I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 26
Capítulo 25




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— Você passou dos limites. – Dougie interpelou Tom, que estava sentado no corredor. Ele estava zonzo. Precisava ir para casa, mas não sabia como fazê-lo.

— Eu não sabia que era filho dele. – Tom tentou defender-se, mas era inútil. – Eu só queria cuidar do menino, eu nunca imaginei. Como sou burro e cego.

— Ela vai te perdoar. – Dougie riu. – Ela é a Brenda, ela sempre perdoa você. Se fosse Harry, ela ficaria mais cinco anos sem falar com ele... mas é você.

Júlia aproximou-se dos dois, segurando um casaco e uma bolsa. Ela estava tão perdida quanto todos. Ela não sabia onde era seu lugar. Se ela tinha um lugar. Dougie achou melhor afastar-se e deixar que conversassem. Não devia ser muito fácil ouvir que o cara com quem se está ficando ama outra pessoa.

— Você ainda está aqui. – Ela disse, sentando-se ao lado dele. – Pensei que tinha ido; vi sua família saindo.

— Eu vou. Mas não sei como. – Ele a encarou, confuso. – Júlia, eu...

— Tom. – Ela o interrompeu. – Eu não sei nada do passado da Brenda; tudo que sei aprendi aqui, em Londres. E, pelo visto, vocês sempre tiveram um relacionamento muito próximo. Eu deveria ter percebido o que você sente por ela.

— Você entendeu errado. – Ele balançou a cabeça, e sentiu dor. Respirou fundo, tentando manter-se lúcido. – Eu amei a Brenda. Mais do que eu já pensei amar alguém, e eu provavelmente ainda a amo. Mas não é dessa forma; eu não posso amá-la dessa forma. Ela ama o Harry, eles sempre se amaram. É confuso, eu nunca imaginei que fosse possível amar duas pessoas, ou amar uma pessoa diferentemente de outra. Nosso relacionamento é assim. Eu... – ele levou os dedos até os cabelos de Júlia e os afastou da face. – estou me apaixonando por você. Eu quero ficar com você, quero que você fique comigo. O que eu tenho com Brenda é diferente. Eu entendo se você não aceitar isso, mas eu queria muito que você aceitasse e ficasse comigo.

— Isso é muito complicado. – Júlia baixou o olhar. – Eu também estou me apaixonando, Tom, e eu tenho medo. Sou um fracasso em relacionamentos, e começar um com um homem que declaradamente ama outra mulher...

— Eu sempre amarei Brenda. – Ele confessou novamente. – Mas eu não quero nada físico com ela. Eu posso inclusive parar de beijá-la, se você achar melhor. Eu estou envolvido emocionalmente com ela, como se fosse o irmão dela. Jamais poderei me afastar dela, mas estou sendo sincero com você. Eu sou capaz de amar você tanto quanto eu a amo. Até mais, se você deixar.

Eu duvidava que aquela declaração de amor fosse considerada fantástica. Mas era suficiente, no momento. Júlia estava insegura. Ela colocou as duas mãos na face de Tom e o beijou, lentamente.

— Vou tentar viver o momento, por enquanto. – Ela disse, sorrindo. – Mas acho que você deveria vê-la, porque, se eu conheço Brenda, ela deve estar enlouquecendo. 

Claro que eu estava enlouquecida. Júlia havia sido eufêmica. Eu precisava de mais tempo para processar tudo aquilo. Eu tinha um menino deitado em minha cama, e tinham acabado de me dizer que ele era o filho que eu tinha abandonado há anos atrás. Pior, ele era filho do homem que eu amava. E o homem que eu amava estava morrendo em um hospital. E tinha acabado de doar parte de mim para ele, mas eu não sabia se faria diferença. Acordei depois de ter um sonho confuso – que eu tinha feito questão de esquecer – e Joseph não estava mais ali. A cama ainda estava quente. Imaginei que ele tivesse sido levado por alguém. Meus olhos piscaram duas vezes, e a imagem de Tom formou-se em meu campo de visão.

Eu pude então notar que ele tinha cabelo, ainda. Pensei que tinham raspado tudo. Que ele tinha perdido as mechas. Ele tinha os lábios torcidos. Eu via, em seu olhar, que ele não sabia o que falar. Tom sentou-se ao meu lado na cama e eu imediatamente recostei nele. Era instintivo.

