O que mais Temia escrita por MiraftMaryFH


Capítulo 28
Voltando ao Início




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/136412/chapter/28

Mil e uma cores estavam a obrigar-me a voltar à vida real, algo que eu sinceramente não estava a querer… Porque é que eu não voltava a ficar em coma? Com certeza seria mais agradável do que viver. Aliás, porque é que eu não morria de uma vez? PÁRA DE DRAMA, BREA! ISSO JÁ É DEMAIS… Realmente, já estava a exagerar… pelo amor de Deus… eu não posso ficar assim por causa do Josh! Ele é um idiota egocêntrico que vai ter um filho com uma cabra espalmada… Na verdade, eles merecem-se; Parabéns idiota, encontraste a tua alma gémea.

- Oh mãe apaga a luz! – Disse como quando era criança, mas rapidamente percebi que ela não iria responder, porque eu estava ali sozinha, certo?

- Não posso apagar o sol, Brea… - Ela disse, sorrindo… ESPERA AÍ! COMO ASSIM, ELA DISSE SORRINDO? Ela nem devia dizer nada, porque ela não devia estar aqui!

- Mãe! – Disse, levantando-me de repente, o que me rendeu uma bela tontura.

- Ei, calma. Não te levantes assim… - Ela disse suavemente.

- Em quantos problemas eu estou? – Perguntei, encostando a cara na almofada.

- Em muitos… - Ela disse distante.

- Podes começar… - Eu disse rendida.

- 1º O que é que te deu para saíres de casa a correr? E sem prestar atenção na estrada? Quantas vezes é que preciso dizer-te para olhares para os dois lados antes de atravessares? – Ela fez uma pausa – E depois… em que é que estavas a pensar quando fugiste do hospital? Tens noção do tamanho da nossa preocupação? Ainda por cima depois de teres saído de um coma! – Ela disse num só fôlego.

- Acabaste? – Perguntei desinteressada, com a minha voz numa luta escusada contra a almofada, o que fez com que saísse muito abafada.

- Sim. – Ela disse, enquanto se recompunha.

- Óptimo. Onde estão os outros? – Perguntei.

- Que outros? – Ela parecia confusa.

- O John, o pai… os outros… - Eu disse como se explicasse que quando atiramos um copo de vidro ao chão ele, muito provavelmente, parte-se.

- Não estão aqui…

- Como assim, não estão aqui? – Perguntei surpresa.

- Eles não sabem que eu estou aqui. Aliás, eles não sabem que tu estás aqui. – Ela disse, encostando-se à cómoda e olhando para mim.

- Não lhes disseste que estava aqui? – Surpreendi-me.

- Não, estava à espera que te entregasses. – Ela disse, simplesmente.

- Como é que descobriste que eu estava aqui?

Ela começou a olhar para um ponto fixo, como se estivesse a ver alguma situação do passado. – Quando eras pequena… dizias: “Quando for grande e estiver triste, quero vir para aqui.” – E depois, como se a cena terminasse, ela voltou a olhar-me.

Olhei para ela desconfiada – Duvido muito que tenhas chegado lá sozinha.

- Eu não disse que cheguei aqui sozinha… Digamos que o Alex dá uns bons palpites…

- Já imaginava – Disse rolando os olhos.

- Bem, está tudo bem contigo? – Ela perguntou e eu assenti – Muito bem, tens comida lá em baixo, acho que te sabes desenrascar. – E foi-se virando para ir embora.

- Espera! Não me vais obrigar a voltar? – Perguntei mais confusa do que no início.

- Como já disse, estou à espera que te entregues sozinha. Quando souberes que está na hora de voltar, volta. – Antes que pudesse perguntar outra coisa, ela cortou-me. – E não, não vou contar ao teu pai, nem ao teu irmão onde estás. Este tempo é teu. Usa-o da forma correcta. – E despedindo-se, com um beijo na testa, saiu do quarto e eu agradeci umas 1000 vezes a Deus pela mãe que tinha.

Deixei que passasse algum tempo; só iria descer quando ela saísse. Só me levantei quando ouvi o carro a entrar na estrada e o portão a ser fechado. Fui à casa de banho, que havia sido reabastecida com coisas necessárias; tomei um longo banho e segui para o andar de baixo. Naquela manhã comi tanto que eu supus que tivesse engordado uns bons três quilos, afinal eu não comia desde o dia anterior… há que ter isso em consideração.  A seguir ao almoço reforçado (sim, almoço… quer dizer, eu acordei às 13:08h… não ia tomar pequeno-almoço nenhum a essa hora!) fui dar uma volta pela casa… desenterrando as memórias das divisões da mesma e dos momentos que me vinham à cabeça de tempos, outrora muito diferentes.

