I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 8
Capítulo 7




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O médico já estava aguardando o grupo. Na verdade, ninguém estava me entendendo muito bem, porque eu estava exaltada demais por uma intoxicação alimentar e não estava explicando o motivo. Mas ninguém costumava discutir quando eu surtava. Eu era ainda mais infeliz e insuportável quando surtava.

— O que temos aqui? – O médico resolveu falar alguma coisa depois de alguns segundos.

— Intoxicação alimentar... comeram camarão estragado. – Eu continuava segurando as mãos de Harry. Mesmo contra a sua vontade, abri o roupão que ele usava e mostrei ao médico as erupções.

— Camarão? Há quanto tempo faz isso?

— Uma meia hora? – Dougie tentou imaginar, já sentindo seu braço dormente.

— Mais... uns quarenta e cinco minutos. – Júlia foi precisa.

— Então, vamos ser breves.

Antes que eles pudessem pensar em reclamar ou qualquer coisa assim, o médico chamou uma equipe e carregou os dois para outra sala. Eu seguirei Danny, que tentou seguir os amigos, e o arrastei, junto com Tom e Júlia, para o corredor. Sentei-me na primeira cadeira que vi, finalmente relaxando os músculos desde que eu vi as erupções na pele de Harry. Respirei aliviada, e pus-se a falar no celular, mais uma vez. Eu tinha coisas a fazer e pessoas para contatar.

— Para onde foram? – Tom coçou a cabeça.

— Se estão intoxicados, devem fazer uma lavagem, provavelmente. – Júlia se contorceu, imaginando que aquilo era desagradável.

—  Ew. – Danny também não gostou da ideia.

— Parece que só Brenda sabe o que aconteceu! – Júlia estava ansiosa. Mas eu estava tão desatenta, grudada ao telefone, falando em um inglês muito veloz, e vez ou outra em línguas que Júlia nem identificava. Ela tinha que esperar.

Ficamos todos alguns instantes mudos, se olhando, olhando o branco do hospital, um pequeno movimento no corredor. O celular de Danny também tocou algumas vezes, e eu achava que Tom tinha esquecido o dele em algum lugar. Eu, no entanto, não fiquei conversando com ninguém, até porque eu não tinha tempo. Eu precisava dar conta do serviço, porque eu sabia que não teríamos Mcfly disponível para aquele dia, mais. Até que o médico chegou para acalmar os aflitos.

— Como eles estão? – Tom perguntou, um tanto ansioso. Talvez eu estivesse contaminando todos. – Houve alguma coisa grave?

— Não... estão bem, fizemos uma lavagem estomacal e estão medicados. Agora é só aguardar a reação passar.

— Mas eles só almoçaram...

— Mas a intoxicação era grave. – O médico sorriu. – Ainda bem que correram para cá, pois mais alguns minutos e poderiam entrar em choque.

— Camarão é um veneno. – Desliguei o telefone e interrompi a conversa. – Eu sei muito bem... já quase morri por causa dele.

— Por isso ficou tão nervosa. – Júlia entendeu.

— Sim, mas agora está tudo bem. Eles só vão estar enjoados, e seja lá quem foi o responsável por aquela comida, já está sendo encontrado.

— Podemos vê-los? – Tom perguntou.

— Claro... sigam o corredor até o final, e virem à esquerda. Estão nos quartos 3 e 4.

Praticamente corremos até onde o médico indicou, como se hospital fosse lugar de correria. Entrei n primeiro dos quartos, junto com Danny. Tom e Júlia foram ao quarto 4.

— Sabia que viria me ver primeiro. – Harry sorriu, um tanto contorcido.

— Ok... alguém brinca um jogo muito malvado comigo. – Eu nem quis entender por que, com dois quartos para escolher, havia entrado exatamente naquele. Ou Harry havia sido colocado nele.

— Não implique com ela, Harry; foi quem te salvou a pele. – Danny se sentou. – Se vamos ter que servir de acompanhante, espero que ao menos esse lugar tenha TV a cabo.

— Eles não devem passar a noite. – Aproximei-me da porta. – Vou até Júlia, ela fica com o musgo. Não posso aguentá-lo agora, ou aproveito que ele já está no hospital e termino com essa plástica que ele começou.

— O que houve? – Júlia estava encostada na janela, no corredor, quando eu apareci.

— Por favor... carregue Tom com você, e vão para o quarto três. Fico com Dougie.

— Ah sim... então é lá que está o Harry.

— É. Começou a minha teoria do caos. Eu nunca deveria ter aceitado voltar para cá.

— Mas eu pensei que você estivesse feliz, com tudo que está acontecendo.

