Das 4 Jahreszeiten escrita por Blue Dammerung


Capítulo 2
Capítulo 2: Verschiedene Herzen.


Notas iniciais do capítulo

Outono e Verão.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/135518/chapter/2

Outono. A estação da melancolia, aquela que precede a morte e crueldade do Inverno, personificada na forma de um rapaz de cabelos e olhos castanhos, quase um alaranjado morto que sua estação teimava em ter.

E como sua estação, era tímido, calado, melancólico, um tanto quieto, como se estivesse cansado depois de toda a animação do Verão e agora esperasse como um agouro o frio e o silêncio mortal do Inverno, quase que sempre destinado a permanecer só, aproveitando como um masoquista sua dor, quem sabe uma carência de toques que não tinha coragem alguma de suprir.

E este mesmo Outono estava na Biblioteca do castelo, lendo como se nada mais tivesse para fazer, e na verdade não tinha, um livro qualquer que pegara apenas por pegar. Já tinha lido todos os livros daquele monumental acervo, e quando digo monumental, digo que eram mais de um milhão de livros de todos os tipos possíveis, indo de teses científicas até as obras de fantasias mais antigas que se tem conhecimento.

Como Outono conseguiu todos aqueles livros era um segredo, mas na verdade, não foi ele que conseguiu. Os livros apenas tinham o costume de aparecer em seu quarto, assim, do nada. Assim como roupas apareciam na despensa e comida aparecia na geladeira, dentre outras coisas.

Os cabelos castanhos caíam em cachos por seu pescoço até quase chegar aos ombros, as roupas, discretas, simples, meio que mortas, pouco se contrastavam com o ambiente da biblioteca. Os óculos que usava apenas para ler estavam já na ponta do nariz, e lá fora nevava. Ou seja, tudo simplesmente silencioso ali, mas até gostava daquele silêncio. Um silêncio simples, que não precisava ser preenchido com palavras constrangedoras nem atos impensados. Era apenas ele e o silêncio agradável.

-OUTONO!-Gritou uma voz bem atrás do jovem de cabelos castanhos, fazendo-o pular da cadeira e cair no chão de madeira com um baque surdo enquanto um Verão irresponsável abraçava a barriga de tanto rir.-Você devia ter visto sua cara!

-V-Verão!-Exclamou o menor, levantando-se e espalmando a roupa para tirar a poeira.-O-O q-que está fazendo aqui?-Perguntou então, diminuindo o tom de voz enquanto virava um pouco o rosto para não demonstrar que corava.

-Vim te chamar, oras. Daqui a pouco o Primavera vai assumir. Acho que ele estava no jardim falando com o Inverno, lá fora. Não sei o que ele vê naquele picolé, sou muito melhor que ele.

Outono se voltou para a mesa e fechou o livro que lia, aproximando-se de uma estante e colocando o livro em seu devido lugar, voltando-se para o outro então. Verão era o segundo mais alto dos quatro, e embora fosse o mais jovem, parecia ser alguns anos mais velho que Outono e Primavera, e de longe era o mais atirado. E quando digo atirado, é porque ele vivia dando certas indiretas para o jovem Primavera, que mesmo sendo mais velho, era bem mais infantil e inocente, aliás, era o mais criança de todos ali.

A característica principal do pobre Outono era sua inteligência e seu conhecimento, além de outras coisas poucas como a organização e a limpeza. O que não era o bastante para manter Verão longe.

O ruivo adorava implicar com o menor de todas as formas possíveis, até mais do que implicava com Inverno, o que era muita coisa. Geralmente, sentar para ler um livro e conseguir chegar ao menos no terceiro capítulo era impossível porque Verão sempre chegava e acabava com quaisquer resquícios do que um dia fora uma concentração.

-Deixe o senhor Inverno em paz, por favor.-Murmurou Outono, caminhando para fora da Biblioteca enquanto era seguido pelo mais alto, que tinha um sorriso divertido no rosto.

