I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 3
Capítulo 2




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Quando Júlia retornou ao quarto, já havia passado bastante da hora do almoço. Eu estava deitada com um saco de gelo sobre a cabeça, querendo que o mundo parasse um pouco para que eu pudesse descer. Sentia-me tonta; eu ainda não tinha me concentrado na diferença de fuso. E a ligação de Tom... eu tinha saudades dele, desejava vê-lo, mas ele trazia lembranças complicadas demais consigo. Eu tinha certeza, no entanto, que não conseguiria fugir dele. Júlia se aproximou e sentou-se na cama. Pensou várias vezes o que diria. Mas precisava ser direta. Afinal, nem havia muito que florear.

— Eu ainda não acredito que mentiu para mim.

— Não menti. – Sussurrei, porque doía falar. – Eu simplesmente nunca disse nada sobre isso até agora.

— Nunca contou que morou aqui! Tudo bem que só te conheço de quando começamos a trabalhar na VeMon, e tudo bem que você nunca falou nada do passado... mas não acha que morar aqui e conhecer tudo era importante para nosso trabalho?

— Júlia... – Sentei-me, sem tirar o gelo da cabeça. – Meu período aqui não foi lindo. Eu tive problemas... coisas aconteceram. Por isso fui embora. Não teria saído daqui se não fosse... bem, mas eu ia contar. Desculpe se isso magoou você. Você vai conhecer o Tom hoje, pelo menos.

— Quem é Tom?

— Meu ex-noivo.

— Como assim vou conhecê-lo?

— Ele vem nos buscar para jantar.

— Ok... o que eu perdi?

— Eu o avisei que estávamos vindo, ele me ligou.

— Você é amiga dele? Mantiveram contato?

— Sim, nós nunca perdemos contato, na verdade. Acho que sempre nos amamos.

— Sei, é uma relação de amor e ódio. – Júlia caiu na risada.

— Na verdade, sim. – Eu tive que concordar. – A relação de ódio e ódio é outra.

— Credo... nem vou perguntar do que se trata. Quer um remédio?

— Para que?

— Essa cabeça... você está com gelo.

— O gelo não é para dor... é para me acalmar.

— Nem vou perguntar de novo. Você está muito complicada esses dias.

Decidimos descansar um pouco, já que o dia era livre. Eu não dormiria, mas pelo menos tentaria me conformar com os fatos. Estava em Londres novamente; nada poderia ser feito. O compromisso era às sete, então bastava que esperássemos. Porém faltando poucos minutos antes das sete horas, Júlia estava pronta já. Não sabia o que vestir em sua primeira noite em Londres, e eu não fui uma boa ajuda. Preferiu o básico, ou seja, preto. Já estava vestida, maquiada, penteada, pronta para ir a qualquer lugar. E eu ainda nem tinha entrado no banho.

— Vai se atrasar. – Júlia olhou no relógio.

— Ligue a TV, pegue uma bebida no frigobar... em quarenta minutos ele chega. Você precisa ficar refrescada ou sua maquiagem vai derreter – Abri o chuveiro. Água bem fria, era preciso.

— Como tem certeza que ele vai atrasar?

— Thomas é previsível como um relógio. Ele é canceriano.

— Ah sim... e você acredita em astrologia?

— Sim, acredito. Ok, isso está virando o muro das confissões. Tudo que eu nunca disse está sendo revelado de uma forma muito súbita. Londres causa esse efeito em mim.

Júlia ignorou meus comentários, mas achou que deveria fazer o que eu dizia. Pegou qualquer coisa colorida no frigobar e sentou-se na frente da TV. Perda de tempo... tudo em inglês. E eles falavam muito rápido. Ela até poderia tentar localizar um canal internacional, mas estava com preguiça até para isso.

