Karma. escrita por Alien


Capítulo 5
Capítulo 5




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 O primeiro dia de aula passou incrívelmente rápido. Descobri que Frank seria meu parceiro na aula de Sociologia, matéria obrigatória em todas as faculdades do Texas. Minha perna ainda reclamava do ataque no dia anterior, mas eu fiz questão de esconder o ferimento por baixo de uma calça jeans larga, dessa forma, era quase impossível notar que haviam curativos nela.
 - Então, hidratou muito o cabelo ontem? - disse Frank em sua tentativa fracassada de puxar algum assunto comigo. Ultimamente tem sido assim. Me tornei um poço fechado. Mas tudo porque ainda me sinto insegura sozinha. Aliás, quem não se sente? Só aposto que é bem pior quando se fica totalmente sozinha.
 - Ah, bem, sim.- disfarcei a careta que fiz ao respondê-lo. Mentir não era o meu forte.
 - Ah... ótimo.
 Permanecemos assim durante alguns instantes, calados, apenas caminhando sem pressa até o pátio. As aulas haviam acabado há poucos minutos e comemorei o fato de os professores não pegarem tão pesado no primeiro dia de aula, me permitindo então, chegar nos dormitórios e passar o restante do dia lendo aqueles livros bizarros que encontrei na casa da minha avó.
 Quando a lembrança daquele cão maligno me veio à mente, estremeci tão grosseiramente que Frank se assustou e me observou, com cautela.
 - Está tudo bem, Charlotte? - disse ele, já erguendo a mão para tocar a minha testa. Revirei meus olhos diante do gesto e respondi:
- Não precisa se preocupar. Deve ser algum tipo de resfriado.
 Frank apenas assentiu, pensativo.
 - Sabe, eu não vi você pela a manhã ontem, nem durante a tarde. Não quero ser muito intrometido mas, você desperta certa curiosidade nas pessoas, sabe? - disse ele soltando um risinho sem-graça no final. - O que você faz nas horas vagas?
 Demorei um pouco para responder. Talvez devesse dizer "Ah, eu fuço a casa da minha avó e descubro esconderijos de cadáveres." Imaginei a reação de Frank diante de tal revelação, e soltei uma gargalhada mental.
 - Ah, eu não faço nada. Apenas durmo e hidrato meu cabelo. Sabe como é. - disse soando totalmente despreocupada.

 Depois de produzir uma redação sobre "A importância da Engenharia na Sociedade", escolhi um dos livros que havia pego na casa da minha avó, e comecei a ler.
 A maioria dos textos estavam escritos em Latim, o que tornou quase impossível que eu conseguisse decifrar qualquer coisa ali. Haviam muitas anotações, provavelmente feitas pela a minha avó, sobre rituais de purificação e proteção. Folheei algumas páginas, até cansar e passar para outro livro.
 Abri-o e notei que estava todo escrito à mão. Comecei a ler um parágrafo, e percebi o quão sortuda era.
Havia pego o diário de minha avó! Imediatamente prossegui com a leitura.


"   14 de Fevereiro de 1945.
 Eles parecem nunca cansar desses rituais patéticos. Seriam todos tão tolos a ponto de não perceberem a realidade? Pelo o visto vou ter que abandonar essa vida medíocre. Não aguento mais correr o risco de ser pega. As vozes não param de me perturbar, e eu já estou começando a ficar com medo.
 Seria eu, tão fraca a ponto de me render fácil? Não sei. "


Após o término da leitura, refleti sobre as palavras lidas. Do que minha avó estaria falando? Quem seriam eles? Decidi avançar um pouco mais o tempo
e passei as páginas até chegar na data mais recente.

"20 de Julho de 2004

Não posso mais continuar aqui. Eles descobriram meu esconderijo. Preciso de ajuda, mas abandonei a todos quando achava que não precisaria da ajuda deles. E agora?
Ontem, eles vieram até a vizinhança e me procuraram. Hoje, passei a ouvir novamente as vozes que me tiravam a paz há muitos anos atrás.
O fim está próximo. Deixei uma carta contando toda a verdade dentro desse livro, na esperança de que alguém a leia e não me culpe, em especial, meu filho.
 Não deveria tê-lo deixado. Talvez essa seja a última vez que escrevo aqui, diário. Minha paz se foi. O fim chegou."

