A Mulher da Casa escrita por sisfics


Capítulo 12
Capítulo Dez: Leve-me para Casa.


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem não ter vindo na quinta, tive alguns problemas. Obrigado por quem votou em Amdc no TFT. A fanfic alcançou o terceiro lugar. Obrigado.



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Edward Pov

Respirei.

O mais profundo que meus pulmões permitiram parando somente com a chegada da dor quando mais nada poderia superar a que martelava no meu peito. Pensei que talvez assim me acalmaria, ou diminuiria a maldita sensação angustiante que estava me sufocando. Mas não funcionou como imaginei, assim como fugir, beber e tentar ignorar o que tinha acontecido ontem também não estava adiantando.

De cansaço meus olhos fecharam-se sozinhos e assim apoiei a cabeça no volante do Mercedes. Imadiatamente, vi mais uma vez aquele olhar tão confuso e machucado que quase me convenceu ser real, assim como também as lágrimas escorrendo por suas bochechas que horas antes eram cobertas por beijos meus e as mãos trêmulas. A única pessoa no mundo que me fez ter vontade de ser alguém melhor, de viver e de amar me traira da pior maneira que pude imaginar.

Ela chegou ao seu objetivo: provei do gosto amargo do meu próprio veneno quando dei conta que nunca passei de só mais uma peça insignificante de um jogo. Uma peça tão tola que entregou o coração que sequer sabia que tinha nas mãos de uma completa estranha que devia estar a quilômetros daqui. Para piorar, havia um problema: Isabella estava impregnada em cada maldito pedaço de mim, daquela casa e daquela gente que estava lá dentro. Por isso era tão difícil reunir forças para sair do carro e entrar logo pela porta da frente.

Me deparar com qualquer lembrança viva dela seria pior que pedir a mim mesmo para ouvir os gritos de remorso que algum pedaço - insano, com certeza - de mim ainda insistia em dar. Mas uma outra parte mandava que o velho Edward assumisse o comando por algumas horas, que passasse por aquela desgraçada como por qualquer animal imundo, que levantasse a cabeça. E foi o que fiz. Desci do carro ainda um pouco tonto, mas me mantive em pé e cambaleante subi os degraus que me separaravam da entrada.

 Quando girei a chave na fechadura, me permiti questionar pela última vez se tinha cometido algum erro, se a decisão que tomei fora a mais correta, o caminho certo. Então, meio cego pelo Sol que começava a nascer e sem respostas, entrei na mansão. Não sei se tranquei a porta, como foram meus passos até a sala de estar, mas ao chegar ao pé da escada me surpreendi com seis pares de olhos atentos sobre mim e alguns até mesmo furiosos. Passei a mão pelo rosto querendo que fosse só imaginação ou a bebida, mas então a voz de Carlisle me puxou para a realidade com um solavanco.

- Edward, onde estava até agora?
- No inferno. E você, papai? - já conhecia minha resposta.
- Filho. - segui o guinchar assustado que veio de trás dele e encontei Esme encolhida com seu olhar suplicante.
- E, pelo visto, o capeta me seguiu até aqui. Só pode ser um pesadelo.
- Edward.
- Ah, me desculpa, mamãe. Mas o abraço fica pra outra hora, talvez uma que não esteja com vontade de vomitar só de olhar para sua cara. Por falar nisso, Carlisle, esperava mais de você. - desejei subir, mas gritou meu nome fazendo-me parar e girar até estar de frente para as duas garotas sentadas ao lado de Emmett que me encaravam com lágrimas - Mais duas sanguessugas nessa casa, agora sim estamos feitos.

Os passos dados por Jasper foram curtos, ainda assim ligeiros e eficientes me confundindo a tal ponto que mesmo depois de alguns minutos no chão ainda não entendia como conseguira me atingir e nem de onde tirara tanta força para aquele soco. Segurei o queixo que latejava, passando o dedo antes pelo filete de sangue a correr no canto da minha boca, e o fitei deixando a raiva inflar meu peito. A mesma relfetida em sua expressão fulmegante.

- Se abrir sua maldita boca uma única vez mais para falar o que for de nossa mãe, Alice ou Rosalie, eu juro que esqueço nosso laço sangüíneo e acabo com sua raça.
- Resolveu ser homem no último minuto, maninho?
- Melhor que continuar uma criança fraca como você.

Antes que pudesse avançar com socos sobre seu rosto, Carlisle agarrou-me pela camisa quando já dava passos na sua direção e jogou-me contra o corrimão. Jasper se manteve esperando pelo meu contra-ataque interrompido pelos empurrões que meu pai dava forçando os degraus passarem com mais velocidade sob meus pés. Rosnei xingamentos até meu quarto onde fui jogado na cama como a um saco de lixo e trancado para evitar fugas. Vi bem quando a chave saiu da fechadura para o bolso da calça dele que suspirou passando a mãos pelo cabelo com raiva.

- Por que você é assim, Edward?
- Talvez por ter sido o único a nascer com a capacidade de dizer a verdade.
- Ou com a incapacidade de sentir.
- Mais uma vez o maldito discurso de compaixão.
- Cale a boca. - gritou ressaltando as veias em seu pescoço - Já sabia que era um irresponsável, inconseqüente, frio e egoísta, mas depois do que fez ontem. O que passou pela sua cabeça? O que disse à Isabella, seu moleque? Quem te deu o direito de expulsá-la da minha casa?
- Só pensa nela.
- Só Deus sabe o quanto estou envergonhado de ser seu pai. - dei um sorriso amarelo sentindo minha garganta queimar - Por que descontar sua raiva nas outras pessoas? Sua família, seus amigos, se é que ainda os tem.

