I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 4
Capítulo 3




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No hotel, várias horas mais tarde.

— Brenda. – Júlia entrou banheiro adentro. Eu estava escovando os dentes, e não tinha falado nada desde que voltamos do jantar. Jantar que Júlia adorou, apesar de ter ficado um tanto apavorada. Tom era uma pessoa espirituosa, divertida e linda. Sim, ele era lindo... desde o momento em que ela o viu na porta do quarto até o momento em que se despediram, no mesmo lugar, ela ficou babando nele. Eu deveria sentir ciúmes, mas acreditei que já tinha superado.

— Xim... – Boca cheia de espuma.

— O que tem para me contar que você não contou e que seu ex noivo ficou doido para falar?

— Ah... esse assunto de novo? – Lavei a boca. – Não existe nada disso, o Tom só que me infernizar. Ele adora isso; é seu esporte favorito.

— Ele quer, mas pareceu falando sério.

Cocei a cabeça. Eu não me livraria de contar a Júlia alguns segredos do passado. Claro que eu tinha muitos, mas eu não sabia quais eu precisaria revelar. Pensei que poderia esperar as situações acontecerem, mas Júlia estava extremamente curiosa, e não me deixaria em paz. Era melhor abrir o jogo logo, mas era também um tanto doloroso.

— Céus, meus fantasmas estão de volta. – Joguei-me na cama. – Estou cansada, podemos falar sobre isso amanhã?

— Agora. – Júlia não desistiu.

— Tá bom... – Respirei fundo. – Não vai me deixar fugir, certo?

— Certo.

— Ok. Tom foi meu noivo; nos conhecemos no dia em que cheguei a Londres. Ele sempre gentil, simpático, maravilhoso... você viu. Ele é lindo. Me apaixonei instantaneamente, mas foi só paixão.

paixão? – Júlia riu. – Ah, quem me dera, um homem desses, apaixonado por mim!

— Estou falando sério. – Atirei um travesseiro em Júlia. – Na verdade, foi paixão... e depois nosso amor se desenvolveu de um jeito diferente. Eu me sentia como sua irmã; temos uma relação de pele e alma que nem eu mesma entendo. Pois bem, eu acabei me mudando para Londres de vez, por causa dos estudos. Mas nós nos afastamos um pouco, e eu passei por problemas.

— Problemas?

— Psicológicos. Eu fiquei internada em um hospital por seis semanas, só ele sabe isso. E agora você. Eu passei por... bem, eu um dia te conto o que houve, ok? Eu posso dizer que tive os problemas, que fiquei internada, mas falar sobre isso... agora não, hoje não, depois de ver Tom não.

— Tudo bem. – Júlia entendeu que eu já havia se esforçado demais. – Obrigada por confiar em mim, mesmo com tanta pressão.

Apaguei a luz do abajur e pensei em dormir. Se eu conseguissem; afinal, eu não dormia facilmente. Mas passar duas noites em claro seria demais, nem eu aguentaria. Meu corpo desabaria, eu sabia. Mas...

— Você se esqueceu de uma coisa. – Júlia devolveu o travesseiro. – Não me disse quem é Harry.

Fiquei em silêncio, tentando fingir que dormia. Ou ao menos que estava surda. Júlia colocou a mão no interruptor e acendeu a luz.

— Brenda... Harry.

— O que você quer saber? – Sentei-me, irritada. Aquela conversa não teria fim! Fantasmas... todos eles de uma vez só.

— Quem ele é; você disse um ser humano desprezível, o Tom disse que você não o suporta...

— E não suporto. Ele é amigo do Tom, eu os conheci praticamente juntos, mas ele é um ano mais novo que eu. É uma praga, perturba, é metido; eu não o tolero. – Era o que eu pretendia contar sobre Harry.

— Tudo bem, agora você me fez querer conhecê-lo. – Júlia apagou a luz e se deitou, imaginando afinal que monstro verde e verruguento seria o tal Harry.

— Não queira... ele é irritante. Vai grudar em você...

— Tá bom.

Um dia no escritório.

O dia chegou, quente e desafiador. Era dia de trabalho; o nosso primeiro dia de trabalho em outro continente. Eu e Júlia fomos de táxi até o escritório onde trabalharíamos. Eu ainda não tinha certeza se ficaríamos com a produção musical ou comercial, mas tanto fazia. Nós fazíamos de tudo mesmo. Gregory deixara organizado com a equipe que as ajudaria em Londres, pois o projeto era da VeMon. A empresa Britânica apenas seria o vetor de tudo. Isso nós sabíamos, e faríamos dar certo. Afinal, o projeto era nosso, mesmo.

Eu cheguei falando alto, em inglês, conversando com todos. Júlia sentiu-se meio excluída, e eu nem fiz por mal, pois não entendia tudo que falavam. Realmente, aquele trabalho seria interessante... e talvez penoso. Todas as diferenças seriam complicadas de lidar, mas pela interação que fiz com o ambiente, logo de cara, talvez tivéssemos alguma sorte.

