A Mulher da Casa escrita por sisfics


Capítulo 8
Capítulo Oito: Virando o Jogo.




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Um mês depois

Edward Pov

Seu corpo sobre o meu esquentava a minha pele. Eu não tinha forças o suficiente para me mover, empurrá-la ou sequer desprender meus olhos de seu rosto que calmamente descansava sobre meu peito. Havia um sorriso travesso se escondendo em cada canto de seus lábios que pareciam tão macios dessa distância. O vento fazia seus cachos se derramarem ainda mais pela lateral do meu corpo causando cócegas. Seus dedos se moviam devagar formando círculos, então seus olhos se abriram. Não encontrei o tom de chocolate a que me acostumei, mas sim um negro triste e angustiado.

- Edward. - Bella sussurrou, mas sua voz parecia um trovão e ecoava - Acredite em... Acredite, Edward. Em mim. - se moveu ficando mais próxima - A pior parte. Não negue. É simplesmente não conseguir. Eu também não consigo entender o que está acontecendo. - ela mordeu o lábio e ficava linda fazendo isso - Você não quer de verdade. Eu sei que não quer. Você não quer continuar no jogo. Porque se sente tão ameaçado com seu pai?

Num segundo estava deitada em meu peito e no outro sentada sobre minha barriga. Ela brincou com o nó que fizera com as pontas da camisa quadriculada de botão que usava por cima da camiseta branca.

- Estou cansada. Você nem sabe o quanto. Você também está. Sabe disso melhor do que eu. Aliás, você não é melhor do que eu, nem melhor que seu pai. - calmamente, ela voltou a se deitar, escovou minha pele com sua boca e sorriu. Queria responder, mas aquela sensação desconhecida me calava - Não me faça mal. Nem a ele. Nem a você. Não faça. Eu prometo que não vai doer?

Isabella escalou até meu rosto, o segurou e olhou no fundo dos meus olhos. Seu hálito me inebriou. Estava louco para beijá-la

- Eu prometo Edward. - o primeiro toque me fez arfar.

Seu gosto era maravilhoso, delirante. Fechei os olhos sentindo cada pedaço do meu corpo se tencionar ansiando por mais, por aquilo que esperei tanto.

- Acorda insuportável. - o baque no meu rosto me fez abrir os olhos.

A proximidade daquelas duas bilhas verdes me assustaram e eu gritei. Rennesme também gritou. Gritei de novo. Ela também.

- Mas que porra é essa? - me afastei a assistindo pular da minha cama e dar a volta em si mesma procurando algo que pudesse parecer estranho.

- Que foi? Que que tem em mim? É bicho? Tira, Edward. Por favor, tira.

Me sentei ainda assustado e, por tique nervoso, baguncei o cabelo antes de murmurar meia dúzia de palavrões. Nada tinha sido real, eu não conseguia acreditar que fora tudo um maldito sonho. Os lábios, os olhos, as sensações e sua voz. Minha irmã se sentou de novo ao meu lado, apoiou uma mão em meu ombro e perguntou:

- Está tudo bem, maninho?

- O que você está fazendo no meu quarto?

- Vim te acordar. Tem sol. O dia está lindo.

- Já falei mil vezes que não gosto que entre no meu quarto sem antes pedir permissão. Você é muito intrometida.

- Tem medo que eu veja o quê? - perguntou cruzando os braços - Os cigarros dentro da sua gaveta de meias ou dinheiro do pôquer na sua cabeceira?

- Sai do meu quarto, garota. - gritei a empurrando da cama.

- Ah, ofendeu?

- Anda, Rennesme. Sem mais papo. Sai do meu quarto.

- Você é muito grosso.?

- E você uma nojentinha.

- Sei que é da boca para fora. - deu de ombros - Bem, só vim te chamar porque sei que é muito dorminhoco e também porque senti cheiro de panquecas vindo da cozinha. Bella deve estar preparando uma coisa deliciosa para nós.

- Não quero saber. - rosnei só de lembrar dos seus lábios roçando minha pele.

Nessie me olhou, parecia triste de verdade agora e aquele sentimento de culpa me tomou dos pés a cabeça.

- Já vou descer, minha baixinha. - seu sorriso sapeca se abriu aos poucos.

- Que ótimo. É sábado e você vai me levar até o parque de diversões em Port Angeles.

- E porque eu faria isso?

- Porque hoje é meu aniversário. - bufou antes de sair do quarto.

Aquela garota era uma peça rara. Ainda sentado, continuei pensando sobre tudo que ouvira e senti. Sem perceber já estava saindo do banheiro, de banho tomado e sacundindo os cabelos. Me vesti, mas ao tentar achar a camisa que queria joguei quase todas as minhas roupas para fora. Era algo pequeno, mas estava me deixando puto, e a culpada era a incompetente que cuidava da casa.

- Tinha que ser você. - peguei uma peça qualquer e a vesti.

Desci pronto para soltar uma gracinha, ou uma alfinetada. Andei firme até lá, mas assim que pus meus olhos sobre seu corpo dei um grito. Ela segurava um pote de açúcar que deixou cair sobre a mesa ao gritar também.

- Oh, meu Deus. - pôs a mão sobre o peito e arfou - O que aconteceu? Porque gritou? - não consegui responder, Bella usava a mesma roupa do sonho - Poderia ter me matado de susto. - me olhou com raiva - Essa era sua intenção, idiota. Suas brincadeiras são sempre tão engraçadas, Edward. Não tem mais o que fazer do que passar o dia todo atormentando minha vida?

Ela pegou um pano úmido na pia para limpar a sujeira. A observei levantar, tapar e guardar o pote. Depois limpou o tampo e jogou todos os grãos na pia.

- Ele também gritou com você? - Nessie perguntou entrando no cômodo.

- O que disse?

- Ouvi gritos. Edward também gritou com você? - cobriu a boca como se fosse me impedir de ouví-la - Dei um baita susto nele quando acordou. Ou então ficou muito chateado, o sonho parecia bom.

- Fica quieta, nanica. - rosnei.

Precisava esquecer tudo aquilo, por isso corri até a área dos fundos e fiz com o armário de roupas passadas a mesma coisa que fiz com minha gaveta. Vamos dar um pouquinho de trabalho para a queridinha da família? Tirei minha camisa, a jogando no chão mesmo e vesti a outra.

Ao voltar para a cozinha, Nessie e Bella davam um forte abraço. Ela desejou feliz aniversário para minha irmã e a soltou. Seus olhos estavam tristes, quase pude ver uma lágrima. Eu precisava saber o segredo daquela garota.

Isabella Pov

- Estava delicioso, Bella. Obrigado. - Carlisle disse parando do meu lado.

- Não por isso, doutor.

- Então, eu gostaria de conversar com você. - ergui o rosto curiosa e sorri.

Muito tempo havia passado desde a última vez que Carlisle sabia de algo tão importante ao ponto de querer vir conversar. Seu rosto estava indecifrável, por isso não pude entender se era algo bom ou ruim. Ele se sentou sobre o tampo da mesa da cozinha e cruzou os braços.

- O senhor parece nervoso. - eu tinha uma pilha de pratos nos braços, que ele segurou e as colocou ao seu lado.

Me deixara ainda mais apreensiva, por isso tentei sorrir, sentindo minhas bochechas corarem e parei na sua frente.

