I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 25
Capítulo 24




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Eu voltei para o quarto um pouco grogue, por causa do sedativo que tinham me dado. Passei em frente à UTI e quase atirei-me lá dentro. Mama Judd estava lá. Eu queria entrar. Queria ver Harry e queria ignorar a infecção hospitalar. A enfermeira me ajudou a sair da cadeira de rodas. Nem notei que os presentes estavam confusos até que Tom me interpelou.

— Brenda, temos que conversar. – Ele disse, voz baixa. Aproximou-se de mim.

— O que houve? – A apreensão me dominou imediatamente. Aquela frase precedia péssimas notícias. E que notícia ruim eu poderia ter àquela altura?

— Brenda, olhe para mim e concentre-se. Temos que voltar ao passado. Você pode falar comigo sobre aquela noite... sobre o estupro?

— Sim, eu acho que posso. – Fiquei mais apreensiva. Tudo que eu mais queria era esquecer aquilo. Era um acordo entre nós dois, esquecer. E Tom então decidira tocar naquele assunto mais uma vez. Depois de tanto tempo! – Mas não entendi. Falar o que? Por quê? Agora?

— Você lembra, quando voltou do Brasil para ter o bebê aqui, porque você disse que não faria um aborto, que teria a criança e colocaria para adoção?

— Claro que lembro mas... ok, isso virou público agora? – Percebi que todos olhavam e estavam assustados. Eu nem tinha forças para esconder mais aquilo. Afinal, todos sabiam do estupro. Mas não precisavam saber do detalhe a mais. Da história que eu descobri dias depois. Não entendi por que Tom havia resolvido desenterrar tudo justo em um momento daqueles.

A verdade era que, naquela fatídica noite, eu engravidei. Exatamente na noite em que fui estuprada, descobri que estava grávida. Ao menos foi isso que eu soube. Porque os médicos me diagnosticaram, grávida. Como se fosse uma doença.

— Eu não era criança, Tom. – Prossegui. – Lembro-me perfeitamente de tudo que aconteceu. Eu não poderia criar o filho daquele monstro. Eu pensaria naquilo toda vez que olhasse a criança. Eu estava deprimida, eu considero que fiz a coisa certa naquele momento.

— E você pensa no seu filho? – Ele insistia no assunto, veemente.

— Por que essa insistência? – Eu então estava aflita. Comecei a sentir dor e a ficar agitada.

— Responda. Você pensa nele?

— Todo dia da minha vida. – Confessei. – Nunca deixei de pensar. Já cheguei a querer encontrá-lo, mas sei que não poderia fazer isso. Não poderia chegar à vida dele agora.

Tom então puxou Joey pela mão e o apresentou a mim. O menino olhava tudo muito confuso, porque o irmão falava tudo muito rápido. E falava coisas que ele ignorava. Olhei pela primeira vez para Joey, sem me aperceber do mesmo que incomodava Júlia. Eu não sabia quem era aquela criança.

— Esse é Joseph Elliot Fletcher. Ele é meu irmãozinho. – Tom tentou falar, mas eu o interrompi. Como de costume.

— Você não tem irmãozinho! – Franzi a sobrancelha.

— O Joey tem 4 anos e sete meses... quase cinco. Ele foi meu irmãozinho até hoje, quando minha mãe resolveu trazê-lo para me ver. Na verdade, eu pedi que ela o trouxesse, porque eu não sabia o que ia me acontecer, então talvez eu tivesse mesmo que revelar isso. Mas eu não sabia que aconteceria o que aconteceu. A Júlia viu algo que eu passei esse tempo todo vendo, mas sem enxergar. Ela viu o óbvio que eu deveria ter visto há cinco anos.

Encarei o menino. Depois encarei Tom. Eu costumava ser perspicaz o suficiente para não demorar a perceber as coisas. Olhei para os olhos azuis do menino mais uma vez, e visualizei neles os meus próprios. Mas os meus eram verdes.