-Não deixo, não. Aquele cara me dá arrepios, sabia? Te juro como o mundo seria melhor sem ele.-Disse Verão, se apressando para alcançar o outro enquanto agora atravessavam o corredor.-Hey, Outono, o que você acha que aqueles dois estão fazendo sozinhos no jardim?

-Não sei...-Respondeu o menor, mais baixo.

-Não quer descobrir?

-Acho melhor não... Vamos logo para o Salão do Trono.-Respondeu o menor, mas então Verão o pegou nos braços e o jogou por cima de um dos ombros, apressando o passo para o caminho oposto ao Salão, que levava diretamente para o jardim.-M-Me solta! M-Me põe n-no chão!

-Calma, calma!-O mais alto disse, rindo divertidamente.-Vamos só ver o que eles estão fazendo! Estou louco para ver o Primavera se gabando e dizendo que a estação mais chata do ano acabou!

-Mas o senhor Primavera jamais diria isso...-Murmurou quase inaudível.

-Claro que diria! É só você cutucar nos cantos certos.-Sorriu mais Verão, perto do jardim agora, mas ao invés de passar pela porta que levaria ao mesmo, o ruivo passou adiante e chegou numa janela que mostrava perfeitamente todos os lugares do jardim. Parou ali e pôs Outono no chão, que ajeitou as roupas timidamente e guardou os óculos no bolso da camisa, os olhos castanhos evitando olhar pela janela.

-Nós não deveríamos espiar os outros... É errado...-Murmurou, cruzando os braços como se a qualquer momento fosse pego fazendo algo que não deveria nunca fazer, desconfortável.

-Não são os outros, são Inverno e Primavera! Só tem a gente aqui, não tem como existirem segredos entre nós!-Exclamou o ruivo, quase colando o rosto contra o vidro frio da janela, tentando ver o máximo que podia do jardim, e não demorou para que finalmente achasse dois vultos no meio da neve caindo lentamente.-Lá estão eles!

O pobre Outono até tentou sair de fininho, mas ao perceber que o menor estava se afastando, Verão o puxou para si e ficou segurando sua camisa com força enquanto olhava pela janela. Outono até tentou fazer o outro o soltar mas, logicamente, Verão era bem mais forte que ele.

-V-Verão... Me solta... Por favor... É melhor sairmos daqui. O senhor Inverno pode ficar com raiva...-Murmurou o de cabelos castanhos, sempre com a voz um tanto baixa.

-Shhh... Opa! Não acredito! Outono, você precisa ver aquilo... O quê?! Brincadeira! Vou matar aquele Inverno!-Exclamou o ruivo, puxando Outono mais para perto para que obrigasse o menor a ver a cena das outras duas estações lá fora.

-Não quero ver... -Murmurou o menor, colocando as mãos cobrindo os olhos para que não visse, mas Verão, que neste momento estava atrás do de cabelos castanhos, quase que com os corpos colados, tirou as mãos do rosto do menor e colocou seu próprio rosto ao lado do dele, para ver na mesma altura do outro.

-Eles estão... Abraçados? Caramba... Aquele Inverno maldito vai me pagar!-Exclamou o ruivo, embora Outono soubesse que aquelas ameaças sempre eram em vão.

Ambos ficaram olhando a cena de longe, e depois de alguns minutos, quando viram Inverno aproximar seu rosto até colar com o de Primavera, ficaram fitando aqueles dois juntos sem acreditar.

-O que... Eles se... B-Beijaram?-Sussurrou Outono, ainda com medo de ser descoberto, e aí veio um mal pressentimento. O de cabelos castanhos ergueu seu olhar para Verão, que agora tinha se posto de pé, mas ainda estava atrás do menor. O ruivo tinha no rosto um semblante pensativo mas que rapidamente mudou para um outro semblante conhecido para Outono, assim como aquele sorriso malicioso e os olhos brilhando perigosamente.