No banheiro, eu pensava e repensava o quanto a ideia de sair com Tom era ruim. Sim, ele trazia memórias esquecíveis que eu preferia não precisar enfrentar no seu primeiro dia na Europa. Mas eu não poderia fugir dele o tempo todo, então era melhor vê-lo logo. E que ele aparecesse mesmo com o amigo... David. E que fosse um amigo bonito, para variar.

— Brenda, seu celular está tocando. – Júlia entrou no closet, enquanto eu tentava terminar sua maquiagem.

— Atenda, por favor. É o Tom.

— Ok... – Júlia apertou o botão verde e respondeu à ligação. – Alô.

— Opa, essa não é a Brenda. – A voz masculina. Ah, aquela voz.

— Não, é a Júlia...

— A amiga. Muito prazer, Fletcher.

— Fletcher? – Júlia ficou confusa.

— Ah... ela deve ter me apresentado como Tom...

— Sim, Tom. – Júlia ficou ainda mais confusa. – Fletcher então é seu sobrenome.

— Exatamente. – Ele riu. – Por favor, avise a Brenda que estou chegando... sei que ela ainda está na maquiagem. Até daqui a pouco.

Tom desligou o telefone, e Júlia continuava confusa.

— Ele sabe que você está se maquiando... você sabia que era ele... são quase sete e meia e ele disse que está chegando...

— Ele chega em dez minutos, porque deve vir pelo túnel.

— COMO pode? Vocês se conhecem tão bem!

— Quase nos casamos.

— Não justifica, já que vocês estão separados há tanto tempo!

— Bem, a questão é essa. Nos conhecemos. Preciso terminar, ou ele chega e eu ainda não estou pronta.

Ela deixou o closet, caminhou para o hall e esperou o relógio marcar sete e quarenta. Em segundos, a campainha tocou. No mesmo instante, eu apareci no hall, vestindo meu melhor jeans. Júlia atendeu a porta, sorrindo. Seu sorriso congelou como se tivesse aberto a porta de um freezer. O homem alto, vestindo jeans e tênis surrados, cabelos claros repicados para o alto, com um enorme sorriso e carregando consigo flores, estava ali, em pé. Um homem lindo... como muitos que ela não conhecia.

— Boa noite. – Ele disse. – Júlia, certo?

— É... – Ela, monossilábica. Afastou-se um pouco para que ele entrasse, e não resistiu em observar cada movimento daquele corpo. Seus olhos estavam fixados. Eu deveria ter ciúmes, mas o Tom era daquela forma, mesmo. Depois que ficou lindo, causava sensação.

— Vejam se não é a garota metamorfose. – Tom sorriu ainda mais, ao me ver.

— Sim... assim como o garoto eu-sei-quem-você-é-eu-vi-o-que-você-fez.

— Seus apelidos não pegam porque são muito grandes! – Ele gargalhou, entregando para mim as flores. – Você dessa vez quis me matar de saudades. – Eu coloquei as flores no vaso com água que havia preparado, sabendo que ele as levaria. Depois, joguei-me nos braços de Tom, deixando que ele me beijasse suavemente. Na boca, claro. Todo mundo beija os ex-noivos na boca, certo?

— E você não me beijava assim quando éramos noivos.

— Não tinha graça, então. Era permitido.

— E agora ficou proibido?

— É... – Júlia ainda estava no mesmo lugar, vendo a mesma coisa, sem conseguir emitir sons inteligíveis. Eu tinha que me sentir culpada... porque eu era confusa, e acaba por deixar minha amiga maluca.

— Ju... bem, acho que você já entendeu que esse é o Tom, meu ex-noivo.

— Enchanted. – Tom pegou a mão de Júlia e beijou. E Júlia ainda balbuciando qualquer coisa.

— Prazer...

— Seja lá o que Brenda contou de mim, é tudo mentira. Ela sempre exagera.

— Ela não contou nada. – Júlia estava completamente fora da órbita terrestre.

— Nada? Que crueldade, Brenda... assim me sinto excluído de sua vida!

