I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 27
Capítulo 26




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— Acho que você deveria tentar. – Tom sussurrou nos meus ouvidos. Conduziu-me até o lado da cama. Ficaram todos mudos, como se a voz lhes faltasse naquele instante.

— Harry. – Eu não sabia se dizia seu nome. Se tentava tocá-lo. Se chorava. Se sorria. Eram tantos sentimentos ao mesmo tempo. Eu fiquei zonza.

— Brenda. – Ele disse. Ouvir sua voz era como ouvir a mais linda das músicas. Ele não cantava no Mcfly. Eu quase nunca o tinha ouvido cantar. Mas, naquele instante, sua voz era música. – O que faz em uma cadeira de rodas? – Ele pareceu curioso. E tão saudável. Como se ele não tivesse ficado dias em coma. – Pensei que o doente aqui era eu. – Ele falava bem. Os médicos haviam dito que a sua recuperação estava muito boa, apesar do tempo que levou sedado. Eu não sabia daquela informação. Achei que era coisa demais para processar.

— Eu estou com preguiça, por isso Tom me colocou aqui e empurrou. – Meus olhos estavam úmidos.

— E por que está no soro? – Ele quis saber, também. Eu era uma péssima mentirosa. Tinha me esquecido do soro. Eu ainda estava amarrada àqueles tubos, por causa de medicamentos. Levantei-me. Eu não deveria fazer aquilo, mas estava longe demais dele. Senti uma fisgada quando me estiquei por completo. Arqueei o corpo levemente para frente. – E por que você está vestindo roupas iguais às minhas?

— Isso é um interrogatório? – Eu disse, me aproximando. – Porque se for, preciso do meu advogado.

— Eu não sou tão irritante assim, viu?

— Como? – Não entendi.

— Você me disse que eu não poderia ser tão irritante para te deixar... eu não vou a lugar algum.

E então eu comecei a chorar. Ele tinha, então, ouvido tudo que eu falei. Aquela coisa de chorar era tão atípica. Mas eu estava uma chorona, então. Supus, naquele instante, que a minha postura defensiva não era mais necessária há muito tempo. Instintivamente, procurei o corte da cirurgia, do transplante. Passei a mão sobre o curativo, e deitei a cabeça em seu peito. Eu já estava com ele na cama, praticamente. Ele me abraçou, olhos fechados.

— O que tiraram de mim aí? – Harry ainda não tinha notado que estava operado. Seu corpo demorava a responder a todos os estímulos.

— Eles não tiraram, colocaram. – Eu disse, tentando parar de chorar.

— Colocaram o que?

— Você precisou de um transplante, Harry. – A mãe dele decidiu falar. – Você teve muitos ferimentos, filho, e precisou receber um fígado novo. Seus rins também pararam, você agora tem apenas um, doado.

— Foram duas cirurgias. – Dougie interferiu.

— Não puderam fazer o transplante todo de uma vez? – Ele parecia atordoado. A notícia parecia demais para quem tinha acabado de acordar do coma.

— Você rejeitou os rins que foram previamente doados.

— Mas mamãe não disse que eu tenho apenas um? E, se eu rejeitei, o que aconteceu?

Naquele momento, eu abri os botões da camisola que vestia. Aquela roupa horrível de hospital. Porque qualquer outra coisa prejudicaria minha cicatrização. O enorme curativo me tomava toda a lateral do corpo. Seguia em direção à barriga. Todos puderam ver. Harry arregalou os olhos e olhou diretamente para mim. Talvez ele estivesse entendendo alguma coisa. Talvez ele tivesse entendendo tudo.

— Você... o que afinal...

— Eu precisava de você. – Eu disse, ainda em prantos. – Precisava muito.

Três dias depois...

Tom pensou várias vezes em ficar mais tempo no hospital, mas eu o fiz desistir. Eu ficaria no hospital, mesmo depois que o médico me mandou embora. Enquanto Harry ali ficasse, eu ficaria. Mas Tom deveria ir para algum lugar melhor. Ele deveria mesmo ir para casa. O médico liberou para que fosse para Londres. Ele convidou Júlia para ir com ele. Ele teria que viajar com cuidado, mas poderia ir.

