A Lenda de Jamie Carter escrita por Live Gabriela


Capítulo 37
O burgo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por Mateus Scofield e narrado por Ryan Campbell.
* Falas iniciadas entre "<" estão sendo ditas em portugês arcaico.



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Um cavaleiro salta do cavalo deixando sua comitiva de tês homens a mais ou menos cinco passos para trás, ele olha para trás e os homens dão um sorrisinho malicioso. Ele caminha cheio de pose na direção de um senhor magro e sujo com roupas maltrapilhas.

*<- Ora pois se não é o nosso aldeão comerciante novamente?>— O cavaleiro pega uma das maçãs sobre a mesa e morde. < - Nosso senhor feudal não esta gostando nada dessa história de vocês aqui, o que são vocês exatamente? Camponeses? Por que estão comerciando? De quem é esta terra?>

<- Ora senhor, somos apenas trabalhadores honestos, vivemos atrás desses muros em busca de proteção, nos apenas... Vendemos coisas...>

O cavaleiro olha para seus colegas e ri.

<- Estão ouvindo homens? O homem sem terras diz que apenas está vendendo!>

Os outros cavaleiros dão risada.

<- Acha isso certo aldeão? Um homem sem terra comerciar? Um homem sem terra acumular ouro e riquezas? Isso não pertence a sua raça desprivilegiada pelo meu Deus criador! Vocês são uma abominação ao sistema divino, meu senhor ordenou que eu, Pedro Máximus, general de todo o exército dessa região viesse aqui pessoalmente...>

Ele saca uma espada.

<- E acabasse com essa abominação>

Os cavaleiros riem e então Pedro Maximus levanta a sua espada contra o sol, a luz vinda de trás do cavaleiro o deixa com um ar divino, o pequeno camponês sujo se agacha esperando pelo golpe da espada e então se espanta ao perceber um som meio assobiado seguido de uma pancada no solo, ele estava vivo, porem, Pedro Maximus estava no chão, com uma flecha enfiada no meio do rosto. Todos se assustam, menos eu é claro, afinal eu que atingi o rosto do babaca com pretensões missionárias. E esse é só mais um dia comum aqui em Portugal, isso tudo tem acontecido com freqüência desde que eu, Ryan Campbell parti com Blase da Inglaterra.

Muitos dias dentro de um barco escuro e úmido foram trocados por noites em uma pequena casa dentro desta vila murada, uma vila sem senhor feudal comandada apenas por comerciantes, um sistema encontrado apenas nessa região do mundo, um burgo.

De acordo com Blase proteger esse local pode ser a chave para a derrocada do sistema em que vivemos, acredito nele, vejo no rosto de cada uma dessas pessoas, desses simples comerciantes, uma vontade de crescer e se afirmar diferente de todas as outras pessoas do planeta, eles podem não enxergar que estão presos a um sistema ou nada do tipo, são apenas pessoas simples fazendo o seu trabalho, mas sabem que estão se arriscando por serem diferentes, e sabem que talvez não haja volta.

Os dias aqui têm sido parecidos, de manhã eu fico de guarda junto de Blase. Nos protegemos os aldeões, eles nos retribuem nos dando moradia e comida de péssima qualidade, mas é o que podem fazer. De noite acompanho Blase pelas florestas, registro cada feito extraordinário que o arqueiro Frances faz, registro tudo em um caderno, cada invasão, cada combate, cada morte. Não acho correto apenas observar ele atirando pelas costas de homens que nem sempre são malignos, mas sei que não posso fazer nada a respeito, sem Blase talvez a cidade murada dos comerciantes não sobreviva por muito tempo.

De dois em dois dias chegam alguns cavaleiros em nome de lorde Castélio, um senhor feudal de grande propriedade na vizinhança, eles geralmente são botados pra correr pelo enorme numero de aldeões comerciantes, mas às vezes um bando maior aparece, e com armas, coisa que os camponeses não possuem, é ai que eu entro em ação, como agora.

Mal o corpo de Pedro cai no chão e disparo uma flecha contra o nariz do cavaleiro do meio, que cai do cavalo, os outros dois olham o amigo cair no chão gritando de dor. Aproveito a distração para pular de trás de uma moita, ele olham pra mim e pegam uma espada, não a tempo.

Salto sobre a cabeça do cavaleiro com a flecha no rosto e paro sobre o cavalo dele, em seguida me levanto e enfio a ponta do arco no olho do cavaleiro à esquerda. Ele cai do cavalo.

O cavaleiro a minha direita ergue a espada pesada e longa sem velocidade o suficiente para me atacar, pulo de cavalo caindo em pé sobre o cavaleiro sem olho.

Roubo uma lança presa a um dos cavalos e a rodo no ar atingindo em cheio a cabeça do ultimo cavaleiro restante que fica meio tonto dando tempo para que eu pudesse enfiar a lança sob o seu nariz.

Pego a lança e dou na mão do camponês.

– Sei que não fala a minha língua, mas toma isso aqui – jogo a lança para ele – Estão indefesos agora, pode bater neles o quanto quiser.

O Camponês fica me olhando.

– Bate, sabe? Bater! – fiz gestos que pudessem ajudá-lo a entender.

Ele sorriu e começou a bater nos cavaleiros aleijados.

Caminhei para o centro da vila e me apoiei em um poço, dei uma mexida no meu cabelo e olhei para o céu. Ouvi ao longe algumas risadas de garotas, eram jovens, provavelmente virgens, estavam me olhando.

Peguei o meu arco ainda sujo de sangue dos cavaleiros e o apontei para um monte de feno, podia lembrar ali de tanta coisa, Lyela minha quase noiva, a batalha das sete estrelas caídas, Mark Powell, meu amigo e eterno boêmio, que estaria se divertindo com cada uma das pequenas portuguesas daqui, Steve, meu altivo mestre, espadachim vencedor de mais de cem batalhas, um paladino corajoso e amigo próximo do rei, e é claro, Jamie Carter, o arqueiro prodígio com forte gênio, alguém que como esses camponeses pode não enxergar o sistema ou qualquer coisa do tipo, mas sabe de alguma forma mesmo que discreta e sutil, que está acima dele. Sera que ela está bem? Sera que Leyla a está treinando bem? Sinto que algo grande está para acontecer, queria ter alguém aqui, queria poder me sentir seguro.

Olho para o céu, ele estava azul, mas ao longe, uma nuvem negra se aproximava, podia ver ali a torre do castelo de Castélio, sinto a tempestade se aproximando, e sei que estarei no meio dela.

Olho fixamente para a torre, posso ver bem distante e em tamanho reduzido, no topo da torre, apenas uma mancha preta, ele estava me observando. Algo grande está prestes a acontecer...



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