Suicídio escrita por maribocorny


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

- a escolha dos vivos, ou a escolha dos mortos -



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Sentou-se de costas para lápide, então, e abraçou as pernas. Ficou assim por mais tempo que poderia se lembrar. Com rosto escondido entre os joelhos, Leah não sabia se o tempo passava ou não. Nem sinal dos pobres lírios, talvez tivessem se tornado pó, quando ela sentiu que alguém se aproximava dela e sentava a sua frente.

- O tempo aqui realmente parece uma ilusão, não acha? – Uma voz masculina disse.

Levantando a cabeça, Leah encarou o intruso. Um homem velho, arcado e barbudo, segurando uma grande armação de óculos. Ela coçou os olhos antes de responder.

- Eu presumo que você esteja morto também. – Leah respondeu, ácida.

- Não, não. – O velhinho respondeu, depois de uma fraca risada. – Eu estou morto. Você não.

- Oh, certo. – Leah debochou. – Me desculpe por isso.

Leah esperou que o velho fosse embora, mas ele apenas ficou sentando ali, em sua forma levemente translúcida, olhando para ela de maneira gentil. A moça não-morta soltou um suspiro.

- Desculpa, mas eu conheço o senhor?

- Não que você fosse lembrar... – O velho murmurou.

- O quê?

O velho sorriu mais uma vez, com uma serenidade que irritava Leah. Ele colocou os óculos de aro em frente aos olhos e estendeu a mão para a garota.

- Samuel Vicente Dollano, a seu dispor. – Ele sorria enquanto as duas mãos imateriais sacudiam para cima a para baixo. Leah estava tão surpresa com o contato que deixou o queixo se abrir. – Morto em setembro de 94.

- Ah... Muito prazer. Eu sou Leah. Hum... – Leah respondeu, sem jeito, e espiou a inscrição da sua lápide antes de se apresentar. – Leah S. Duniak.

Leah ficou em silêncio, encarando o Sr. Dollano, que a encarava de volta. Quando o silêncio se tornou constrangedor, Leah não viu outra alternativa a não ser cortá-lo.

- O senhor se perdeu do seu túmulo ou alguma coisa?

- Não existem muitos mortos perambulando por aí, menina. – Ele respondeu, ainda com aquela voz irritantemente amável. – Vejo que você está sozinha aqui faz muito tempo, provavelmente mais tempo do que você imagina. Pensei que fosse apreciar um pouco de companhia.

- Você tem razão. – Leah se endireitou. – Mas, ainda assim, setembro de 94 foi há muito tempo. O que o senhor ainda faz por aqui?

- Eu não estou preso na metade do caminho, como você, se é o que está perguntando. Minha história é outra.

- Ah, é? Pois bem, eu não tenho nada além de tempo. – Leah vociferou, levantando.

- Você era mais delicada da outra vez, Leah. – O Sr. Dollano falou, como se estivesse falando consigo mesmo. Mas Leah ouviu.

- Então o senhor me conhece? – Leah disse, mas o velho fingiu não ouvir. – Me responda!

- Eu morri poucos anos depois de você ter nascido, menina. – O velho respondeu, com um toque de irritação na voz. – Se eu a conheço, é de outra morte.

- E o que isso quer dizer? – Leah perguntou, tentando, sem sucesso, manter o tom agressivo. O pânico, o medo e tudo que sentiu no tempo em que ficou no cemitério foram, aos poucos, sendo substituídos por algo novo.

- Eu ainda estou aqui porque estou esperando alguém. – O velho respondeu depois de suspirar enquanto tentava levantar, com dificuldade. – Não são muitos que tem essa escolha, e menos ainda a fazem, de fato. Você, por outro lado, não está aqui só porque a Morte não gosta de suicidas, menina. Eu não estou preso na metade do caminho, mas até que chegue quem eu estou esperando, eu estou preso nesse cemitério. E você, por que não cruza aquele portão mais uma vez?

Leah olhou para o portão, rangendo e tremendo por causa do vento.

- Eu tenho... – Leah engasgou. – Eu tenho essa escolha?

O velho Dollano deu uma risada, abafada por um acesso de tosse.

- Todos os vivos tem uma escolha. – Ele disse.

- Mas eu não estou viva. – Leah lembrou.

- E nem morta. - O Sr. Dollano piscou.


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Notas finais do capítulo

finjam que eu tirei a páscoa como um feriado também para a fic..

estou depressiva demais para fazer alguma nota final realmente interessante. como se não desse para perceber pelo capítulo, né... sei lá, desculpa, demorei muito e não saiu muito bom igual.

como recompensa para quem lê e aturou a falta de atualização semana passada, mais dois capítulos serão postados durante essa semana, e domingo que vem eu volto a rotina usual.

sem alternativas até domingo, a propósito.



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