— Se fosse excluído não estaria agora me perturbando. – Empurrei Tom para fora do quarto. – Vamos Júlia... antes que eu comece a achar que esse jantar foi uma péssima ideia.

Tom nos levou a um restaurante indiano em Londres. Ele tinha certeza que éramos acostumadas às comidas de sempre, aquela coisa americanizada que eu adorava. Era um padrão. Ele não gostava de padrões, preferia chocar.

— Então... Júlia. – Ele se preparava para discursar, como de costume. Já estávamos na mesa reservada, com serviço quase que exclusivo. Ninguém ousaria não atender, com exclusividade, Tom Fletcher; não com a fama que ele tinha. – O que mais Brenda não te contou?

— Ela não contou nada. – Júlia ainda estava chateada comigo. Agarrou-se ao cardápio para escolher algo, pois aposto estava faminta. – Nem que havia morado aqui.

— Típico da Sra. Metamorfose. Ela tem mania de deixar as etapas da vida dela para trás.

— Thomas, cale-se. – Decidi manifestar-me. Aquele assunto poderia ficar perigoso. – Você sabe bem os motivos de querer esquecer certas coisas que vivi.

— Sim, sei. E os desconsidero... já faz muito tempo... você precisa encarar certos fatos de frente.

— Cale-se. – Brenda cerrou os dentes.

— Estou boiando desde que vocês se encontraram... parece que estou em um mundo paralelo! E parece que Brenda não é a mesma pessoa desde que chegou aqui.

— Esse lugar é meio amaldiçoado. – Resmunguei. – Mas me desculpe... eu sabia que a Inglaterra me despertaria fantasmas adormecidos, deveria ter sido sincera com você. Existem muitas coisas que você nem imagina, mas eu te contarei... quando chegarmos ao hotel, ok?

Fizemos o pedido. O clima não estava tenso, mas estranho. Júlia realmente se sentia estranha, pois eu possuía uma vida construída naquele lugar. Ela achou que nós duas estaríamos mesma situação, na situação de estrangeiras perdidas. Mas ela estava perdida, eu não. Decidiu comer hamburger com fritas, mesmo sabendo que deveria comer salada.

— Ela falou sobre o Harry?

— Tom! – Protestei, batendo com o garfo na mesa. Fez-se um estrondo, e algumas pessoas olharam para a nossa mesa. – Não acredito que vá falar disso!!! O que te deu? Está com formigas na língua, não consegue ficar com ela guardada na boca?

— Ela poderia estar em outro lugar. – Ele foi irônico, metafórico e bastante maroto.

— Quem é Harry? – Júlia começou a se interessar. Tudo que me tirava do sério daquele jeito devia ser interessante.

— Harry é um amigo meu...

— CALE-SE! – Agarrei Tom, tampando sua boca com os dedos. – Aliás, você não ia trazer um amigo hoje? Onde ele está?

— Ele não pode vir... então terão que se contentar comigo mesmo. Mas vamos... não acha que sua amiga precisa saber dele?

— Se vamos falar de Harry, eu digo quem ele é. – A conversa estava entre nós apenas, como se fôssemos um casal. E éramos, na verdade, sempre fomos. Virei-me para Júlia, que estava um tanto quanto apavorada. – Harry é o ser humano mais detestável que conheço. Uma praga, uma peste, um mala.

— Bela descrição. – Tom caiu na gargalhada. – Tudo a ver com ele, mesmo.

— Credo... agora tive até medo. – Júlia assustou-se ainda mais. – Esse ser tão desprezível... existe?

— Ele não é nada disso. – Tom não parava de rir. – É só um capricorniano que deveria ter nascido sagitariano, e os astros ainda não o perdoaram por isso. A questão é que Brenda não o suporta.

— Ah...

— Eu não o suporto, essa verdade é absoluta. Mas vamos parar de falar em Harry. Nem deveríamos ter começado. A comida já chegou.


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