Meu Querido Cunhado escrita por Janine Moraes


Capítulo 34
Capítulo 34 - Amigos




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Fiquei vendo Igor fazer careta ao ver sua sopa. Ele franzia o nariz todas às vezes, sempre insatisfeito. Com o passar dos dias, as coisas foram se ajeitando. Eu sempre acabava conversando com Igor, que gostava de falar de coisas banais e sobre os acontecimentos do mundo. O que ele tinha ‘perdido’ e o que ele deveria lembrar. Sua obsessão pelo futebol rendeu conversas demoradas, muito entediantes para mim, com Pablo.

– Comida de hospital é uma porcaria. – Ele resmungou. Estávamos sozinhos, Pablo tinha ido trabalhar. Sua licença de uma semana havia acabado, e mesmo com o braço engessado, ele podia trabalhar.  Mais tarde, quando seu turno acabasse, ele viria nos buscar, para nos levar ao apartamento.

– Come tudo, menininho. – provoquei. Ele mostrou a colher, se fingindo de bravo.

– Vou te fazer comer também se ficar me provocando.

– Vai sonhando. – fiz uma careta para a sopa, que definitivamente, não parecia ter um gosto muito bom.

– Mas você nem almoçou, tem que comer alguma coisa. –  Igor meio que me aceitara como amiga, me tratava dessa mesma forma. Totalmente fraternalmente. Era isso que nosso relacionamento estava sendo. Amizade!

– Eu almoço mais tarde... Não se preocupe.

– Vou me sentir terrível se você não comer. – Ele sorriu sem vergonha. Super irônico, fazendo cara cachorro sem dono. – Anda, só uma colherzinha.

– A comida é sua. É errado eu comer, você tem que se alimentar bem. Quem quase rachou a cabeça ao meio no asfalto foi você. Não se preocupe comigo. – sorri amarelo, não gostando da cara da sopa. Credo.

– Come, por favor.  Sério, só um pouco. – Ele insistiu, apontando a colher na minha direção. Depois me lançou um olhar irônico. – Você sabe que eu vou te encher até você provar essa comida deliciosa, né?

– Af, você é insuportável. – Me inclinei até ele, enquanto ele levava a colher até a minha boca.

– Vruum. Olha o aviãozinhoo. – Antes de a colher chegar a minha boca comecei a rir. De sua careta. Igualzinha as que as mães costumavam fazer.

– Para de ser idiota, Igor.

– O que? Só queria deixar tudo mais interessante e divertido. – Ele fez cara de inocente.–  Já sei. Você prefere o trenzinho?

– Cala a boca. – Eu ri, ele riu comigo. Levando a colher até minha boca novamente. Engoli, sentindo o gosto. Não era tão ruim... Certo, isso fora uma tremenda mentira. Era horrível. Era muito acebolado e eu odiava cebola. E era espessa, desceu pela minha garganta e caiu no meu estômago rapidamente. Senti ele embrulhar.

– Você ta com uma careta muito engraçada. – Ele disse, prendendo o riso. E fez uma careta, provavelmente me imitando. Nós dois rimos de leve, ele ainda me encarando. – Essa careta fica bem em você. Pra variar um pouquinho essa sua cara... feiamente adorável.

Mostrei a língua. E ele continuou me encarando, então esticou o dedo, tocando meu queixo. Me surpreendi.  Ele continuou sério me encarando.

– Sujeirinha? – Minha voz saiu trêmula, tentando quebrar a tensão no ar. Mas ele não tirou o dedo, passando de leve, fazendo o contorno do meu queixo. Senti o lugar onde ele tocou pinicar.

– Não, vontadezinha mesmo. – senti meu rosto corar e ele sorrir torto. Ouvimos um pigarro na porta. Tirei os olhos de Igor, ainda meio tonta pela situação. Me surpreendi com quem estava na porta. Cecília; vestindo uma roupa jeans; uma blusa de grife e um casaquinho jeans por cima, com grandes saltos nos pés, e seus cabelos presos em um coque, nos olhava. Parecia vestida para um desfile, ou uma festa chique. Alexandre estava ao seu lado, segurando sua mão. Ainda tinha aquele seu visual largado, a camiseta escura e uma bermuda jeans usada. Um casal bem peculiar.

– Oi. – Cecília disse, nos olhando com as sobrancelhas erguidas. Me perguntei a quanto tempo estavam na porta. Alexandre segurava a mão de Cecília firmemente, me encarando. Me avaliando, como ele sempre fazia quando queria pedir alguma coisa. Principalmente desculpas, mas havia algo em seu olhar também. Percebi, pelo olhar sugestivo deles, que deviam estar lá há bastante tempo. – Como vocês estão? Igor?

Desviei os olhos da expressão alegre de Ceci e das mãos unidas do casal. Me virei para Igor, parecia concentrado no rosto de Ceci, a avaliando. Me olhou surpreso, e percebi o que ele estava fazendo. Nos comparando. Eu e Ceci não tínhamos nada em comum além da cor dos olhos. Ela era perfeita e alta. Um mulherão. Enquanto eu era uma menininha rebelde, com minha camiseta surrada, shorts igualmente usados e um all star no pé. Ela tinha unhas bem cuidadas, enquanto as minhas eram quebradiças. Ela era atraente, enquanto eu era assustadora.

– Essa é Maria Cecília, minha irmã. E Alexandre, seu namorado. – murmurei a contragosto.  Ele ergueu a sobrancelha pelo meu tom de voz. Dei de ombros.

