Quando Voa a Borboleta escrita por Aki Nara


Capítulo 3
Capítulo 3 - Segredo Guardado




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A chuva de verão amainava a temperatura, mas impedia as crianças de gastar sua energia fora de casa. Os irmãos de oito anos discutiam no quarto.

_ Por que você não quer mais brincar de casinha? – Yuki estava magoada com o irmão gêmeo.

_ Por que não pede pro Natsu?

_ Por que ele nunca brinca comigo.

_ Tá, mas nada de beijo na boca, certo? – Haruki mostrava-se sem jeito diante da irmã.

Haruki não sabia como explicar a Yuki o que Natsuki havia lhe dito, que dois irmãos não deveriam se beijar mesmo que de brincadeira.

_ Por que? – Yuki colocou as mãos na cintura. – Se você é o papai e eu sou a mamãe, a gente tem que se beijar!

Yuki tinha como exemplo a lembrança do carinho que a mãe demonstrava para seu pai culminando num beijo escondido, mas quase sempre flagrado por um dos filhos. 

_ É? Mas se quiser que eu brinque vai ser sem beijo. – Haruki cruzou os braços decidido.

_ Mas... E quando eu me machucar? Você não vai mais me dar beijinho pra sarar logo? – Yuki fez beicinho.

_ Errr... Só no machucado, então. – Haruki ficou em dúvida, mas feliz por concordar.

A chuva pegou Yuki de surpresa e justamente quando havia esquecido a sombrinha em casa. 

_ Hei! Foi uma senhora queda. Você vai ficar bem? – Ayame indagou preocupada.

_ Ralei a mão, nada demais. É só meu orgulho que está doendo – Yuki disse alisando o traseiro. 

_ Juro que pensei que você conseguiria dar o salto desta vez – Yoko comentou rindo.

_ Sim. Faltou pouco – Miwa tentou consolar a amiga. 

_ É. Faltou não cair... – Yuki imitou o exato momento em que caiu de traseiro no chão fazendo-as rir mais ainda. – Sou péssima mesmo em educação física. Ainda bem que não é matéria obrigatória na faculdade.

_ Por falar nisso. Já estão preparadas para as provas? Eu não. – Miwa disse balançando a cabeça para os lados.

_ Nem fala! Isso me lembra que preciso ir à biblioteca.  Bye bye pra vocês.

_ Por que a pressa? A gente quer limpar os olhos? – Yoko insinuou.

Yuki abriu os olhos da amiga e os assoprou.

_ Pronto! A poeira já saiu. Agora saiam daqui. 

_ Feia! Até amanhã – Yoko conseguiu dizer antes de ser escoltada pra fora do portão pelas outras amigas. 

Yuki não queria esperar por Haruki e acabou optando por se molhar. A garoa fina engrossou quando chegou ao parque, obrigando-a a se abrigar embaixo da árvore, que não a protegia dos pingos que encharcavam seu uniforme. Parada ali, ela pensou em como aquele dia fatídico mais parecia ter sido um devaneio da sua mente. 

O tempo passou e ninguém lhe contara a verdade. A mudança drástica em sua vida não aconteceu. Era estranho como o pai continuava a ser seu pai e Natsuki continuava a ser seu irmão mais velho. Nada havia mudado exceto por Haruki... Há muito tempo as coisas não fluíam mais do mesmo jeito com ele. 

Guardava segredo desse sentimento fatal, da atração imutável pelo irmão, que crescia dentro delta toda vez que procurava evitá-lo. Logo, ela se afastou de sua amizade e de qualquer contato físico. Mas a impossibilidade de realizar seu desejo tornava-a mais suscetível às fantasias. E agora que estava decidida a manter-se distante a qualquer custo, descobria que não eram irmãos. 

Passado o momento de choque, a ficha finalmente havia caído. Eles não tinham laços de sangue e conseqüentemente, ela não precisava mais se sentir suja e não precisaria sentir nojo de si mesma. E sentia-se quase tentada a livrar-se do sentimento de culpa e sucumbir aos sonhos. 

Ela queria deixar esses pensamentos e teria corrido novamente na chuva se não tivesse avistado Haruki. Procurou se esconder sem sucesso. Ele parou à sua frente oferecendo-lhe um lugar no guarda-chuva. 

_ Por que não me esperou? – Haruki limpou as gotículas de chuva nos ombros dela. 

Yuki baixou os olhos para que sua resolução não sofresse mais dano, mas o impacto era imediato, o toque no ombro irradiava calor espalhando a sensação prazerosa de aconchego por todo o corpo enregelado.

_ Você está tremendo! – Ele esfregou os braços dela até perceber o machucado na mão – o que foi isso?

Yuki sentiu a respiração falhar estando tão próxima, mas não tinha como manter uma distância segura estando encostada na árvore.

_ Eu estou bem – ela conseguiu dizer sem gaguejar. – Caí na ginástica. 

_ Nhô! 

O beijo no machucado era um gesto que Haruki lhe fazia desde criança, mas a palma ardia deixando-lhe o coração aos saltos. Ela puxou a mão com a delicadeza que a circunstância lhe permitia. 

_ Não sou mais criança... – ela disse desconcertada. 

_ Mesmo?! – o irmão elevou-lhe o queixo para que se encarassem. 

Yuki foi tragada pelos olhos perscrutadores de Haruki e sentiu-se nua diante de suas emoções, mas agüentou firme.

_ Gostei do corte no cabelo. 

_ Aham! – ela assentiu tentando manter o autocontrole.

_ Vamos pra casa! – o braço esquerdo de Haruki fez peso no ombro dela enquanto ele carregava o guarda chuva.

O pano da calça roçava nas pernas desnudas descarregando uma corrente eletrizante. Quando a tortura pareceu insustentável, Yuki prendeu a respiração para não se denunciar, pois seu coração tinha chegado ao limite. Então, Haruki a surpreendeu entregando-lhe o guarda-chuva. 

_ Aposto que eu chego primeiro em casa – ele deixou Yuki para trás correndo morro acima.


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