— E estou. É que toda vez que piso na Ásia, coisas estranhas acontecem. Eu sou a portadora do fim do mundo.

— Credo Brenda! – Júlia fez o sinal da cruz. – Não me fale besteiras... de onde tirou isso?

— Conte nos dedos quantas coisas deram errado desde que chegamos, e verá. Ainda nem começou, minha cara.

A teoria do caos invertido

Júlia não entendeu nada. Ela estava entendendo muito pouco das coisas que aconteciam naquele lugar. Inicialmente, ela pensou que fosse a água... a água sempre causava um efeito estranho nas pessoas. Mas eu estava esquisita, e a minha relação com todos era esquisita. Ela certamente sentia aquela invejinha saudável, já que ela sempre desejou tanta proximidade assim com pessoas famosas e belas. Mas, de qualquer forma, eu estava diferente demais, e algumas vezes assustadora.

Harry não estava nada bem. Foi ele quem mais sentiu os efeitos da intoxicação, e suas costas estavam feridas porque ele se coçou demais. A coceira tinha sumido por causa da medicação, mas ele estava grogue e lento. Ainda mais lento do que o normal.

— Isso dói. – Ele reclamou.

— Deixe de ser fresco. – Danny ignorou as reclamações.

— Ok, hoje é o dia em que todos vão me deixar à míngua. – Harry virou-se na cama, expondo as escoriações. Júlia quase sentiu dor por ele.

— Vocês estão sendo cruéis. – Ela foi até o banheiro e voltou com uma toalha de mão molhada. – Não veem que ele está todo machucado?

Sorrindo, Júlia passou a toalha molhada pelas escoriações. A água fria faria a dor diminuir, e o edema ceder. Ela não entendia muito daquelas coisas, mas sabia se virar. Afinal, eram procedimentos básicos, coisas que qualquer um sabia fazer.

— Você é boa nisso. – Tom, que estava com eles, sorriu.

— Bem, agora que nosso programa furou, nosso cliente vai ficar furioso. Preciso aprender mesmo uma nova profissão. – Ela brincou.

— Remarquei tudo para semana que vem. – Voltei para o quarto onde estava a maioria do grupo. Fora aquele minuto de reflexão depois que o médico levou os rapazes para tratamento, eu ainda não tinha parado.

— Você vai ter um colapso. – Tom tomou o celular de minha mão. – Quem está com Dougie?

— Ninguém... – E eu me dei conta de que tinha deixado alguém sozinho.

— Abandonou seu posto, soldado. – Danny riu. – Vou lá ficar com ele.

— Ele está dormindo. Está completamente dopado, estava com dor e lhe deram morfina.

— Ok. Então, conseguiu remarcar? – Júlia sentiu alívio. – Pensei que o cliente nos esquartejaria e serviria no almoço.

— Ele ainda vai fazer isso. Mas pelo menos aceitou o atraso de uma semana no comercial. O problema é: a imprensa. Os cães farejadores estão lá em baixo... chamei um bando para despistá-los, mas sabe com são os paparazzi.

— Sim, sabemos. – Harry disse, também um tanto grogue.

— O que está fazendo? – Eu vi, finalmente, que Júlia estava sentada na cama de Harry.

— O que ninguém teve coragem ainda de fazer... cuidando dele.

— Ah bom. – E lá estava eu, muito irritada, mais uma vez. – Então eu agora também tenho que cuidar do musgo? Não é gente demais, não?

— Ela me deixaria para os cães...

— Não deixaria. – Aproximei-me. – Os cães não merecem tanta crueldade.

— Volte para o quarto de Dougie, Brenda. – Tom resmungou, já cansado daquela conversa toda.

— Deixe que eu vou. – Danny se levantou definitivamente. – Cansei de ficar sentado, mesmo. Quando eles estarão liberados?

— O médico disse em umas duas horas... mas do jeito que estão, talvez precisem esperar passar o efeito dos remédios.

— Vou com você. – Júlia deixou o que fazia e intentou seguir Danny. – Preciso me movimentar...

Os dois foram até o quarto de Dougie. Nós três ficamos reunidos em um quarto, novamente, depois de tanto tempo. Harry um tanto fora de si, mas lúcido o suficiente para implicar. E eu estava tão estressada que se poderia fritar um ovo em minha testa.

— Você não quer medir a pressão? – Tom notou que um fio fino de sangue escorria de meu nariz. Eu costumava ter sangramento nasal quando estava sob pressão maior.

— Não, estou bem. Preciso descansar... mas enquanto eles não estiverem bem e gravando, não sossego.

— Se você não sossegar, interno você à força.