-Outono...-Chamou, com o sorriso malicioso expondo os dentes brancos e enfeitando a face perfeita.-O que você acha de...

-N-Não, não não!-Exclamou o menor, já começando a correr para longe dali enquanto Verão também o seguia correndo.

Para qualquer um que não tivesse passado mais de um século com Verão, não conseguiria prever o que o ruivo iria pensar, mas Outono já tinha bastante prática naquilo. Verão era, como podemos dizer, o mais “humano” dentre os quatro, aquele que tinha mais impulsos, o mais enérgico e o mais “jovem” de todos eles.

Por isso, assim que o pobre Outono viu aquele sorriso, os olhos brilhantes e aquela voz soando tanto como um convite quanto como uma ameaça, o de cabelos castanhos correu o mais veloz que pode.

Às vezes Verão se tornava um tanto incontrolável, principalmente quando ele via coisas que já sabia sendo postas em prática pelos outros, ou seja: Um beijo.

-Outono!-Exclamou o ruivo, tentando se aproximar do menor, coisa que em poucos segundos conseguiria fazer graças ao comprimento das pernas e o porte atlético com o qual simplesmente nascera.-Vou te pegar!

O pobre Outono, que vez por outra acabava caindo nas garras do Verão, corria agora como se sua vida dependesse disso. Ele sabia que Verão sempre teve algum tipo de obsessão por ele, já que nunca, em hipótese alguma, o deixava em paz, nem mesmo quando se juntavam para comer, mas rezava que essa obsessão não fosse uma obsessão tão destrutiva.

-Me deixe em paz!-Gritou o menor, instintivamente corando enquanto fugia apavoradamente, mas como já era previsto, não demorou para que Verão o alcançasse, embora para fazer isso tenha acabado se jogando sobre o menor, o que fez com que caíssem no chão, o ruivo por cima do moreno.

Outono soltou um gemido de dor enquanto Verão o virava para que ficasse de barriga para cima, mais vulnerável ao mais alto.

-Calma, Outono! Não vou te matar nem nada assim, só quero testar uma coisa!-Explicou Verão, rindo ainda maliciosamente sobre o outro.

-N-não! F-fique longe d-de mim!-Exclamou Outono, corando enquanto tentava inutilmente tirar o outro de cima de si, batendo em seu peito, o que naquele momento era impossível.

-Não seja estraga prazeres! Não vai doer, eu juro!

-Por que faz isso comigo?! Por que você não me deixa em paz nunca?! Por favor, me solta, me solta!-Exclamou o de cabelos castanhos, os olhos começando a umedecerem, segurando a todo custo o choro que prendia-se em sua garganta.

Verão então se afastou um pouco do menor, embora ainda ficasse sobre ele, só que sem sorriso algum, talvez um semblante de arrependimento e decepção.

-Não quis te machucar.-Disse o ruivo.

Olha, me perdoa, eu nunca quis te machucar. Se faço todas essas coisas contigo é porque não vejo outra forma senão esta de você me notar, porque sei que você, com todas essas características tão opostas às minhas, nunca iria querer sequer se aproximar de mim. Sei o quanto isso pode soar convencido e chato, eu sei, você deve achar que tudo que vem de mim deve ser convencido e chato não por culpa sua, mas por minha, eu sei, mas acredite, te machucar nunca, em momento algum, esteve nos meus planos. Aliás, a única coisa que estava nos meus planos e te envolvia era tentar ao máximo fazer você sorrir para mim”.

O de cabelos castanhos desviou o olhar diante do novo tom de voz do Verão, preferindo fitar a parede do corredor ao invés dos olhos verdes escuros do ruivo. Verão sempre o importunou de todas as formas possíveis, mas pareciam haver horas que ele pensava, que apenas não agia por impulsos. Pareciam haver horas em que ele realmente se importava com as pessoas, com seus amigos. E o menor não poderia negar que aquele tom em seus ouvidos até chegava a doer, como se sentisse um arrependimento por ter tratado o maior tão mal... Mas tinha realmente o tratado mal?