- É tão sério assim?

- Com certeza, Bells. Espero mesmo que não fique chateada comigo. Sei que desde o início prometi que não me envolveria na sua história, mas entenda que minha intenção desde o início era só o bem. Eu queria muito trazer um sorriso para o seu rosto. - Carlisle parou para pensar no que dizer e eu inspirei mais depressa - Para resumir a conversa, tenho um amigo advogado o qual me devia um grande favor e resolvi cobrar. A prima dele é assistente social e perguntei se de alguma forma teria como encontrar uma criança que recebesse a visita do conselho tutelar regularmente.

- O senhor está falando do meu irmão? - minha voz se elevou e olhei assustada para a sala, alguém poderia estar por perto.

- Acalme-se, todos subiram. Não teria essa conversa se não soubesse que estamos tranquilos.

- O que houve?

- Dei o nome da sua tia como responsável legal, disse que era em San Diego e não foi tão difícil assim achá-la.

- Tem notícias do meu irmão? Ele está bem? - inevitavelmente as lágrimas começaram a se acumular e transbordar.

- A última visita feita três meses atrás mostra que sua tia abriu mão da guarda do seu irmão... alegando invalidez e ele teve que ser recolhido por um orfanato. Infelizmente, Bella, agora é quase impossível de rastreá-lo.

Não pude mais ouvir, tapei meus próprios ouvidos com as mãos e chorei. Carlisle segurou meus ombros, mas não conseguia parar de imaginar o rosto de Willian chorando, dizendo que estava perdido, que nunca mais o encontraria. Era verdade.

Eu era a única culpada, achei que ela cuidaria dele, afinal sempre o fez. Isabella era a desgraça na vida de Vanessa e não Willian. Mas devia ter imaginado, ela era louca e poderia abandonar meu irmão a qualquer hora. Não seria quase impossível de rastreá-lo como meu patrão dissera, era completamente inviável por causa da política de proteção a menores de idade.

- A culpa é minha, sou a pior pessoa do mundo.

- Bella, acalme-se, por favor? - me abraçou.

- É minha culpa, Carlisle. Não deveria ter saído de casa, nunca mais vou vê-lo.

- Temos chance de procurá-lo.

- Não, ele agora está no sistema. Acabou. Não tem mais família, nem lar, não temos mais nada. Eu o abandonei.

- Pelo amor de Deus, não diga isso. Você fez o que era melhor para você e para ele. Ou acha que continuar presa na sua casa teria algum efeito para ajudá-lo? Willian sabe que o ama. Por favor, acalme-se. - continuou me embalando por muito, muito tempo, até que engoli a dor e as lágrimas - Está mais calma? - perguntou num sussurro.

- Se não se importa. - tentei afastá-lo e sem objeções me soltou.

- Me perdoa, por favor? Jamais quis ser portador de más notícias.

- Tudo bem. - sussurrei sem forças.

- Quer que eu te leve para o seu quarto? Quer um calmante? Uma água?

- Quero ficar sozinha. - ele concordou e fui para os fundos.

Tranquei a porta, me deitei na cama sentindo o silêncio me envolver e tentei racionalizar tudo. Sentir ódio de mim mesma não funcionava mais, não era suficiente. Comecei a sentir ódio de todos, de Vanessa pelo que me fizera e por mais essa, de meus pais por terem morrido, de Carlisle por ter descoberto. Eu não queria mais existir por algumas horas, e assim caí no sono.

Passei o dia todo dormindo, tendo pesadelos e acordando. Um ciclo do qual não pude sair. Nessie bateu algumas vezes na porta do meu quarto, mas seu pai a tirou de lá imediatamente. Ela queria que eu fosse comemorar seu aniversário com ela no parque de diversões, mas eu não tinha forças nem para me mover.

Levantei no domingo com a boca amarga, o estômago se retorcendo e o coração despedaçado. Tomei um banho quente, vesti roupas do jeito que eu gostava e arrumei minha bolsa para levar de volta para a cidade. Nunca quis tanto sair daquele lugar quanto agora, mas nem ânimo para isso me restara.

Quando já estava tudo pronto, leves batidas na porta me fizeram correr para destrancá-la. Carlisle devia estar preocupado comigo e foi exatamente o que encontrei quando abri. O convidei para entrar com um sorriso tímido e ele me avaliou.

- Sente-se bem?

- Pior do que antes, mas em pé.

- Bella, estou me sentindo tão culpado. - parecia angustiado - Me desculpe?

- Não há o que perdoar, já disse.

- Tem certeza?

- Toda. Bem, doutor, eu estou indo para a cidade ajudar no restaurante.

- Não acha que deveria descansar?

- Quanto mais ocupar meu corpo, mais minha cabeça para de pensar besteiras. - ele abaixou a cabeça, nem concordando, nem discordando - Rennesme aproveitou o passeio?

- Sim, não se divertia daquele jeito a muito tempo. Também sentiu sua falta.

- Peça desculpas por mim? - caminhei até a cama e busquei minha bolsa - Volto amanhã bem cedo.

- Se quiser uma folga, não precisa nem pedir, Bella. Sabe que não é empregada aqui apesar das aparências.

- Eu sei. - saímos juntos, já na cozinha Carlisle perguntou:

- Comprei uma bicicleta de presente para Nessie. Acha que ela vai gostar?

- Simplesmente amar. - sorriu ainda triste.

- Vou na garagem ajeitar o presente. - odiava fazê-lo se sentir culpado.

Lembrei do último Natal na companhia de meus pais, o que ganhei uma bicicleta, mas também do destino que ela teve nas mãos de Vanessa e sem notar voltei a chorar.

Meus pés caminharam por vontade própria, eles tinham mais coragem de fazer aquilo do que eu. Meus pensamentos voavam, as palavras vinham na ponta da língua até serem engolidas de volta. Os degraus acabaram, passei pelo longo corredor até que entrei em seu quarto sem bater ou ver antes se podia.

Edward estava na varanda, apagou o cigarro rapidamente ao ouvir o som da maçaneta e quando viu quem era simplesmente congelou. Me aproximei com mais cautela, parando nos limites do quarto. Ele desceu do peitoril, observou minhas lágrimas e engoliu em seco. Estava me expondo pela segunda vez logo para aquele imbecil, mas era uma medida desesperada.

- Isabella. O que faz aqui?

- Eu preciso te pedir uma coisa. Muito importante. - sussurrei.

- Você... você está bem?

- Só me escute. - ele assentiu assustado - Por favor, Edward, devolva a foto do meu irmão. Ela estava na minha carteira, dentro da mochila, eu não vou contar nada para seu pai. Eu prometo. Eu te imploro, por favor? Faço o que você quiser. Vou embora, abandono o emprego, a sua família, eu prometo que nunca mais volto, mas me devolva. Prove que você tem algo além de pedra no lugar do coração.

Edward Pov

- Hey, Eddie. - Joe gritou, mas não respondi.

Apenas passei direto pelo salão de vagos conhecidos, a luz fraca estava piorando minha dor-de-cabeça e meus punhos permaneciam cerrados desde a hora que subi na moto. Empurrei a porta dos fundos do bar com força demais, desci as escadas para o porão de dois em dois degraus e ultrapassei a cortina num pulo.

