A Lenda de Jamie Carter escrita por Live Gabriela


Capítulo 49
A sala escura


Notas iniciais do capítulo

Capitulo escrito por Mateus Scofield e narrado por Ryan Campbell



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Trevas, a falta de luz que dá aos homens duvida sobre o que os cercam, ela havia possuído a minha mente no momento em que meu corpo tocou o chão no burgo. Meus sentidos começaram a se desligar um a um, mas não a tempo de me fazer não ver... minhas mãos ao tocar a barriga sentem minha blusa, ela estava molhada...

– Ryan?

Olho em volta, as coisas estavam claras, ouvia alguém chamar pelo meu nome.

– Ryan!

Continuei procurando de onde vinha o som.

– Ryan!!!

E então fui engolido por uma luz estranha, acho que morri.

– RYAN! Ryan está acordando? Ryan?

Sinto algo no meu braço, uma madeira, aos poucos começo a sentir o cheiro de musgo e minha garganta ficando seca.

– Ryan?

Era a voz de Eduardo, acho que estava perto, minha audição estava voltando aos poucos, eu já tinha passado por isso... Não estava morto, estava acordando.

– Campbell?

– Russel? Ai.. Onde... Ai... nós... Ai.

– Estamos na torre do Lorde Castélio Campbell, ele vai nos matar em breve.

Meus sentidos estavam quase todos de volta, aproveitei para analisar o ambiente. Estávamos em uma sala grande e escura, eu não podia ver os muros a única luz que havia ali era de uma abertura no teto exatamente sobre as nossas cabeças. Falando em mim e Russel, tenho que ressaltar que estavamos de joelhos com a cabeça e as mãos presas em uma estrutura de madeira, aquelas geralmente usadas em decapitações. O chão e o teto até onde eu podia enxergar era de tijolos de pedra coberto de musgo. Ao notar a planta lembrei do clarão de quando meus sentidos haviam partido o que me fez lembrar da facada na barriga, por que eu estava vivo? Tentei retirar a mão da estrutura de madeira mas foi em vão

– Russel.

– O Que foi Ryan?

– Como viemos parar aqui?

– Não lembra de nada? Você ainda estava consciente quando Castélio jogou você na carroça.

– Ai, droga, e o pessoal do burgo?

– Pra que se preocupar com isso agora? Vamos morrer.

– Desculpe. – respondi meio triste, ele ia morrer por minha causa.

– Não se desculpe, estou morto desde que Castélio descobriu sobre a morte de todos os homens da vila naquela noite escura, só estávamos prolongando o fato.

Parei um momento e refleti sobre o que ele falou, nisso as imagens de Deimmem Blase saltaram a meus olhos, o fogo, as flechas, as mortes... E por fim eu escondido atrás do arbusto apenas observando. Se eu tivesse intervido e matado Blase, Castélio não teria se irritado e a vida de Russel seria normal. Em resumo, eu havia condenado aquele homem à morte certa e nem ao menos conseguia contar isso a ele.

Súbito o som de uma porta se abrindo ecoa pelo local, olho para Russel, ele estava suando frio.

– Russel, o que é isso?

– É ele Campbell, é Castélio...

A luz revela um sapato preto de fivela, aos poucos mais partes vão sendo reveladas, a roupa rubra e elegante vai aparecendo e então o bigode do lorde português é revelado sobre um sorriso de satisfação.

– Bom dia cavalheiros...

Permanecemos em silencio.

– Senhor... Campbell certo?

Olho pra cima.

– Campbell certo? Me responda covarde.

– Sou eu senhor, o que desejas? – respondi contrariado.

– Como vai sua ferida?

Tentei olhar para baixo, não sei o motivo mas por alguma razão eu não sentia muita dor no local. É como se ela já houvesse cicatrizado o que seria impossível afinal não deveria estar lá a muito tempo, lembro de ter caída e então... Aqui estou eu.

– Não me respondeu Campbell, como está a ferida?

– Não tenho certeza senhor... Está melhor do que eu imaginava é fato.

– Issó é ótimo! Sim, Sim.

Olhei para o Lorde português.

– Por que se interessas pelas minhas feridas Castélio? Pensei que buscasse minha morte.

– Sua morte? – disse ele sorridente – O que sua morte significaria para mim? O que é você em meu território senhor Campbell?

– O que? Como senhor?

– Você me entendeu Campbell... Olhe para mim! Não sei o que você é na sua terra mas viendo nessa parte do mundo duvido que seja muito mais do que um mercenário, sua morte não seria nada alem de um mártir... Sabe o que é isso senhor Campbell?

– Eu... Não senhor... – disse cabisbaixo.

– Hum! Imaginei...

Ele deu as costas.

– Se sua vida é a maior de suas preocupações cavaleiro... Pode se tranqüilizar, afinal não teria deixado você dois dias na minha enfermaria se curando do ferimento na barriga.