-Desculpa, Herbst.-Murmurou Verão, pronunciando o primeiro nome verdadeiro de Outono, a voz ainda arrependida.

-Posso levantar, por favor?-Perguntou o menor, se tocando que ainda estava com as mãos sobre o peito do outro, empurrando-o para cima, mas que agora apenas estavam ali, sentindo o toque da pele sob o tecido, quente, confortável.

Verão se apoiou nos joelhos e se pôs de pé, se afastando então do menor e rumando para algum lugar qualquer do castelo, em silêncio, o que era um fato deveras estranho para a criatura mais barulhenta daquele lugar.

O que acabou por fazer o pobre e inocente e tímido Outono se culpar. Teria ele sido realmente rude demais? Verão sempre lhe importunou, mas nunca tinha sido tão mal-educado com ele antes. Talvez... Não, Verão um dia levaria uma bronca de si, até porque eles moravam juntos, então era impossível um evitar o outro.

Embora não pudesse negar que o semblante triste do outro lhe doera um pouco o coração. Ou talvez não tão pouco assim.

O de cabelos castanhos se levantou e rumou para o Salão do Trono, aonde deveria esperar pela posse do Primavera, que ainda deveria estar no Jardim com o Inverno. Sem o Verão lhe perturbando o tempo inteiro, tudo parecia estranhamente, até um pouco agourento, calmo.

Tinha certeza que o ruivo chegaria atrasado para a Cerimônia, o que era o cúmulo porque todos moravam juntos e tudo acontecia no mesmo castelo, no mesmo lugar. Era difícil sair do quarto um pouco mais cedo ou então se apressar nos corredores apenas para chegar na hora?

E pensando nesses assuntos, o de cabelos castanhos não percebeu que havia virado um ou dois corredores e que agora tomava o mesmo caminho pelo qual Verão tinha ido, em direção ao terraço do castelo, aonde a noite podia-se ver a enorme lua e de dia podia-se até cegar-se com o sol.

Inconscientemente procuro por ti como quem procura algo a muito perdido ou como quem procura algo que sequer perdera, mas que procura porque apesar de não ter perdido, não encontrara ainda aquele outro eu, aquele que realmente é tu, aquele que ainda me faz perder algumas noites de sono, aquele que me faz sentir desconfortável e nervoso, aquele que se esconde por detrás dessa tua máscara infantil e irresponsável que tudo faz para chamar minha atenção, mas só tu não sabes que toda minha atenção, todo meu eu, tudo é teu”.

E então o encontrou ali, Verão, no terraço, de pé, apenas olhando as estrelas. Às vezes Verão até parecia ser inteligente, parecia mais com um ser racional. O de cabelos castanhos não sabia se deveria se aproximar ou não. Deveria? Ou será que deveria apenas ir embora dali, fingir que nada aconteceu e enterrar todos os “talvez”, todas as possibilidades de que algo mais surgisse daquela relação tão conturbada e oposta?

Era possível ver o Jardim dali também. Inverno e Primavera deveriam estar escondidos sob alguma árvore ou até mesmo adentrando o castelo porque em canto algum eram vistos.

Por que apenas não ir embora? Sentia que se fosse embora perderia algo importante, mas não ao certo o que era. Claro que Verão o assustava, muitas vezes temia seu ego, sua vivacidade, sua energia, temia sua adoração pelo fogo e pelo calor. Era como se o pobre Outono tivesse medo de ser queimado pelo outro, de ferir-se após se aproximar.

E mesmo recuando um pouco para tentar, ao menos tentar sair dali, acabou escorregando no gelo que se acumulava sobre o terraço e caiu sentado no chão, fazendo um barulho alto. Pelo menos o clima já tinha ficado bem menos frio, e o resto de neve que ainda teimava em cair mal influía em nada.