— Ok, você pode traduzir tudo para mim. – Júlia protestou, sentando-se na cadeira que lhe era destinada.

— Sim, posso; mas é melhor se você treinar seu inglês.

— Seu celular está tocando. – Júlia resolveu me fazer notar o que acontecia. Meu celular tocava há vários minutos e eu não respondia.

— Sim, deve ser o Tom.

— Deve?

— Só ele tem esse número aqui...

— ATENDA, mulher! – Júlia pegou o telefone, nervosa. Ela não estava suportando a nova Brenda... tão parada e lenta, aquela não era eu. – Alô...

— Brenda? É você?

— Não, é Júlia. - Ela disse, e eu suspeitei que fosse mesmo Tom.

— Júlia? Eu pensei que tinha ligado para o celular de Brenda, desculpe.

— Ok, pânico aqui! – Júlia jogou o telefone para mim. – O cara falou muito rápido e com um sotaque engraçado.

— Inglês?

— Claro; o que mais ele falaria?

Torci os lábios e decidi atender. Deveria ser Tom, de brincadeira com Júlia. Aquele insuportável!

— Alô. - Falei, esquecendo-me de onde estava.

— Não falo português, você deveria saber.

Meu sangue ferveu instantaneamente. Todo o calor do ambiente estava então dentro de minhas veias. Se estivesse em um desenho animado, sairia fumaça de meus ouvidos. Meus olhos ficaram vermelhos como duas bolas de fogo. Júlia sentiu que tinha algo errado, mas ela não poderia saber o que era. Estava óbvio que eu poderia perder meu controle a qualquer momento.

— Brenda, o que foi? - Ela perguntou, mas eu não prestei atenção.

— Como você descobriu esse número? – Disse, entre dentes.

— Tom me deu.

— Ah, deveria saber... o que você quer comigo, musgo?

— Faz tempo que ninguém me chama assim. Então, está em Londres! Voltou para casa, afinal.

— Aqui não é minha casa. E você, não tem trabalho? Por que está me ligando?

— Sim, tenho. Você não quer saber qual?

— Não.

— Lembre-se da palavra McFly. Quando a ver, vai querer me ligar.

— Eu conheço a palavra McFly, musgo. E fique ciente de que nada nesse mundo vai me fazer ligar para você. Nem mesmo o McFly.

Desliguei o telefone com a respiração acelerada. Era impressionante como aquele homem me afetava. Eu estava tranquila e focada no trabalho, e bastou ouvir a voz dele para eu me tornar uma pessoa possessa e cheia de ira.

— O que foi? – Júlia continuava perguntando. – O que ele queria? Quem era?

— Ele queria me infernizar. Eu estava falando com Harry. – Eu quase sussurrei.

— Harry? Aquele, do jantar?

— SIM! Ele ousou me ligar, acredita?

— Bem, ele pega no pé, como você falou.

— Sim, um musgo. Esse é o apelido dele... musgo. Arght, vamos trabalhar, ao menos, vamos descobrir o que vamos fazer. Preciso me concentrar, e ele atrapalha qualquer tipo de concentração.

Júlia riu, e foi comigo pegar os papéis das contas que gerenciaríamos. Aquele horror todo a um homem não podia ser normal, mas eu estava completamente fora de mim. E ele ligando, no meu segundo dia na cidade? Júlia não parecia acreditar muito em mim, era como se ela me olhasse tentando entender tudo que estava por trás daquele ódio e daquela história. Talvez nem eu soubesse.

Os papéis das contas foram trazidos pelo office boy, e nós começamos a analisar o material com que trabalharíamos.

— Seremos produtoras musicais. – Cocei a cabeça. – E também lidaremos com comerciais? Vão nos explorar por aqui!

— Bem, faz tempo que não fazemos isso! – Júlia respirou fundo. – Será bom trabalhar com música outra vez, ao menos.

— Estou imaginando que vamos acabar trabalhando com o Tom. Ele é muito famoso por aqui.

— Isso não será ruim...

— Aha... – Ela tinha sido pega, então. – Então gostou de Tom? Ele tem que ficar sabendo disso.

— Nem pensar! Quem disse que gostei dele? – Júlia, envergonhada.

— Vocês passaram uma noite discutindo sobre meu passado sombrio, e agora você quer fugir de ser a bola da vez? Aha! Nem vem, vou gostar disso... D. Júlia interessada em Tom Fletcher?

— Pode parar, Brenda. – Júlia continuou a ler os papéis. – Arght, não entendo nada do que está escrito aqui! Que negócio complicado, vejamos... lista de clientes, eu acho. Quem é Busted? E McFly?

Uma luz de alerta acendeu na minha cabeça. Eu conhecia aquelas palavras.

