I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 23
Capítulo 22




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A família de Tom estava sempre no hospital. Ele havia melhorado significativamente, pela gravidade de suas lesões. Em menos de vinte e quatro horas, ele estava alerta e falando bem. Eu continuava dopada, mas Júlia me levou para vê-lo outra vez. Ele queria me ver; ele cuidava de mim o tempo todo. Ficar naquela posição não era confortável para ele. Quando entramos, mama Fletcher também estava ali.

— Você está péssima. – Ele implicou, assim que entrei no quarto. Eu estava bastante grogue. Júlia segurou sua mão e beijou sua testa enfaixada. Ele sorriu. Eles eram fofos, juntos. Mas eu senti inveja. Não porque ela estava com Tom. Mas porque eu não podia ter aquilo, com Harry.

— Sim, estou. – E parecia mais condenada à injeção letal, pensei. Minhas olheiras havia tomado o lugar dos olhos. Eu era um zumbi, desde que recebi aquela notícia.

— Como está Harry? – Tom precisava saber. – Ele já está saltitando por aí?

— Logo, logo. – Menti novamente. Júlia assentiu. Mas eu não resisti. Deitei a cabeça na cama, tentando esconder os olhos cheios de lágrimas. Minha cabeça pesava muito, e eu sentia dores. Tom passou a mão por meus cabelos e respirou fundo.

— Eu estou bem. – Ele disse, com alguma dificuldade. – E Brenda está arrasada. Isso só pode significar uma coisa... Harry não está bem, está? – Ele olhou para Júlia, querendo uma resposta verdadeira. Ela não sabia o que fazer. Tom me conhecia bem demais para se enganar com mentiras. Era um dos motivos pelos quais eu ne sabia se queria vê-lo, estando naquelas condições.

— Não, ele não está. Ele está ainda em coma. – Júlia confessou. – Mas ele vai ficar bem...

Tom fez-me levantar a cabeça. Olhei para ele, e meu olhar atravessou seu coração como se fosse cortante.

— Me dói te ver assim. Eu tentei tanto te proteger! – Ele disse, lágrimas vertendo dos olhos. – E agora eu não posso. Sinto muito.

Desabei novamente em um pranto profundo. Eu, que tentava ser forte, estava derretendo-se em lágrimas. Levei horas, mais de um dia, para chorar pelo acidente. Mas tudo aquilo veio de uma vez só quando eu imaginei perder Harry. Precisou deixar o quarto e tranquei-me no banheiro. Enviei alguns SMS para Jane, explicando que Tom estava bem melhor. Não tive coragem de falar sobre Harry. Eu jamais poderia dizer a ela que tinha me despedido dele. Fiquei no banheiro por bastante tempo. Talvez horas. Ao sair, Júlia me aguardava com notícias estranhas.

— Estão todos fazendo exames. – Ela disse. – Testando a compatibilidade para doar um rim a Harry. Ele está na lista novamente, mas o médico não tem muitas esperanças.

— Alguém se mostrou compatível?

— Ainda não. Algumas pessoas da família ainda não foram testadas.

— Eu vou lá. – Limpei rosto, tentando reassumir meu controle.

— Temos que esperar.

— Vou lá fazer o teste.

— Por quê?

— Porque eu posso muito bem ser compatível.

— Brenda, isso seria uma história de telenovela. – Júlia achou graça.

— E tem alguma coisa nessa história que não seja de telenovela?

Júlia não conseguiu pensar em um argumento para me fazer desistir daquilo. O mesmo tipo sanguíneo eu sabia que nós tínhamos. O resto era deixar o destino decidir. O mesmo destino que tanto tempo brincou conosco. Já estava na hora de parar com aquilo. Eu já estava ficando cansada. Se alguém teria que salvar a vida de Harry, aquele alguém deveria ser eu. Não deveria? Não éramos almas gêmeas, como Tom sempre dizia? Sim, éramos. Então, estava mais do que na hora do destino nos deixar em paz.

O resultado dos exames não demorou muito. Havia certa preferência para pacientes críticos, e Harry era uma celebridade. Todos queriam colocá-lo na frente, sem julgamentos sobre certo e errado. Em poucas horas, havia resultados de todos os exames que faltavam. E mais algumas possibilidades em outros hospitais. Estavam todos muito apreensivos, principalmente a mãe de Harry que, por ser uma pessoa de mais idade, era uma doadora definitivamente improvável.