Cacei ferozmente pela característica mais marcante, logo me fixei no cabelo vermelho que brilhava do fundo do salão e parti ao seu encontro. As mesas de pôquer e sinuca passaram por mim com velocidade, algumas pessoas chamaram meu nome sem receberem qualquer atenção.

Tanya que estava logo atrás do irmão me viu primeiro e abriu um grande sorriso, mas estava com tanto nojo daquela garota que até me envergonhava de ter um dia a tocado. Ela notou minhas feições aborrecidas, chamou o irmão e fez um sinal com a cabeça para que ele olhasse para o lado.

Adoro quando facilitam meu trabalho.

O soco o atingiu tão depressa que nós dois ficamos sem entender de onde viera. Ronald caiu da cadeira, derrubando várias garrafas de cerveja e fazendo Tanya pular.

- Edward, você está louco? - ela gritou fazendo todo o salão olhar para nós.

- Levanta agora desse chão, Ronald. - me encarou furioso enquanto secava a pequena gota de sangue no canto da boca.

- Pode me explicar que porra é essa? - me abaixei o agarrando pela camisa e não me importei se era mais forte ou mais alto, eu só queria quebrar aquele canalha.

- Quem tem que dar explicações aqui é você. Cadê as coisas da garota?

- Tira a mão de mim. - lhe dei mais um soco, deixando que lambesse o chão dessa vez.

- Só vou pedir uma única vez antes que eu quebre sua cara em dois. Me dá as coisas dela.

- Vai se ferrar.

- É o modo difícil que você quer? - chutei seu estômago o fazendo arquear o tronco.Tanya agarrou meus braços e me afastou.

- Onde está com a cabeça? Ele é seu amigo.

- Ele é um bom filho-da-puta, isso sim.

- Sai da frente, Tanya. - obedeceu o irmão - Que porra é essa? Você é louco?

- Você me entregou a mochila. Disse que estava tudo lá dentro, mas mentiu. Confiei em você para dar o susto nela e se aproveitou.

- Se aproveitou? Ah, por favor, não veio aqui realmente para falar disso. Quem é você para reclamar uma sílaba sequer de mim? - se levantou, mas como Tanya ainda estava entre nós não pude sequer me mover.

- Pessoal, que tal resolver isso lá fora? - Joe apareceu atrás de nós com o taco de beisebol na mão.

- Não tem nada mais para ser resolvido.

- É o que você acha? - rosnei.

O dono do bar tocou minha cintura com a base do bastão e reproduziu alguns sons estranhos.

- Vamos, garoto, você tinha parado com isso. Não me faça chamar os caras por nada. - seus primos eram verdadeiros monstros, então era melhor não pagar mesmo para ver.

- Tudo bem, Joe. Já vou embora.

- Quero que os dois caiam fora por hoje. - disse antes de voltar por onde tinha vindo.

- Eu te espero lá em cima.

Ronald estampou um sorriso debochado no rosto, sua irmã grudou na minha sombra e eu subi. O barulho do salto de Tanya estava me dando nos nervos, mas não me arriscaria a um encontro com os primos do dono do bar, então só voltaria a falar qualquer coisa quando já estivesse fora de lá.

Já no estacionamento escuro, procurei minha moto e me sentei nela. As mãos de Tanya agarram meus ombros, sua cabeça balançou de um lado para o outro, provavelmente estava bêbada.

- Quer me explicar o que aconteceu lá dentro?

- Sai daqui, por favor?

- É sobre aquela garota, não é? A empregadinha que nos expulsou daquele dia na sua casa. O que está acontecendo, Edward? O que você e meu irmão fizeram com ela?

- Forjamos um assalto, só para dar um sustinho. Não posso fazer nada se Ronald tem uma má índole. - outros passos me fizeram ver que ele começava a se aproximar - Some da minha frente, eu não aguento mais.

- Você nunca falou comigo desse jeito.

- Deveria ter falado antes.

Cambaleando saiu, deixando que o irmão se aproximasse com um saco de gelo na boca.

- Vai ser sincero ou terei que continuar de onde parei?

- Sessão de hipocrisia. Essa eu desconhecia.

- Você me devolveu a mochila só com peças de roupa. Onde está o resto?

- Edward, nem tudo vem de graça nessa vida. O que esperava? Você me pede uma coisa, cumpro e acha que aceitarei um 'Deus lhe pague' como resposta.?

- Idiota.

- Não, o único idiota aqui é você. Me pediu que assaltasse a garota, planejou tudo e ficou de fora assistindo de camarote. Fui eu quem deu a cara à tapa. Eu podia ter me fudido no seu lugar e mesmo assim no dia seguinte você apareceu irritadinho porque eu a tinha empurrado e ela machucou as lindas patinhas no asfalto. Depois, tive que engolir desaforo de uma cachorra que você protegeu e ainda ajudou ao me expulsar da sua casa. O único babaca aqui é você que está rastejando aos pés dessa garota como um cão sarnento.

- Cala a boca. Não sabe o que está falando.

- Ah, não, então veremos. - colocou a mão no bolso e tirou uma carteira cinza que jogou no ar para que eu alcançasse - O celular eu vendi. O dinheiro foi um bom investimento. A carteira deixei na minha bolsa, esperando o momento de jogar fora. E as roupas? Passei um delicioso tempo as imaginando saindo daquele corpinho gostoso.

- Filho-da-puta. - rosnei antes de avançar e lhe dar dois socos.

Tentou me atacar também, ou se proteger, mas foi tudo frustrado pelo tamanho da minha raiva. Só Tanya conseguiu me tirar de cima de seu irmão algum tempo depois implorando para que eu parasse. Minha mão já estava suja de sangue, sabia que não valia mais a pena.

- Quer saber, tenho pena de você. Nunca vai passar de um fracassado. - abri a carteira e vi a foto do irmão de Bella o que me tranquilizou.

- Você sempre foi meu espelho. - sorriu com os dentes sujos de sangue.

- Teria sorte se fosse verdade.

Subi na moto, sem me preocupar com capacete e corri de volta para casa.

Isabella Pov

A mansão finalmente apareceu no meu campo de visão, mais alguns poucos minutos de caminhada e entrei pela porta dos fundos. Tirei meus sapatos, fiz café, peguei a cesta de roupas sujas e separei uma a uma colocando em seguida na máquina. Subi, acordei Rennesme, a ajudei a entrar no banho. Depois tornei a descer e preparei toda a mesa do café-da-manhã. Fiz tudo isso pensando em não querer em momento nenhum encontrar Edward pela minha frente.

Quando cheguei em casa ontem, finalmente percebi a dimensão da besteira que havia feito. Edward ficara tão assustado comigo que sequer se moveu depois do meu pedido patético e estúpido. Ele deve ter gargalhado da minha cara depois que saí, pelo menos ele esperou que eu saísse.

Carlisle apareceu, sorriu para mim e perguntou novamente se estava tudo bem. Estava vestindo minha melhor máscara fria que esperava ser convincente. Ao descer, Nessie veio para o meu colo e me deu um beijo estalado na bochecha.

- Está melhor, Bells? Papai contou que você estava passando mal, por isso não pode ir ao parque de diversões. Você tinha me dito que nunca foi em um, então da próxima vez vamos juntas e com o Edward, está bem?

- Rennesme, deixe Bella um pouco em paz. - Jasper disse ao entrar na sala.

