A Lenda de Jamie Carter escrita por Live Gabriela


Capítulo 50
O escritor


Notas iniciais do capítulo

Capitulo escrito por Mateus Scofield e narrado por Ryan Campbell



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– Senhor Campbell?

Abro os olhos.

– Hora de dar um passeio.

O homem desconhecido me solta da estrutura de madeira e me leva para dentro das sombras. Russel olha para nos enquanto sumo nas trevas. Ele havia chorado por toda a noite.

Passamos por uma grande porta de madeira e depois o homem foi me arrastando pelo corredor. Eu não estava preso por nada, era como se o homem soubesse que eu não havia chance de fugir ou algo do tipo.

No corredor haviam suntuosas janelas, a vista era perfeita, bem ao longe eu podia ver o burgo. Havia um maravilhoso sol visível daquele mirante.

– É aqui senhor Campbell. – disse o homem me empurrando para dentro de uma sala. Na verdade uma grande biblioteca. No centro dela duas cadeiras. Uma vazia e e outra com alguém sentado... Lorde Castélio.

– É um prazer revê-lo senhor Campbell.

Permaneci em silencio. Pude ver do outro lado da sala um jovem escriba registrando algo.

– Curioso com meu escriba senhor Campbell? Não compreende a profundidade e importância do oficio não é mesmo? O que é um escriba afinal? Apenas um idiota que sabe escrever?

Na verdade compreendia de certa forma a profissão. Quando jovem já me interessei pela escrita, mas não tinha muito jeito com ela para seguir a carreira, alem disso as pensões do rei a escritores eram muito baixas e minha família necessitada. Havia abandonado totalmente o oficio, retornei a escrever novamente apenas recentemente a pedido de Deimmem Blase, afinal eu era o mais gabaritado para registrar os seus feitos fabulosos.

– Acho que compreendo um pouco senhor Castélio.

– , isso é maravilhoso! Você acha que conhece o mundo! Por que não se senta cavalheiro?

Olho para o acento e faço sinal afirmativo me sentando a frente de Castélio logo em seguida. Ele estava tão perto, eu sentia uma vontade tremenda de saltar sobre o pescoço do desgraçado. Seria tão fácil...

– Por que me olhas tanto senhor Campbell? Pretende me matar?

Sinto um frio na espinha.

– Imaginei. Saiba que não é o único Senhor Campbell. – disse Castélio fazendo um gesto para o homem que havia me trazido até a porta. – Mas saiba que não daria em nada...

– O que quer dizer Castélio?

– Não imagina Campbell? Simples filosofia: “A natureza abomina o vácuo”. Já ouviu isso antes? Foi Aristóteles quem disse. Conhece Aristóteles cão?

– Já ouvi algo sobre...

– Aposto que já. Bom, como eu lhe dizia... Me matar aqui seria improlífico, você seria morto em seguida, ou capturado e deixado para apodrecer na sala escura. E bem, alguém tomaria o meu lugar e faria exatamente o que faço agora, porque é assim que as coisas funcionam.

– O que quer dizer?

– Não percebe? É a mesma razão pela qual ainda vive Campbell. Não há sentido para mim na sua morte pois a natureza colocaria outro em seu lugar, você tem mais sentido vivo e morando ao meu lado.

Bufei sem entender.

– Está louco? Nunca aceitarei tal ocupação.

– Hora, Hora senhor Campbell, você não aprende... Quando vai entender que para você não existe escolha? Você já esta me ajudando nesse exato momento.

– Está louco Castélio? Não estou te favorecendo em nada e pode apostar que não vou. Sou um cavalheiro honrado pela minha causa.

– Tem certeza Campbell? Não se lembra do que aconteceu quando levou a facada no burgo?

– O... O que?

– É Campbell, eu mesmo o coloquei em minha carroça, tinha um médico lá, ele levantou a sua blusa e na frente daqueles fétidos macaquinhos começou a te tratar, afinal é isso que se faz com um membro de minha corte, General Campbell.

– O que está dizendo?

– Pois é Campbell, fazem três dias desde que você foi eleito como meu principal General e meu braço direito na tentativa de manter o controle dessas terras. Pode perguntar a qualquer um do burgo, eles viram a hora em que discursei agradecendo-os por terem encontrado meu general. Devo dizer que ficaram meio confusos quando lembraram que eu havia mandado cortar a sua cabeça a menos de quatro horas, mas sabe como são as coisas não é mesmo? Nesse mundo podre e inculto a informação está na mão de pouco e na memória de muitos, acontece, que se você tem a informação correta... A memória é suprimível.

Levanto-me bruscamente.

– O que está me dizendo Castélio? Está me dizendo que enganou todas aquelas pessoas para parecer melhor do que realmente é?

– Só vê agora ser ignóbil? Não me faça me arrepender de ter te dado o cargo de General.

– Não! Não posso participar disso! Não sou parte de uma mentira coletiva.

– Mas já faz meu colega... – o homem que antes estava na porta entra na biblioteca e dá a Castélio um livro e um copo. – O que vê por aqui é só a ponta de uma enorme cadeia de montanhas... Sou apenas um dos detentores da verdade, e nem é toda ela. Deveria saber Campbell. Não vivemos mais nos tempos inocentes de Roma, a cidade dos deuses caiu como o peso pagão que representava. Vivemos na era da imbecilidade, todo o conhecimento que haveria de estar nos livros está guardado em bibliotecas como está, disponível para Lordes, duques, reis e príncipes. Nos mandamos nele.

– Isso, isso não faz sentido! Por quê? O que essa manipulação tem a ver comigo? Por que ainda estou vivo? Por que quer destruir o burgo?