 Então era isso. Minha avó havia sido assassinada. Mas, por quem? No diário ela citava novamente "eles." Precisava descobrir quem eram 'eles', se o fizesse, talvez até encontrasse os assassinos dos meus pais. Passei rapidamente as páginas do diário, procurando ansiosamente a tal carta que contava toda a verdade, quando sinto novamente aquela sensação estranha de estar sendo observada. De início não dei muita atenção, até começar a ouvir aquele rosnado familiar.
 Minha garganta ficou seca e minhas mãos ficaram úmidas. Levantei-me da cama delicadamente e olhei pelo o olho mágico. Não havia nada no corredor.
 Virei-me novamente para o centro do quarto e, de repente, meus sentidos desapareceram.
 O mesmo cão maligno se encontrava ali, a três passos de distância, me olhando com grandes olhos vermelhos. Sua boca emitia um som terrível, ao mesmo tempo em que uma gosma escorria pela a lateral de seu lábio inferior.
 Permaneci imóvel, encarando aquele ser horrível. Inesperadamente, o cão desaparece. Corro meus olhos pelo o quarto, mas não vejo nada além de minhas coisas espalhadas pelo o chão.
 - Olá. - diz uma voz desconhecida, ao meu lado.
 Me afastei imediatamente ao me deparar com a figura de um homem. Tinha olhos verdes, pele clara e um cabelo cor de fogo. A mesma cor do pêlo do ser que me atacou na casa da minha avó e que havia acabado de aparecer e desaparecer do meu quarto.
 - Q-quem é você? - questionei, já me preparando para um possível ataque.
 O homem ri e senta descontraídamente em minha cama, tira um charuto do bolso, acende-o, e dá uma tragada.
 - Não interessa o que sou. Vim aqui para propor um acordo.
 Franzi o cenho diante da resposta. Não aceitaria acordo nenhum de alguém que misteriosamente apareceu no meu quarto.
- Seja lá o que for, vá embora. - intimei o homem, apontando para a porta tímidamente.
- Ouça. Você já deve ter lido a carta, se não, faço questão de resumir a história para você: Sua avó era bruxa e fazia parte de uma seita chamada Wicca.
Ela sempre foi muito fiél às nossas crenças, até que decidiu se rebelar contra o grupo. Para que você entenda melhor, todo integrante da seita precisa pagar com o próprio sangue para ser integrante de Wicca. Esse preço garante que nenhum, jamais, contará o que acontece dentro dos rituais ou tente deixar de ser seguidor das trevas. E foi exatamente isso que sua avó fez. Ela passou, aos poucos, a não frequentar as reuniões e rituais e acabou contando para alguém sobre tudo o que fazíamos.
 Balancei minha cabeça, confusa. Ia começar a fazer perguntas, quando ele decidiu não me dar atenção, e continuou:
- Então, ao descobrirmos isso, tivemos que persegui-la. Sabe como é, negócios são negócios. Tendo em vista a gravidade da situação, quando a encontramos, demos-lhe o castigo que merecia de forma rápida e indolor. O fato é que, toda a sua família descende de uma linhagem bruxa. Você é meio bruxa, e como sabemos que seu lugar é conosco, vim aqui pessoalmente lhe convidar para ingressar no grupo.
 Minhas mãos suavam enquanto eu refletia sobre as palavras daquele homem. Claro que não acreditava em sequer um grama do que ele havia me dito, mas que os fatos se encaixavam, isso eu não negava. Primeiro, vou até a casa da minha avó e encontro livros falando de bruxaria, corpos pendurados e  vidros com substâncias suspeitas. Depois, um cão aparece no meu quarto e se transforma em homem. Para tudo existe uma explicação, eu exigiria uma até conseguir.
 - Não posso fazer parte do seu grupinho sem ao menos saber quem você é. - decidi impor minhas condições. Dessa forma, conseguiria arrancar o máximo de informações daquele homem sem precisar lhe dar uma resposta definitiva.
 Esperava que ele começasse a falar alguma coisa, mas tudo o que fez foi se mover em uma rapidez brutal até me alcançar em poucos segundos e pôr suas mãos ásperas no meu pescoço, apertando-o. Pude enxergar a escuridão em seus olhos.
 - Não pense que pode me fazer de idiota, mocinha. Eu posso muito bem acabar aqui mesmo a linhagem das bruxas nojentas da sua família. Tenha cuidado. - ameaçou ele pressionando com mais força as mãos em meu pescoço cada vez que dizia uma palavra. - Você tem duas escolhas: Entra na seita e fortifica nosso grupo... ou morre.


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Notas finais do capítulo

Mais esclarecimentos no próximo capítulo! Não esqueça de deixar o seu review (:



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