The Last Secret escrita por The Escapist


Capítulo 16
16




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Havia pouca iluminação no interior do Tor, a luz dos primeiros raios de sol praticamente não entrava na fortaleza. Langdon piscou várias vezes para se acostumar. Se pelo menos soubesse o que estava procurando. A primeira galeria era constituída de paredes de pedra, impressionante por sua distribuição perfeita, era incrível que um monumento daqueles tivesse sido construído há tantos séculos.

Os homens passaram para a segunda galeria. Langdon não falava, não havia o que dizer, e honestamente, Nicholas Dickson não era alguém com quem gostaria de ter uma conversa. Não era muito diferente da primeira, exceto pelo piso, Langdon olhou para o chão e viu que havia espirais idênticas às gravadas no medalhão. E no fim uma escada, também em forma de espiral.

Langdon e Dickson subiram os estreitos degraus de pedra; no fim da escada estavam novamente em uma galeria de pedra no meio da qual tinha uma espécie de fonte, porém estava seca. Mais uma vez havia espirais desenhadas em alto relevo. Nicholas aproximou-se da fonte, passou a mão pela superfície áspera.

— O que me diz, professor? — perguntou. Langdon deu de ombros.

— Parece uma fonte seca.

— Nós não estamos aqui para gracinhas, estamos, professor Langdon? — Certamente que não, pensou Langdon, percebendo a pistola guardada no bolso interno do sobretudo de Nicholas. — Eu deveria ter adivinhado o lugar, mas... É mesmo possível que esteja aqui? Essa é a hora que o senhor pode ser útil, senhor Langdon.

Langdon fez o possível para ignorar o sarcasmo de Dickson. Se aproximou da fonte e também passou a mão pelas pequenas espirais desenhadas, buscou seus conhecimentos, tentando encontrar algum significado coerente. Pelo que tinha ouvido de Sir Edwin e lido nos documentos de Margareth, o medalhão era a chave para o diamante, a grande dúvida era se aquilo seria literal ou não.

— Não se trata de uma fonte — disse depois de alguns instantes em silêncio. Nicholas levantou a cabeça. — É uma pira. Costumava-se ascender um fogo, em honra aos deuses de Avalon. O Tor é considerado a porta de entrada para a ilha.

— O que interessa agora é o diamante, guarde essas explicações para os seus alunos. — Definitivamente Nicholas Dickson não era alguém digno de encontrar tesouro nenhum, pensou Langdon. — Veja isso, professor Langdon. — Nicholas chamou; Langdon rodeou a pira e ficou ao lado dele; havia uma inscrição na borda. — Que língua é essa? — Dickson perguntou depois de tentar ler; Langdon o olhou com incredulidade; para alguém que se julgava herdeiro do rei Arthur, ele não era nem um pouco versado em história celta.

— É inglês, milorde. Inglês antigo, é claro, a língua falada pelos seus ancestrais — Langdon falou ironicamente e tentou por sua vez ler a inscrição; embora não fosse um especialista, conseguiu decifrar os símbolos. — “Os dignos encontrarão o caminho da verdade e do poder”.

— O que isso significa?

— Provavelmente só os “dignos’ tinham o direito de encontrar o caminho para Avalon.

Nicholas não demonstrava paciência para explicações sem sentido ou relacionadas a misticismo; procurou mais alguma coisa na galeria; à primeira vista as paredes eram completamente sólidas; Langdon o observava tateando pelas pedras, não pôde deixar de pensar que aquele homem era realmente louco, obcecado por algo que nem sequer conseguia entender ou ao menos respeitar. Mas então ele mesmo ficou olhando aquelas paredes, não viu nada a princípio.

Depois de olhar bem, viu algo diferente. Por que Nicholas acabara de passar por aquela pedra e não percebeu que ela era mais afastada que as outras, Langdon não entendia. Ficava no fim da sala, quase no ângulo das duas paredes. O professor deu três passos largos, cruzando a galeria, se aproximou, e tocou a pedra. No momento em que a empurrou, uma câmara oculta foi revelada; Nicholas se virou rápido, e num segundo estava do lado do professor.

XXX

Mary Kate não conseguia mais parar de chorar. A tentava de sir Edwin de se aproximar tinha lhe custado mais puxões nos cabelos, e Davidson parecia sentir muito prazer em machucá-la; Scott estava a ponto de chorar também, se não o fazia talvez fosse por sentir tanta raiva; sentara-se no chão, com a cabeça entre os joelhos, praguejando contra os capangas do pai. Lorde Dashwood estava ao lado dele, apoiado na bengala, abaixou-se um pouco de murmurou.

— Quer parar de chorar e fazer alguma coisa, moleque? — Mesmo sem querer, Scott deu um pequeno soluço; levantou a cabeça para ouvir o que Sir Edwin dizia. — Você já usou uma arma alguma vez na sua vida? — Scott arregalou os olhos, não sabia o que o velho pretendia, mas não estava gostando, em todo caso balançou a cabeça; já tinha usado uma arma sim, no clube de tiro, claro. — Preste bem atenção ao que eu vou dizer.