Depois de andar durante meia hora, encontrei um pequeno quarto que servia como arrecadação; haviam alguns baús com fotos de tempos felizes, que agora pareciam distantes… Fiquei cerca de 1 hora a ver aquelas recordações e a tentar lembrar-me quando é que tiramos, porquê e com quem; Quando me levantei para sair, as minhas pernas estavam muito dormentes e estava com uma dor intensa no joelho, que me fez tropeçar em alguma coisa no chão, onde me deparei com uma guitarra clássica. Olhei para ela por dois segundos e não hesitei; Peguei no instrumento e fui a correr para a floresta de anexo à casa. Fiquei espantada, mas muito feliz, ao ver que o velho baloiço feito de corda e preso à velha e grande árvore continuava seguro. No inicio, fiquei apenas a olhar o céu, sentada no baloiço, como se tivesse medo de olhar para o objecto que tinha nas mãos; não era que eu não soubesse tocar… o próprio John ensinou-me alguns acordes e canções, mas a guitarra parecia demasiado perfeita para mim, mesmo estando com alguns riscos e muito desafinada. Era minha; Reconheci pela inicias B.L., já que a do meu irmão era igual, apenas continha um J em vez do B. Porém, ao mesmo tempo, não parecia bem minha… Parecia de outra pessoa, de outro tempo, de outra alma, outro espírito, outro tudo que não fosse eu neste momento. Mas, no fim, eu sabia que arranjaria coragem nem que fosse para tocar alguns acordes, e foi o que eu fiz… Comecei a tocar alguns versos antigos e, por vezes, repreendia-me quando falhava algumas notas e, quando dei por mim, já tocava tão bem quanto antes.

Só parei quando muitas horas já haviam se passado e porque estava com fome, outra vez. Segui para dentro da casa, onde comi e tentei por a velha televisão a funcionar, o que foi um tormento porque eu não tenho talento nenhum para por coisas a funcionar… pelo contrário. Depois de algum esforço e de mover a antena vezes sem conta, consegui chegar num canal, onde estava a dar notícias… Ironia?; Coincidência?; Destino? Talvez até os três… o facto é que a notícia era sobre mim… é… acho que o meu pai pôs o mundo todo atrás de mim. Se ele quisesse, ele poderia encontrar-me… Não é preciso pensar muito para supor que eu pudesse estar aqui… é a nossa casa de campo e não é muito longe da nossa casa… tenho a certeza, que se ele pensasse por uns minutos nos possíveis lugares onde eu poderia estar, ele me encontraria… Mas, como a minha mãe disse… o melhor seria, sem dúvida, entregar-me eu, quando estivesse pronta, porque se fosse o meu pai a encontrar-me… com certeza ouviria um sermão por muitos dias.

Sorri de lado, quando pensei no estado em que a minha mãe estaria… Será que ela estava a inventar e a supor coisas para manter o meu pai ocupado para não pensar neste sítio? Estaria ela a fingir-se de preocupada acerca do meu paradeiro, quando sabia perfeitamente que eu estava aqui e estava segura? Quem sabe…

Deixei a antena cair e o ecrã logo assumiu um tom escuro; Não queria saber o que estavam a fazer ou se estavam perto de descobrir onde eu estava. Neste momento, queria apenas ficar longe do mundo; Nada mais me interessava, pelo menos nada que estivesse fora das fronteiras desta casa.

Quando acabei de comer, fui para o meu quarto com a guitarra nas mãos, mas não toquei; não naquela noite. Estava cansada e os meus dedos doíam-me pela tarde passada a tocar. Adormeci, pensando em nada e sonhando com nada… Isso era um começo.

No dia seguinte, quando acordei, a primeira coisa que fiz foi olhar para a janela, como se adivinhasse que a minha mãe poderia estar lá, mas ela não estava. Voltei a minha atenção para a guitarra e desci com ela nas mãos. Nem dei muita importância ao pequeno-almoço, comi apenas algumas coisas necessárias e segui para o baloiço, no meio da floresta do anexo.

Estava atenta às notas que tocava quando ouvi um barulho; Pareciam aqueles pequenos sons de um ramo quando se quebra, como nos filmes, quando alguém perigoso se está a aproximar; Ouvi o som de novo e tive a certeza de que estava alguém ali, a questão era se era alguém perigoso, como nos filmes.

- Quem está aí? – Perguntei, tentando não transparecer medo na voz… algo que não estava a dar muito certo…

Como resposta obtive mais um barulho de outro ramo a partir-se e apesar de ser a terceira vez, eu sabia que não era de propósito. Se ninguém me responde, é porque com certeza não quer perguntar se eu estou bem… Qual a coisa mais sensata a fazer naquele momento?

