Não conseguia sequer imaginar que tudo havia corrido tão bem. Quer dizer, teoricamente sim, pois estávamos vivos e com a certeza de que jamais seríamos atormentados pelas forças sombrias dos bruxos Wicca.

- Como está seu tornozelo? – questionava-me Frank, enquanto saíamos da aldeia bruxa. Tentava não olhar para trás, pois, para mim, o mais importante era a vida que seguiria após todo aquele tormento. Sentia-me estranha só de lembrar como tudo aconteceu. Após ter rejeitado as sombras que queriam se apoderar do meu ser, tive que procurar um jeito de salvar Frank e Melanie, ambos estavam sendo cruelmente espancados e torturados pelos integrantes da seita. Aproveitei o resquício de energia que havia em mim e fiz uma pequena prece para a voz do bem
que havia me ajudado a permanecer no lado da luz. “ Por favor, me ajude a livrá-los disso. É minha dívida para com eles, por tudo o que os fiz passar. Por favor. “ Inesperadamente sinto-me preenchida com um poder indescritível, e sem querer perder tempo, parto para cima de todos os bruxos. Um a um vou derrubando no chão, socando e chutando, me sentindo mais forte do que nunca. E aqui estamos nós, vivos e tentando prosseguir como se nada tivesse acontecido.

- Estou bem, é sério. – respondo à pergunta, ao perceber seu olhar impaciente, aguardando pela minha resposta. Frank apenas assentiu, seguro de que tudo ficaria bem. Era o que eu esperava, mas talvez a experiência permaneça para sempre em mim, marcada nas profundezas de minhas lembranças mais sombrias.

Algumas semanas passaram, Frank e eu seguimos com a rotina entediante na faculdade, tirando um pequeno tempo de nosso dia para visitar Melanie em sua lojinha. E foi em uma dessas visitas que descobrimos algo que nos desapontou. Chegamos ao estabelecimento e quando sigo animada até o balcão de atendimento, para lhe revelar que pretendia trabalhar na loja nas férias de verão, me deparo com uma
moça jovem e séria, atendendo uma cliente.

- Com licença. – digo, interrompendo o serviço da jovem, sem me importar com a cliente que esperava impacientemente pelo seu troco. – Onde está Melanie?

A moça apenas franziu o cenho e me observou com cautela antes de responder:

- Sinto Muito, ela não se encontra mais na cidade. Disse que iria viajar, mas não revelou o local para onde estava indo.

Deveria ter ficado triste naquele momento, mas o que me
ocorreu não passou de uma breve nostalgia. Até aquele momento, nunca havia reparado que a presença de Melanie me trazia, de certa forma, proteção. Quando tudo se tornava complicado demais para que Frank e eu resolvêssemos, recorríamos à única pessoa que nos entendia e estava disposta a oferecer ajuda: Melanie. Agora eu entendia que ela havia feito a coisa certa, tentando se desprender de um passado escuro e sofrido. Apenas agradeci à moça do balcão e segui para próximo de Frank, onde dei-lhe a notícia. A reação dele não foi muito diferente da minha, apenas assentiu com a cabeça e seguiu caminhando silenciosamente ao meu lado, absorto em seus próprios pensamentos.