Capítulo III - Trabalho e mais trabalho. Mãos à obra!

A new start

I've broken too many hearts

And I don't have any clue where to go

I don't know

But maybe I'll be back someday after my holiday.

Holiday, Boys like Girls.

-

Os primeiros raios solares entravam sorrateiramente pelas frestas da cortina bege.

Sakura murmurou desgostosa, contorcendo-se embaixo das cobertas; mais um dia começava, o que queria dizer mais um dia de trabalho exaustivo na empresa.

Espiou o relógio digital perto da cabeceira da cama, e estava certa: Mais um dia começara e ela já estava em cima da hora. Não atrasada, mas com a certeza de que logo ficaria se não se levantasse imediatamente.

Sentou-se na cama espaçosa, espreguiçando-se e bocejando. Levou as mãos aos cabelos e encontrou os fios cor-de-rosa completamente embaraçados.

Droga, essa porcaria já amanhece assim, pensou, irritadiça.

Caminhou até o banheiro, sentindo o frio do piso agredir a sola fina dos pés, o que a fez praguejar baixinho.

Quarenta minutos depois a moça encontrava-se plenamente vestida e impecável, tomando um simples suco de laranja e comendo torradas na cozinha estilo americano que ela mesmo havia decorado.

Lia o jornal diário, passando os olhos rapidamente pelas manchetes que menos lhe interessavam, quando deparou-se com um semblante impassível familiar.

Era Sasuke, o atual presidente das Corporações Uchiha Haruno S.A., como a própria legenda da foto informava. Ao seu lado direito estava Fugaku, o pai e antigo ocupante do cargo; a mesma expressão vazia característica da maioria dos Uchihas adornava-lhe as feições. Do outro lado estava um senhor barrigudo com olhos verdes amáveis, sorrindo.

Sakura imediatamente sentiu um sorriso minúsculo forma-se no canto dos lábios; era o seu pai e, como todo e qualquer Haruno, ele sorria, amplo e sincero. Sim, o sorriso extrovertido era a principal característica da família Haruno e orgulhavam-se disso.

Percorreu os olhos pela notícia, que era curta e informava a ocupação oficial do Uchiha mais novo a frente do império empreiteiro. Entretanto, nada daquilo havia lhe chamado atenção, pois havia acabado de notar que seu nome havia sido mencionado apenas uma vez em todo o boletim informativo. Imediatamente sentiu um calor subir-lhe pelo pescoço e em seguida atirou o pedaço de papel longe.

Certo, era óbvio que ela não desejava ser foco da atenção da imprensa, mas as pessoas poderiam ter ao menos um pouco de consideração com ela, não? Aparentemente não havia motivo para isso.

Com um último gole no copo de suco, juntou suas coisas e partiu em direção a porta, deixando tudo como havia largado. Não haveria problema, afinal a empregada faria uma geral em tudo antes que ela chegasse do serviço.

Dentro do elevador, Sakura retocava o batom quando ouviu seu telefone celular tocar.

Segurou o aparelho entre as mãos, encarando o nome que brilhava no visor: Uchiha Itachi.

Com um sobressalto, atendeu, ataboalhada: "Alô?"

"Hey, se não é a minha cunhadinha preferida!" A voz masculina do outro lado da linha gracejava, o que fez a rosada corar.

"O que você me faz ligando tão cedo?" perguntou, ríspida. Normalmente não era assim tão mal-humorada logo nas primeiras horas da manhã, entretanto Itachi parecia ter o condão para aumentar sua irritação, e ela simplesmente odiava quando ele se dirigia a ela daquela forma.

"Oh, mas o que é isso, Sakurinha querida? Parece-me que Paris atribuiu-lhe algumas das principais formas convencionais dos seus residentes?" Uma risada divertida foi ouvida por Sakura, e antes que a mesma pudesse responder, o outro continuou: "Embora eu não me lembre nada sobre os franceses serem tão mal-humorados logo de manhã."

Outra risada petulante e Sakura bufou, saltando do elevador e caminhando pelo estacionamento até sua garagem.

"Não, Itachi-kun, amor, isso é algo que apenas você consegue me ensinar com maestria.", retrucou a moça rosa, com falsa doçura.

"Também há outras coisas que eu posso ensiná-la com maestria, minha cara," brincou o Uchiha mais velho e Sakura sentiu o duplo sentido nas palavras, mas novamente antes que ela pudesse responder malcriadamente, ele retomou a fala: "Como, por exemplo, algumas respostas mais criativas para uma discussão verbal."

Acomodando-se no banco do motorista de seu Mercedes, Sakura atirou a pasta de qualquer jeito no banco do carona, ativando o modo 'alto-falante' do aparelho celular antes de engatar a ignição do automóvel.

"Como sempre, vangloriando-se por bobagens, hein, Itachi-kun, querido." retrucou novamente a dona de orbes esmeraldas.

"Você já deveria saber que certos hábitos ás vezes nunca mudam." E outra risada foi ouvida, mas desta vez a cabine do carro foi preenchida com o som.

