I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Um pouco de drama para dar tempero à história! :)



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A noite foi ruim. E não podia ser diferente. Eu dormi de mau jeito, na cama de Júlia. Eu não queria dormir com ela. E eu podia jurar que ela não queria dormir comigo. Claro, ela queria Tom. Ele comprou preservativos. Ele claramente tinha intenções outras além de me paparicar. Mas eu despejei minhas frustrações por sobre ele. E eu sabia que teria que pagar aquilo. Mais tarde. No dia seguinte. Com ou sem concerto. Eu vinha sempre primeiro, para Tom. E aquilo era estranho. Porque não deveria ser. Ele estava com Júlia daquela vez. Era esquisito, tê-lo como meu. Eu não tinha mais aquele direito.

Antes mesmo de abrir os olhos de manhã, eu me senti envolvida em braços conhecidos. Um beijo molhado me fez cócegas na orelha. Eu sorri. Poucas pessoas sabiam me fazer sorrir de manhã. E só uma pessoa teria autorização para fazer aquilo, naquela manhã.

— Fletcher, vá embora. - Eu disse, manhosa.

— Acorde, bela adormecida. Tenho algo importante para te dizer.

— Onde está Júlia? - Resmunguei, esfregando os olhos. Aquela Brenda nem eu conhecia. Reclamando de acordar? Em um dia de trabalho? Não era eu, definitivamente. - Você fica bem chato sem uma mulher para tomar conta de você.

— Eu cansei, Brenda. - Ele disse, sem responder à minha piada. Franzi o cenho. Aquele Tom, eu também não conhecia.

— Do que? Você dormiu mal?

— Eu cansei de lidar com a sua história com Harry. Eu cansei de estar no meio de vocês, de ser o aparador das farpas. Eu também sou feito de carne, osso e sentimentos. Vocês dois não podem me usar.

— O que isso quer dizer? - Eu ainda estava confusa. Ele estava ajoelhado na cama. Estávamos sozinhos. Nunca vi seus olhos tão profundos.

— Quer dizer que você precisa esquecer isso, esquecer tudo, esquecer simplesmente. Vocês se amam, sempre se amaram, e sempre vão se amar. Se vocês são burros o suficiente para não ver isso, o problema nem é meu. Mas você vai levantar agora, vestir-se, e descer para o café. E vai entender-se com ele, ah, você vai. Ontem eu falei com ele, você falou com ele, ele falou conosco. Já nos machucamos demais, e já passou da hora de você simplesmente aceitar o fato de que você o ama.

Ouvi Tom falar. Ele estava irreconhecível. Eu também. Levantei-me, sem qualquer outra reação admissível. Comprimi os lábios e respirei fundo. Depois caminhei para fora do quarto, em direção ao meu próprio. Ainda era muito cedo. Eu não sabia se Harry estaria lá. Se mais alguém estaria lá. Mas ele tinha razão; Tom tinha razão. Já tinha passado da hora de entender que, por mais que eu odiasse Harry, eu o amava demais.

A porta do quarto estava fechada. Bati uma vez, sem resposta. Bati duas; três vezes. Estendi os braços ao lado do corpo, chateada. Ouvi a fechadura, aquele ruído metálico. Eu tive uma noite péssima. Meus olhos estavam vermelhos e cansados. Meu corpo precisava de descanso. E, apesar disso, eu imaginava que Harry estaria pior do que eu. Ele tinha um concerto. Eu não sei se esperava vê-lo como eu vi. Na hora em que ele abriu a porta. Eu não sei se esperava senti-lo como eu senti. Pela primeira vez. Talvez pela primeira vez, mesmo depois daquele pesadelo que nos aproximou definitivamente. Seus olhos, eles falaram comigo. Azuis. Muito azuis. E sua expressão me disse tudo que ele precisava dizer. Tudo que eu queria que ele dissesse.