Scott ouviu com atenção, os olhos cada vez mais arregalados, quase sem acreditar que no que Sir Edwin queria fazer; era arriscado demais, mas tinha que admitir, precisavam fazer alguma coisa, e não continuar ali sentados, chorando.

XXX

O interior da câmara não era maior que dois metros quadrados, e, assim como o restante do Tor, era constituído por pedras muito bem alinhadas; estava vazio, exceto por uma pequena caixa de madeira no canto da parede. Langdon sentiu o coração palpitar ao avistar o objeto. Era muito fácil identificar a marca na frente da caixa: o Triskelion. Ele nem precisava chegar mais perto para saber que era exatamente o contorno do símbolo desenhado no medalhão de Mary Kate.

Era literalmente uma chave, Langdon admitiu que não esperava uma coisa tão óbvia. Um sorriso insano nos lábios de Nicholas indicava que ele também entendera. Finalmente ele entendeu alguma coisa, pensou Robert. Quando Dickson se abaixou e apanhou a caixa, Robert não evitou se perguntar por que estava ali, afinal, e uma voz em sua consciência disse que era para proteger a filha. O relógio do Mickey Mouse no seu pulso lembrou que dos vinte minutos que Nicholas tinha dado aos seguranças, quinze já haviam passado.

Dickson admirou a caixa, passando as mãos sobre a madeira antiga, bem trabalhada, então seus dedos correram pelo contorno da estrela de três pontas. Com o mesmo sorriso maligno, ele alisou o medalhão uma vez, antes de encaixar as partes.

Havia um brilho diabólico nos olhos de Nicholas Dickson quando ele abriu a caixa. Nem mesmo Langdon conseguiu evitar a surpresa; era completamente hipnotizante olhar aquele diamante vermelho.

XXX

Sir Edwin deu dois passos, e de repente caiu de joelhos, levou a mão ao peito; Scott correu para acudir o velho, tentando levantá-lo; Mary Kate não se importou, ao ver o avô passando mal, soltou-se das mãos de Davidson e correu para ajoelhar-se ao lado dele. Davidson quis impedir, mas Smith sugeriu que ele não fizesse, afinal, o velho estava morrendo. Com os olhos já inchados de chorar, e mais lágrimas caindo, implorando para que ele não morresse, Mary Kate agarrou as mãos do avô.

— Agora, Scott, agora. — Scott assentiu. Sentiu as mãos suadas, se errasse o que tinha que fazer, provavelmente todos eles estariam mortos.

Com cuidado, colocou a mão por dentro do casado de sir Edwin e não teve dificuldade para encontrar a pistola; foi então que Mary Kate entendeu que aquilo era um plano; ela balançou a cabeça, positivamente, seus olhos azuis encontraram os de Scott e por alguns segundos o garoto não quis pensar em mais nada. Ela abriu a boca, pronunciou algo, mas sem emitir nenhum som; Scott entendeu. Ela pediu que ele tivesse cuidado. Ele assentiu. Toda essa comunicação durara segundos, e no momento seguinte, ele estava de pé, com a arma na mão.

Era bom em acertar alvos, sua brincadeira de infância preferida era arco e flecha. Não houve tempo para pensar, acertou o ombro de Davidson, e antes que Smith se desse conta do que estava acontecendo e pudesse sacar a arma, atirou novamente. Mas Davidson praguejava, e tentou por sua vez pegar a pistola, Scott não lhe deu tempo. Lembrou-se naquele momento de quando leu A torre negra e se tornou fã de Roland de Gilead. Mas nunca tinha imaginado que seria capaz de matar alguém. O tiro tinha acertado o peito de Davidson, e Scott preparava-se para mirar em Smith pela segunda vez, quando Mary Kate se levantou, e pegou na mão dele, pedindo que ele abaixasse a arma.

— Não, Scott, já chega — ela disse, e ao mesmo tempo olhou para Smith. Ele segurava o ferimento no braço, e não parecia disposto a sacar a arma, talvez houvesse algo de bom nele, afinal, pensou Mary Kate. — O Robert, vamos, vovô, o senhor consegue se levantar?

— Ah, sim, estou bem, querida. Boa mira, moleque. — Scott deu um sorriso e sentiu que estava vermelho, não pelo que sir Edwin disse, mas por sentir os olhos de Mary Kate fixos nele. Sensação estranha aquela.

— Obrigado. Vamos entrar. — Mesmo com dificuldade para andar por causa da bengala, Lorde Dashwood se movia relativamente rápido. Os três passaram pela primeira galeria, Scott ia na frente, e encontrou a escada antes que Mary Kate e o avô chegassem. — Por aqui.

— Tudo bem, vovô? — Mary Kate perguntou, pois seu avô estava ofegante.

— Vão vocês, eu espero aqui, tenham cuidado. — Mary Kate deu um beijo na cabeça branca de sir Edwin; Scott estendeu a arma para ele.