— Ele teria a idade de... – Parei, repentinamente, o que dizia. Coloquei a mão na boca. Não, ele não teria. Eu me recusava a crer que aquilo pudesse ser verdade.

— Eu te amei, Brenda. – Tom sentiu um aperto no peito. Aquele assunto o deixava frágil. – Eu te amei muito. Naquela noite, eu não deixei ninguém levar o seu filho embora. Fosse o que fosse, ele era seu filho. Eu o levei para casa, e disse à minha mãe que precisávamos criá-lo porque ele era o filho da mulher que eu amava. Ela nem perguntou do que se tratava, simplesmente sucumbiu à minha vontade. Esse menino aqui, Joseph Elliot, é o seu filho.

Se Danny não tivesse se aproximado, eu teria caído. Ele me apoiou, quando percebeu que eu entraria em colapso. Minhas pernas fraquejaram quando olhei para o garoto, que observa tudo sem entender. Era informação demais; eu estava descobrindo coisas que poderiam ser consideradas um absurdo. Tom, no entanto, precisava continuar sua revelação. Ele olhou para o menino e conversou com ele.

— Joey, eu preciso te apresentar uma pessoa. Essa é a sua mãe. – Tom apontou para mim. – Ela é uma amiga minha, uma amiga que eu gosto muito. E eu cuidei de você até agora porque ela precisou, só que agora ela pode cuidar de você.

Eu não queria, mas de meus olhos vertiam lágrimas. Eu estava assombrada. Chorar não estava sob meu controle. Eu não conseguiria controlar aquilo, naquele momento.

— Ela vai me levar para a casa dela, agora? – Joey questionou.

— Por enquanto não, vocês precisam se conhecer. Depois, você vai querer morar com ela. Ela é uma pessoa legal. Vá lá, cumprimente-a.

Joseph Elliot, o nome com o qual eu não estava acostumada, se aproximou de mim, acanhado. Eu tentava enxugar as lágrimas, porque meus olhos pareciam me enganar. O pequeno menino chegou bem perto, e me envolveu com seus braços. Enquanto sua cabecinha estava apoiada praticamente sobre meu curativo, senti meu estômago embrulhar. Vontade de vomitar. Afastei-me do menino e quase corri para o banheiro. Não corri porque sentia dor. Mas tranquei a porta atrás de mim e despejei tudo que tinha no estômago dentro da pia. Eu não conseguia dobrar o corpo. Seria difícil limpar aquela bagunça, depois.

Era muito difícil, compreender aquilo. Eu não estava emocionalmente apta a aceitar que meu filho, a criança que rejeitei há cinco anos, estava ali. Lindo, perfeito, saudável. Que ele não tinha sido adotado por uma família qualquer. Que ele não vivia a vida como se seus pais fossem um casal normal. Seria quase impossível, naquele momento. Admitir que Tom Fletcher tinha criado meu filho. Simplesmente porque ele me amava daquela forma. Ele sempre foi louco. Mas seus limites eram realmente absurdos.

Quando tive forças para sair do banheiro, o quarto estava vazio. A cama de Tom estava arrumada. Lembrei-me que ele teria alta. Mas não sabia se já era naquele momento. Deitei em minha cama, sentindo muita dor. Eu corpo tremia. Talvez eu tivesse febre. Encolhi-me e tentei entrar em mim. Nada faria aquilo passar, nem mesmo uma dose gigante de morfina. Eu estava ali, miserável, quando a porta se abriu. Era Danny.

— Você está bem? – Ele perguntou, segurando uma enorme caneca de café em suas mãos. Ah, Jones!

— Deveria? – Resmunguei. – Tom resolve contar para todo mundo um segredo antigo, e ainda por cima dar uma de Madre Teresa?

— Eu imagino. – Danny sentou-se na cama e me entregou o café. Tentei virar, mas doeu. Ele me ajudou. Doeu ainda assim. – Se isso ajuda, ele também está sofrendo.