— Não posso, Tom. – Júlia recusou o convite, sofrendo. – Com Brenda internada, preciso assumir tudo. O Mcfly ainda tem compromissos, e as fãs já estão em polvorosa porque Harry está internado. Brenda arrumou duas fãs ajudantes, e elas têm sido ótimas. Em troca de informações e contato, elas são bastante prestativas. Mas, ainda assim, elas não são Brenda.

— Então vou ficar em Manchester com você. – Ele decidiu.

—Você não tem que ficar comigo. – Júlia tentava ser razoável, como eu era. Afinal, ela teria que assumir minhas funções. – Eu vou ter muito trabalho, talvez nem consiga te dar a atenção necessária.

— Mesmo assim prefiro ficar por perto.

— Que bom que pode tirar férias assim. – Ela implicou.

— Será bom que Joey fique por perto também, porque logo, logo Brenda terá que confessar a Harry a verdade.

— E vocês ficarão onde?

— Nós ficaremos em um hotel, como todos.

— Tá bom. – Júlia não iria discutir muito com ele. Se ele fosse mesmo parecido comigo, discutir era inútil.

Saíram do hospital e alguns carros estavam esperando para levá-los até onde quisessem. Tom Fletcher tinha prestígio em qualquer lugar da Inglaterra. E enfrentar uma multidão de fãs que se aglomerava fazendo vigília no hospital seria difícil. Eles pediram a ajuda das minhas garotas. Os outros membros do Mcfly estavam também fora do hospital. Como todos estavam melhorando, eles retomaram algumas atividades. Eles precisavam continuar a seguir suas vidas e cumprir suas obrigações, ainda mais sem Tom e Harry.

Já havia entardecido bastante quando Júlia pensou que deveria voltar ao seu hotel. Para tomar um banho e deixar Tom descansar. Ela pegou sua bolsa e foi até ele despedir-se. Os hotéis eram diferentes, e o quarto delas era muito mais simples do que aquele.

— Aonde você pensa que vai? – Ele perguntou, sonolento por causa dos medicamentos que ainda tomava.

— Para o meu hotel. Vou tomar um banho e...

— Você não precisa ir. – Tom a puxou pela mão. – Não precisa mesmo.

— Mas agora você está cercado da família e...

— Eu estou em um andar com cinco quartos, todos ocupados por mim mesmo. Este aqui é só meu, se alguém entrar, é expulso. – Ele riu. – Ai, estou completamente zonzo.

— Quer que chame alguém?

— Não, quero que fique! – Ele insistiu. – Os dias têm sido uma loucura, só nos vimos em situações constrangedoras, em tragédias. Todos só choram e sofrem; preciso de você agora, que está tudo em paz, também. – Ele puxou Júlia para si e a abraçou, apoiando a cabeça em sua barriga. – E eu estou tão tonto que logo, logo eu durmo. Não vai ter que me aturar muito.

Júlia caiu na risada.

— Eu adoraria ter que te aturar o tempo todo. – Ela acariciou seus cabelos. – Está bem, eu fico... mas vou usar o seu roupão.

— Pode usar o que quiser, não usar o que quiser...

— Tom! – Júlia o repreendeu. – Você tem um buraco de dois quilômetros na cabeça e outro de cinquenta metros na barriga.

Ele sorriu, e fez com que eu corpo deslizasse pelo dela até encontrar sua boca. Beijou-a suavemente.

— Eu só preciso de você aqui. Nada mais importa agora.

Era noite, fazia frio, e eu estava absurdamente entediada. Harry não sairia do hospital tão cedo; eu não sairia do hospital tão cedo, e Tom nunca me tinha feito tanta falta. Naquele dia, ninguém tinha aparecido no hospital, só a mãe dele. Eu dispensei minhas ajudantes. Elas estavam no sétimo céu, porque Danny estava sendo um cavalheiro com elas. Ele era um cavalheiro sempre. E Dougie, brincalhão, as seguia no twitter, e deu seu telefone para ambas. Garotas de sorte. Harry passou o dia sonolento e mal humorado. Ele não costumava ser mal humorado. E eu, normalmente, o ignoraria. Mas aceitar que o amava tinha consequências. O sofrimento dele era o meu sofrimento. O sofrimento dele me irritava. O mau humor dele me afetava. Eu sabia que era efeito dos medicamentos. Ele não tinha rejeitado o rim, mas precisava de muitos remédios. Ao menos, ele recuperava-se rapidamente.

