I Hate You Then I Love You (mcfly) escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Música tema: JQuest "Só Hoje"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/136793/chapter/16

A teoria do caos

Tom tamborilava a mesa com uma caneta. Havia uma nuvem cinza sobre sua cabeça. Havia algo que o incomodava muito, e ele não podia fazer nada. Danny Jones havia se apoderado da garota, e ele não disputaria Júlia com seu amigo. Mas ele não conseguia saber, então, por que estava tão irritado. Era fato, já havia se decidido. Não faria aquilo. E ao mesmo tempo, sua vontade era agarrar Danny pelo colarinho e socar-lhe.

— Eu estou perdida. - Júlia encontrou-me, durante o café da manhã. Eu estava sentada em uma mesa, sozinha. Tom ainda nem tinha descido. Aquele era um dia de folga em Bruxelas, nossa última semana. - Eu não consigo me livrar de Danny e não consigo parar de querer seu ex.

Dei uma risada.

— Danny anda te importunando?

— Não, mas eu fico com ele sempre que ele quer. É magnético.

— E Tom?

— Eu o quero também. - Júlia enfiou a cara nas mãos. - Sou ou não sou pervertida? Se bem que...

— Se bem que você gosta de Tom. - Eu disse, enchendo a boca com um muffin. - Eu sei que, no final, Tom é irresistível. Seu senso de humor, seu talento. Ele é quase perfeito. Confesse, você está apaixonadinha por ele.

— Mas eu beijo a boca de Danny.

— Isso é um problema. Conte a verdade, ele vai superar.

Depois que Júlia saiu da minha mesa, indo servir-se de qualquer coisa comestível, a sessão terapia continuou.

— Brenda! – Harry sentou-se. - Estive te procurando...

— Estou tomando o café, onde mais estaria? - Fui vaga.

— Você tem andado esquisita, não acha? Ontem à noite, você não quis dormir...

— Eu estava com sono, musgo. Precisava descansar.

Ele me encarou, com os lábios torcidos. Ele parecia infeliz com algo, mas eu não era terapeuta. Mesmo. Já estava cansada de consolar. Se eu soubesse fazer aquilo. Júlia tinha que cuidar de seus problemas. Harry também.

Era tarde, e Júlia evitara Danny o dia todo. Ela se sentiu uma mulher fácil, que depois de passar algum tempo com o rapaz, o dispensava. Mas ela não era; ela só estava um pouco confusa. De noite, ela não conseguiu fugir dele. Ainda mais porque eu já tinha desaparecido.

— Deve ser impressão minha, que você andou fugindo de mim. – Dougie sentou-se ao lado de Júlia, no salão de jogos. Ela o olhou, ele sorria.

— Não foi não... desculpe-me, Danny.

— Isso é um tanto novo, geralmente acontece o contrário. – Danny brincou. – Mas eu entendo se você disser que tem algum problema em ficarmos juntos... só não me diga que não houve química, porque aí eu não acredito.

Júlia sorriu.

— Existe um problema sim. Eu... estou muito confusa. Não posso pensar em curtir com você estando assim, seria desonesto.

— Não se eu soubesse. Mas mulheres nunca pensam assim. Eu entendo. Jamais disputaria com um amigo, vou facilitar as coisas para você. Eu me afasto, fica mais simples assim.

— Amigo? Do que está falando?

—Júlia... – Danny passou a mão por seus cabelos, ajeitando-os. – Eu não sou bobo. Tom está daquele jeito; eu vi como ele nos olha. Eu vi como você se constrangeu pelo que acontece entre nós. Provavelmente ninguém investiu nisso ainda, mas é isso que te deixa confusa. E eu não vou estar nesse triângulo. Tom é meu melhor amigo.

— Sinto muito, Danny... eu não queria, é que...

— Está tudo bem. – Ele olhou para o horizonte. – Bem, não está. Mas vai ficar. Pode deixar. Mas acho melhor você se preocupar em fazê-lo entender tudo isso. Ele é bastante teimoso.

— Vou pedir ajuda para a super Brenda. – Júlia fez uma piada. Danny tomou sua face em suas mãos e a beijou suavemente nos lábios. Júlia sentiu um estalo.

— Você é muito divertida. Pena que esteja dando bola para outro. – E levantou-se, deixando Júlia flutuando nas nuvens e sendo puxada para o inferno.

