Suicídio escrita por maribocorny


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

- amarelo, ou rosa, ou verde -



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A senhora de amarelo atravessou o portão com das outras vezes: em silêncio e carregando uma única flor nas mãos. Talvez Leah não devesse chamá-la de “senhora de amarelo”. A primeira vez que a viu, ela estava usando rosa. Ou teria sido verde?

Não conseguia colocar os eventos em uma linha cronológica, os que de encontrar o velho Dollano. Depois do encontro, Leah conseguia ver o padrão entre nascer e no por do sol, e a própria lua não dançava mais em diversas formas diferentes. O tempo, pelo menos ele, estava normal.

Leah se levantou do túmulo do tal Luis Iloar e se escondeu atrás de uma lápide. Tinha uma boa idéia de para onde a senhora de amarelo, ou rosa, ou verde estava indo. Nunca antes ela ousara se afastar da sua própria sepultura, mas, dessa vez, seguiria a mulher.

Como suspeito, ela parou em frente à lápide de Dollano. O velho não estava a vista. A mulher colocou a flor sobre o mármore e entoou uma pequena prece que Leah não conhecia. O que não queria dizer muita coisa, na verdade, levando em conta a situação de sua memória. Tentou não escutar as confissões da mulher para o morto. Não queria se intrometer na vida de Dollano, queria apenas descobrir mais sobre a sua morte.

Mesmo depois que a senhora foi embora, ainda não havia sinal nenhum do velho. Leah saiu sorrateiramente de seu esconderijo e foi até a lápide de Samuel V. Dollano. As letras de cobre continuavam ali, com uma camada verde de oxidação. Uma foto em preto e branco mostrava um homem usando um chapéu de feltro.

A flor descansava sobre o mármore. Leah não conhecia aquele tipo de flor, com as pétalas tão enrugadas e tão aglomeradas. Sentindo que era uma criança que fazia uma travessura, Leah olhou para os lados, sorriu para si mesma, e esticou a mão.

- Essa oferenda não é para você, menina. – Ela ouviu a voz do velho.

- É ela, não é? – Leah perguntou, esquecendo-se da flor. – Eu já vi essa senhora aqui antes. Várias vezes, mas eu não conseguia entender o que acontecia... mas, agora... É ela, Dollano, não é?

O velho não disse nada. Leah já sabia que ele não se irritava, ou sempre fazia de tudo para não se irritar. Ele pegou a flor e a levou delicadamente aos lábios, com uma ou duas lágrimas penduradas em seus olhos sem vida.

- Ela é o amor da sua vida? É por isso que vocês precisam um do outro para continuar? – Leah parecia uma criança intrometida.

- Você acredita nessa história de um amor para toda a vida, Leah? – Dollano perguntou, soltando a flor, mas sem abrir os olhos. – Já fazem duas semanas que nos falamos pela primeira vez, menina... Por que você ainda não atravessou o portão de ferro?

- Não muda de assunto, velho! – Leah estremeceu.

- Sim. – Ele respondeu repentinamente, abrindo os olhos. Foi a primeira vez que Leah viu vida naqueles olhos cor de chumbo. – Ela foi o amor da minha vida e é por ela que eu espero. E você? Por o que está esperando, menina?

Leah olhou para o chão. Não sabia responder. Desde que encontrara o velho Dollano se sentia o mais próximo possível de estar viva. Aprendia novas emoções, se conhecia novamente. O tempo parecia estar andando nos eixos mais uma vez e era quase como se ela importasse.

- Leah? – Dollano perguntou mais uma vez.

- Você me disse que se eu for embora... – Leah começou, ainda encarando o chão. – Se eu for embora eu não vou poder voltar, Dollano...

O morto puxou a não-morta para perto dele, num abraço espectral e desajeitado. Com as mãos frias e enrugadas, o velho fez um carinho nas cotas.

- Eu sou um péssimo motivo para você escolher esse lugar ao mundo real, menina. Você precisa sair daqui.

Leah soluçou, sabendo que aquela era a mais pura verdade.


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Notas finais do capítulo

fic não é blog pra eu ficar reclamando da vida, né? >.



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