– Prazer. Servidos? – Ele disse, já parecendo a vontade. – É sério, ta uma delícia essa sopa. Não é, Malu?

– Maravilhosa. Tanto que ele não vê a hora de se livrar dela.

– Querer comida de verdade não é crime.

– Eu sei que não. Mas... coma. – empurrei o prato em sua direção. – Se esse treco não é bom, pelo menos deve ser nutritivo.

– Acho que a Malu tem razão, e olha que ela normalmente não tem razão. – Alexandre disse, olhei para ele irritada.

– A Malu nunca tem razão em nada, então? – Igor sorriu para mim, provocativo. Revirei os olhos.

– Não em questões alimentares. – Cecília disse, se aproximando. Alexandre ao seu lado.

– Malu não fala muito sobre ela. Não tem histórias interessantes dela pra contar pra mim?

– Não vem, Igor. E você nem ouse começar. Vocês não vão se divertir a minha custa. – protestei. Foi inútil, eles engataram em uma conversa sobre a minha infância e a de Ceci. Que eu não lembrava muito bem. Começaram a falar do quanto eu era moleca e como os meninos tem medo de mim. Alexandre acabou entrando na conversa também, e antes que eu pudesse ver estavam eles contando seus casos. Isso ajudou um pouco, pois Igor começou a lembrar de algumas coisas.

Acabou nos contando que começou a surfar com 12 anos. E fazia isso desde hoje. Se lembrar sozinho de alguns detalhes, como sua prancha. O deixou eufórico. Eu gostando ou não gostando de Ceci por perto, ela havia ajudado. Ela havia feito Igor se lembrar de várias coisas. E pude ver porque eles começaram a namorar rapidamente. Eles se davam super bem. Igor parecia encantado, quase tanto quanto Alexandre, que olhava Cecília com admiração.

Tentei me convencer que não estava com ciúmes daquela situação. Com eu era esquecida, porque alguém mais bonito e interessante estava no ambiente. Acabei ficando na janela, olhando o movimento da rua. A frente havia uma pequena praça, com crianças correndo e um casal. Queria que minha vida fosse só um pouquinho mais simples.

– Malu? – Igor me chamou, e virei para ele. Ele tinha a expressão preocupada. – Você está bem? Está muito calada pra uma tagarela.

– Estou ótima. Só que acho que já vou indo. – murmurei, querendo sair do quarto.– Vou almoçar.

– Mas daqui a pouco Pablo chega.

– Eu sei. Volto a tempo.

– A gente almoça na minha casa. Eu esqueci como cozinhar, mas acho que você não, né?

– Não se pode esquecer o que não se sabe. Lembre-se disso. – Ele riu de leve, da minha piada pronta. – Eles vão te fazer companhia. – reforcei.

– Não é a mesma coisa. – Ele fez biquinho e eu revirei os olhos, vencida.

– Está mesmo me privando de uma refeição saudável?

– Você considera Mc Donalds saudável?

– Como acha que eu mantenho esse corpinho? – falei irônica, fazendo Alexandre rir. Ele era meu maior companheiro de Mc Donalds, era quase tão apaixonado pelos lanches de lá quanto eu.

– Sendo sincero, você não parece comer Mc Donalds. – Ele me lançou seu sorriso sem vergonha, me analisando descaradamente. Revirei os olhos, tentando fingir que isso não me afetava.

– Você está no seu leito de morte, pare de ser assanhado. – Ele riu de leve, e Ceci chamou sua atenção. Falando agora de hábitos alimentares. Igor tinha uma alimentação quase tão péssima quanto a minha. O que me permitiu dar palpites sobre o hambúrguer de carne ser melhor do que de frango. Um assunto muito instrutivo, diga-se de passagem, que deu margem o suficiente para eu e Igor fazermos piadinhas sem graça por um bom tempo. Até a hora de Cecília e Igor acabarem tocando no assunto ‘namoro’.

Cecília foi até boazinha. Quando percebeu que Igor não sabia do nosso envolvimento... amoroso-catastrófico. Falou basicamente a verdade, que ele tinha terminado com ela, porque eram bem incompatíveis e ambos estavam gostando de outras pessoas. Ela de Alexandre e ele... Ela não fazia tanta questão de fazer e na verdade sempre achou que foi uma desculpa. Que provavelmente a garota nem existiria. Uma bela alfinetada para mim, é claro. Mas que mesmo depois do término agora viviam sem mágoas, embora agora fosse a primeira vez que eles se vissem depois do término brusco.

Quando Igor começou a querer saber por quem estava apaixonado e se eu sabia quem era. Eu quis fugir. Eu deveria falar: Era por mim, bobinho... Mas não queria estragar o que já estava bom. Então, disse que pra deixar esse assunto pra lá. Dizendo que talvez fosse só uma desculpa pra chutar Cecília de vez mesmo. Vi que ele prendeu o riso com meu tom despreocupado. E pensei que Cecília se levantaria pra tentar me bater.

Depois de insistir bastante até no assunto. Ele aceitou de boa, vendo que isso me incomodava. E voltou a conversar de outras coisas com Cecília. Ele andava muito compreensivo e isso me preocupava. Ele devia ter batido a cabeça com muita, muita, muita força. Ou estava guardando essas perguntas pra quando eu não tivesse mais saída. E eu tinha medo de quando essa hora chegasse.



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