- Ah, você sabia que eu ganhei uma bicicleta? Lindona, cor-de-rosa, você tem que ver. Sabe andar de bicicleta, Bells?

- Sei.

- Então quando eu voltar da escola você vai brincar comigo, está bem? - a sentei em sua cadeira, confirmando seu pedido enquanto ajeitava seu cabelo.

- Onde está Edward? - Carlisle perguntou a Jasper.

Odiava a maneira como aquele nome me fazia mal. Que diabos estava acontecendo comigo?

- Não está lá em cima, pai. Ou saiu bem cedo, ou não dormiu em casa. - seu pai suspirou.

Nessie chamou de novo minha atenção e contou como tinha sido seu almoço em família no seu aniversário e todos os brinquedos que aproveitou. Foi quando me surgiu uma idéia para mais tarde.

O dia correu normalmente. Os serviços da casa tomaram quase toda a minha manhã. Depois do almoço, quando Jasper voltou para a cidade, comecei a fazer uma pequena surpresinha para Nessie, como pedido de desculpas por não ter participado de um dia tão importante como seu aniversário.

Ela adorava cupcakes, então fiz meia dúzia, a massa dava água na boca só de olhar. Fiz um chantilly cor-de-rosa, vasculhei os armários e achei algumas jujubas que também separei. Seria simples, mas eu usaria fósforos mesmo no lugar das velas. Ao ficarem prontos, coloquei os pequenos bolinhos dentro de um jogo de xícaras coloridas que arrumei em fileira na mesa da cozinha para decorar com o chantilly.

Preparei uma jarra de suco de laranja que guardei na geladeira apressada para terminar antes que Nessie chegasse.

Estava tão concentrada, acho que me escondendo dos meus próprios pensamentos e medos em uma missão fácil de ser cumprida. Tomei um susto já no último quando, não sei porque, olhei para trás e o achei. Edward estava recostado na porta da cozinha e me observava atentamente. Não tive reação alguma, só encará-lo da mesma forma que fazia.

Seu rosto parecia cansado, os olhos margeados com largas olheiras, os lábios pálidos. Devia agir normalmente como se nada tivesse acontecido ontem.

- Precisa de alguma coisa? - negou - Quer que lhe sirva o almoço?

- Não. - parecia confuso.

- Então, se o senhor precisar de alguma coisa pode me chamar. - levantei na intenção de me esconder no quarto.

- Bella, por favor. - parei, sentindo minhas pernas tremerem.

- Pois não?

- Não pare o que estava fazendo só porque eu estava aqui observando. Na verdade, eu só queria conversar com você.

- O que é isso? - a voz surpresa de sua irmã chamou nossa atenção para a porta.

Parada logo atrás dele, Nessie colocava olhos gulosos sobre os bolos decorados. Ela entrou, colocou sua mochila no chão antes e parou de frente para a mesa.

- Hum, que isso?

- Surpresa. - sussurrei sem forças.

- Fez para mim?

- Sim, não pude comemorar seu aniversário com você, então pensei que poderíamos ter uma festa só nossa. - seu sorriso puro e verdadeiro se abriu tão largamente que me deu vontade de sorrir também apesar do nervosismo.

- Você fez isso para mim. Posso te dar um abraço?

- Claro. - ela correu até mim e nos abraçamos.

Queria tanto ver o mundo pelos olhos ingênuos daquela criança.

- Obrigada, Bells. Eu te amo muito, viu? Obrigada mesmo.

- Não há de quê, minha pequena. - isso piorava bastante as coisas ao pensar em ir embora.

Nos afastamos ainda sorrindo, ela deu um beijo na minha bochecha e depois deu um pulinho.

- Perfeito, perfeito, perfeito, onde estão as minhas velinhas?

- Serve fósforo?

- Serve! - soltou uma gargalhada gostosa - Viu, Edward, o que eu ganhei?

- Você é uma menina de muita sorte.

- Muita. Muita. Muita. - subiu na cadeira - Isso é um pedido de aniversariante: quero que cantem parabéns para mim juntos. - minha bochechas rosaram e assenti.

- Não vai esperar Jasper?

- Ele voltou para a cidade, só me deixou aqui e foi.

- Então vamos lá.

- Eu canto, mas eu não vou querer um, mas dois bolinhos.

- Guloso. - resmungou cruzando os braços.

Eu e Edward rimos, acendi um fósforo e assim como Nessie pediu cantamos um breve parabéns.

- Faça um pedido. - ele disse ao terminarmos.

A garotinha se curvou, deu um sorriso travesso olhando para nós e apagou o fogo. O leve mover do ar tocou meu rosto, ergui meus olhos encontrando as duas esmeraldas que me fitavam de forma intensa e curiosa.

- Posso atacar meu bolo? - ele abriu um pequeno sorriso, mordi o lábio reprimindo o meu e o assistindo apertar os olhos - Estão brincando de jogo dos sete erros na cara um do outro ou estão recusando mesmo esses bolinhos?

- Nem pense em colocar as mãos no meu. - ele rosnou.

Desvíamos nos centros de atenção, então sentamos para comer. Enchi copos com suco para nós, enquanto eles implicavam um com o outro.

- Você está toda imunda. - ele provocou.

- É você que não sabe comer direito. Tem chantilly no seu queixo.

- Tem chantilly na sua testa, nanica.

- Ah, é? - ela encheu os dedos com o creme e se esticando esfregou dos olhos até o queixo de Edward.

Ele ficou parado com a boca meio aberta, nem eu acrediatava na travessura. Rennesme gargalhou com tanta vontade que até deixou rosa suas bochechas.

- Você não fez isso.

- Fiz sim. - Edward repetiu o movimento da irmã e esfregou chantilly em seu cabelo.

Os olhos dela caíram como os de um cachorro doente, retorceu os lábios num bico insatisfeito e cruzou os braços. Edward fez o mesmo que ela fizera antes, apenas gargalhou o mais alto que pôde.

- Satisfeita agora?

- Você vai aprender a nunca tocar no cabelo de uma garota. - Nessie rosnou antes de jogar uma jujuba que acertou bem no meio do nariz do irmão.

Gargalhamos quando ele se fingiu de coitado, se jogou da cadeira, esperniando no chão. Me levantei para assistí-la pular sobre ele e começarem uma guerra de cócegas inacreditável. Não pude não deixar de rir com a palhaçada dos dois. Agora sabia porque ela gostava tanto dele, afinal tinham praticamente a mesma idade.

- Não aguenta mais? - a sacudiu.

- Não é isso. Pare só um minuto, por favor? - disse em meio as gargalhadas.

- Fala o que foi. - a segurou quase de cabeça para baixo para que olhasse em seus olhos.

- Tem gente aqui que está muito limpa. - olharam para mim.

- O que? Não, nem pensem nisso. - se levantaram e agarram um cupcake cada um - Parados aí mesmo. - dei um passo para trás.

- Ah, Bella, relaxa. Eu não vou fazer isso com você. Jamais faria. - mordeu seu bolo e sorriu como uma anja.

- Eu não digo o mesmo. - de repente o jato de chantilly atingiu meu rosto e cabelos e a gargalhada de Edward encheu o cômodo.

