_ Yuki é ossuda e miúda!! – Natsuki corria em volta do quintal fugindo da irmã caçula.

_ Chega, Natsu! – Haruki se interpôs.

_ Ow! Chegou o Príncipe Perfeito, defensor da Princesa Lagarta. – Natsuki encarnava nos dois irmãos menores.

_ Eu te odeio, Natsu – Yuki soluçava de raiva.

_ Bah! Nem precisava chorar...– Natsuki falou sem jeito.

_ É só saber quando parar – Haruki afagou os cabelos da irmã.

_ Só se eu fosse você, Haru. Ou se tivesse bola de cristal. – Natsuki mostrou a língua antes de ganhar a rua.

_ Quando crescer... – Yuki conseguiu dizer entre os soluços. – Juro que vou ser a melhor esposa do mundo pra você.

Haruki sorriu muito sem graça.

Natsuki bateu na porta antes de entrar no quarto.  Ele olhou em volta procurando um lugar para se sentar. Achava incrível como o irmão conseguia manter o quarto sempre limpo e organizado quando ele mesmo não conseguia encontrar uma cueca limpa.

_ Essa eu ainda não tinha visto – disse folheando a revista pornográfica que pegou debaixo do colchão.

_ Que visita repentina é essa, Natsu? – Yuki rodou a cadeira para observar o irmão se deitar na cama.

_ Acho que saudades do nosso quarto. Não entro aqui desde... O dia em que me mudei pro sótão?

_ É bom ter privacidade pra trazer suas “amiguinhas”, não? – Natsuki se voltou novamente para a escrivaninha continuando a estudar.

_ A saída de emergência tem lá suas vantagens, mas aqui está bem melhor do que antes.

_ Não graças a você, mano. Você é muito bagunceiro.

_ Estava pensando em preparar omelete de queijo derretido na manteiga, mas acho que você está merecendo um ovo frito estalad...

_ Quer ir logo ao ponto? Você não veio aqui pra falar de comida, certo? Se quiser a revista pode levar. Eu tô um pouco ocupado, agora.

_ Manda. Qual é o estresse?

_ Será que é porque o vestibular vai ser no próximo final de semana? – levantou a voz já num tom irado.

_ Tenta de novo.

_ Qual é? Vai fazer o papel de mãe agora? – Haruki dardejou meio de soslaio.

_ Hum... Isso são hormônios sobrando ou posso tentar adivinhar o que é? – Natsuki ergueu a sobrancelha.

_ E eu tenho escolha? – Haruki foi lacônico enquanto fixava os olhos na página do livro aberto sem enxergar.

_ Bem... Se não é excesso hormonal, já que eu e você temos conhecimento de métodos científicos pra esse tipo de relaxamento do corpo humano... – Natsuki apontou pra revista que tinha nas mãos.

Haruki largou a caneta e desistiu de resolver a questão afastando a cadeira para longe da escrivaninha enquanto encarava o irmão olho no olho.

_ Quem é a garota?

_ Okay. Seu psíquico de araque. Essa eu quero saber também... – o tom defensivo que ele usou foi suficiente para que o irmão continuasse supondo.

_ Yuyu?! – Natsuki se calou para ver a reação do irmão.

Haruki cogitou a possibilidade de negar, de omitir, de desconversar... Tudo numa fração de segundo. No entanto, ele entregou os pontos.

_ Tá tão na cara assim? – disse com seriedade.

_ Não. Foi um pouco de intuição e muito de chute. Então, é por isso que quer contar a verdade...

_ Droga! Eu e a minha boca – Haruki se levantou indo até a janela.

Eles ficaram em silêncio por um bom tempo enquanto ambos tentavam racionalizar as informações daquela revelação.

_ Haru... – Natsuki começou a dizer antes de ser interrompido.

_ É muito mais forte que eu... – Haruki passou a mão pelos cabelos num gesto nervoso. – Eu não consigo mais pensar nela como irmã, entende?

_ Eu estou com medo de entender até bem demais. Vocês não brincam mais de médico, né? – Natsuki bateu na cabeça do irmão com a revista procurando aliviar a tensão.

_ Não! Só de papai e mamãe... Imbecil! – Haruki rebateu com sarcasmo levando outra pancada na cabeça.

_ Vou ter que andar armado?

_ Pra defender a honra de qual irmão?

_ Só das donzelas... A não ser que você mude de sexo. É o que vai acontecer se não controlar a jóia da família.

_ Não obrigado. Eu amo todas as minhas partes.

Eles riram, mas o silêncio tomou conta do quarto novamente.

_ O que pretende fazer?

_ Alguma boa idéia? – o olhar desesperado dizia muito mais.

_ Não faça nada do que possa se arrepender.

Haruki balançou a cabeça concordando.

_ Seja qual for o resultado disso... Nada muda pra mim. A Yuyu sempre vai ser minha irmã caçula, assim como você.

_ Queria ser você agora.

_ Eu sei! Sou sempre um bom exemplo a ser seguido. – Natsuki apertou o ombro do irmão antes de sair do quarto.