Ele afastou-se da porta. Entrei no quarto, o olhar confuso. Eu era um resquício da Brenda que ele conhecia. Apenas um eco do que eu costumava ser. Um eco. Uma mulher ferida. Que não sabia lidar com as cicatrizes. Harry fechou a porta. Seus olhos ainda me perseguiam. Suas mãos me seguraram pelos ombros. Dougie estava dormindo, na nossa cama. Sem perceber, fui puxada para mais perto de Harry. Sem perceber, os braços dele estavam ao meu redor. Suas mãos prenderam-me pelas costas. Senti a pressão da sua camiseta contra meu rosto. O cheiro dele acordando pela manhã. Sem perceber, minhas mãos o envolveram pela cintura. Fechei os olhos quando ele segurou meu queixo entre os dedos. E quando sua boca beijou a minha.

— Eu sinto muito. - Ele disse, mantendo-me atada a ele. - Eu sinto muito, Brenda, eu...

— Eu te amo. - Foi o que consegui dizer, para interrompê-lo. Eu te amo, era tudo que eu queria dizer. - Eu sei que não foi culpa sua, mas eu precisava culpar alguém. Eu precisava que alguém fosse o responsável pelo que me aconteceu, e escolhi fazer você pagar por isso.

Um travesseiro nos atingiu. Rompemos o beijo que se seguiu ao meu pequeno discurso.

— Vocês podem esperar eu sair antes de começarem? - Dougie reclamou. Harry pegou o travesseiro e devolveu, acertando-o na cabeça.

— O café nos espera. - Eu disse. O nariz ainda enfiado em sua camisa.

— Você está bem? - Ele insistiu.

— Eu estou com você. Eu vou ficar bem.

O concerto estava para começar. Foi um inferno, o dia. Suamos, sofremos, trabalhamos. Eu e Júlia no backstage. Falamos com a imprensa. Distribuímos convites extras. Organizamos todo o cronograma de eventos. E eles treinaram. Ensaiaram. Suaram. E cantaram. Mas, naquele momento, era hora do show. Eu mal tinha visto Harry durante todo o dia, depois do café da manhã. Só de longe, no palco, distante. Ele acenou algumas vezes. Mas nem almoçar juntos conseguimos.

— Isso me assusta. – Eu disse, sem perceber. Ainda estava focada em minha teoria do caos.

— O que assusta? – Júlia não entendeu.

— Isso. Harry, Tom, eu, você. Ele sabendo de tudo. Os olhares felizes, as pessoas gargalhando. Não conheço o mundo assim; ele me assusta. Tenho medo. Harry nunca fez parte da minha vida; é como se eu não tivesse o direito de tê-lo.

— Credo, Brenda! Você é a única que conheço que tem medo da felicidade. – Júlia caiu na risada. Eu não achava graça nenhuma.

— Vai rindo. Mas eu tenho medo. Quando nada se tem, nada se perde.

Júlia desistiu de entender. Ficar perto de mim, naquele dia, seria difícil. Eu tinha, finalmente, exorcizado os fantasmas. Eu tinha, finalmente, me livrado do peso do passado. Harry sabia. E estava tudo bem. Mas eu não podia aceitar; eu nunca acreditei que as coisas fossem ficar bem. Aquela depressão instantânea que vez ou outra me acometia era irritante.

Quando o Mcfly entrou no palco, eu estava ansiosa. A euforia me dominou. Nunca a euforia me dominava. Nunca nada me dominava. Respirei fundo algumas vezes. Realmente, Tom era sexy demais. Todos eles eram, mas aquele que já tinha sido meu por tantas vezes conseguia ainda me deixar sem fôlego. Meus olhos, porém, prenderam-se a outro lugar. Aquele rapaz de olhos azuis, tocando bateria. Ele sorriu quando me viu. Eu sorria desde que ele começou a tocar. Eu não acreditava que pudesse estar mais apaixonada por ele. Eu não acreditava que pudesse estar apaixonada por ele. Mas eu estava. Ainda.