— Só para garantir, de qualquer forma, eu não vou atirar no meu próprio pai — Scott disse, e começou a subir a escada, com Mary Kate logo atrás. Encontraram Nicholas segurando o diamante com verdadeira adoração.

— Robert! — Mary Kate sorriu e correu para abraçar Langdon. Ela apoiou a cabeça no ombro dele, soluçando. Robert afagou seus cabelos loiros e deu um beijo terno em sua cabeça. Suspirou aliviado; os últimos minutos tinham sido certamente os mais angustiantes de sua vida, ao ouvir aqueles tiros lá fora.

— Vamos embora, isso acabou.

— Que comovente, professor, mas nós ainda não acabamos.

— Você tem o diamante, o acordo acabou.

— Informação é poder, concorda comigo, professor? E vocês dois sabem demais, não é um bom negócio para mim ter o pai e a filha vivos. Vocês podem entender o meu ponto de vista, não é mesmo? — Nicholas guardou com cuidado o diamante na caixa e tirou a pistola do bolso do casaco. Scott soltou um palavrão e Langdon puxou Mary Kate para mais perto.

— Abaixe a arma, Lorde Dickson. — Todos viraram as cabeças ao mesmo tempo e reconheceram o agente da Scotland Yard.

— Mais um passo e eu vou atirar.

— O local está cercado, senhor; eu tenho um mandato. — O agente retirou um papel do bolso e mostrou. — O senhor está preso.

— Você não pode me prender, seu idiota. — Dickson continuava com a arma apontada.

— Na verdade, eu posso, e vou. O senhor pode escolher ser acusado apenas de sequestro, ou pode querer assassinato nas acusações, vai facilitar muito a vida da promotoria, principalmente se resistir a prisão — o policial falou, tranquilo, no mesmo instante que os outros agentes chegavam.

Nicholas estava cercado. Se pretendesse resistir, não teria conseguido; os policiais o renderam. Scott sentiu como se suas entranhas estivessem sendo arrancadas. É claro que esperava ficar livre do pai, mas não conseguia ficar feliz por vê-lo daquele jeito, não era a prisão, era o estado de Nicholas, completamente insano. Scott sentia por ele, sentia por si mesmo, por não ter tido a chance de ter um pai de verdade. Mas também sentia alívio por aquela loucura acabar.

XXX

— Você é a guardiã.

Mary Kate encarou o avô, balançou a cabeça, os olhos arregalados correram de Sir Edwin para Robert Langdon. Será que eles entendiam que ela não queria ser guardiã de nenhum tesouro místico? Ela queria apenas ser uma universitária de dezoito anos e conhecer melhor o pai que tinha encontrado. Só isso. Além disso, aquela joia, embora fosse linda e hipnotizante, e certamente valesse milhões de euros, já tinha causado muitos problemas, se ela não tinha mais a mãe era por causa do diamante.

— Ok, eu sou a guardiã, então, eu posso fazer o que quiser, certo? — Sir Edwin assentiu. — Muito bem, está na hora dessa disputa acabar, definitivamente, o diamante foi dado ao rei Arthur para que ele protegesse seu reino, não para causar mortes. Está na hora dele reencontrar Excalibur. — Mary Kate sorriu, Lorde Dashwood acenou com a cabeça; aprovava totalmente a decisão da neta; não ganhariam nada se ficassem com aquele diamante.

XXX

— Como é que você se sente?

— Aliviada. — Mary Kate estava sentada no balanço onde brincava quando era criança no jardim da mansão dos Dashwood. Scott estava no balanço ao lado, de pé, segurando-se nas cordas. — Foi uma sensação muito boa jogar aquele diamante no oceano. Eu não quero vê-lo outra vez. Você entende?

— Claro.

— E você? Como está? — Scott deu de ombros. Estava escorado nas cordas do balanço ao lado do de Mary Kate. — Você já sabe o que vai acontecer com o seu pai?

— Os advogados vão pedir para que ele seja julgado nos Estados Unidos, você sabe, seu avô tem muita influência, lá ele tem mais chance. Eu sou mau por não querer ver o meu pai livre? Quer dizer, se ele ficar livre, eu nunca ficarei.

— Não, você não é uma pessoa má por isso, Scott, você tentou o que pôde para ajudar seu pai, agora, a justiça é que tem que cuidar dele.

Lorde Dashwood estava olhando os dois garotos conversando; Mary Kate sorria. Os dois últimos dias tinham sido intensos para a neta, mas ela se saíra muito bem.

— Mesmo que eu quisesse muito, não conseguiria manter a Mary na Inglaterra por muito tempo — disse. Robert riu. — A Mary é meu maior tesouro, professor Langdon, cuide bem dela, por favor. Não importa que ela seja maior de idade, ainda vai ser a mesma garotinha.

— Eu cuidarei.

— E o senhor vai ter muito trabalho.

Olhando Mary Kate e Scott rindo lá embaixo no jardim, Sir Edwin ficou feliz, definitivamente a guerra entre os Dickson e os Dashwood tinha acabado.


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