I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 24
Capítulo 23




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Dois dias depois...

Eu estava acordada, mas meu corpo não gostava de responder a estímulos. Os médicos já tinham me tirado alguns tubos, mas eu ainda estava na UTI. Tudo em mim doía muito, mas eu não estava mais recebendo a dose de morfina que eu queria. Naquele dia fui transferida para outro lugar. Tiraram-me da ruidosa sala de terapia intensiva e caminharam comigo por corredores brancos. Eu não estava nada feliz sendo transportada quando me vi sendo levada para o quarto de Tom.

Aquela foi uma surpresa bem agradável. Meu mau humor tornou-se instantaneamente um humor menos horrível, porque estar perto de Tom era a melhor coisa que podia me acontecer. Bem, a segunda melhor. Eu queria mesmo era ver Harry. Eu sabia que Tom estava bem. Ou melhorando. Mas lá fui eu para o quarto dele, e nossas camas foram colocadas lado a lado. Ele não estava quando eu cheguei; estava no banheiro. A enfermeira ajeitou meu soro e sorriu, deixando-me sozinha ali. Sozinha com Dougie e Júlia. E Danny, que chegou em seguida.

Tom saiu do banheiro e sorriu ao me ver. Eu devia estar horrível. Mas ele estava lindo. Mesmo de cabeça enfaixada.

— Ora vejam, minha garota está em casa. – Ele disse, sentando-se na cama. Parecia zonzo.

— Eles a trouxeram para ficar aqui. Assim sofremos menos, monitorando vocês dois! – Dougie deu uma risada.

— Como você está, Brenda? – Ele me encarou. Eu estava com uma cara feia, sofrida. Eu sentia dores e estava infeliz.

— Estou bem. – Menti. – Como você está?

— Ótimo. – Ele passou a mão no curativo. – Meu cérebro está todo aqui dentro.

— Que notícias vocês têm de Harry? – Virei-me para o grupo.

— Ele continua na UTI. – Júlia não pretendia me esconder nada. – Os médicos não sabem quando e se ele vai sair do coma, Brenda. Você sabe disso, foi avisada, não foi?

— Sim. Mas queria saber se ele rejeitou alguma coisa, se está estável.

— Ele está estável. – Danny aproximou-se. – Concentre-se em recuperar-se, sim? Ele vai querer você inteira quando acordar.

Claro que ele iria querer. Mas eu não conseguiria parar de pensar nele, se era aquilo que eles estavam sugerindo. Inocentes, meus amigos.

— Júlia! – Chamei minha amiga, no final daquele dia. – Júlia!!

— O que foi, Brenda? – Danny entrou no quarto, assustado. Ele era meu novo guardião, seguindo os pedidos de Tom.

— Preciso ir ao banheiro, e nunca me levantei da cama. Não sei como fazer.

— Ah, saber levar garotas ao banheiro é uma de minhas melhores qualidades. – Ele riu. – Venha, eu te coloco na cadeira de rodas.

Danny me pegou nos braços e me colocou na cadeira de rodas, para que eu pudesse me locomover. A cirurgia era dolorida. O doador sofria um corte transversal enorme para que o órgão fosse retirado intacto. Eu sentia dores terríveis. E eles insistiam e não me dar morfina suficiente. Andar na cadeira de rodas era difícil, também. Porque eu não tinha força nos braços para me locomover sozinha. Danny teve que me empurrar até o banheiro e me deixar lá. Nem pude fechar a porta. Se eu caísse, alguém teria que me socorrer.

Tom estava já caminhando pelo hospital. Ele tinha que se movimentar, disse o médico. Júlia estava com ele, ajudando-o a se firmar. Ele precisava treinar os movimentos. E a fala, porque ela foi afetada. Passou pelo corredor de Harry e parou para tentar ver o amigo. O médico saía do quarto dele naquele instante. Ninguém visitava Harry além de sua mãe. Na UTI não era possível muitos visitantes.

— Que bom vê-los. – O médico sorriu para Tom. – Sente-se bem?

— Sim, bastante. E ele? – Perguntou sobre Harry.

— Ele está estável, e, por incrível que pareça, recuperando-se. Continua em coma não induzido, mas seu organismo está reagindo. Isso é positivo, mas ainda temos muito que esperar.

— Podemos dar essa notícia a Brenda? – Ele exaltou-se.

— Claro que vocês podem. – O médico sorriu. – Aliás, vocês devem. Se isso servir para animá-la, porque eu nunca vi um pós-operatório tão difícil quanto o dela.

Tom e Júlia voltaram para o quarto, querendo me dar boas notícias. Saber que Harry se recuperava era ótimo. Mas nada comparado com a bomba que explodiria naquele hospital, alguns dias depois.

Quatro dias depois...

Uma revelação.

Júlia estava sorridente o dia todo. Tom teria alta; poderia voltar para casa. Ele estava muito recuperado, e o médico decidiu que o hospital não era mais lugar para ele. Hospitais sempre tinham o risco de infecção hospitalar. Naquele dia, sua família compareceu ao hospital para levá-lo para casa. Mama Fletcher não via a hora de ter seu menino de volta. Recuperado.

Eu estava naquela cama ainda. Eu não conseguia sentir-me melhor. O médico dizia que eu precisava relaxar. Mas eu não tinha como fazer isso. Todos precisavam entender o que estava em jogo, para mim. Minha assistente pessoal, Jane, continuava me auxiliando. Vez ou outra ela me ligava com os recados de trabalho. Ela não dormia mais na porta do hospital. Ela não precisava, eu lhe contava as novidades. E aquele relacionamento parecia funcionar.