— Não faria isso! Você nunca faz nada comigo à força.

— Eu não, mas sei quem faria. – Tom olhou para a cama. Harry tentava se sentar, meio sem sucesso.

— Não faria isso mesmo! – Instintivamente, fui até ele para ajuda. – Você não pediria a ele para...

— Pedir o que?

— Nada, musgo. Não pense que estou boazinha com você, apenas quero meus produtos saudáveis.

— Sou seu produto... quanto romantismo.

— E deveria haver romantismo onde, nessa história?

— Vou ver como estão as coisas. – Tom ameaçou sair. Sim, ele estava cansado da conversa entre os nós, e eu nem podia culpá-lo. Ele sabia que sairiam faíscas, mas não tantas.

— NÃO! – Eu o agarrei pela camisa, meio desesperada. – Nem pense... acha que vou ficar aqui sozinha com ele?

— Já ficou antes, e não era problema.

— Sempre foi.

— Brenda... – Tom se soltou, e segurou a minha face entre os dedos. – Enquanto você lutar, será pior. Aceite... sossegue... acalme-se... eu já volto. – Tom beijou-me suavemente nos lábios, enquanto eu tremia dos cabelos ao dedo do pé. – Harry, tome conta dela.

— Tomar conta de mim. – Resmunguei, sozinha. Liguei a TV e comecei a zapear os canais. Meus dedos tremiam; eu mal conseguia acertar os botões do controle remoto. – Está para nascer o dia em que essa peste vai tomar conta de alguém... nem toma conta de si mesmo!

— Brenda. – Harry falou. Eu o ignorei. Aquele era meu passatempo favorito, ignorá-lo. Eu o fiz muito bem por 5 anos. Durante 5 anos eu o ignorei com perfeição. – Brenda... não adianta fazer isso. Vou te chamar até resolver olhar para mim.

— O que você quer, musgo? – Virei-me para ele. Harry estava sentado na cama, recostado nos travesseiros, de mau jeito, semicoberto, cabelos embaralhados. Ele tinha olheiras enormes, e parecia cansado.

— Sente-se aqui. – Ele chegou para o lado, deixando um espaço para mim na cama.

— Você acha que vou sentar ao seu lado? – Senti uma fisgada.

— Sim, vai. – Ele se esticou e tentou me alcançar. Seria fácil para mim me esquivar, mas eu não fiz. Eu não sei se entendi minha reação, mas meu corpo respondia involuntariamente a alguns estímulos. E então eu comecei a temer a mim mesma. – Vai se sentar aqui... me dê isso. – Ele tomou o controle das minhas mãos.

— Você anda pretensioso, musgo.

— Sempre fui... nunca notou? – Harry me puxou para seu lado, bem devagar. Ele sabia que eu era como um gato, qualquer movimento brusco me assustava e fazia com que desaparecesse. Ele costumava saber...

— É... você sempre foi metido. – Deixei que meus pés me conduzissem para onde ele queria. Lentamente, Harry fez com que eu me sentasse na enorme cama de hospital em que estava.

— Eu sei. E você sempre foi muito chata... não sei como sua amiga te aguenta.

— Júlia é uma ótima amiga... e você bem soube se aproveitar dela.

— Ela se ofereceu para ajudar a parar minha dor... dor que todos ignoraram, menos ela. – Harry falava, enquanto me convencia a fazer o que ele queria. Ele sabia que a melhor forma de me distrair era com um bom argumento. Com algum esforço, ele dobrou sobre mim e tirou meus sapatos. – Está melhor assim?

— Não. – Eu ainda sentia a fisgada. Meus músculos respondiam a espasmos involuntários. – Céus, é apenas o meu segundo dia na Europa e eu já causei um tsunami.

— Não se deve falar nisso por aqui. – Harry riu. – Dá azar.

Eu dou azar. Mas isso não te interessa... – Fiz a menção de levantar. Aquele negócio de ficar deitada ao lado de Harry Judd não era algo que eu estava interessada em fazer.

— Shhh... – Harry desligou a TV e me puxou para perto. Tentei resistir, mas desisti em seguida. Eu não estava muito racional, e aquela atitude era alarmante. – Tom me mandou tomar conta de você.

— E você algum dia fez isso?

— Não importa.

Harry me fez recostar em seu peito. Sentia a ardência das escoriações e a dormência por causa dos medicamentos, mas não estava enjoado. Tomou cuidado para não se embolar com o soro, e recostou-se nos travesseiros novamente. Eu fechei os olhos. Meu cérebro enviava um comando para que meus músculos repelissem aquele toque, mas meu corpo inteiro negava a existência de um cérebro.


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