I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 7
Capítulo 6




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— Você não acha Brenda meio esquisita? – Júlia sentou-se ao lado de Tom. Já passava de uma hora da tarde, e o grupo ainda não tinha almoçado. Pedimos que nos servissem o almoço no estúdio, pois ali mesmo faríamos as gravações do comercial de TV. E o almoço, como tudo naquele dia, estava atrasado. Eu, que detestava atrasos, teria que lidar com todos ao mesmo tempo.

— Sim, mas isso é normal. – Tom serviu-se de um café. – Aceita?

— Sim, por favor. – Júlia sorriu. E ela não conseguia negar que estava caidinha por ele, e babando. – Mas como assim, normal? Tudo bem, Brenda é estressada... mas a Brenda que eu conheço nunca foi esquisita.

— Toda vez que ela está com Harry, é assim.

— Você poderia me explicar essa relação dos dois... – Júlia recostou-se no estofado, bastante cansada. Passara várias horas fazendo com que Dougie decidisse sair do vestuário com os modelos que deveria usar, sem reclamar que algo o incomodava. Atendeu várias vezes o celular de Danny, com pessoas falando coisas que ela não entendia. E, para piorar, tentou me resgatar do meu suplício, sem sucesso algum. – Estou perguntando porque ainda não entendi motivo para não se gostarem... melhor, para se odiarem. E eles são como imãs, se atraem...

— Provavelmente você levou... dois segundos para notar isso, certo? – Tom apertou os lábios, olhando para mim, que estava sentada no sofá da frente, esgotada, cabeça nos joelhos, tremendo. O dia estava sendo um inferno, porque eu detestava trabalhar sob pressão.

— Por aí. – Júlia riu. Ela falava baixo, para que ninguém escutasse sua conversa com Tom.

— Bem, eles são como imãs, ela fica nervosa quando está na presença dele, ela não para de falar nele, ela sente arrepios quando ele se aproxima, ela tem tendências homicidas quando ele está no recinto. Isso tudo é verdade... mas o motivo não é ódio. O que acontece entre Brenda e Harry só Brenda e Harry entendem... bem, talvez eu também.

— Eles não se odeiam? – Júlia conjecturou.

— Não... mas vou deixar que descubra sozinha, se for capaz. Está fazendo um bom trabalho.

Tom levantou-se e deixou Júlia com a cabeça quente. Ela não estava fazendo nada... só observando meu passado vindo à tona. Coisas que Júlia nunca imaginou que poderiam ser possíveis, e aquele era só o começo. Sim, a Brenda que ela conhecia não era esquisita. Mas aquela pessoa que estava com ela estava longe de ser a Brenda que ela conhecia. Eu era, então, outra pessoa. A Inglaterra exercia aquele poder sobre mim, sempre.

Depois de comermos alguma coisa, porque o almoço foi finalmente servido, tínhamos continuar a programação. Ainda tinha muita coisa para ser fazer, e não tanto tempo assim para dispor.

— Ok, agora não temos mais que fazer nada. – Dougie jogou-se no tapete do estúdio, tentando se cobrir com algumas almofadas. – Podemos fazer a siesta?

— Sem preguiça. – Eu o cutuquei com o pé.

— Não teremos nem um minuto de descanso? – Harry reclamou. Eu o ignorei. – Acabamos de comer...

— Teremos sim. – Júlia olhou para mim, repreendendo-me com o olhar. Ela era boa naquilo. – Podem aproveitar que esse estúdio mais parece um quarto de hotel e descansem... por meia hora. Depois iremos para a gravação.

— Meia hora? – Eu quase engasguei. – Mas...

— Sim, meia hora! – Júlia insistiu. – Eles estão tão esgotados quanto nós... e já estamos bem atrasadas mesmo. Que diferença faz?

— Uhu, gostei mais da amiga. – Harry implicou. Eu o ignorei, novamente.

— Ela é boazinha conosco. – Dougie fez beicinho, como criança.

— Céus, e ainda protestam quando os chamo de juvenis... – Decidi ceder. – Ok, mas já perderam cinco minutos da meia hora...

— Ela não mudou nada. – Danny recostou-se no sofá, durante o intervalo. – Estou acabado... pareço ter uns 40 anos. Tão típico me sentir assim em photoshoots...

— Realmente, ela continua a mesma chata de sempre. – Harry levantou-se. – Estou com sede, como faz calor nesse lugar!

— Deveriam ter ligado o ar condicionado. – Tom ponderou.