— Onde está sua mulher? – Dougie encontrou Harry na saleta, assistindo TV.

— Eu não tenho mulher.

— Ainda negando? Não acha meio complicado negar, agora.

— Ela é louca.

— Ela não quis vir dormir com você hoje, não é? – Dougie sentou-se ao lado do amigo. – Sente falta dela?

— Claro que não... vai perturbar outro, Dougie.

— Tadinho do Harry. – Dougie abraçou-se com o amigo. – Está carente; quer que eu vá buscá-la para você?

— Não! – Harry esquivou-se dele, levantando-se. – Eu não quero ficar com ninguém que não queira ficar comigo... como disse, ela é louca. Muito louca, como vou me envolver com isso?

Enquanto isso, no quarto das meninas, Júlia encontrou-me abraçada aos travesseiros.

— Você tem coisa melhor para abraçar. – Júlia implicou.

— Você já teve sua conversa com Jones?

— Sim. – Júlia sentiu um aperto no peito. – E você, não vai ver o príncipe encantado hoje?

— O sapinho já deve estar dormindo a essa hora; amanhã pegamos um avião para Londres, precisamos estar descansados.

— Você o dispensou? Brenda, pensei que tinha passado dessa fase. – Júlia continuou a implicar. – Preciso da sua ajuda com o Tom.

— Eu não sou cupido. – Joguei o celular em Júlia. - Ligue para ele ou vá para o quarto dele.

— Mas ele não divide com Danny?

— Se eu consigo ir até o do Harry...

— Agora não! - Júlia se acovardou. - Vamos deixar isso, eu converso com ele em Londres.

Movi os ombros em concordância. Eu não estava nada a fim de bancar a psicóloga mais uma vez. Ou conselheira amorosa. Quem eles achavam que eu era, para ter alguma expertise naquela éra?

— Brenda, você quer que eu chame o Harry? – Júlia demonstrou aflição com meu desânimo. – Eu dou uma desculpa qualquer, invento algo; você não precisa dar o braço a torcer e pedir para ficar com ele. Eu desapareço...

— Júlia, vá dormir. Amanhã o dia será longo.

Pesadelo.

E lá estávamos nós de volta a Londres. A cidade dos meus pecados, onde tudo dava mais errado para mim. Do que para qualquer outra pessoa. Eu amaldiçoava a cidade, ou a cidade me amaldiçoava. Na Bélgica parecia tudo tão mais fácil. As coisas aconteceram, simplesmente. Em Londres era um cataclismo atrás de outro. Bastou entrarmos no espaço aéreo londrino para eu sentir o que significava estar em casa. O caos, e tudo que o acompanhava.

Danny acabou por fazer como prometido, afastando-se de Júlia. Vez ou outra, acabava por alcançar-lhe no olhar. Mas era só. E, naquela viagem, Tom aproveitou para tentar uma aproximação. Enquanto eles brincavam de paquera, eu continuava nos meus afazeres, de agenda e celular nas mãos, workaholic. Continuava ignorando Harry desde a última noite que estivemos juntos. E ele, nem sabia por que. Talvez eu não soubesse por quê.

Embarcamos rumo a Londres às 11h, em um voo muito tumultuado. Fãs no aeroporto, toda aquela confusão de sempre. Eles pareciam acostumados com aquilo. Eu não.

— Você continua me ignorando. – Harry me encontrou na cozinha do avião, instantes depois da decolagem. Eu já tinha ido procurar Haagen Dazs. Muito estressada, precisando de sorvete.

— Impressão sua... e está errada, como sempre.

— Tudo bem, então. Você tem razão, e eu sou muito burro.

— Não faça drama, musgo.

Afastei-me dele, sem pegar meu sorvete. Não é que eu o ignorasse. Eu só não sabia  mais o que fazer com ele. Ele não tinha o direito de dizer que me amava. Aquilo contrariava algumas leis. Estava errado; mais que errado. Dentro de sis, ele sabia que não precisava de mim, mesmo.

A viagem era curta, e praticamente não conversamos. O que era raro. Quase impossível. Havia certo mal estar no ar, e os que não estavam envolvidos não queriam se envolver. A van da produção nos pegou no aeroporto. E nos deixou no hotel. Eles foram para outro lugar, eu achando que era a casa de Tom. Não tínhamos compromissos; eles podiam fazer o que queriam. Mas eu tinha que conversar com alguém. Precisava me estabelecer e resolver algumas situaçoes.