-Outono?-Perguntou Verão, se virando, as mãos nos bolsos da calça jeans e a camisa vermelha se destacando contra o céu ainda cinza.

-V-Verão.-Murmurou o menor, pondo-se de pé com um pouco de esforço e então espalmando as roupas para tirar o restante dos flocos de neve de si.-Eu... Não sabia que estava aqui, desculpe.

-Já estou indo.-Disse o ruivo, se aproximando e passando pelo menor, mas Outono o segurou pela manga da camisa, num pedido mudo que esperasse mais algum tempo.

-Eu... F-Fui muito rude?-Perguntou apenas corando e gaguejando.

-Você? Comigo?-Então Verão riu, divertido.-Se aquilo é ser rude, então eu sou a criatura mais irritante do planeta.

-Mas... E-Eu magoei v-você?

-Por que quer saber, assim, de repente?

-É que... Passou a me importar...-Diminuiu a voz, desviando o olhar, tímido e constrangido.

-Importar?

-P-Passou a me chamar mais... Atenção.-Disse o menor, corando.-Desculpe...

-Não desculpo.-Disse Verão, mais sério e buscando olhar nos olhos castanhos do menor, mas este fitava o céu ao longe.-Não tão fácil.

-C-Como não? Mas você vive fazendo isso comigo!-O menor reclamou, o que fez o ruivo rir um pouco mais alto.-Você adora me perturbar e... Fazer piadas de mal gosto e... Brincar comigo como se eu fosse apenas um brinquedo qualquer!

-É minha forma de...

-De o quê?! De torturar?!-Exclamou o menor, um tanto confuso e com raiva.

-De dizer que te amo.

O menor calou-se então, instintivamente virando o rosto para fitar o ruivo, que pela primeira vez exibia um sorriso diferente, mais caloroso, só que aquele era um calor bom, não perigoso, apenas bom. Agradável, gostoso de sentir na alma.

O de cabelos castanhos corou novamente enquanto desviava o olhar dessa vez para o chão repleto de neve, embora ainda segurasse a camisa do maior. Queria dizer algumas coisas a ele, mas preferiu calar-se, sua sempre presente timidez ganhando a luta, embora de uns tempos para cá ela tenha perdido terreno para outro sentimento, outra característica... Afeição? Amor, quem sabe?

-Eu te amo, Outono.-Murmurou o outro, virando o menor para que este ficasse bem para frente de si, levando uma das mãos até seu rosto e o erguendo um pouco, para que olhasse em seus olhos.-Te amo loucamente.

Te amo não por causa da sua inteligência, não por causa desse teu rosto que me faz pensar apenas em coisas boas, não por causa destes teus olhos que me fazem lembrar madeira jovem e tampouco esses teus cabelos que carregam um cheiro agradável de folhas caindo. Não, te amo por tudo isso e por mais uma porção de coisas que fazem você ser apenas você. Amo essa tua pele avermelhada quando te toco assim, amo teu nervosismo diante de mim, amo teus atos, tua voz, teu cheiro, amo tudo que é você e tudo que é feito por você. Amo-te todo e inteiramente”.

-N-Não diga essas coisas...-Murmurou o menor, querendo se afastar do outro, mas Verão não permitiu, o sorriso divertido voltando a aparecer na face brincalhona.

-E o que quer que eu diga? Vamos, eu digo qualquer coisa que você quiser, qualquer coisa!-Exclamou o mais alto, pegando o menor por debaixo das axilas e o erguendo do chão para sentá-lo sobre o parapeito do terraço, o que acabou fazendo o menor se agarrar com mais força às mãos do ruivo, temendo cair, uma vez que passando daquele parapeito nada mais havia senão o próprio ar e a neve caindo lentamente.

-Me tire daqui! Por favor!-Exclamou o de cabelos castanhos, apavorado, mas toda vida que se jogava para frente, tentando pousar de novo no chão do terraço, Verão fazia questão de mantê-lo parado aonde estava, tendo as mãos firmes agora em sua cintura.