— Em um comercial de cueca? Ainda bem que não! – Danny caiu na risada. – E Harry, deixe de ser implicante, você sabe como ela é perfeccionista.

— E desde quando precisa ser insuportável? Sempre risonha, com aqueles livros...

— Essa é a Brenda de quase seis anos atrás... – Dougie considerou. – Ah, agora entendi o ar condicionado.

— E ainda dizem que o lerdo sou eu! – Harry voltou da mini cozinha se coçando. – E ainda por cima acho que estou com alergias. – Sem nenhuma cerimônia, retirou a blusa para ver o que pinicava. Júlia quase cuspiu o café que tomava, enquanto eu mal abri os olhos para ver qual era a cena da vez. – Tom, veja se estou com as costas vermelhas.

— Sim... parece um vulcão em erupção. – Tom deu uma risada.

— O que eles estão falando? – Júlia já estava ficando irritada, porque eles falavam rápido demais. Ao mesmo tempo em que não conseguia parar de olhar os rapazes... não vestidos.

— Harry está com alergias. – Respirei fundo. Eu não estava prestando atenção, mas sabia tudo que acontecia. – Deixe-me ver, não quero nenhuma invencionice para atrasar as gravações.

Levantei-me e fui até Harry, que faltava pouco se esfregar contra a parede. Realmente, suas costas estavam bastante avermelhadas e cheias de erupções. Olhei em volta, procurando qualquer coisa que pudesse ter causado aquilo. Mas eu nunca trabalhava com material que pudesse causar alergias, eu sabia os problemas poderia ter em um set. E eu era esperta demais para evitar aquilo. Certo?

— Danny, você está se coçando também? – Devo confessar que fiquei assustada com o estado da pele de Harry.

— Que eu saiba não... deixe ver.

Danny também tirou a camisa, e Dougie, em pânico, fez a mesma coisa. Olhou cada centímetro de seu corpo, tentando achar qualquer vermelhidão que não fosse natural. Júlia procurou qualquer coisa que lhe pudesse abanar. Nunca sentira tanto calor na vida.

— Bem... se você quer saber, eu não estou me coçando. Mas que Dougie está todo empolado, ele está. – Danny olhava para o amigo, nada satisfeito com o que via.

— Deixe-me ver. – Passei a mão pela sua pele, ainda assustada. – É, você parece bem. Dougie, tira a camisa.

— Ah, não! – Dougie já fazia caretas. Júlia, que não sabia se assistia de camarote a cena ou se ajudava em algo, resolveu examinar as costas dele. Ombros largos, pele lisa, músculos definidos. E ele parecia mesmo um garotinho, eu achava.

— Você está com a pele grossa e cheia de bolhas. – Júlia diagnosticou.

— Ok, isso é um problema. – Respirei fundo para não surtar. – O que vocês dois fizeram que ninguém mais fez? Tom, tire a camisa!

— Liso como um bebê! - Tom girou em seu próprio eixo, na nossa frente, mostrando sua pele imaculada.

— Agora precisamos saber o que eles fizeram que causou isso. O que eles fizeram, então?

— Preciso responder? - Tom caiu na risada.

— Estou falando sério! – Irritei-me.

— Eles comeram camarão. – Tom disse, pegando mais água. – Realmente, está calor.

— Comeram camarão? E você acha que pode ter sido a comida?

— Bem, se eu estou errado e eles não são um casal e andaram fazendo coisas secretas hoje mais cedo, a única coisa que fizeram juntos até agora foi comer a mesma coisa... e ninguém de nós comeu camarão além deles.

— Camarão! – Passei a mão pelos cabelos, nervosa. – Camarão é uma péssima pedida para um dia de calor. Aliás, camarão é péssimo... péssimo!

— Então eu estou intoxicado??? – Harry se esfregava no tapete.

— Pare de se esfregar. – Júlia ofereceu a mão para que ele se levantasse. – Vai se ferir todo...

— Ok, fim de sessão! – Peguei meu celular e comecei a discar números, nervosa. – Tom, você pode nos levar ao hospital?

— Hospital? – Danny ficou curioso e assustado.

— Eu não sou motorista! – Tom protestou.

— Por que precisamos de hospital? – Dougie estava apavorado.

— Ou você nos leva, ou eu pego seu carro e vou assim mesmo! – Ignorei Dougie e enfiei a mão no bolso direito da calça jeans do meu ex, que estava jogada em uma cadeira, e peguei entre os dedos as chaves do carro. – Vamos, estou com pressa.