— Vamos acabar com essa palhaçada. – Liguei para Tom. Dei tempo para que ele chegasse em casa, mas a secretária eletrônica que me atendeu. – Tom, atenda logo esse telefone porque eu sei que você está em casa.

— Insuportável. – A voz suave de Tom respondeu, depois de alguns instantes de silêncio. - Nem falei com você no avião, fez boa viagem?

— Poderia ter sido melhor, sem aquele musgo no meu pé.

— Céus... ok, não quero saber o que houve dessa vez.

— Você estava no mesmo avião, Tom Fletcher. Céus! Precisamos resolver isso, e resolver agora.

— O que?

—  Júlia. Ela queria te falar, mas você não parece cooperar. A questão é, você tem dois dias para resolver a sua questão com ela. Cansei de ser cupido, cansei de ser terapeuta, cansei de tudo.

— Ah, mas que gracinha. Ninguém pediu sua intervenção, Brenda.

— Falo sério. Você tem dois dias, resolva isso ou sofrerá as consequências.

Era noite, e o dia não poderia ter sido mais improdutivo. O dia seguinte seria cheio, com encontros com vários responsáveis pelo lançamento do website. Mas  nós chegamos e fomos para nossos descansos, sem qualquer outra atividade. Eu já estava me sentindo incomodada com tanta lentidão, mas as coisas tinham começado a fluir.

Era noite. Eu rolava de um lado para o outro na cama, dormindo mal e superficialmente. Sonhava o tempo todo com uma imagem borrada, e a imagem me causava agonia. Chovia, e a chuva era forte. As faces estavam molhadas, e tudo era muito escuro. Eu gritava, nervosa. Júlia chorava, e o barulho da chuva era assustador. Havia sangue. Eu também era uma expectadora do próprio sonho. Caminhando pelo cenário sombrio, vi um carro de cabeça para baixo. Sangue escorria pela pista de rolagem, enquanto um corpo jazia no solo frio e molhado. Luzes e sirenes se aproximavam, porém eu precisava ver quem era.

— NÃO! – Gritei, arregalando os olhos. Passei as mãos ao redor, estava em minha cama. Suando em bicas.

— O que foi? – Júlia acendeu o abajur, esfregando os olhos. – O que houve, Brenda?

— Eu tive... um pesadelo. Foi tão real!

Levantei-me apressada e alcancei meu celular. Fiz uma rápida busca pela memória e deixei chamar por alguns segundos.

— Brenda? – A voz rouca e sonolenta de Harry atendeu ao telefone. Desabei no sofá, aliviada. – Você está bem?

— Sim, estou. – Minha voz estava embargada. – Onde você esta? – Eu sussurrava, a voz sumindo.

— Dormindo... eu acho. Estamos na casa do Tom, por quê?

— Onde fica a casa do Tom?

— Você tem o endereço! Foi onde nos deixaram hoje mais cedo. Você nem notou, né? Para variar... posso voltar a dormir agora?

— Fica muito longe do hotel? – Brenda tremia. Júlia assistia a cena de olhos semiabertos.

— Uns quinze minutos de táxi, por quê?

— Tem mais alguém acordado?

— Se eu continuar a ser interrogado, terá. Por enquanto, só eu... posso voltar a dormir?

— Estou chegando aí.

Júlia franziu a sobrancelha, mas desistiu de me entender quando me viu enrolar-me no roupão e sair porta afora. Nada mais a surpreenderia, ainda mais vindo de mim. E eu estava fora de mim. Corri para a recepção do hotel, ofegante. Desci vários lances de escada; esqueci do elevador. Meu coração estava acelerado. Descalço, saí pela entrada principal e praticamente atirei-me por sobre um táxi sonolento. Quase não consegui indicar o endereço de Tom, e praticamente joguei o dinheiro da corrida por sobre o taxista, quando ele finalmente chegou ao seu destino. A casa de Tom era linda. Harry estava me esperando na porta; olhos caídos, cabelo despenteado, short torto e amarrotado. Parei em sua frente, respiração ofegante.

— O que está havendo, Brenda? Você veio até aqui em minutos! E está descalça! Aconteceu alguma coisa?

— Eu precisei... tive um sonho, eu... – Eu não conseguia me expressar. Sentia algo que não desejava sentir, e expor aquilo era uma tortura terrível.