Abaixei a cabeça e fechei os olhos com força. Dois dias desmaiado? Se alguém tivesse visto o que iriam pensar? Minha ferida tratada é o maior sinal de compaixão que Castélio poderia ter dado. Nisso ouvi Castélio dizer algo novamente.

– Agora seu amigo... A morte dele não segnificaria nada a ninguém.

Abri os olhos e olhei para Eduardo, ele estava pálido, a luz que descia da parte aberta do teto era como um sinal divino tentando levá-lo para o paraíso antes da hora.

– Castélio! Não faça isso! Esse tipo de reação não será necessária.

– Não mesmo senhor Campbell, farei pelo simples prazer da vingança... Vocês me fizeram perder um dia de minha preciosa vida atrás das carcaças estragadas que vestem como pele pequenos demônios... Matar seu amigo vai ser uma dádiva divina dada em nome de minha perseverança ao buscá-los naquele fétido burgo. Bom... Em todo caso... Volto pela tarde.

A minha mente cria diversas perguntas, diversas afirmações, mas meu corpo as guarda todas. Apenas observo as trevas engolirem Lorde Castélio e pouco depois o som de uma porta abrindo e depois fechando, seguido isso, o baque da fechadura, estávamos trancados.

Fiquei olhando para o breu até ser interrompido pelo som de Russel tentando quebrar o próprio punho.

– Russel? O que está tentando fazer?

– Quebrar meu pulso Campbell, não sei se percebeu mas se continuarmos aqui Castélio ou o filho psicopata dele, Gasper vão me matar.

– Desculpe Russel mas acredito que tentar fugir daqui com dois pulsos deslocados não é o maior plano já feito por—

– Quer calar a boca Campbell? Você passou dois dias na enfermaria do Lorde e sabe que sua vida está meio que “protegida”, tenho que partir dessa torre agora mesmo.

– DA PRA SE ACALMAR RUSSEL? Vou dar um jeito de te tirar daqui.

– Não, não vai. Ao olhar para a sua cara só vejo medo e duvida. Não sei pelo que se sente culpado Campbell, mas isto está visivelmente consumindo a sua Alm—

Súbito o som do trinco se abrindo quebra a discussão. Russel se empalidece, meus batimentos se aceleram.

– É ele, é ele, ele veio me matar... – dizia Eduardo apavorado.

– Cautela Russel! Não sabemos o que vem ai!

Ouço o som dele tentando deslocar os braços da estrutura de madeira. Se ele continuasse naquele ritmo acabaria por deslocar o pescoço.

– Acautele-se senhor Eduardo Russel, não vim lhe machucar.

– Não creio no que escuto! Essa voz, essa doçura... não pode ser.

Olho pra Russel.

– Eduardo? O que está acontecendo? Responda me homem.

– Campbell, acho que parti, pois o que ouço é o som da voz de um anjo – ele para e olha para frente enquanto uma coisa branca saia das sombras – E o que vejo é divino...

– Russel o que está acontecendo? Não consigo ver direito o que está na sua frente, meu pescoço está preso, só vejo uma roupa branca, um vestido talvez.

– Não se preocupe Campbell, eu já disse, não é nenhum mal que veio me carregar, é Marieane.

Marieane? A filha de Castélio? O que ela estaria fazendo aqui? Seria uma nova esperança para mim e meu “associado”?

– Senhor Eduardo Russel? – disse a voz fraca feminina. Era como ouvir um anjo adoentado por viver naquele ambiente tão lúgubre – Meu irmão disse que ouviu você gritar por meu nome... É verdade?

– Sim minha dama, eu... Perdoe-me por me apresentar perante a você nessa situação... Marieane... Eu... Eu te amo!

– O... O QUE?!?

– Você me ouviu Marieane, meu coração pertence a ti, meu corpo ferve todas as noites em seu nome, eu—

– CALE-SE CAMPONES! MEU DEUS! Pensei que o sádico do meu irmão estava caçoando de mim! Mas então era tudo verdade! Você... ISSO É REVOLTANTE!

Ela dá um tapa no rosto de Russel.

– Vou falar com meu pai sobre este desrespeito! De hoje você não passa senhor Russel.

– MARIENE! POR FAVOR! NÃO ME DE AS COSTAS... E... EU... – ouço o som da voz de Eduardo começar a fraquejar e então percebo... Ele estava chorando... - Se me acha desrespeitoso me perdoe, se acha que minha morte seria algo bom eu aceito o seu veredicto, mas... Por favor, antes de partir quero que saiba, estou onde estou apenas por um motivo, pois sei que minha vida pertence a ti e a você eu dou todo o poder de escolher o que vai acontecer com ela. Quero que saiba que se pudesse reescolher meus passos sabendo que acabaria aqui eu os faria novamente apenas para poder ouvir sua voz tão suave como a melhor brisa da noite. Faria tudo de novo simplesmente porque te amo...

Seguem-se alguns minutos de silencio.

– Você é louco... E morrerá como tal. Te vejo amanhã... Na guilhotina.



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