– Já esperava essa falta de visão em um camponês como você senhor Campbell... não percebe? Te ovacionei publicamente, agradeci por encontrar você vivo, cuidei de suas feridas e o nomeei meu General. As pessoas no burgo que conviveram todo esse tempo com você devem estar me adorando nesse exato momento, esperando que eu volte para trazer mais deles para o meu Castelo, torcendo por trocar aquela vida profana de comerciantes sem terras pelo que você tem aqui. Riqueza, mulheres... Poder! É claro que retirar a idéia de que sou um mostro da cabeça deles é um pouco difícil, mas se estes idiotas mesmo se lembrando dos meus ataques ao burgo já engolem meu heroísmo, imagina daqui a anos! Quando os únicos registros forem os escritos por mim nessa biblioteca? Lorde Castélio será um herói tão grande quanto Ulisses ou Aquiles! Castélio será um dos messias do senhor.

– Se você se diz tão poderoso Castélio, se diz poder ser um “messias”, por que perdes tempo com o burgo? Aquelas pessoas nunca te enfrentaram, nunca te ofenderam.

Ele pula na minha direção e me empurra de volta a minha cadeira de pedra, eu estava fraco pois não comia a dias, não pude revidar.

– PORQUE ELES SÃO UMA AMEAÇA APENAS POR EXISTIREM! – ele se afasta de mim – A muito tempo tento não enfrenta-los de frente para não criar noticia sobre o local, manter-lo tão anônimo o quanto um lugar daquele pode ser mas então surge você! O herói reluzente! Sem espadas, apenas com um bastão, o nobre herói buscando a sobrevivência de uma terra de ninguém. A principio você me irritou, pensei em mata-lo mas quer saber? Outro viria no seu lugar, então te manter vivo e corrompe-lo vai ser uma maior utilização de seu símbolo. A natureza abomina o vácuo.

– Nunca vou me deixar ser seu cão Castélio! Meu nome é Ryan Campbell, aluno de Ste—

– Ta,ta, que seja... Homens... Levem Campbell às janelas.

– O que?

Varios cavaleiros de armadura entram na sala e me pegam pelo braço, contra a vontade eles me levam até uma das janelas. Ouço do lado de fora do castelo um uníssono, um coro de vozes murmurando algo. O que seria aquilo?

Sou empurrado contra a parede onde se localizava a janela, olho para fora e vejo MUITAS pessoas na praça principal da cidade, elas urravam com orgulho o nome de Castélio. Pude ver de outra janela do castelo Gasper assistindo ao tumulto com um orgulho nos olhos. Castélio para na janela ao meu lado e então levanta os braços. A multidão enlouquece.

– < OLÁ PORTUGAL!>— todos gritavam loucamente - < SEU SENHOR OS SAUDA!>— Todos gritavam o nome de Castélio em coro. - < POBRES CIDADÕES! ESTOU FELIZ POR TE-LOS AQUI HOJE PARA TESTEMUNHAR A EXECUÇÃO DE EDUARDO RUSSEL! ESSE TRAIDOR INFIEL QUE MATOU HORRIVELMENTE MUITOS HOMENS DURANTE UMA NOITE A QUASE UMA SEMANA ATRÁS! HOJE, EU, LORDE CASTÉLIO, MUNIDO DA JUSTIÇA DADA A MIM PELO PRÓPRIO DEUS NOSSO SENHOR RETIRO A VIDA DESSA AMEÇA HABILIDOSA COM ARCO, DESSE INFIEL PACTUADO COM A BESTA! EU, SEU SENHOR LORDE CATÉLIO>!

Eu não fazia idéia do que Castélio falava, mas uma coisa era fato. Aquilo era uma decapitação publica e o decapitado já estava no centro da praça, seu nome: Eduardo Russel. O homem que me ajudou, o homem que só estava naquele lugar única e exclusivamente por culpa minha.

Castélio volta a falar. Não entendo o que era, estava em português, ouvi apenas o meu nome sendo mencionado e Castélio apontando na minha direção. Minutos depois todos estavam gritando o meu nome, batendo palmas. Me agradecendo...

Castélio se vira para mim, os homens dele estavam tão grudados em mim que eu não conseguia me mexer.

– Fique feliz Campbell, afinal acabei de falar para eles quem foi o herói responsável pela execução que ocorrerá lá em baixo. Para eles você é um herói agora. Alias, pode tentar me desmentir o quanto quiser, duvido que algum deles fale inglês.

– CASTÉLIO!

Ele dá as costas e sai andando. Olho o uníssono e tento gritar que Castélio estava mentindo, as pessoas em baixo sem entender nada apenas batiam palma enquanto eu tentava me comunicar.

Um homem grande com um enorme machado na mão coloca Russel agachado no chão, a atenção e os gritos de fúria se voltam ao centro da praça. Russel parecia rezar. Provavelmente à sua amada Marieane, mas era lógico que ela não iria interferir.

– RUSSEL! – Eu gritava desesperado enquanto via tudo se passar em volta de mim em câmera lenta. Russel abaixa a cabeça. – RUSSEL!

O homem com o machado estala o pescoço e então levanta a arma.

– RUSSEL!!!

O machado desce então corta... O pé do Carrasco com machado.

O urro do gigante ao perder um pé acorda Russel que estava de olhos fechados no centro da praça.

Todos olham tentando entender o que havia acontecido quando olham para mão do gigante com o machado.

–< AI MINHA SANTA MARIA, É ELE, ELE VOLTOU>

Na mão do gigante executor havia um pedaço fino de madeira pintado na cor roxa, enquanto o gigante olhava o aparato um outro exatamente idêntico atravessou a sua testa. O gigante cai no chão e então todos tem certeza do que estava acontecendo ali, o objeto de madeira era um flecha, e qualquer um que olhasse sobre o telhado da igreja poderia saber quem havia atirado: Daimmem Blase estava de volta....


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