— Deixe-me ver isso! – Tomei os papéis da mão de Júlia. – McFly? Isso só pode ser brincadeira comigo. Estou sendo mesmo perseguida? Não há nenhuma justiça, há?

— O que você está falando?

— McFly, nosso primeiro cliente. – Uma pessoa juntou-se a nós. Tinha feições orientais e vestia-se como executiva. – Deixe-me apresentar... Lydia Wang. Vou ajudá-las com o projeto. Como eu dizia, vocês vão começar com o McFly. Eles estão investindo pesado em divulgação, querem um novo website, estão para lançar um novo álbum; eles querem uma nova roupagem para o grupo.

— O que tem esse McFly então, Brenda?

— Eles são um grupo de música. – Lydia Wang sorria, explicando tudo como se ela pouco conhecesse os fatos.

— É o grupo do Harry. – Bati com a cabeça na mesa. – Os deuses conspiram contra mim... só pode ser brincadeira.

— Ah... entendi. – Júlia mais uma vez caiu na gargalhada. – Isso significa que você terá que trabalhar com seu odiado amigo e eu terei que conhecê-lo.

— Não entendi nada. – Lydia Wang coçou a cabeça. Ela falava devagar, e com um inglês perfeito. Júlia não estava achando nada difícil compreendê-la.

— É uma história interessante, posso te contar no almoço, se conseguir. – Júlia não parava de rir. – Mas diga, você teria uma foto desse grupo aí?

— Claro!

Lydia Wang caminhou até uma estante, e retirou algumas pastas enormes.

— Esses são portfolios, todos os trabalhos fotográficos ficam ali. Você quer foto do grupo? – Ela mostrou um photoshoot, em tamanho extra grande, a Júlia, enquanto eu tentava afogar-me na madeira. Ela estava se divertindo, mas eu não.

— Eles são... bem simpáticos. – Júlia tentou ser educada.

— São sim, bastante lindos. E suficientemente desprendidos.

— O que isso quer dizer?

— Que eles são fotogênicos, e aproveitam isso. Recentemente eles fizeram fotos em que estão nus. – Lydia Wang pegou uma foto em uma das pastas e mostrou para Júlia, que quase engasgou quando viu. Alguns rapazes sem roupa, completamente sem roupa, e exibindo as tatuagens – que eu já conhecia. – Essa foi para uma revista chamada Attitude.

— Você tem alguma coisa assim da pessoa de quem ela falou? O tal Harry?

— Harry? Harry Judd? – Lydia Wang riu, ficando com as bochechas vermelhas. – É ele mesmo que está nessa foto aqui, - ela apontou para uma das imagens – o que você acha?

Júlia arregalou os olhos, franzindo as sobrancelhas. Seu queixo tocaria o chão. Ela olhou para mim, e para Lydia, e de novo para a foto, completamente atordoada.

— Como assim é esse da foto? – Júlia pegou a foto nas mãos. Sua expressão era mais de espanto do que de satisfação em finalmente conhecer Harry. – Brenda, esse homem é o homem que você diz odiar? Que acabou de te ligar?

Júlia me fez levantar a cabeça e olhar para a foto, depois de seu escândalo. Eu fiz um bico, torcendo os lábios, com cara de desdém. Sim, era ele... como sempre, ele. E senti um calafrio me percorrer o corpo. Ele estava diferente, mas ainda era o mesmo.

— Sim, é ele... o que tem demais? Não tem nada aí que eu já não tenha visto.

— COMO ASSIM O QUE TEM DEMAIS? Ele é... lindo! – Júlia respirava difícil. – Ok, ele é mesmo lindo, o que é tudo isso?

Nah, ele não é tão lindo assim; o Tom é muito mais.

— PODE ATÉ SER! Mas... ok, guarde essa foto por favor! – Júlia entregou a imagem a Lydia Wang, que estava se divertindo com a conversa nós. Tomei a nota mental de sempre colocar Júlia sobre pressão, porque ela não se atrapalhou no inglês nem uma vez. Estava impecável, desde que chegamos. – Você sabe como eu imaginava esse homem? Desde ontem, depois que você me disse que o odiava, e desde que você o chamou de musgo? Eu o imaginava verde! Um monstro feio, verde, enrugado!

— Ele definitivamente não é verde. – Lydia.

— Nem monstro e nem enrugado! – Júlia teve que concordar. – Aliás, ele é um deus grego!

— Podem parar... isso é só fisicamente. Ele é muito perturbado, se você o conhece pessoalmente.

— Não vou mais ouvir você falar dele. – Júlia colocou as mãos sobre o ouvido. – Não vou; recuso-me a acreditar que tudo isso seja tão irritante como você fala. Então, Lydia, é com eles que trabalharemos primeiro?

— Sim, é com eles. Eles são um dos nossos melhores clientes, e seu chefe disse que vocês eram as melhores, então, entregamos só essa conta a vocês pelas duas primeiras semanas do projeto.


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