Pós shows eram loucos. Eu já sabia. Mas ver o Mcfly em um pós show foi interessante. Porque eles eram as pessoas mais normais que eu conhecia. Aquele lado artístico não pertencia à minha realidade. À nossa. Principalmente se o pós show é uma festa, cheia de convidados e muito álcool. E se todo mundo que você não conhece sabe quem você é. Júlia e Tom se esconderam em algum lugar da festa, e eu sabia o que eles queriam. Aquilo que eu tinha atrapalhado antes. Eles queriam ficar juntos. Eu entendia aquela sensação. A necessidade de ter pele com pele. É, eu entendia. Eu também tinha, aquela necessidade. Mas eu estava tão perdida, tão fora de mim, desde que tudo aquilo tinha começado. Eu, Londres, Harry, tudo acontecendo de novo. E muito rápido.

E eu estava certa. Quando eu me dei a chance de ter Harry novamente, alguma coisa viria para tomá-lo de mim. Porque o universo era assim. Brenda na Europa indicava o apocalipse. E, como se fosse preciso lembrar-me, aquele pós show ficaria marcado para sempre. Em mim, no Mcfly, em todos. Aquele pós show, especificamente, diria para todos que Brenda estava de volta a Londres. E que aquilo era proibido.

— Quero um cigarro. - Dougie reclamou.

— Claro que quer. Mas não tem. - Tom, que tinha decidido interagir, disse.

— Vou comprar um maço. – Harry pulou na frente, pegando as chaves do carro.

— Vai? – Franzi a sobrancelha.

— Claro. Deixar Dougie sem fumar vai me deixar estressado. Acredite. – Ele me beijou nos lábios. – Eu volto em dez minutos, tem uma tabacaria aqui perto.

— Traga charutos. - Danny se aproximou. - Vamos celebrar o primeiro concerto da Before The Noise.

— Vou com você. – Peguei minha bolsa. Senti uma vertigem, mas pensei que fosse por causa do álcool.

— Vai não... fique com Júlia. Eu vou com Harry. – Tom achou melhor.

— Está bem... eu acho. - A vertigem ainda não tinha passado. Tom estava certo. Ele sempre estava.

— O que houve, Brenda? – Júlia perguntou, instantes depois que os rapazes saíram.

— Nada...ah foi algo... só algo que senti.

E eu também estava certa. Passou-se meia hora e ninguém voltou com o cigarro. Meia hora era tempo demais para comprar charutos na loja da esquina. Dougie já estava reclamando que ninguém poderia levar mais do que quinze minutos para ir "até ali", e Danny já estava cansado de deixar mensagens no celular de Harry. Eles já estavam bêbados o suficiente para se tornarem insuportáveis.

— Eles estão atrasados... são duas mocinhas. – Dougie alfinetou. - Aposto que estão fazendo coisas.

— Com certeza. Deixaram as garotas deles aqui para namorarem. – Danny riu.

Claro que não era nada daquilo. A teoria do caos continuava ecoando em minha cabeça, como se algo péssimo estivesse para acontecer. Sempre tinha algo péssimo para acontecer. Todas as minhas premonições mais descabidas nunca fizeram tanto sentido. Peguei o celular e disquei os números de Tom. Se um deles não atendia, talvez o outro. O telefone chamou várias vezes, até que alguém atendeu. Uma voz não conhecida. Senti a vertigem de novo. Por que um estranho estaria atendendo o telefone de Tom?

— Quem está falando? – Questionei.

— Sou o oficial McHammil. Você quer falar com o dono deste telefone? Quem é?

— Oficial? – Repeti, sem entender. – Eu sou Brenda... esse celular é do Tom... onde ele está?

— A senhorita é parente dele? – Naquele instante, Danny e Dougie já estavam grudados em mim. Ansiosos.

— Ele é meu amigo. Melhor amigo. Onde ele está? Eu posso falar com ele? Ele está preso? – Eu não acreditava naquilo, exatamente.

— Lamento informar que seu amigo sofreu um acidente. Ele foi levado junto com a outra vítima para o hospital central, e em estado crítico.

O telefone caiu. Meus olhos vagaram até os de Júlia. Minha boca ainda estava aberta. Meu coração batia sem ritmo. O mundo começou a girar bem rápido. Antes que eu pudesse dizer algo, ficou tudo escuro.


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