Larguei a guitarra no chão, muito calma e lentamente. De seguida, levantei-me e olhei em todo o meu redor, para as árvores e arbustos que poderiam estar a servir de supostos abrigos e esconderijos ao estranho que se aproximava. Não havia ninguém… Então, dei um passo e ouvi o estranho a dar um também. Tenho que fugir… E qual a melhor maneira?... Pois, correr. Enquanto corria, ponderava possibilidades… podia não ser uma pessoa! De repente, deixei de ouvir os passos e descobri-me num sítio, verdadeiramente, cativante…

Voltando ao presente - Prólogo

“Encontrava-me onde a mãe natureza dominava, onde tudo era mistérios não desvendados. Aquela floresta era sombria, desde aquelas árvores altas e robustas, aquele clima enigmático até ao chão resguardado com folhas quebradiças.

Olhei ao meu redor e estava sozinha, o meu coração batia sem ritmo certo, o meu corpo tremia como que se deixando levar pelo vento que o cercava, não sabia o porquê de ali estar, como tinha ido parar ali, não sabia o porquê de estar ali, não sabia para onde ir, não sabia o que fazer, estava completamente confusa $: Fui interrompida enquanto debatia em pensamento as respostas para as minhas dúvidas por um barulho deveras estranho, como que por instinto corri o mais que as minhas pernas conseguiam, tinha curiosidade em olhar para trás para saber o que me perseguia, mas o medo que me circulava no sangue não permitia o fazer, continuei a correr numa esperança de encontrar um lugar seguro, mas nada que encontrava me parecia ideal.

As minhas pernas fraquejaram e acabei por cair naquele húmido chão, escutava e sentia as minhas palpitações cada vez mais fortes, ouvi algo a aproximar-se, mas o que seria? Um animal feroz? Um humano insensível? Apenas sentia cada vez mais próximo algo incógnito. Já conseguia ouvir a sua respiração, mas ainda não conseguia distinguir o que seria, até que por fim surgiu o que mais temia…

O que eu mais temia baseava-se na pessoa que eu mais amava e isto pode parecer estranho, mas não é tanto assim como aparenta. Eu tinha medo, pavor… de voltar a cair no mesmo erro… na mesma tentação… : ele…

Um dia, ele fez-me perder a razão e a noção das coisas à minha volta. Eu comecei a viver num mundo que girava ao seu redor… mas, ele simplesmente não me via.

Tudo era, imensamente, contraditório… o que eu sentia por ele era, intensamente, incompatível. A sensação de o ver, de estar com ele, de olhar naqueles olhos azuis-acinzentados... era tão bom… tão cómodo porém, tão mau, tão frustrante. Tão doce e tão amargo. É difícil de explicar… Ele… Pode trazer uma enorme felicidade ou uma profunda decepção. Pode te dar uma razão para viver, ou uma causa muito forte para tentares contra a tua própria vida. Pode trazer-nos sorrisos, pode levar-nos a lágrimas. Pode ajudar a ver uma nova realidade ou cegar-nos completamente. Pode trazer tranquilidade e paz… ou pode correr a nossa vida toda a riscos. Pode acompanhar-nos durante muito tempo ou abandonar-nos na primeira hipótese. Pode curar feridas passadas ou magoar mais ainda… Podemos deixar de lado… tentar ignorar…, mas esquecer? Jamais. Eu “rezei”. Eu rezei para que tudo isto não passasse de uma mera ilusão da minha cabeça, uma colocação de valores numa pessoa que talvez não os tenha… uma simples chama. Infelizmente, era algo muito mais complexo do que isso e em tentativas frustrantes de o esquecer, eu apanhei-me a pensar na quão monótona era a minha vida antes de ele aparecer. O facto de ele ter surgido na minha existência foi, assim como o meu sentimento por ele, bastante contraditório, bom e mau. Tudo começou a ganhar mais animação e o meu cenário ganhou novas cores.

O azul-acinzentado predominava na minha vida… quase que inteiramente… porque era a cor que mais me fazia lembrar dele, porque era algo que me simbolizava muito… porque era a cor dos seus olhos… Lembro-me de quando eu me perdia naquele mar… eu sentia-me como se me estivesse a afogar… devido à falta de ar, tanta era a perfeição dos seus olhos.

Como tão rápido este sonho apareceu… tão rápida chegou uma dura realidade… o que me fez fazer a coisa mais óbvia e estúpida que eu poderia ter feito…: fugir…”

Mas, antes mesmo que eu desse dois passos, ele segurou-me no braço para me impedir, mas nada disse.

Ficamos alguns momentos a olhar um nos olhos do outro, como se tentássemos desvendar os segredos da alma de cada um… até que quebrei aquele silêncio compreensivo…

- O que estás aqui a fazer? – Perguntei confusa.

E um turbilhão de emoções, posso jurar, passou por aqueles olhos magníficos antes de me responder.

- Vim buscar algo que me pertence. – E antes que pudesse perguntar o que era aquilo que ele achava que lhe pertencia, ele puxou-me e aproximou-se o suficiente para eu saber o que me esperava… doces lábios perigosos, pois eram uma terrível perdição.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O que mais Temia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.