— Onde ele está? – Eu perguntei.

— Pedi que Dougie o levasse para outro quarto, vocês estavam embolados aqui.

— Você pretendia me contar? Que ele era nosso filho, filho meu e de Harry? Foi por isso que você me apresentou a ele?

Tom virou-se para mim, olhando-me nos olhos, diretamente. Ele nem mesmo parecia cansado. Continuava lindo, a peste. E eu, sofrendo horrores.

— Eu também não sabia, Brenda. – Ele levou a mão ao meu cabelo e afastou uma mecha dos meus olhos. – Se eu soubesse, eu teria feito alguma coisa. Eu só me dei conta do que estava acontecendo agora. Eu sinto muito, você um dia vai conseguir me perdoar?

Aquela pergunta era ridícula. Como ele podia pensar que eu estava zangada com ele? A ponto de não perdoá-lo? A ponto de não amá-lo mais? Quando meus olhos se ergueram novamente, e eu vi Tom desesperado por meu perdão, eu percebi o quanto eu era insana. Eu amava dois homens, exatamente na mesma proporção. Frágil, eu estava incapaz de impedir o que ia acontecer. Que eu sabia que ia acontecer. E que eu queria que acontecesse. Ele me entendia melhor do que eu mesma. Sem qualquer pressão nos dedos, Tom segurou minha face com uma das mãos e me beijou. Não, ele não me deu aquele beijo de sempre. Aquele que eu estava acostumada. O beijo do amigo Tom. Ele colou os lábios nos meus e quase me violentou. Senti todo o meu corpo tremer, ansiosa. Deixei que minha mão repousasse em seus quadris e aceitei o beijo sem resistir.

Eu tinha certeza absoluta que eu e Tom não éramos daquele jeito. Que nós não nos amávamos daquela forma. Não mais. Aquele momento soava como uma despedida, como se ele estivesse dizendo que nós teríamos que seguir um caminho só nosso. Ele cuidava de mim, sempre. Ele era meu único suporte. E aquele beijo foi a forma dele dizer que eu tinha outra pessoa em minha vida. Eu tinha outras pessoas. Eu tinha uma família, e ele não se sentia parte dela. Como ele era tolo; ele sempre seria minha família. Mas, naquele instante, ele estava me beijando daquela forma totalmente inusitada, e eu nem pensei que alguém poderia entrar no quarto. O que eu senti foi, se eu não estivesse debilitada, nós teríamos feito amor sem culpa. Sim, era uma despedida. E, de repente, a língua dele na minha tomou um gosto ridiculamente amargo.

— O que houve? – Ele perguntou, sentindo que eu havia me desencaixado dele.

— Eu te amo, Tom. – Eu disse, também sem culpa. – Eu não aceito despedir-me de você só porque agora você tem outra pessoa, eu tenho outra pessoa, e essas coisas.

— O que você está falando, Brenda? – Ele franziu a sobrancelha e afastou-me um pouco, para poder me ver melhor. – Eu não estou me despedindo de você, eu estou beijando você.

— E tem gosto de “eu agora vou deixar você seguir seu caminho”. – Fiz um bico.

— Claro. – Ele sorriu. – Você vai seguir seu caminho. Você, Harry e Joseph são uma família, e provavelmente vão ficar muito mais unidos depois disso tudo. Eu também te amo, não sei como você pode acreditar que, apesar de tudo, eu vou dizer adeus. Júlia sabe como me sinto, e ela parece pronta para aceitar, ao menos, que me sinto assim. Então, parece que nada vai mudar muito, você só não precisa tanto de mim agora. Como precisava antes, você entende.

— Eu preciso de você sempre. – Abracei-me com ele, sentindo-me a pessoa mais frágil do mundo. Aquele sentimento medíocre, a fragilidade. Eu nunca era frágil. Brenda nunca era. – Sempre, entendeu?

— Sim, senhora.

E, inesperadamente, ele me beijou novamente. Eu não resisti, não senti gosto amargo, não considerei mais uma despedida. Foi um dos beijos de Tom, aqueles que sempre me fizeram sentir calafrios e desejá-lo, apesar de tudo. Acabei adormecendo novamente, grogue por causa dos medicamentos que me davam. Não percebi quando Tom saiu de perto de mim, ou quando o quarto ficou solitário demais. Eu acordei sozinha e no escuro, e sentindo dores, ainda. Eu queria levantar, sair dali. Não havia ninguém por perto. Eu tinha que esperar.

