dougie estava se levantando. A enfermeira estava providenciando a retirada do soro.

— Adivinhem. – Tom sorria. Ele achava tudo sempre engraçado.

— Júlia viu o que todo mundo viu e ninguém sabe que todo mundo viu. – Danny adivinhou.

— Certamente. – Tom sentou-se.

— Eles estavam...

— Sim, estavam. – Danny caiu na risada. – Bem sei eu que estavam.

— Você sabe? – Júlia estava assustada, e pensando que nada mais poderia assustá-la naquela viagem. Nada, definitivamente. Eu era outra pessoa; aquela que ela conheceu no Brasil não existia mais.

— Sim, eu os vi, um tempo atrás. Bastante tempo, devo confessar; pouco antes dela ir embora. Estávamos em uma festa. Ela estava muito chateada pelo término do noivado, e tinha bebido todas e mais um pouco. Harry também não estava o que se pode considerar sóbrio. Todo mundo foi embora, eles ficaram jogando alguma cosa, brigavam feito cão e gato, então estava tudo normal. Enquanto eu os ouvisse brigando, eu saberia que não tinham se matado. – Danny tentava se lembrar. Os demais o ouviam atentamente, com quem ouve o contador de história. – Mas uma hora eu não mais os ouvi; estava sonolento, pensei que tinham adormecido pela sala. Desci para beber água e eles estavam se beijando. Uma coisa.

— Uma coisa? Simples assim? Eles se odeiam e... de vez em quando se beijam??

— Eles não se odeiam, Júlia. – Tom tentou explicar. – Eles só não aceitam o que todo mundo sabe. E bem sabido.

Os dois rapazes foram liberados pelo médico. Eu deixei o quarto de Harry alguns minutos depois que Júlia e Tom estiveram por lá, e estava estressada como sempre. Meu cérebro tratou de bloquear os acontecimentos dentro daquele quarto de hospital, e eu saí de lá ainda mais impossível do que antes. Dando ordens em todos, mandando como sempre, ajudei a levar o Mcfly para o hotel no qual estavam hospedados, que era o mesmo que nós, propositalmente. Estavam todos bem, sem sequelas do mal estar passado. Harry tinha feridas pelas costas, por se coçar demais, mas tinha a medicação que deveria passar. E sem deixar cicatrizes.

Depois de verificar que todos estavam bem, nós tínhamos que ir para nosso quarto. Júlia estava confusa, mas eu tinha um sorriso estranho nos lábios. Claro que eu tentava, a todo custo, esconder isso; mas meus lábios estavam insuportavelmente sorridentes. E eu simplesmente odiava estar sorridente, porque eu poderia estar sorridente até pela guerra, menos por ter sido beijada por Harry. Júlia achou melhor nem tocar no assunto, o que era melhor, considerando que eu não sabia nem que ela estava me espionando. E porque teríamos ainda muita coisa para resolver. E estávamos, como deveria ser, atrasadas.

Segredos.

— Brenda. – Tom invadiu nosso quarto. Júlia estava no banho. Ele estava acostumado a simplesmente invadir, aquele imbecil.

— Não entre assim. – Protestei.

— Há algo aí que desconheça? – Ele implicou.

— Sim, há; minha amiga. Ela não é obrigada a conviver com essa sua intimidade, você nem parece britânico!

— É meu cacoete, ser assim. – Ele riu. – Diga-me... Júlia tem alguém que a espera no Brasil?

— Isso não te interessa mesmo! – Franzi a sobrancelha, indignada com o que ele tinha acabado de falar, e bati com os punhos cerrados em seu peito. – Deixe de ser assanhado Thomas Michael Fletcher!

— Opa... meu nome completo.

— O que você queria?

— Tenho um recado dos rapazes. Eles vão ficar no hotel, não sairão para jantar. Querem a companhia de vocês, estão todos na cobertura.

Empurrei Tom para fora do quarto, no mesmo instante em que Júlia saía do banho. Ele não tinha nada que estar ali e vê-la de toalha, mesmo se eu achasse que ela iria adorar. E Júlia ainda estava inconformada com a história que ela tinha visto, e sua língua coçava de vontade de falar algo. Mas achou melhor deixar, porque, para ela, eu tinha que contar as coisas naturalmente, sem que ela forçasse a barra. Ela já tinha forçado o suficiente na noite anterior. Mas lá estava eu, apreensiva de novo, e ela teve que perguntar o motivo.

— O que houve dessa vez? – Júlia abriu o armário para escolher algo para vestir.

— Mcfly nos quer para jantar.

— Ah... ok, então vou me produzir.

— Você não liga? – Eu tentava arrumar desculpas. Queria ir, mas precisava evitar.

— Claro que não... por que ligaria de jantar com vários homens bonitos? – Júlia riu.

— Por nada...

— Tom vai estar lá, certo? – Eu podia jurar que aquela pergunta saiu sem querer.