-Não vou deixar você cair, calma!-Riu o ruivo, divertido como se adorasse a expressão temerosa do menor, que agora batia com suas mãos consideravelmente menores nos braços e então no peito do mais alto.-Não vou te soltar!

-Por favor, me deixa descer!-Implorou o menor, os cabelos castanhos encaracolados agora caindo sobre o rosto, os olhos suplicantes.

-Não me diga que tem medo de altura, Herbst! Não acredito que o senhor das folhas que caem dos galhos altos tem medo de altura!-Brincou.

-É que... Bem... Só me ponha no chão, por favor, por favor...!-Pediu novamente o menor e mais velho, mas Verão o ignorou e acabou por se aproximar mais alguns, deixando que apenas alguns centímetros os separassem, agora rente a altura do outro.

-Não vou deixá-lo cair, eu prometo. Posso ser um tanto irresponsável...

-Ou muito.-Murmurou o menor.

-Mas não vou deixar você se machucar!

Não percebe que tudo que faço, bem no fundo, é relacionado a você ou então relacionado a alguma coisa que possa te fazer bem? Não percebe que além de todas as coisas, além dos meus próprios desejos, além de mim e de todos, além de tudo que até você possa imaginar, vem você? Você e apenas você, pelo qual eu daria tudo de bom e de ruim que possuo, todas as qualidades e os meus defeitos sem sequer hesitar porque seria por você, e sendo por você e apenas por você, nada parece ruim, o contrário, parece o mais belo e apaixonado dos atos”.

O menor sentia as mãos quentes do outro mesmo sobre o tecido de suas roupas, deixando que o calor se espalhasse por toda sua cintura enquanto o ruivo continuava olhando em seus olhos castanhos.

Parecia querer mergulhar ali, passar todos os anos e décadas e séculos que fossem apenas para descobrir o padrão daquele castanho que não era um simples castanho, mas o castanho, aquele que mesmo sendo da mesma cor, se destacava de todos os outros, o mesmo castanho que coloria os cabelos do Outono, tão macios e agradáveis assim como as folhas que caem, mortas, em sua própria estação, mas que mesmo mortas eram belas.

Era um tanto melancólico, tudo aquilo.

E talvez fosse por causa daquela melancolia que Verão sentia-se, e sempre se sentira, tão atraído por Outono. Era como se pelo fato de serem estações, Verão, a estação da energia, tivesse que doar um pouco de toda sua vivacidade para o pobre Outono, sempre tão melancólico, calado, meio morto.

Não era à toa que ele se parecia com Inverno.

-Hey, Outono, eu te coloco no chão se me der um presente.-Murmurou Verão, o sorriso malicioso rapidamente surgindo no rosto.

-E que o você quer?-Perguntou o pobre Outono, cansado, com frio, chateado e ainda por cima sentindo-se humilhado diante do outro. Logicamente tímido e constrangido.

-Quero que me dê um beijo.-Riu o ruivo.

-O-O quê?!-Exclamou o menor, corando automaticamente e desviando o olhar, mas uma das mãos do Verão saiu da cintura do menor e novamente foi para seu queixo, virando seu rosto para que se olhassem nos olhos.

-Você ouviu.-Murmurou, não rindo, mas se aproximando de algo que chamava ser sexy.

-N-Não p-posso fa-fazer isso.-Gaguejou o menor, tentando novamente pousar no chão do terraço mas Verão não permitia.

-Prefere que eu faça então?-Sugeriu o ruivo, o sorriso malicioso alargando-se.-Você sabe que quando começo, só paro quando chego ao final.

-D-Do que vo-você está fa-falando?!-Exclamou o menor, corando mais ainda, se é que era possível, fazendo o outro divertir-se.

-Você que escolhe.

-Mas...

-Vou contar de um até cinco.

-Verão...