Limpei, na verdade, tirei os excessos. Eles riam desesperadamente. Não havia mais bolinhos, a vasilha suja de chantilly estava longe demais. Tive outra idéia.

Peguei o copo de suco mais próximo e molhei os dois. Muito mais Edward que Rennesme, mas ainda assim os dois. A pequena arregalou os olhos, então voltou a rir. Dei a volta na mesa, parando perto dos dois. Nunca participei de uma guerra de comida, isso era delicioso.

- Estamos quites. - debochei.

- Acho que sim. - ela disse ainda rindo, mas seu irmão fazia uma cara de pouquíssimos amigos.

- Está gostoso, Edward? - rosnou - Ah, não faça essa cara. Eu sei que você ama tudo que eu faço.

Previ o que faria, por isso na hora que Edward avançou sobre mim dei um passo para o lado e fugi. Agora eu estava realmente com medo, mas também havia empolgação. Só um detalhe que ignorei foi o chão molhado pelo suco. Atrapalhada como sempre, escorreguei e cai sentada. Edward se ajoelhou no chão atrás de mim e prendeu meus pulsos.

- Me solta. - gritei.

- Você me paga. - joguei meu corpo para frente e girei para me soltar, mas nós caímos deitados com seu corpo sobre o meu.

Ainda gargalhávamos como duas crianças, sem contar Nessie que já estava roxa, até que percebi que não havia mais graça alguma. Edward estava próximo demais. Sua respiração batia no meu rosto, seu hálito invadia minha boca, uma de suas mãos tocava minha barriga e a outra estava ao lado do meu rosto.

Seu sorriso também começou a diminuir aos poucos, passou a me encarar de forma intensa, tudo em volta de nós estava sumindo. Ele apertou com um pouco mais de força minha cintura e tentou dizer algo. A risada de Nessie tinha cessado, eu e ele olhamos em volta para a cozinha bagunçada e vazia.

- Acho melhor levantarmos. - sussurrei, mas Edward sequer se mexeu - É sério, me solte.

- Er... - fechou os olhos e se ergueu - Me desculpe, droga, me desculpe.

Me sentei também, escorregando pelo piso para longe de seu corpo. Eu estava tremendo. Mas o que estava acontecendo com nós dois? Porque me olhava daquela maneira?

- Eu vou te ajudar a limpar isso aqui.

- Não precisa.

- Eu insist-

- Já disse que não precisa. Posso fazer sozinha. Agora, com licença. - levantei quase correndo e fui para o meu quarto tomar uma ducha rápida e me trocar.

Estava toda arrepiada, ainda assim me sentia quente, a garganta seca, os pensamentos confusos. Quando saí do quarto, encontrei a cozinha toda arrumada e limpa. Ele guardara o suco, os copos, a louça, limpou o chão e a mesa. E, falando em mesa, uma lágrima silenciosa brotou nos meus olhos, escorregou pela minha bochecha até cair solitária na blusa. A foto de Willian estava ali em cima.

Sorri ao ver o rostinho do meu irmão que fazia tanta falta. Lembrei do som da sua risada, de como seus cabelos quase loiros eram tão macios e do seu abraço. Olhei para a porta, pensando em ir até o quarto de Edward agradecer, mas desisti da idéia.

Ao invés disso, passei o dia novamente reclusa, trabalhando devagar até a hora de ir embora. Pensei seriamente se queria voltar para a cidade ou não. Tomei um outro banho, vesti uma roupa de Alice e saí pelos fundos para o gramado.

Atravessei todo o campo, uma espécie de descida até o rio. Chegando lá, fui até o final do deque e me sentei com as pernas balançando acima da água. Observei meu reflexo, o vento bagunçava meus cabelos e me abracei sentindo um pouco de frio já que o vestido deixava meus braços descobertos.

- Costumava vir muito aqui quando era pequeno. - a voz rouca fez meu coração acelerar imediatamente.

Meu corpo congelou, não pude me mover sequer para olhá-lo atrás de mim. Como não pude ouvir seus passos na madeira avisando a proximidade? Eu teria saído dali para evitar constrangimento. Sugando o ar com força pela boca, espiei por cima do ombro seus pés descalços. Ele sorriu como se tivesse sido pego numa travessura.

- Posso sentar?

- Claro. - coloquei minhas pernas para cima e levantei.

Ele me olhou confuso, mas não dei oportunidade para que perguntasse.

- A casa é sua, o deque é seu, pode fazer o que quiser.

- Espere. - se adiantou segurando meu braço - Não precisa ir só porque cheguei.

- Não é só porque você chegou. Preciso voltar para a cidade.

- Já está tarde demais para ir até Forks. Pode ser perigoso.

- Sei me cuidar. - tentei dar um passo, mas apenas rodei até dar de frente com ele.

Seus olhos queimavam no meu rosto, mas não quis levantar os meus. Sua mão me prendia com força, mas sem me machucar, então seu dedão acariciou minha pele e eu me arrepiei.

- Se é tão importante, posso te levar de carro até lá. - já estava passando dos limites.

Puxei o braço com tamanha força que até desequilibrei, mas consegui me afastar. Ele me olhou confuso.

- Estava te machucando?

- Acha que sou idiota? Que vou acreditar nessa história toda de 'me tornei um anjo de um dia para o outro'? Agradeço muito por ter devolvido a foto do meu irmão, ela é muito importante para mim, mas não é porque me viu chorando daquele jeito que pode se aproximar e fingir ser meu amigo.

- Não estou fingindo nada.

- Que ótimo, porque eu sei muito bem quem você é e jamais acreditaria nessa carinha de anjo. Sei que você só está tentando conversar comigo porque caí na asneira de dizer que faria qualquer coisa para que você me devolvesse a foto e agora quer cobrar sua parte no acordo. Tudo bem, Edward, quer que eu vá embora, não é? Minhas malas já estão prontas. - tentei sair, mas puxou minha mão e me abraçou.

- Malas prontas? Você não vai a lugar nenhum.

- Solte-me. Estou mandando. - riu torto e me aproximou mais.

Meu peito começava a queimar, meus olhos arder pois ele estava próximo demais novamente. Não poderia deixar que ele me afetasse desse jeito.

- Só estou tentando ter uma conversa séria com você, Bella, porque quero pedir desculpas pelo que fiz.

- Como? - perguntei não acreditando.

Uma de suas mãos apoiadas nas minhas costas subiu pelo meu corpo até se embrenhar nos meus cabelos e me impedir de afastar o rosto.

- Me desculpa? - perguntou antes de colar os lábios nos meus.

Estava quase anestesiada no primeiro choque, tanto que me perguntei se estava acontecendo mesmo. Seus dedos acariciaram minha nuca, provocando um arrepio violento que desceu pela minha espinha. Sua mão na minha cintura me puxou para colar em seu peito.

Era de verdade, eu estava mesmo sentindo a textura de sua boca na minha, suas mãos me segurando. Meu peito se encheu de algo desconhecido, como se ocupasse todo o espaço que antes pertencia ao ar, me impedindo completamente de respirar. E não me sentia mal com isso, não senti mal por saber que eu o permiti se aproximar, não me senti mal por saber que era ele. Eu estava gostando demais para sentir alguma coisa além da vontade de me deixar levar.

