"Nem todo dom é benção"

A mulher na cama soava frio. Estava agarrada com força aos lençóis brancos; os cabelos rosa caiam em sua volta, contornando seu rosto redondo.

- Ó meu Deus, ó meu Deus... – dizia alucinando. A menina ao seu lado matinha o continuo trabalho de mergulhar a toalha na água e limpar o rosto da mãe.

- Resista, resista... – ela falava como um mantra, as lágrimas escorrendo pelas bochechas pálidas – Mamãe, resista!

A mulher não podia mais agüentar, e com um suspiro ela deixou as mãos afrouxarem, a garotinha arregalou os olhos muito verdes.

- Mamãe? – chamou. Nenhuma resposta. – Mamãe? Por favor, mamãe?

Mas a mulher já estava morta, a menina gritou em desespero, agarrando a mãe pelos ombros e a balançando para um lado e para o outro.

- MAMÃE! – chamou mais uma vez.

E seu choro se tornou alto e agudo.

- Óh não, não por favor!

- Sinto muito querida – disse uma senhora loira pondo a mão em cima do ombro da garotinha de cabelos róseos – Sei que deve estar sendo difícil.

A menina não respondeu, seus olhos verdes se tornaram sem brilho, opacos.

- Vai passar – continuou a loura – Estou aqui para qualquer coisa, te espero no carro.

E então a mulher foi em direção a sua limusine enquanto a menina se mantia firme olhando para o túmulo, a imagem de sua mãe em cima do monumento cinzento.

- Huhu, vejo que esta bem triste, hein criança? – a voz áspera e divertida fez com que a garotinha se vira-se para uma ruiva que tinha um sorriso gentil, mas seus olhos cinzentos eram diabólicos – Sou a bruxa Karin, e você?

A menina recuou um passo e ergueu as sobrancelhas.

- Sakura... – ela pigarreou – Você falou "bruxa"?

A ruiva sorriu.

- Sim sim Sakura, eu sou uma bruxa, uma bruxa muito poderosa.

- Mas... – Sakura olhou para os dois lados e então depois para Karin – Mamãe diz que as bruxas são malignas, que são contra Deus.

- Ó não! – falou a ruiva balançando as mãos, seu longo vestido púrpura balançou também – Eu sou uma bruxa boazinha, a favor de Deus, eu sou até mesmo uma aliada sua.

Sakura apertou os lábios desconfiada, Karin sorriu amarelo.

- Pode confiar em mim, aliais, estou aqui para te conceder um desejo.

Os olhos verdes da menina se arregalaram.

- Um desejo?

- Isso mesmo – a bruxa flutuou para trás do tumulo – Qualquer desejo.

- Mesmo? Até mesmo trazer mamãe de volta?

A ruiva sorriu e apertou os olhos cinzentos por trás de seu óclinhos meia-lua.

- É claro, mas com uma condição.

- Qual? – gritou Sakura.

- Minha querida, eu sou na verdade uma bruxa tão boa que tenho que eliminar os espíritos maus sabe? – Sakura balançou a cabeça afirmativamente – Bem, mas eu estou tão ocupada, então eu gostaria que fizesse isso no meu lugar.

- Mas... – Sakura olhou para os próprios pés – Tenho apenas dez anos e como vou fazer isso?

A ruiva então se pois na frente da menina e abaixou pegando nos ombros magrelos da mesma.

- Bem, é claro que eu não te deixaria com uma responsabilidade tão grande sem ao menos te dar uma maneira de fazer isso não é? Um presente!

- Presente? – perguntou Sakura.

- Sim, um dom especial de ser mais forte, rápida e com uma arma para derrotar os espiritos maus.

- Uma arma... – a menina engoliu em seco – Mamãe disse para eu não mexer em armas.

- Bem – a ruiva rolou os olhos – é uma arma especial, só machuca coisa más.

Sakura olhou para a ruiva que sorria docemente.

- E então, se eu aceitar esse "dom" e me livrar das coisas más, mamãe volta a vida?

- Exatamente – disse a ruiva – Aceita?

- Sim... – Sakura respirou fundo – Sim eu aceito.

E com uma gargalhada maléfica a bruxa beijou a menina na testa e os céus gemeram com relâmpagos cor de sangue. A terra tremeu fazendo Sakura cair no chão. Um raio caiu bem na sua frente e sumiu deixando uma pequena cruz de prata com um rubi em seu centro.

A menina olhou para os lados e depois para a bruxa.

- Onde está mamãe? – perguntou chorosa. A bruxa sorriu e apontou com as unhas pontudas para o túmulo, a chuva abafava o fraco som de batidas. Os olhos verdes de Sakura se arregalaram, ela começou a cavar desesperadamente – Mamãe... mamãe...