— Judd. – Eu me aproximei. Ele estava virado de lado. Sentei-me na beirada da cama e deitei-me, querendo dividir com ele o travesseiro.

— O que foi, Brenda? Já estou ouvindo o médico chegar para te expulsar daqui; você nunca vai melhorar desse jeito. – Ele virou-se para mim, reclamando. Seu rosto iluminou-se em um sorriso tão logo ele me encarou.

— Eu não ligo para o médico, e eu estou melhorando. Nem arrebentei pontos hoje. Mas vim aqui por outro motivo.

— Hm, Brenda e seus motivos ocultos. Você quer seu rim de volta?

— Não, seu besta. – Fechei a expressão. Ele era insuportável e irritante e conseguia me fazer amá-lo ainda mais. Tudo ao mesmo tempo. – É algo importante.

— Tudo bem. Você vai me cobrar pelo rim, agora?

— Harry Judd! – Eu torci os lábios, zangada. – Será que você não consegue levar nada a sério? Na verdade, o que eu quero é te beijar. – Eu disse, tentando ficar séria. Era difícil, mas eu tentei. Eu sempre era séria. Mesmo quando ele tentava, a todo custo, me fazer rir.

— Ahm? – Ele, obviamente, não entendeu.

— Desde que você resolveu se enfiar embaixo de outro carro, ainda não te beijei. Você sabe... Brenda quando precisa de alguma coisa...

— É uma ordem. – Ele riu. Com as duas mãos, ele me segurou e me beijou. Simples assim. Eu temia sequer tocá-lo. Mas ele simplesmente me tomou nos braços e me beijou. Mãos suaves em meus quadris. Eu queria abraçá-lo com força. Fechei os olhos e saboreei cada instante até que ele soltou a minha boca, bem devagar.

— Obrigada. – Eu disse, sorrindo. – Mas tem outra coisa. Eu sei que você está frágil, mas se eu não te contar isso, vou ser consumida. Eu preciso falar, Harry. Eu estou nervosa, eu estou ansiosa, eu preciso. E é só com você que posso compartilhar isso.

Ele sentiu que eu estava aflita. Aquele não me era um estado de espírito comum. Eu jamais deitaria ao lado dele e pediria para ser beijada. Pior, eu pedi para beijá-lo, e admiti ser beijada. Ele se ajeitou na cama e me olhou, curioso. Havia um misto de ansiedade e nervosismo em meu olhar. Eu tinha certeza, naquele momento, que ele estava vendo, à sua frente, a Brenda de anos atrás. A Brenda por quem ele se apaixonou. Eu tinha os mesmos olhos assustados daquela época. E o que eu tinha a dizer era mesmo assustador.

— Fale. Estou ouvindo.

— Você lembra quando eu fui embora para o Brasil? Toda aquela história que você acabou ficando sabendo, naquela viagem insólita para Manchester?

— Eu me lembro disso todo dia. – Ele puxou do fundo da memória. – Quantas vezes me peguei imaginando por que você teria ido embora. Foi doloroso descobrir a verdade.

— Pois bem... eu fui embora porque eu estava fugindo.

— Fugindo do que? – Harry pareceu curioso. – De mim? Do estuprador?

— Nem tudo é sobre você, Harry Judd. – Por um instante, eu fui eu mesma novamente e quis espancá-lo. – E não, não foi do estuprador. Eu não tinha medo dele, eu queria encontrá-lo e matá-lo.

— Então, fugindo de que? – Harry decidiu ignorar o tom jocoso e homicida da minha resposta.