— Por que o interesse? – Cocei a cabeça. – Ele também perguntou de você... ok, bocca chiusa.

— O que ele perguntou sobre mim? – Júlia corou.

— Nada demais... e você agora interessada nele!

— Imagine se vou me interessar pelo seu ex...

— Como você mesmo disse, ex. Tom é agora meu amigo, e um amigo de quem senti muita falta. Aliás, senti falta deles todos... vamos trocar de roupa, os famintos logo, logo mandam nos buscar.

— Falou com elas? – Danny terminava de ajeitar a mesa, com uma toalha branca improvisada. Ele gostava de tudo no seu devido lugar... mas um pouquinho bagunçado.

— Sim, estão vindo. – Tom abriu o frigobar em busca de bebidas. – Não tem nada para beber aqui.

— Tem coca diet. – Dougie, viajando.

— Nada alcoólico. – Tom se corrigiu.

— Para que álcool? Isso não me traz recordações muito inteligentes. – Danny se lembrou da história contada no hospital. E alfinetou o amigo, como era de se esperar.

—Deixe de ser bobo, Harry. – Harry futucou o frigobar até encontrar algo para Tom. – Aqui tem whisky... grande coisa. Nem gosto de whisky.

— Vamos pedir tequila. – Dougie teve a ideia.

— Essa bebedeira não vai dar certo. – Danny, o profeta do apocalipse. – E vocês não podem beber nada, estão sob efeito de remédios. A hora em que Brenda chegar...

— Já passaram os efeitos. – Harry cheirou o whisky, interessado em aprovar a bebida. Serviu-se de uma dose, e outra para Tom. – Esse aqui é 12 anos; como se eu entendesse de bebidas.

Nos chegamos logo. Como eu não estava muito a fim de me arrumar, e Júlia escolheu um vestido preto básico. Um pouco insinuante demais, para meu gosto, mas ela queria impressionar. Eu nem sei se ela sabia o quanto pensava em se insinuar... mas acabou por escolher aquele vestido, quase que sem querer. Eu não costumava me produzir, era como se algo muito maligno bloqueasse minha sensualidade, minha feminilidade. Só eu sabia o porquê. Jeans e uma blusa, era o suficiente. E o cabelo vermelho, curto, enfeitado de borboletas. Sempre as borboletas, minha marca características. Batemos à porta, esperando que todos nos aguardassem para o jantar.

Dougie abriu a porta para que entrássemos. Harry se consertou no sofá quando nós chegamos, e Danny chegou prender a respiração. Além de Júlia estar linda, eles sabiam que eu não ia gostar daquela história de álcool.

— Boa noite... quanto tempo. – Dougie brincou.

— Sem graça. – Fiz uma careta. – Como se sente? Está bem? – Passei passou a mão por sua face, tentando medir a temperatura.

— Sim, eu estou – Dougie sorriu, mas um pouco tímido.

— O que vamos comer? – Júlia perguntou, se sentando ao lado de Tom. Involuntariamente. – Vocês dois estão de dieta, não é?

— Sim, estão. – Caminhei até o sofá e tomei o copo da mão de Harry sem nem lhe dirigir a palavra. – Álcool está proibido, e um monte de outras coisas também. Lembraram disso?

— Claro que não. – Danny caiu na risada. – Ainda mais porque foi Tom quem pediu a comida... provavelmente vem aí a comida mais gordurosa e apimentada de toda Londres.

— Nem pensar. – Obviamente, reprovei a ideia.

— Só sobre meu cadáver. – Júlia foi enfática. – Somos a produção, tomamos conta de vocês. – Ela brincou. – Amanhã temos trabalho; não quero ninguém doente. Tomando corticoides, depois de uma lavagem estomacal; pimenta, nem pensar.

— E vamos comer o que, então?? – Dougie reclamou.

— Uma sopa seria bom...

— E vamos pedir uma sopa onde? – Danny já pegava o telefone.

— Não quero tomar sopa! – Harry protestou.

— Nem estou te ouvindo, musgo. Façamos assim, eu faço a comida de vocês hoje, ok?

— Você? – Dougie arregalou os olhos.

— Fique sabendo que cozinho muito bem. – Eu precisava defender minha reputação, então.

— Salvem-se enquanto é tempo. – Harry sacudiu Tom, que queria ficar fora daquele assunto.

— E pretende cozinhar onde? – Danny olhou em volta. - Não tem cozinha por aqui.

— Ah, deixem comigo. Isso eu dou um jeito.

Bebi a dose de whisky de Harry em um gole e saí, deixando Júlia com os leões. Ou melhor, os rapazes. Júlia e os quatro homens. Ela poderia estar em um harem, porque eu tinha certeza que ela nunca se viu perdida com tantos homens. Mas eu tinha que dar um jeito de arrumar uma sopa para os rapazes, algo bem leve e que não causasse mais traumas. Afinal, estávamos falando de mim. E eu conseguia tudo, sempre.


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