— Um pesadelo? O que foi de tão horrível que te fez me ligar no meio da madrugada? Que te fez sair por Londres vestindo um roupão, apenas?

— Eu... eu só precisava... eu queria, eu...

— Eu nunca te vi sem palavras. – Harry puxou-me para dentro e fechou a porta. Foi comigo para uma saleta, onde não havia ninguém naquele momento

— Estava com medo. Foi muito real, musgo. – Eu segurei sua face nas mãos e olhei para ele, suplicante – Diga. Não, prometa. Melhor, jure! Jure que você nunca mais vai embora.

— Você não está bem. – Ele passou a mão por minha testa, tentando medir a temperatura. – Por que eu iria embora? E por que isso é tão importante para jurar? Depois de me ignorar por três dias seguidos, eu não posso ir embora?

Fiquei novamente sem palavras. Baixei o olhar, constrangida. Eu queria dizer, quase disse. As palavras ficaram agarradas em minha garganta. Olhei para ele, havia lágrimas em meus olhos. Talvez ele não notasse, mas eu sabia. E eu jamais choraria na frente dele.

— Desculpe ter te acordado... eu agora vou...

— Brenda... – Ele segurou minhas mãos, impedindo que eu me levantasse. – Você não vai a lugar algum. Venha cá. – Harry ajeitou-se no sofá e puxou-me para si. Eu estava mole, me sentido fora do próprio corpo. Havia tomado um susto. – O que acontecia nesse sonho?

— Um acidente... você estava no meio do asfalto...

— Está tudo bem. Eu estou aqui, fique tranquila. – Ele beijou meus lábios, e eu resisti. Ele ignorou, resistiu à minha resistência. Virou-se no sofá, invertendo a posição. Seu corpo pesou sobre o meu, e senti aquele arrepio que somente Harry me fazia sentir. Eu tinha que resistir mais a ele, porque eu um dia jurei que resistiria para sempre. Mas não podia fazer nada quando ele me colocava naquela posição.

— Eu vou voltar... – Eu disse, não muito certa do que queria fazer. Meu corpo se dividia entre o tremor do pavor que senti ao acordar e ao tremor insuportável do toque dos dedos de Harry em minha pele.

— Não vai.

— Me deixe ir, musgo... estamos na saleta e...

— Harry. – Ele disse, olhando diretamente em meus olhos.

— O que?

— Meu nome... diga.

— Eu não vou dizer o seu... – Antes que eu terminasse a frase, ele me beijou novamente. Passou a língua por meus lábios; delineou-os bem lentamente. Eu me contorci, virando o corpo para trás. Tive vontade de matá-lo. Eu sempre tinha o controle, como ele ousava tomá-lo de minhas mãos daquela forma? Harry prendeu minhas mãos com as dele, respirando ofegante. Pressionava seu corpo contra o meu, ansioso. Mas primeiro ele completaria sua tortura.

— Diga. – Ele insistiu, beijando meu pescoço, meu colo, passando a mão pelas bordas do roupão até desatar o laço que o prendia, expondo a minha pele seminua.

— Harry. – Eu estava já fora de mim. Não faria muita diferença, naquele instante. – Satisfeito?

— Não foi tão difícil. Agora diga de novo. Diga meu nome... diga que me ama.

Aquele golpe foi cruel. Era tarde, eu estava em choque. Senti um calafrio ainda maior quando ele abriu lentamente meu roupão, beijando minha barriga, cada centímetro que estava descoberto; descendo até a linha do quadril e retirando bem devagar a última peça de roupa que estava ali.

— Eu não...

— Diga. – Ele continuou a insistir, provocativo. Sua língua percorria meu corpo de forma inadequada.

— Eu te amo, Harry Judd. – Fechei os olhos. Todo o meu corpo tremia em espasmos que eu não conseguia controlar. Ele alcançou meus lábios e me beijou, como ele ainda não me havia beijado.

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito

Nem que seja só pra te levar pra casa

Depois de um dia normal

Olhar teus olhos de promessas fáceis

E te beijar na boca de um jeito que te faça rir (que te faça rir)

Hoje eu preciso te abraçar

Sentir teu cheiro de roupa limpa

Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua

Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria

Em estar vivo

Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar

Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia

Que eu faço tudo errado sempre, sempre

Hoje preciso de você

Com qualquer humor, com qualquer sorriso

Hoje só tua presença

Vai me deixar feliz

Só hoje


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!