Ouço o barulho do vento que, forte, faz uma das ultimas folhas de uma árvore cair. O inverno se aproxima. A batalha... Também.

Estou no topo de uma colina sob treino. A grama está verde e macia e eu atenta a qualquer tipo de ataque. Viro-me rapidamente para a direita ao ouvir um barulho nessa direção.

Vejo Jhonson se aproximando lentamente com uma espada de madeira em mãos. Ele para de frente pra mim e ficamos nos encarando, então o grandalhão corre em minha direção e me ataca. Defendo-me com minha espada feita do mesmo material.

Ele se prepara para um novo golpe. Dá-me uma investida, perco o equilíbrio e caio no chão. Dou-lhe uma rasteira assim que se aproxima, ele perde o equilíbrio, mas permanece de pé. Levanto rapidamente e tento acertar sua perna, ele defende. Afastamos-nos e então ele corre em minha direção e pula levantando a espada pronto para me atingir. Sua guarda está aberta. Miro em seu peito, ele abaixa espada e se defende. 

As armas ficam em atrito e a força era o desempate. Não ganharia daquele jeito. Retirei a espada e tentei acertá-lo na barriga, ele defende e me ataca. Seu alvo é minha cabeça. Me esquivo do ataque e me preparo para revidar.  Uma sequencia de golpes e defesas para os mesmo se inicia.

Ficamos algum tempo em conflito até que resolvo acabar com aquilo. Afasto-me e corro em sua direção com a espada em punho, a manejava com apenas uma mão. Acerto sua costela direita, ele se curva para o lado atingido e tenta revidar o golpe subindo sua arma em diagonal. Defendo e desvencilho minha espada da dele. Mais um choque das armas e outros vêm em seguida até eu achar uma abertura, e quando acho esforço-me para ser o mais rápida possível.

Estava ao lado de Jhonson e quando vi a abertura lhe dei um golpe com o cabo da espada nas costelas já antes atingidas. Ele novamente se inclina para o lado acertado, enquanto isso giro para trás dele e acerto a parte detrás de seus joelhos. Sua perna fraqueja então ele cai com um golpe que lhe dou nas costas. Coloco a espada sobre seu pescoço e ali a mantenho até que digam que a luta acabou.

Guardo a espada e ajudo Jhonson a levantar. Olho para meu professor de esgrima que se aproximava de nós.

- Não acredito que perdeu pro Carter de novo, seu marica! - disse Hammel à Jhonson.

– Perdão mestre.

Hammel pegou minha espada e deu um forte golpe no braço de Jhonson, em seguida se virou para mim.

– Saia daqui! Vá treinar seu maldito arco garoto. Parece que alguém se esqueceu como se luta de verdade. - disse estralando o pescoço e se referindo à seu pupilo.

– Mestre Hammel, senhor...

– Sim, está melhorando Carter, agora saia logo daqui antes que o entregue à Webb.

Sorri e corri para minha cabana. Ao entrar vejo os gêmeos jogados em suas camas e Sebastian admirando uma espada. Ao me ver entrar ele fala comigo:

– Eu vi você com o Jhonson mais cedo.

– Seu xará? - dei uma risadinha - Sim, estamos treinando desde bem cedo.

– Você está bem melhor na espada.

– Eu sei. Ganhei duas vezes do Jhonson! - ele sorri. - Você não deveria estar jogado como os gêmeos?

– Não sou tão molenga como eles.

– Molenga? - se pronunciou Flyn - O Webb nos odeia. Aquele cara é louco!

– Já treinei com ele, seus treinamentos são puxados mesmo. - respondi.

– Porque você não está lá como a gente? - perguntou Fitzwilliam.

– Eu ainda tenho a dispensa que Campbell havia me dado, além disso, minha antiga mestra Leyla fez questão de me deixar treinando com Mark, já que ela não pode fazê-lo.

– Isso não é justo! - reclamou Flyn.

– Ora, cale a boca e pare de reclamar. Os treinamentos de Jamie parecem piores que os nossos e ela é mulher! Nem por isso estou ouvindo-a reclamar. - me defendeu Sebastian.