— Eu sei que todos acham que eu não devia te falar isso agora, mas chega de desencontros. Na noite em que eu fui estuprada, depois que me examinaram, os médicos anunciaram que eu estava grávida. Como vítima de estupro, eles tinham a obrigação de me testar, e o resultado foi positivo. Eles, então, me ofereceram extirpar o inconveniente, mas eu não deixei. Eu não poderia, você entende? Mas eu também não poderia criar o filho daquela violência toda.

— Você teve um filho? – Harry afastou-se de mim um pouco. Ele me encarava com o semblante horrorizado. Era o esperado.

— Sim. Ele nasceu há cinco anos e sete meses. Eu o deixei na maternidade, para que o adotassem. Para mim, ele tinha sido adotado por uma família britânica, afinal ele era um menino forte e saudável. Eu nunca o vi, mas eu sei que ele era saudável. Mas depois do seu acidente eu descobri que, sem me falar nada, Tom vem cuidando do meu filho. Ele não permitiu que ele fosse adotado, ele o levou para casa e o apresenta como seu irmão mais novo.

— Joey! – Harry assustou-se. – Joey é seu filho? Tom disse que sua mãe o tinha adotado, mas... ele... Joey! Veja que coisa, eu jamais imaginaria. Ele parece tão britânico! – Harry parecia, além de assustado, chocado.

— Você o conhece? – Claro que ele conhecia, sua estúpida. Harry e Tom eram melhores amigos. Um frequentava a casa do outro. Mas eu não estava raciocinando naquele instante.

— Sim, conheço. Confesso que eu o vi poucas vezes. Ele é um menino lindo, Tom disse que ele foi abandonado pela mãe. Brenda, essa história é fantástica. Você nunca desconfiou de nada?

Neguei silenciosamente. Ele limpou uma lágrima dos meus olhos e sorriu. Eu poderia chorar ainda mais, olhando para ele. E imaginando o quanto Joseph se parecia com o pai.

— Eu sinto muito por tudo isso, mas isso parece um final feliz, não? Quero dizer, seu filho... ele é uma boa pessoa. Por que você está tão agonizada com essa história?

— É porque, alguns dias atrás, por mais absurdo que isso possa parecer, e por mais insano que toda essa situação seja, descobriram que Joey não era só meu filho.

— Claro que não! Ele tem um pai, biológico. – Harry riu.

— O que eu quero dizer é que Joseph Lee é seu filho, Harry. – Eu disse aquilo quase sem dizer. – O que eu descobri; o que todos nós descobrimos, é que eu não estava grávida do estuprador. Eu estava grávida de um filho seu.

Harry não suportou a revelação. Seu corpo impulsionou-se para fora da cama. Ele levantou-se, aturdido. Colocou-se de pé e me encarou. Os olhos azuis estavam tão confusos quanto a maré em noite de lua cheia. Ele passou os dedos pelos cabelos. Várias vezes. Virou-se de costas. Depois encarou-me novamente.

— Você está brincando comigo. – Ele disse, recuperando o ar. Seu peito se movia rapidamente. Eu olhava para baixo. Não havia nada que eu pudesse dizer para simplificar o momento.

— Não estou. O menino esteve aqui, Júlia disse que ele se parecia com você, e todas as peças do quebra-cabeça se juntaram. Nós estávamos cegos demais para ver o óbvio.

— Isso é... – Ele comprimia os lábios. Lágrimas escorriam dos seus olhos. – Isso é... demais para mim. Eu preciso ficar sozinho.

— Harry, eu...

— Por favor, Brenda. – Ele disse, virando-se de costas novamente. – Não tente ser uma boa pessoa agora. Eu preciso ficar sozinho.

Resolvi respeitar a vontade dele. Eu não achava, mesmo, que ele fosse me beijar e dizer que éramos uma linda família. Eu tinha surtado com aquela revelação, e eu já sabia que tinha tido um filho. Se eu tive o direito de ter a minha parcela de loucura, Harry precisava da dele. Eu queria, que ele me abraçasse e dissesse que tudo ia ficar bem. Eu queria que ele não me virasse as costas e não me repelisse. Mesmo eu sabendo que aquela atitude era impossível de se querer. Era a segunda vez que eu estava ali, sofrendo, precisando de um abraço. E ele não estava. Mas, daquela vez, eu não queria culpá-lo.


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