— Tom, sua mãe está aí. – Danny apareceu sorridente. Tom sorriu, sentindo saudades da mãe. Eu estava no quarto, mal humorada. Como sempre. – Mas ela não está sozinha; ela trouxe uma criança com ela.

— Criança?

Senti Tom apreensivo. Mas eu não estava mesmo com vontade de prestar atenção em ninguém. Ele levantou-se, com cuidado, e foi até o corredor. Eu gostaria de ver mama Fletcher. Mas me deixaram sozinha, todos eles.

— Eu trouxe o Joey, Tom, porque ele só perguntava por você. – A mulher segurava uma criança pe’’las mãos. Tom chegou prender a respiração. Se tudo desse certo, ninguém notaria nada antes dele contar a verdade. Ele caminhou até o menino e o abraçou.

— Você tem se comportado?

— Sim. – O menino disse, um tanto acanhado.

— Vejam que está aqui. – Dougie aproximou-se. – Joseph Fletcher, toca aqui!

O garoto levou a mão até Dougie e os dois se cumprimentaram. Tom entrou com todos no quarto, mas eu já não estava mais lá. Coincidentemente, eu tinha sido levada para realizar alguns exames.

— Vamos arrumar suas coisas, temos que levar você para casa de ambulância. – Mama Fletcher disse, abrindo o armário que ficava no quarto. – Onde está Brenda?

— Ela foi levada para uma tomografia. – Danny confirmou. – O que está havendo, Júlia? Tem algo errado?

O grupo, então, notou o quanto minha amiga estava fascinada no menino.

— Quem é esse garotinho, mesmo? – Ela perguntou.

— Irmãozinho do Tom. – Dougie pegou o menino no colo. – Sr. Joseph Elliot Fletcher, em breve um comandante intergaláctico.

— Por sorte ele não é feio como Tom. – Danny implicou.

— Ah-ha engraçadinho. Mas não é nada, não. É que sempre achamos asiáticos eram todos parecidos... mas agora percebo que europeus também são! Esse menino, ele lembra demais alguém que eu conheço.

— Claro que ele lembra alguém, o irmão dele! – Danny considerou, sem prestar muita atenção.

— Nós europeus somos todos iguais? – Dougie, alguns passos atrás. – Nem pensar que sou parecido com Danny!

— E eu lá quero me parecer contigo, Poynter?

— Com quem ele se parece, Júlia? – Tom ficou curioso. Ele ficou apreensivo com o comentário. – Comigo?

— Não, não é com você; é com Harry! – Júlia soltou a pérola. – Olha lá, é a cara dele, não é?

Tom ficou branco. Arrepiou-se todo. Olhou para Joey uma vez, duas vezes. Não, ele não podia ter se enganado todo aquele tempo. Podia? Aquele menino de lindos olhos azuis não podia ser parecido com Harry. Todas as probabilidades genéticas impediam que essa criança se parecesse com Harry.

— Parece nada. – Danny continuou brincand. – Coitado do menino.

— Bem, uma coisa eu garanto. Não sei onde Tom encontrou esse menino, mas filho dos Fletcher ele não é. – Dougie considerou, em tom de voz baixo.

— Realmente, ele é bem diferente da família!

— É, e ninguém na família do Tom tem olhos assim.

— Do que vocês estão falando? – Júlia quis saber. – Se ele é irmão do Tom, claro que ele é filho dos Fletcher. Certo?

— Parcialmente certo. Mas consideramos que você é má com a criança. – Danny implicou. – Ele não se parece com esses feiosos.

— Júlia, você acha mesmo que ele se parece com Harry? – Tom ainda estava considerando uma nova teoria do caos. Muito pior do que todas as que eu costumava teorizar.

—Sim, eu acho. Quase uma miniatura dele. Não sei como você não nota.

Tom começou a rodar de um lado para o outro. Aproximou-se de Joey e puxou o menino para perto. Ele estava confuso, e até assustado. O irmão estava agindo meio estranho. Mas Tom não tinha condições de agir diferente, ele simplesmente se apercebeu de um fato muito, mas muito óbvio. Daqueles imperdoáveis. Ele tinha que ter notado isso antes. Ele tinha que ter sido mais diligente. Mas não, ele foi egoisticamente desatento. E então, Júlia abria-lhe os olhos. Joseph Elliot se parecia com Harry Judd.

Apesar de o momento ser péssimo, Tom precisava fazer algo. Ele precisava conversar comigo. E aquilo não podia esperar mais tempo do que já tinha esperado. Ele surtou; repentinamente perdeu o juízo e a noção de certo e errado e decidiu que era hora de acordar alguns fantasmas do passado.

— Joey, você lembra que um dia eu expliquei que você tinha outra mãe além da nossa? – Tom segurou o menino pelos braços, e olhou em seus olhos. – Que ela tinha deixado você conosco porque ela não podia cuidar de você, e nós faríamos isso? E que um dia você iria conhecê-la?

— Sim, eu lembro. – O pequeno disse, acanhado. – Por quê?

— Está na hora de você ver uma pessoa. Mamãe te trouxe aqui para isso, mas acho que não vou poder esperar mais. Passou da hora, até.


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