— Temos um doador. – O médico sorriu. Estávamos na sala de recepção, todos muito esgotados. Ninguém aguentava mais a espera, a angústia, a agonia. – E por incrível que pareça, não é da família.

— Como assim? – Danny não entendeu.

— Geralmente a família é compatível, mas nesse caso, a compatibilidade melhor é de uma pessoa que nem tem relação de parentesco com ele. Como ele tem uma família pequena, isso é até provável, mas não vamos negar que é um caso raro.

— Quem de nós, doutor? – Dougie perguntou. Ele sabia que seria algum dos amigos.

— Ela. – O médico apontou para mim, que assistia à cena completamente dopada. Eu havia feito os testes, sim. E disse que o destino estava de palhaçada, sim. Mas eu não imaginava que, no final, fosse dar certo. Porque nós não éramos nem mesmo da mesma raça. Ser brasileiro poderia ser vantajoso, então.

— Brenda? – Júlia arregalou os olhos. – Ela é... compatível?

— Pelo que o médico falou, é a melhor compatibilidade.

— Eles têm o mesmo tipo sanguíneo, e pelo teste da metragem, rins de tamanhos compatíveis. – O médico prosseguiu com sua técnica.

— Mas será possível! – Júlia estava surpresa. – Como pode isso?

— Sei lá, eles devem ser almas gêmeas. – Danny deu de ombros. – Eles se amam desde sempre... A gente sabe que se amam, eles só negavam. Tom sempre disse que eles eram.

— Precisamos preparar o doador, se for seu desejo o transplante. A situação requer que prestemos orientação, porque as chances de dar certo um segundo transplante, nessas condições, é muito pequena. – O médico insistiu, olhando para mim.

— Eu não me importo. Eu não quero orientação. Eu quero acabar logo com isso. – Falei, aproximando-me. Arrastando meus pés pelo chão. – Se ele morrer, eu morro com ele. Não faz a menor diferença agora. – Segurei nas mãos do médico, e aquele comportamento era patético. – Faça o que for preciso; tire o que tiver que tirar, mas salve-o.

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— Essa história deles parece filme. – Júlia estava no quarto com Tom. – Se eu não visse de verdade, não acreditaria.

— Eu sempre soube. – Tom ainda falava com dificuldades. Ele arrastava a voz. Sua língua parecia presa. Mas aquilo ia passar. – Sempre soube que eles eram gêmeos.

— E nunca insistiu com ela para que parasse de brigar! Como pode? Mas, mesmo assim, isso é muito louco!

— Eu não poderia ter feito isso, Júlia. Ela é a Brenda. E ele não dá o braço a torcer. Eles tinham que se reencontrar, sozinhos. Talvez fosse preciso mesmo que Harry estivesse prestes a morrer para Brenda compreender que não é nada sem ele.

— Eles estão no centro cirúrgico. – Danny entrou no quarto para avisar, interrompendo.

— Danny – Tom o chamou. – Eu sempre pedi que Harry tomasse conta de Brenda. Agora é ele está precisando dela. Você, tome conta dela. Por mim.

Danny sorriu, e apertou a mão de Tom. Sim, ele cuidaria de tudo. Dougie queria fazer essa função, mas era emotivo demais.

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A cirurgia do transplante durou horas, que foram torturantes para todos. Certamente, era muito mais torturante para mim. Mas eu não me importava. O destino – e eu sempre culpei o destino por tudo – havia me dado uma chance de salvar Harry. E eu o faria. Mas era uma cirurgia complicada, demorada e arriscada. Ninguém queria acreditar que não daria certo. Mas ninguém acreditava. O problema é que já havia tanta coisa dado errado, que uma a mais e uma a menos seria apenas estatística. E a estatística, no meu caso, não costumava ser muito boa. Mesmo que eu fosse compatível, ele já tinha rejeitado um órgão, antes. Quando a cirurgia de horas terminou, nós dois fomos para a UTI e o médico desceu para conversar com os rapazes.

— Correu tudo bem, dentro do esperado. – Ele disse a todos. – Precisamos de tempo para ver se ele rejeitará ou não esse órgão, mas o transplante foi um sucesso. A doadora está também muito bem.

— E podemos vê-los? – Dougie quis saber.

— Eles estão na UTI. Pelo menos por vinte e quatro horas, não devem receber visitas. Quando acordarem da anestesia, eu aviso vocês. Mas eu gostaria, mais uma vez, de alertar para as possibilidades que o Sr. Judd tem de se recuperar. O prognóstico para ele é muito ruim.


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