Enquanto isso, o lado de fora estava movimentado. Tom, Dougie e Danny conversavam no corredor. Tom estava bem. Aquilo me deixava muito feliz. Eles falavam sobre o McFly quando o médico que nos atendia apareceu. Carregava uma prancheta e tinha um olhar confidente.

— Olá. – O médico tentou ser simpático. – Como vocês estão?

— Bem. – Danny respondeu, afoito. – Mas preocupados com nosso amigo, claro. Quanto tempo precisa para saber se ele vai acordar?

— Bem, eu vim avisá-los que ele já está acordado. Acordado desde ontem, mas só hoje recobrou os sentidos totalmente.

— Sério? – Tom sorriu, empolgado. – Temos que contar para a Brenda, imediatamente!

— Temos que contar para todos. – Dougie caiu na risada. Era uma notícia boa demais para ser contida. Voltaram lentamente até onde estavam os rapazes jogando baralho para distrair. Os rapazes do Mcfly não deixavam o hospital, somente para trabalhos esporádicos que realizavam sem Harry.

— Deixem que eu falo com Brenda. Eu devo a ela muita coisa, e eu quase que acabei de sair do quarto dela. – Tom sorriu. Foi até o meu quarto, onde eu estava sozinha. E acabava de sair do banheiro. Eu tinha uma cara péssima, porque detestava ficar sozinha. E o médico estava diminuindo meus analgésicos. Ficar sentada doía, ficar em pé nem pensar.

—Tom! – Fui até ele. A situação entre nós tinha sido estranha. Eu não sabia como agir. – Onde está todo mundo?

— Por aí. Estamos nos corredores, esperando como sempre. Minha cirurgia está ótima, e você sabe que logo terei alta. Só estou aqui insistindo porque não consigo sair de perto de vocês.

— Tudo bem, mas se o médico mandar você para casa, você vai. Já basta eu ter que aguentar Harry internado, alguém precisa estar bem ou eu não sei...

—Venha, vou te levar para um passeio. – Tom segurou na cadeira de rodas e aproximou-se de mim. Franzi a sobrancelha confusa. Passear, aquilo era intrigante. Ninguém passeava em um hospital, eu tinha certeza. Mas como discutir com Tom? Ele parecia sempre muito confiante. De tudo.

— Onde estão todos? – Insisti. Eu ainda não via ninguém por perto. – E eu deveria passear? Você pode fazer esforço e me carregar assim?

— Estão por aí, já disse. – Tom sorriu – Diga-me, você pensou bem nas consequências de ter doado um dos seus rins? No que isso pode representar para a sua vida?

— Claro que sim, eu queria salvar Harry. Não importava como. Se eu não pudesse tê-lo; se eu o perdesse novamente, eu não suportaria, Tom. O que eu fiz não foi uma opção, era a única opção.

— Mas você sempre pensa nas outras consequências, Brenda. Até parece que não é você falando...

— Tom, não seja chato. Eu sou uma mulher apaixonada, vocês não gostam de brincar assim? Então. Para salvar a vida do homem que eu amo, faria qualquer coisa. Até doaria os dois rins, e viveria eu de diálise. Que conversa mais sem sentido!

— E você já disse isso a ele? – Tom me empurrava pelos corredores, conversando e me distraindo. – Já contou a ele que faria de tudo para salvar a sua vida, que doou parte da sua vida para ele?

— Não, claro que não. Ele não sabe. Ele sabe que eu mandei que ficasse vivo. Quando ele acordar, eu conto.

— Por que não conta agora? – Tom parou o passeio. Eu o encarei, confusa.

— Agora? Porque ele está sedado... desacordado... apesar de...

Tom abriu a porta que estava em sua frente. Eu ainda não tinha prestado atenção onde estávamos. Como disse, ele me distraiu. Várias pessoas estavam ali dentro. Todos ficaram em silêncio quando nos viram chegar. Eu demorei a entender. Precisei olhar para o centro do quarto e ver Harry, na cama elevada. Ele tinha um semblante abatido, os olhos fundos, a cor amarelada. Quando ele me viu, um sorriso abriu-se em seus lábios, como o sol de verão. Meu coração parou de bater. Eu parei de respirar. Meus pulmões gritaram por ar, mas eu não conseguia respirar.


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