– Ele tem razão Flyn, ela tem aula de esgrima com Hammel! Até parece que você nunca ouviu falar dele! - disse o gêmeo.

– Até que não é tão ruim, tem dias que Hammel está de bom humor, hoje, por exemplo, ele nos deixou usar espadas de madeira! - disse rindo. - Bom, só vim beber um pouco d'água. - disse já pegando meu cantil e tomando um gole - Vou me encontrar com Mark agora.

– Boa sorte. - desejou Sebastian.

Sai da cabana e fui em direção ao local onde treinávamos, não era perto do rio onde eu costumava ficar com Campbell, era num campo de treino de arcos mesmo. Cheguei e Mark já estava lá.

– Olá Jamie.

– Mestre.

– Como foi com Hammel?

– Creio que estou melhorando senhor. - sorri.

– Ora, isso é bom... Jamie acerte aqueles alvos, sim?

Fiz o que meu mestre havia mandado e acertei os alvos que eu diria estarem a mais de 30m de distância. Virei-me para Mark.

– Era como eu imaginava...

– Senhor?

– Você está ótimo com o arco. Não vejo necessidade de lhe ajudar mais com ele. De hoje em diante você treinará essa arma sozinho. - abri um sorriso enorme abaixei a cabeça.

– Obrigado mestre. Fico lisonjeado com---

– Não pense que o tempo que usa para o treino com arco será lhe dado para descanso. Resolvi substituí-lo por outra coisa. Estava pensando em lhe ensinar como usar uma lança ou um bastão talvez. Pode escolher o que mais lhe agradar.

– Bem, creio que a lança é mais utilizada nas batalhas, certo? - ele assentiu com a cabeça. - Porém, em homenagem ao mestre Campbell, escolho aprender a usar o bastão.

Mark sorriu e apontou para o lugar onde estavam as armas, pediu para que eu pegasse dois. Entreguei-lhe um e o outro segurei.

– Temia que escolhesse o bastão. - deu uma risadinha - Não sou melhor do que Campbell com ele, mas posso lhe ensinar o que sei e o que meu fiel amigo me ensinou.

Fiz que sim com a cabeça então começamos o treinamento. Primeiramente Mark me ensinou a segurá-lo adequadamente, a postura correta e alguns ataques básicos.

Quando o sol se pôs e o céu se fez escuro terminamos o treino. Enxuguei o suor da testa e fui mancando de volta para a barraca. Havia apanhado de Mark como apanhei de Campbell da primeira vez que nos enfrentamos, da primeira vez que nos conhecemos... Mas desta fez eu não fiquei fugindo e me escondendo atrás de árvores, fiquei e tentei me defender o quanto pude.

Deitei em minha cama e fiquei olhando para o teto da cabana. Onde será que meu mestre estava? Meu VERDADEIRO mestre... Já haviam passado mais de três meses que não tinha notícias do mesmo. Faltavam apenas algumas semanas para que o Rei nos enviasse à Escócia para tomar o território que era nosso por direito. Será que até lá nos reencontraríamos? Deus queira que sim...

Fecho os olhos por uns instantes então os abro novamente.

– Jamie? Está acordada? – perguntou Sebastian.

– Sim.

– Você realmente pretende ir à guerra?

Fiquei em silêncio por um instante, mas logo respondi:

– Sim, por quê?

– Você sabe por quê...

– Sebastian, há algum tempo atrás eu não queria nada disso. Não desejava estar nem perto de soldados e de guerra. Mas agora, depois de tudo que passei, vejo que não há porque não lutar pelo meu país. Sou tão capaz quanto qualquer um aqui e—

– Mas você não precisa fazer isso. Quero dizer, está colocando sua cabeça em risco.

– Se eu for embora também estarei colocando... Mas porque se importa agora?

– Como?

– Antes você mal me dava atenção.

– Talvez eu tenha percebido sua situação...

– Não se preocupe. Eu gosto disso... Sinto-me útil e sei que sou capaz.

Sebastian ficou quieto. Não me respondeu mais nada. Mas ainda assim me ouviu cochichar:

– Além disso, se eu ficar, ainda tenho chances de rever meu mestre...