— Devo aguardá-los?? – O fotógrafo entendeu que a movimentação era de saída.

— Não... devemos demorar. Vamos remarcar para amanhã, 8 horas.

— Remarcar? Você tomou muito sol hoje, Brenda. – Tom não entendeu nada. – Eu começo a ficar preocupado, agora.

— Vamos! – Agarrei Danny com uma mão, Dougie com a outra, empurrei Harry com a cabeça, todos em direção à porta.

Ao invés de tentar me entender, Tom fez o que ele não sabia: tentou não me contrariar. Era mais saudável, na verdade. Júlia também não entendeu minha reação, mas ajudou a colocar todo mundo dentro do carro. Como não cabia todo mundo, ela e Danny, que estava bem, decidiram ir de táxi. Claro que ela nem perderia muita coisa, apesar de eu ter sentido aquela vontade que ela estava de participar do passeio de carro em que eu estivesse tão surtada, com Harry ao meu lado.

Tom, dirigindo, chegou ao hospital em tempo recorde. Os rapazes continuavam a se coçar sem parar, e eu estapeando suas mãos, para que eles parassem. Nem esperei que os colegas saíssem do carro, já fui entrando pela recepção do hospital, ainda pendurada no celular. Parei de frente a uma mocinha sorridente que devia ser a recepcionista.

— Preciso de um médico, urgente. – Quase me esqueceu de que estava em Londres, mas ainda bem que estava processando o inglês.

— Preencha o formulário, por favor.

A atendente me entregou uma ficha. Em segundos, chegaram todos os rapazes com Júlia. Harry estava quase abrindo o roupão que vestia, de tanto que enfiava a mão pelas mangas para se coçar.

— Preencho, mas preciso do médico agora.

— Assim que preencher o formulário, receberá o número de atendimento... há uma espera de 10 pessoas e...

— DEZ PESSOAS??? – E eu larguei o celular, fazendo com que ele batesse por sobre o balcão. – Não pode... veja bem, mesmo que você tenha uma fila, eu estou com um caso meio grave. – Agarrei Harry pelo colarinho do roupão e puxei a gola para baixo, expondo uma parte da pele vermelha, empolada, e já sangrando de tanto ser coçada. A atendente arregalou os olhos, enquanto Danny e Tom morriam de rir. Eles riam de tudo.

— Brenda, deixa que converso com ela. – Tom tomou a frente, tentando se controlar nas risadas. A atendente arregalou novamente os olhos ao subitamente reconhecer o Mcfly em sua frente. Ela ainda não tinha percebido que eram eles, e até aquele momento, eu era apenas uma estrangeira desesperada. - Diga-me, qual é o seu nome, querida?

— Eu me chamo Melody...

— Então, Melody, eu sei que você tem que seguir a sua ordem de trabalho, mas meus amigos aqui estão mal. Não sei quanto, mas pelo desespero da produtora deles, você imagina que não seja pouco, certo? Diga o que precisamos fazer, e quanto precisamos pagar, para que o médico nos atenda agora. E de preferência, em um lugar mais... discreto.

Com que em um passe de mágica, Tom resolveu o problema da fila de espera. Júlia achou divertidíssima a intervenção dele... seguro, esperto, utilizando as armas que tinha em mãos. A atendente entregou as fichas para que fossem preenchidas e enviou o grupo para o sexto andar. Claro,  não havia nada que Tom Fletcher não conseguisse, certo?

Dentro do elevador, eu me vi obrigada a agarrar as mãos de Harry, com força, e impedir que ele continuasse a se mutilar.

— Pare de se coçar! -  Protestei, segurando suas mãos para trás.

— Ah, resolveu notar que existo agora! – Ele implicou.

— Deixe de ser implicante, musgo! Nem doente você sossega; não pode se coçar, já está todo ferido!

— Eu não entendo por que tanto escândalo. – Danny insistia em observar as erupções que surgiam a todo instante na pele dos amigos. – É só uma alergia...

— Sei que é. – Eu continuava irredutível em minha concepção sobre o problema; concepção que ninguém sabia qual era, mas bastava que eles confiassem em mim.

— Me largue. – Harry protestou, tentando se soltar. Mas eu era forte, ele estava se sentindo mal, e a posição era desagradável.

— Não adianta achar que pode falar assim comigo. – Tudo que eu queria era ignorá-lo.


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