"Diga logo o que você quer porque eu estou dirigindo e não posso perder tempo com as suas sandices." Pisando no acelerador, Sakura suspirou, já cansada ao somente pensar em chegar a empresa e passar o dia trancafiada no escritório com todas aquelas papeladas entediantes.

"Sakura, Sakura, por favor, não tente mudar a sua reputação de atrasada cometendo um acidente de trânsito por dirigir tão rápido. Desacelere antes que esse seu rosto já deformado fique pior.", falou o Uchiha com um tom despreocupado soando na voz.

Dessa vez Sakura não aguentou. Riu alto e escandalosamente, respondendo em seguida:

"Ok, eu desisto. Não tem mesmo como ganhar de você em uma disputa verbal. Eu me rendo.", disse com divertimento.

"É bom que você esteja mesmo ciente que nunca vai me ganhar. Entretanto, pode continuar tentando, sonhar não faz mal e é de graça.", respondeu Itachi com descontração.

"Vai me falar ou não o motivo por eu estar aguentando esse seu desagradável telefonema, Cabelo de Espetar Cajú?", indagou Sakura, ainda descontraída, mas desacelerando o motor ao parar em um cruzamento.

"Você não tinha apelido melhor para desenterrar não, Sakura docinho? Pelo amor de Deus, eu retiro o que disse sobre você poder continuar tentando me vencer em uma disputa verbal. Se continuar com essa bobagem eu nunca mais te chamo pra almoçar comigo.", e com um falso tom de indignação na voz, Itachi finalizou com uma risada, que foi acompanhada pela moça pelirrósea.

"Ah, então você está tentando me chamar para almoçar? Eu sempre soube que você tinha uma quedinha por mim, Uchiha.", brincou a garota, tentando manter a conversa no mesmo ritmo brincalhão recém adquirido.

"Elementar, meu caro Watson.", respondeu o rapaz, e Sakura ouviu algumas vozes ao fundo, antes dele retomar o que estava falando: "Agora, você vai aceitar ou eu vou ter que te raptar no trabalho mesmo?"

"Hm, tudo bem. É bom mesmo eu poder sair daquela prisão que é a empresa, mesmo que seja para sair com um louco sociopata como você."

"Oh, seu carinho sem precedentes me comove.", fungou o Uchiha, soando falsamente emocionado. "Também vou ficar feliz por rever você depois desses dez anos em que você bancou a vadia desnaturada e saiu viajando pelo mundo sem mandar notícias para o seu melhor amigo de toda vida."

"Ah, cale essa boca." Retrucou a rosada, já sem o tom animado. Manobrou rapidamente, estacionando o carro em sua vaga de vice-presidente. Pegou o celular, a bolsa e a pasta, saindo rapidamente pelo andar subterrâneo do prédio principal da Uchiha Haruno S.A. afim de chegar ao elevador privativo.

"Quer dizer que você nem ao menos se sente culpada por sumir do mapa de uma hora pra outra?"

"Você sabe que não foi porque eu quis...", com uma pausa constrangedora, Sakura mudou novamente o modo do telefone, batendo o pé enquanto esperava chegar ao seu andar. Aquela não era uma conversa que ela gostaria de ter por telefone, ainda mais tão perto dos domínios de Sasuke como estava.

"Tudo bem, espero que você possa me contar tudo quando nos encontrarmos hoje, ao meio dia. Tenha uma ótima manhã de trabalho, minha bela cerejeira. Ah, e não se esqueça de mandar lembranças minhas ao meu irmãozinho tolo.", dito isso, a ligação foi encerrada e Sakura ficou a ouvir o vazio do outro lado da linha.

Sentindo uma veia saltar na testa, guardou o aparelho de volta na bolsa, xingando o Uchiha mais velho mentalmente. Grande idiota, isso sim ele era. Primeiro, fazia-a se sentir culpada por tê-los abandonado por dez anos. Depois ainda mandava ela dar lembranças ao Sasuke! Com o grande relacionamento que eles tinham era capaz de ela primeiramente dar um tiro no meio da testa antes de falar qualquer coisa que fosse com aquele arrogante do presidente!

Saiu do elevador assim que a vozinha habitual a informou de ter chegado ao seu andar de trabalho. Caminhava sem pressa, nenhum pouco animada com a perspectiva de ter que aturar mais uma manhã assinando papéis e mais papéis. Consultou o relógio e reparou que ainda faltavam cinco horas até poder sair para encontrar-se com Itachi.

Logo avistou Myuki, trabalhando em algo, compenetrada, no computador. A moça rapidamente levantou os olhos ao notar a chegada da pelirrósea, e a acompanhou até o escritório, uma pilha assustadora de papéis nos braços. Sakura estremeceu ao reparar que eram todos para ela analisar.

"Bom dia, Sakura-sama. Aqui estão os relatórios sobre os novos prédios construídos na área central da cidade." E despejou metade da pilha do lado esquerdo da mesa de carvalho de Sakura. "E, esses aqui, são novos contratos para a senhora ler e assinar." A outra metade, parecendo ainda maior que a primeira, foi posta do lado direito.

Praguejando baixinho, dispensou a secretária com um aceno da cabeça. Olhou estafada para o tanto de trabalho que tinha a fazer.

Sim, aquela seria uma longa manhã.