Edward moveu a cabeça para um lado, não pressionando, mas encaixando sua boca perfeitamente na minha. Minhas mãos antes apoiada em seu peito com o único objetivo de empurrá-lo, agora escalaram seus ombros até darem a volta completa em seu pescoço. Ele se agachou um pouco mais por causa da minha altura e nos movemos devagar.

Era um beijo doce, sem pressa, estávamos testando nossa compatiblidade. Seus dedos fincaram mais forte na pele das minhas costas, eu arfei e ele aproveitando a oportunidade tomou meu lábio inferior entre os seus. O sugando com delicadeza. Meus músculos retesaram quando sua língua pediu permissão e eu cedi.

Agarrei seus cabelos da nuca, simplesmente não sabia onde aliviar toda a tensão que meu corpo acumulava. O puxei mais para baixo, aprofundando o beijo sem sequer alterar a velocidade da nossa dança. Queria aproveitar de cada sensação bem devagar para me lembrar mais tarde. Num momento de entrega, quando ele se afastou um pouco, prendi seu lábio inferior em meus dentes e o ouvi soltar um gemido baixo e abafado.

Nos afastamos um longo tempo depois. Ele olhou em meus olhos parecendo atordoado.

- Meu Deus, o que eu fiz? Você vai me matar, Isabella.

Pensei no quanto essa situação parecia impossível, tive vontade até de rir, mas não o fiz. Edward estava com a mão em meu pescoço, seu dedão acariciava minha clavícula e novamente era puxada para sua boca.

Isso era muito mais do que pedir desculpas. Ele me maltratou durante tanto tempo, com o que chamava de brincadeira, com suas palavras e, principalmente, com seus olhares. E agora me beijava como se nunca nada tivesse acontecido.

Espere, eu só podia estar louca. Edward estava me beijando, ele acreditava que eu tinha um caso com seu pai e estava me beijando. Só podia ser mais uma de suas brincadeiras, só podia. Nunca passei de um alvo para ele, só podia ser armação essa proximidade, esse beijo, essas palavras.

Queria me vingar, me afastar, mas Edward estava fazendo comigo exatamente o que pretendia fazer com ele quando fiz meus planos. Estava tentando se aproximar, me consquistar e me destruir pelo prazer incompreensível que tinha de me ver magoada. E estava conseguindo, pois essa era a única explicação para sentir meu coração bater tão rápido e tão devagar ao mesmo tempo, eu estava me apaixonando.

Agora sentia nojo, queria sentir nojo. Não correspondi mais ao beijo, tentei afastar sua mão da minha cintura e sem dificuldade nos separei. Ele tinha um sorriso bobo nos lábios ao acariciar meu rosto e colar sua testa na minha.

- O que houve, Bells?

- Houve que agora eu entendi o que você queria em troca pela foto. - dei dois passos para trás - Você tem razão em me achar uma idiota. Está quase escrito na minha testa. Até parece que você, o cara mais estúpido, covarde e detestável dessa cidade, pode mesmo um dia pedir perdão a alguém. Sou muito tola.

- Bella, pelo amor de Deus, você entendeu errado. - me seguiu.

- Até achei que poderia te enfrentar, mas desisto. Já passei muita coisa na minha vida para ainda ter que suportar isso. - comecei a correr.

- Bella, não. - gritou do deque.

Corri para casa o mais depressa que pude e me tranquei no meu quarto.

Edward Pov

- Merda. - bati a porta e as paredes estremeceram.

Levei as mãos a cabeça, agarrei meus cabelos os puxando com a força que tinha. Era uma forma de punição por ter sido tão idiota e apressado. Quando fui a procurar em seu quarto e a vi saindo pelos fundos, parei uns segundos ainda na porta de casa imaginando o que dizer, do mesmo como passei minha noite inteira em claro fazendo.

Finalmente havia conseguido colocar minha cabeça no lugar. Paul já tentara abrir meus olhos, mas só depois do que Ronald disse é que pude entender o que estava acontecendo. Eu sentia raiva, mas não por achar que Carlisle estava com ela, e sim por não poder estar com ela. Brincava, provocava, como único objetivo de chamar sua atenção, de vê-la corar, de fazê-la se irritar e vir tirar satisfações comigo. Me sinto um garotinho de cinco anos de idade, essa era a minha verdade e não sabia o que estava acontecendo. Paul dissera que eu estava afim de Isabella, mas aquela atração, o magnetismo era diferente de tudo que já sentira na minha vida.

Quando tirei os sapatos para não chamar atenção, fiquei tentado a me aproximar ao ponto de tocá-la, eu ainda estava me sentindo diferente depois de tê-la tão perto quando caímos na cozinha. Mas decidi que não podia ser tão afobado assim. Eu também queria conversar, dizer que me sentia culpado por tudo que fizera antes, sentimento que surgiu quando apareceu chorando no meu quarto. Jamais fora minha intenção magoá-la, talvez dar um susto, sou imaturo assim mesmo, mas nunca quis ferir seu coração.

É claro que Bella se afastaria, ela não era estúpida. Passei meses a ignorando, tentando fugir ou então aprontando e do nada peço desculpas e a beijo. É motivo suficiente para que saísse correndo. Pensei em ir até seu quarto para explicar o que estava passando na minha cabeça, mas assim como eu, ela também precisava de tempo para pensar e descansar.

Sinceramente, como ter uma noite de sono se ainda sentia sua boca na minha?

- Que inferno. - rosnei.

Apesar da grande dificuldade, consegui dormir um tempo depois, mas estava tão atordoado que acordei ao nascer do Sol. Sabia que precisava fazel alguma coisa que me relaxasse, então pensei em ir até Port Angeles. Era mesmo uma boa idéia não encontrar Bella logo pela manhã, talvez não estivesse pronta para isso, nem eu. Me levantei, tomei um banho, arrumei uma bolsa com uma muda de roupa e desci.

Ao passar pela sala, parei um segundo pensando se Bella ainda estaria dormindo ou se já preparava o café-da-manhã. Dei alguns passos na direção da cozinha, mas assim que entrei pela porta ouvi o som dos seus passos vindo do quarto de empregada. Um minuto depois já estava sentado sobre a moto, vestindo o capacete e abrindo o portão da garagem com o controle remoto.

Viajei não com muita pressa, pois sabia que Paul ainda não havia chegado a academia. Mas não esperei muito até que aparecesse com suas várias bolsas, a chave rodando no dedo e um sorriso estúpido na cara.

- Não vai adiantar falar nada, então suba. - abriu a porta e deu espaço para que eu entrasse.

Não queria perder mais tempo, logo troquei as roupas e enfaixei as mão. Paul entrou no vestiário anunciando que já preparara tudo para mim.

- Então, qual foi a merda dessa vez?

- Nada demais.

- Ah, tá. - cruzou os braços e fez uma careta - Hey, faz mais ou menos um mês e fui até Forks me encontrar com seu irmão. Não nos falavamos a um bom tempo e quando cheguei lá tinha uma confusão grande no restaurante. Ele e uma garçonete que se esbarraram e pareciam se conhecer de algum lugar. Seu irmão está, acho que, namorando ela agora. Sabia?

- Caso tenha se esquecido, sou o renegado da família. Não sei nada da vida de ninguém, não sou chamado para as comemorações, muito menos para as dificuldade e a minha presença é desconfortável, irritante e nojenta.

- A sua empregada estava lá.