-Um... Dois...

-Não tem outro jeito...

-Três... Quatro...

-Por favor...

-Cinco e...

Mas antes que o ruivo terminasse, sentiu um rápido toque em seus lábios, o que o fez parar de contar e ficar encarando o vazio por alguns segundos enquanto abaixava a mão do queixo do outro. Era tão... Outono, aquele toque em seus lábios.

O toque não era doce, mas não era salgado. Lembrava uma estranha saudade, uma curiosa melancolia que fazia tudo adquirir uma cor antiga, uma cor de algo a muito esquecido, que mais uma vez lhe lembrou as folhas de bordo caindo no chão, o vento frio do Inverno anunciando a chegada da nova estação.

Mas era incrível como mesmo assim, mesmo com todas aquelas características que provavelmente eram maus agouros, aquele toque fora inesperada e incomparavelmente bom. Agradável. Diferente. Quente. Calmante. Um tanto acolhedor e um tanto... Tinha que tentar de novo para descobrir.

-Chama isso de beijo?-Sorriu o ruivo, agora novamente fitando o de cabelos castanhos.

-É que... Eu... Ahm... Eu... N-Não ficou bom?-Perguntou o menor, receoso tanto que Verão decidisse tomar as rédeas de tudo aquilo quanto de que o ruivo não tivesse gostado, fato que, por alguma razão, o incomodava.

-Mais devagar. Prometo que vou ficar quieto, imóvel assim como uma estátua.-Riu o ruivo, ficando parado e também fechando os olhos, inconscientemente contando os segundos em sua mente.

E lá veio novamente o toque, dessa vez mais calmo, menos apressado e menos receoso, embora ainda muito nervoso. E novamente, Verão sentiu todas aquelas coisas que sentira no primeiro toque, só que dessa vez, mais intensamente. E adorou, como se acabasse de descobrir uma droga nova.

E mesmo de olhos fechados, podia sentir os lábios de Outono sobre os seus numa timidez tão grande quanto torturante para o mais alto, que se segurava para manter sua promessa e continuar parado ali.

Como não nota o efeito que tem sobre mim, como pode não notar a forma como seus pequenos gestos reverberam em todo meu ser, como pode não notar que para mim seus atos não são apenas atos e sim coisas maravilhosas que eu admiro profundamente? Muito embora não te diga por que tenho medo que acabe rindo de toda essa admiração e cuidado que tenho por você. Como pode não perceber que te quero acima de tudo, que sempre te quis, mas que agora te quero com uma intensidade tão incrível que chego até a me assustar. Como pode não notar o fato de que apenas os teus lábios e a tua pele e o teu corpo e tudo que faz parte de ti são capazes de diminuir ou até aumentar essa chama que carrego dentro de mim e que arde, dentre todos os outros, arde apenas e somente por ti?”.

E mesmo que apenas juntassem os lábios naquele beijo tão doce quanto puro ou tímido, mesmo que só tenha durado alguns pares de segundos e então Outono tivesse se afastado e Verão tivesse aberto os olhos, estava tudo bem.

Porque Verão sorriu aquele sorriso caloroso e bom novamente enquanto Outono, por incrível que pareça, esboçou um sorriso enquanto corava ainda mais.

O ruivo então se aproximou mais, levou uma de suas mãos até a nuca do menor, colocando-a sob seus cabelos enquanto levava a outra até suas costas. Mãos quentes, agradáveis, que pareciam querer proteger o de cabelos castanhos a todo e qualquer custo.

-Posso tentar agora?-Perguntou o ruivo.

E Outono, mesmo que quisesse ir embora, mesmo que quisesse sair dali, mesmo que quisesse afastar o outro, ficou e afirmou com a cabeça, fechando os olhos e sentindo o toque quente do outro sobre seus próprios lábios enquanto tinha certeza que o ruivo jamais o deixaria cair.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aew? Gostou? Quital uma review antes de partir para o último chap?