— Eu quero que ele sofra. – Eu estava amarga. – O que ele fez foi... foi... eu nem sei qualificar. Foi a coisa mais linda que alguém já fez por mim, e ainda assim eu quero matá-lo. – Tomei um gole do café. – Eu só queria entender por que agora.

Danny franziu a testa. Percebi que ele me escondia algo. Deveria perguntar? Que outro segredo assustador eles me escondiam? Poderia haver alguma coisa mais chocante do que saber que meu filho estava com Tom? Enquanto eu considerava se reviraria mais o passado, a porta se abriu novamente. As mãozinhas de Joseph Elliot seguraram a madeira e seus olhos curiosos escanearam o quarto. Meu coração deu um salto.

— Ei, garoto. – Danny sorriu para ele. – Venha aqui; deixaram você sozinho?

Joseph entrou, timidamente. Seus olhos eram muito expressivos. Azuis como o céu de verão. Ele aproximou-se de Danny, mas olhava para mim. Com um movimento de cabeça, ele assentiu à pergunta que lhe foi feita.

— Você está doente? – Ele me perguntou. Sua voz era aguda.

— Mais ou menos. Eu fiz uma cirurgia, você sabe o que é isso? – Ele assentiu novamente, aproximando-se. Quando percebi, ele estava na beirada da cama. Prestando atenção em mim.

— Tom disse que você está zangada. Você está?

— Um pouco. – Eu não sabia se devia mentir para o menino. – Mas não estou zangada com você. Você quer ficar aqui, no quarto, comigo?

Ele assentiu novamente. Danny sorriu, e levantou-se. Meu olhar de pânico deveria fazê-lo entender que eu preferia que ele ficasse, mas ele não fez a minha vontade. Em instantes, estava sozinha com meu filho de quase cinco anos, que eu mal conhecia, e que tinha abandonado ao nascer. Joey. Era um nome que eu não esperava, vindo de Tom. Ele afastou-se e sentou no sofá, sempre olhando para mim.

— Sua... sua avó, ela não está preocupada com você? – Perguntei, sem saber como me referir à mãe de Tom.

— Não, ela foi para casa. – Ele respondeu. Falava bem, o menino. Eu tinha pouca experiência com crianças. Talvez todas fossem daquela forma. – Tom disse para eu ficar, porque meu pai pode acordar.

Olhei para Joseph com curiosidade. Ele parecia sério. Compenetrado. Como se realmente esperasse por... seu pai. Demorei a entender. Acredito que não entendi, até ele virar seus olhos para mim novamente. E eu poder ver.

— Seu pai? – Questionei, intrigada. – Tom disse que seu pai está aqui?

— Sim. Ele disse que ele está muito doente, mas que vai querer me ver quando ficar bom.

Sentei-me na cama, confusa. Aqueles olhos não mentiam para mim. A forma como ele me olhou enquanto falava. Não havia como não perceber. Eu estive tão cega que não vi. Aquela revelação era ainda mais chocante do que a primeira. Minha cabeça girava; tudo em volta estava em uma montanha russa. Se eu já não tivesse vomitado, correria para o banheiro. Eu queria gritar. Eu precisava gritar. Desejei que alguém aparecesse ali. Para eu poder contar, para eu poder mostrar aquela criança e fazer todos verem. Por isso Tom me contou a verdade. Porque Joey era filho de Harry. Joey era meu filho com Harry. Ele não tinha sido concebido na noite do estupro.

Eu não sei bem quanto tempo fiquei ali, completamente paralisada. Ninguém entrou no quarto para ver como eu estava. Joseph Elliot levantou-se, minutos depois, e escalou a cama de hospital. Eu não consegui reagir. Ele se encolheu, exatamente como eu fazia, e repousou a mãozinha sobre mim. De olhos fechados, suspeitei que ele estivesse com sono. Inconscientemente, dirigi minha mão até seus cabelos escuros. Ele tinha cabelos como os meus. Enquanto meus dedos acariciavam sua cabeça, eu chorava. Acabei dormindo também.


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