Levantei o rosto, entregando completamente o porquê de estar aborrecido ao perguntar como um idiota:

- Bella?

- E vocês têm outra, imbecil? - bufei, tentando não dar importância, mas só dei ainda mais - Pensei que fosse Isabella para você.

- Er... é, Isabella. Isso mesmo. Vamos treinar. - o arrastei para a quadra onde fizemos todo o aquecimento em silêncio.

Ele ainda me observava com uma sobrancelha erguida, mas meu alívio chegou ao começarmos o treinamento muito tempo depois com um saco de areia e sua expressão finalmente se amenizou. Vim aqui para esquecer aquela história que estava pirando completamente com minha cabeça. Paul voltar ao assunto não era uma boa.

Descontei toda a minha raiva na lona vermelha, sentindo a pele nos nós dos meus dedos repuxar tamanha força. Pensei no que fizera com Bella, na minha noite mal dormida, nos meus atos impensados dos últimos tempos. Pensei no que meu pai diria, e também exorcizei aquele fantasma, assim como qualquer outro que ainda estivesse me perseguindo. Meu rosto já pingava de suor quando parei um pouco a pedido de Paul.

- Quer rasgar a lona ou quebrar a mão? - apoiei as luvas nos joelhos e suguei o ar com força - Hey, postura, não comprima os pulmões. - resmungou me dando um chute.

Me endireitei, depois arranquei as luvas com força e sequei o rosto.

- Quero chutes agora. - ainda estava muito ofegante.

- Quer descansar agora.

- Quero chutes.

- Não me importa o que você quer. Se fizesse tudo que tem vontade, já estaria morto. O seu problema não é o treino, não são os chutes, nem mesmo sua falta de tato para obedecer ordens. E sim o simples fato de não conseguir tirá-la da cabeça, não é isso? - o ódio todo que aliviei com os socos voltou e ainda pior preenchendo meu peito, quase transbordando pela minha garganta - O que aconteceu?

Me sentei no chão, completamente derrotado.

- A beijei. - respondi ainda com a voz muito rouca e fraca.

- Você o quê?

- A beijei, porra. Aconteceu umas coisas, precisei me aproximar, quis pedir desculpas e quando dei por mim estávamos nos beijando.

- Ela correspondeu?

- Muito bem até a hora que caiu na real e saiu correndo.

- Comece a explicar essa história direito.

- Estava em casa, no meu quarto sozinho, fumando, ela apareceu chorando. Parecia desesperada, como se acabasse de saber da morte de alguém. Nunca vi ninguém assim.

- Será porque você é alérgico a demonstrações de sentimento?

- Deixe-me terminar, por favor? - gesticulou, dando-me permissão - Ela me pediu um favor.

- Qual?

- Pediu que devolvesse uma foto de seu irmão que estava dentro da carteira que mandei que roubassem. Foi embora em seguida, então pensei sobre tudo, sobre como só queria dar um susto, mas fui longe demais, sobre como me senti ao vê-la daquele jeito. De repente, eu estava entrando no bar do Joe e socava a cara do Ronald por ter mentido para mim.

- Como assim?

- Ele me devolveu a mochila, disse que estava tudo lá dentro, mas quando quis devolver a foto para Bella só encontrei roupas. Ele vendeu as coisas de valor, ficou com o dinheiro.

- E a foto na carteira?

- Ainda estava com ele, então pude pegar de volta e entreguei a Bella. Pela primeira vez na vida, quis pedir desculpas, mas não tive coragem. E quando foi suficiente, não houve tempo de terminar de me explicar, de saber tudo que queria, muito menos de cumprir o que pretendia fazer. Já nos beijávamos.

- Não acreditou em você, por isso saiu correndo. - confirmei com a cabeça.

Só queria saber porque de uma hora para outra simplesmente comecei a dar tanta importância. Se o fato de estar mesmo me sentindo atraído por Bella traria também todo esse sentimento de culpa junto, então porque nunca me senti assim com qualquer outra mulher?

- Pode responder, por favor? - gritou.

- O que?

- Acabei de perguntar o que quer dela.

- Quero saber porquê estava chorando, talvez ajudá-la, dizer que sinto ter a magoado e que essa não era minha intenção.

- Hum... Poxa, difícil de acreditar que você esteja tão apaixonado. - o encarei assustado.

- Apaixonado?

Me levantei num rompante, senti minha garganta se apertar num nó e forcei a risada mais alta e sarcástica que consegui. Só que minha reação tinha sido tão falsa quanto patética. Paul cruzou os braços, ergueu uma sobrancelha e deu de ombros.

- Se pudesse ver sua cara agora, Edward.

- Com certeza seria mais bonita que a sua. Vamos continuar.

- Porque há certas pessoas que insistem em não admitir o que sentem?

- Porque há certas pessoas que adoram se meter na vida dos outros? Eu te pago para me ajudar aqui, não para me fazer de cobaia nessa sua psicologia de merda.

- Ah, quanto melodrama. Porque tão ofendido? Dizer que alguém está apaixonado não é um xingamento. Todo mundo passa por isso um dia, afinal você não tem uma pedra no lugar do coração. Ou tem?

Suas palavras me fizeram lembrar as de Bella, por isso fechei os punhos e atingi o saco de areia com força. Era impossível estar apaixonado por ela. Eu simplesmente não me apaixonava por ninguém. Amor é coisa de tolos, imbecis, pessoas que gostam de sofrer por pouco e que gostam de ser decepcionadas e isso tudo jamais seria eu.

- Porque está fazendo essa força toda? Você já deu o grande passo de querer mesmo pedir desculpas, já a beijou e foi correspondido. Qual o problema nisso? É porque ela é empregada?

- Não.

- Ah, que ótimo. Então porque não pode admitir? Tem medo?

- Ah, merda. Pare de dizer besteiras, que saco! Minha paciência já acabou.

- Tudo bem, eu paro antes que seja o próximo a receber um soco desses. - segurou o saco de areia que ainda balançava - Mas vou logo avisando que vai ficando pior. Primeiro não consegue tirá-la da cabeça. Depois vai planejar tudo em função dela. E mais tarde, não vai se imaginar um dia sem sua adorável Isabella. - não aguentava mais o deboche, minha cabeça ia explodir.

Saí andando na direção do vestiário antes que fizesse alguma besteira. Ele não foi me importunar de novo, sequer veio até a porta. Subi na minha moto e voltei para casa.

No caminho, tentei não pensar, mas foi impossível. As palavras de Paul ecoavam em minha mente e eu tentava dizer para mim mesmo que amor era o último sentimento que poderia alimentar uma hora dessa. Era confuso, mas não era amor. Não podia ser. Paixão era patético, eu não queria ser como uns e outros, sofrendo pelos cantos, me rebaixando e dependendo de alguém. Mesmo que fosse Isabella.

Me lembrei de seu beijo, do quanto adorei sentir seu toque na minha nuca e do quanto seus grandes olhos cor-de-chocolate me deixaram ser ar. Precisava me concentrar em apenas me redimir por tudo que fiz, sem sequer me aproximar ao ponto de querer repetir a cena do deque.

Quando dei por mim, estava terminando de estacionar a moto na garagem e fechava o portão. Entrei em casa, fui até a área de serviço onde deixei minhas roupas sujas e suadas, esperava encontrá-la, mas não aconteceu. Subi para meu quarto, imaginando onde estaria e tomei um baita susto ao abrir a porta e vê-la parada de frente para meu armário.

- O que faz aqui? - soltei antes de qualquer coisa.

Ela tomou um susto com minha voz e deixou minhas roupas que estavam no seu colo cairem todas no chão.

- Ah, obrigada. - bateu nos quadris - Estavam lavadas e passadas.

Entrei, deixando a porta aberta.

- Não devia estar no meu quarto.

- Não devia estar em casa. - rosnou, então notei que a gaveta aberta estava vazia demais - É ótimo saber que se preocupa comigo. - bufou - Mas onde estão meus...

- Seus cigarros? - se aproximou - Joguei fora e vou contar para o seu pai. - passou por mim, mas corri até estar entre ela e a porta.

- Você o quê? - perguntei num rosnado.

- Joguei na privada. Fiz um favor. - respondeu com a mão na cintura.

Bella deu um passo para o lado tentando alcançar a porta, mas entrei na sua frente. Ela fez o mesmo para o outro lado, fui obrigado a repetir seu gesto.

- Vamos continuar dançando? - perguntei.

- Sai da minha frente. Não deveria estar em casa essa hora, muito menos atrapalhando meu serviço.

- E se não estiver afim?

- Vai me prender aqui pelo prejuízo? Vamos Edw-

Quando tentou de novo passar por mim, fui mais rápido empurrando a porta e a trancando. Agarrei Bella pela cintura e a encostei na parede.

- Não exatamente pelo prejuízo.

Novamente aquela sensação que senti quando Bella me abraçou na moto quando voltávamos do hospital, a mesma que me levou a beijá-la ontem, tomou conta de mim. Era uma espécie de formigamento, um fogo que deixava em minha pele ao tocá-la. Suas pequenas mãos apoiadas no meu peito eram a única barreira que me impedia de beijá-la. Os traços cor-de-mel em sua íris pareciam mais vivos agora, davam ao seu olhar maior aparência de medo.

Levei uma de minhas mãos, antes presa com firmeza na sua cintura, até seu rosto. Acariciei sua bochecha com o dedão, assistindo surpreso a pele corar e seus lábios tremerem. Respirei fundo, reprimindo a vontade de tocá-los.

- Acho que dessa vez você não vai ter como sair correndo de mim.

- Não se aproxime mais. - disse com dificuldade enquanto fincava as unhas logo abaixo da minha clavícula.

Não pude deixar de pensar que aquela não era exatamente uma reação de quem me queria longe e isso me fez sorrir.

- Prometo que não vou fazer nada com você, Bella. Fique calma.

- Então me solte.

- Não posso. Pelo menos, não até me ouvir. - revirou os olhos - Tenho que lhe dizer três coisas muito importantes. Coisas que queria ter dito ontem à noite e até comecei, mas não consegui terminar, bem, do que aconteceu você se lembra. Eu espero.

- Não preciso ouvir nada que venha de você. - murmurou.

- Claro que precisa. A primeira é que você é a pessoa mais burra da face da Terra. Não quero nada em troca por ter devolvido a foto do seu irmão, não pedi nada quando me procurou chorando e muito menos seria capaz de fazer isso.

- Ora, poupe-me. - tentou me empurrar.

Me vi obrigado a fazer o que não queria. Agarrei os pulsos de Bella, os voltei para as costas e prendi. Nossos corpos ficaram mais próximos, o que fazia difícil a missão de me concentrar, mas assim a impediria de se sacudir.

- Não quero que vá embora dessa casa. Muito menos que considere aquele beijo um pagamento. Fiz o que fiz porque me importo com o que está sentindo. Eu me importo, Bella. Em segundo, eu só devo completar as desculpas mal arranjadas de ontem. Entenda que desde o início foi engraçado e até confortável brigar e implicar com você. Não me pergunte o porquê. As provocações, xingamentos, e as brincadeiras. Perdoe-me, aquilo não se pode chamar de brincadeira. E, infelizmente, só notei isso quando me procurou. Foi só então que me lembrei que você também é humana, que sente dor, cansaço, que sofre. Não sabia da existência da foto do seu irmão e não queria ter sido o culpado pela sua mágoa. Fiz o que pude para recuperar o tempo, tanto que fui atrás da foto. Mas ainda assim, pela primeira vez na vida, não me senti confortável só por consertar a besteira, precisava ouvir da sua boca que me perdoa. Eu precisava fazer você acreditar que não quero mais jogar, afinal você não é uma peça de tabuleiro.

Parei um segundo puxando o ar antes da próxima rajada de pensamentos e palavras incontroláveis. Não consegui avaliar sua expressão enquanto isso.

- A terceira é sobre o que fizemos ontem no deque. Não sei exatamente o que aconteceu, mas preciso adiantar que não vou pedir desculpas por ter te beijado. Aliás, é exatamente o que quero fazer agora. Só devo dizer que não é mais nenhuma mentira minha, nem uma forma de te prejudicar no futuro, eu só não consigo mais... me afastar...porque é pertubador quando acontece.

Seus olhos se arregalaram, as pupilas dilataram, os lábios se entreabriram deixando seu hálito bater livremente no meu queixo.

- Me pediu para provar que não havia somente pedras no lugar do meu coração. Já te dei três provas, Bella. Sua vez agora.

Seus olhos demoraram até expressar algo além de espanto. Soltei seus pulsos lentamente, aproveitando para escorregar meus dedos por seus braços já que a sensação era tão boa. Nossos rostos se aproximaram ainda mais. Bella mordeu o canto esquerdo de seu lábio inferior, não me permiti resistir e a beijei ali.

No choque, deixou que seus braços caíssem soltos ao lado dos quadris. Envolvi sua nuca, também sua cintura e a puxei para ainda mais perto. O primeiro toque foi diferente do de ontem, pois eu estava pedindo permissão. Avaliei o significado de seus movimentos, primeiro quis se afastar com medo, depois relaxou e fechou os olhos. Nesse momento soube que era minha.

Depois de nos acostumarmos com a presença um do outro, Bella agarrou minha cintura com uma mão e a outra embrenhou nos meus cabelos. Puxou minha camisa para que ficasse mais perto, suguei sua língua e resfoleguei. Parei o beijo por um segundo, colei minha testa a sua, desejando que abrisse os olhos, mas parecia tão absorta num pensamento que me sentiria culpado em chamar seu nome.

Encaixei meu rosto em seu pescoço, sentindo seu perfume arder minha garganta, beijei o lóbulo e a senti suspirar. Sorri com a reação de causava, por isso distribuí mais beijos até voltar a sua boca, mas quando selei nossos lábios ela quis se afastar.

- O que houve?

- Eu. - abriu seus olhos e estavam vermelhos - Não posso. Eu não quero você. Me solte.

Aquele mar de decepção me arrastou como numa ressaca. Depois de tudo que disse e tudo que acabamos de fazer, ela simplesmente sai com um 'me solte'. Lembrei do que pensei na academia, de como os apaixonados se tornavam tão idiotas e me senti traindo minha própria filosofia.

Dei o sorriso mais amargo que consegui, uma lágrima escorreu por sua bochecha e me afastei.

- Sai do meu quarto agora. - rosnei.

Sem pensar, ela obedeceu.


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