Pôs a mão no bolso onde guardara a chave e por um segundo imaginei que a resgatraria, abriria a porta e me mandaria embora de uma vez por todas como já prometeu várias vezes. Mas, ao contrário, Carlisle respirou profundamente antes de tirar de lá um envelope branco dobrado e caminhar até mim o entregando. Não o aceitei de imediato, mas devido sua insistência o recebi.

- O que é isso?
- Eu já sei de tudo. Tudo que aconteceu nessa casa nos últimos meses entre você e Isabella. - arregalei um pouco os olhos.

Uma coisa era saber que a tinha expulsado por meus motivos, outra era entendê-los.

- Já sei sobre sua desconfiança, como a infernizou e sobre a vingança. Agora leia essas cartas e espero do fundo do coração que sinta muito remorso.

 De cabeça baixa ficou ainda algum tempo parado na minha frente, mas logo saiu de lá deixando-me com os envelopes - só agora percebi tratar-se de dois dobrados juntos - que pesavam toneladas. Aquela voz dentro de mim, a mesma que gritou de raiva e culpa a noite toda, pediu que o obedecesse ao menos uma vez na vida. Então, separei as duas correspondências e li a letra redonda que escrevera o nome de meu pai em um deles e no outro o de Alice e Rosalie.

Por que ela deixou cartas? - me perguntei preferindo abrir primeiro a de suas amigas por ainda guardar rancor do que vi no quarto dela ontem à tarde.

A dobradura em quatro na folha branca foi desfeita revelando aos poucos o extenso texto na mesma caligrafia. Precisei de longos minutos até me convencer a ler aquelas linhas, pois sabia que me arrependeria em breve, mas o fiz encontrando logo na apresentação uma lágrima seca - dela - manchando a tinta.

'Queridas Rosalie e Alice,

talvez se lembrem do bilhete de despedida que fiz tempos atrás, as palavras que usei para dar adeus e a frieza que pûs no agradecimento que deixei naquele papel. Parando para pensar agora, jamais imaginei o quanto fui burra naquela época, não por ter pensado em ir embora, mas por não ter dito o que realmente queria.

Essa tarde, enquanto voltava da mansão dos Cullen para casa, desejei voltar no tempo para aquela data e ter tido coragem o suficiente para partir pois ainda era tempo. Mas decidi ficar, movida por uma raiva e uma vontade de vingança que só entendi mais tarde de onde surgira, como também só entendi mais tarde que ao lado dessa sede havia o medo de me separar do único lugar no mundo que já chamei de lar e das únicas no mundo que já dei minha amizade.

 A verdade que tenho que revelar é que não sou a Isabella que pensam que sou. Não tenho vinte e um anos, não andei pelo país até chegar a Forks só por vontade de sair um pouco de casa, ganhar minhas experiências, e tudo com o consentimento dos meus pais. Não sou a garotinha encantada que qualquer um sonharia como amiga, nem nada do que falei a vocês sobre o meu passado é verdade. Tenho dezessete anos, sou órfã de pai e mãe, e depois de sofrer maltratos na mão da minha tia adotiva decidi fugir de casa.

Sei o quanto parece inacreditável, mas é real. Meus pais morreram num acidente de carro há seis anos em São Francisco voltando de uma festa. Eu tinha nove anos, meu irmão Willian apenas dois, e então nossa guarda foi dada à irmã adotiva de minha mãe, Vanessa. Foi extremamente doloroso para mim perder os dois, de uma vez só, tão jovens. Mas já naquela época encontrei forças em mim para continuar levando, tudo pelo meu irmão. Só que meus problemas não acabaram por aí.

Minha tia era uma mulher doce, alegre e encantadora antes de tudo, mas algo dentro dela morreu junto a meus pais naquele acidente. Não sei de onde tirava aquelas idéias, mas nos anos seguintes fazia questão de todos os dias me culpar um pouco pela morte dos dois, também me deixar claro o quanto era um estorvo na sua vida e minha única utilidade era ser sua empregada. Mais uma vez eu suportei, mas porque meu irmão, diferente de mim, era muito bem tratado por ela. Recebia o que qualquer criança merecia receber.

Um dia, me obrigou a fazer um serviço que não gostava. Eu estava cansada, respondi 'não'. Se fechar os olhos ainda sinto a dor do tapa que deu no meu rosto pela desobediência, então fugi. Foi no meio da tarde, dia claro, saí andando pelas ruas de San Diego como uma exploradora. Só que ela logo se deu conta, ligou para a polícia que me encontrou e me levou de volta para casa. Assim que os olhos da justiça saíram sobre mim, levei uma surra tão forte que mal andei por dois dias.

 Naquela noite, mesmo sentindo muita dor, precisei consolar meu caçula que assustado estava chorando por ter visto o que nossa tia fez à mim. Eu finalmente percebi o quanto fazia mal ao meu único motivo para sorrir. Ele estava seguro nas mãos dela, eu não. Depois que me recuperei, planejei detalhe por detalhe de uma nova fuga que precisava ser infalível. Esperei quase um mês para isso e numa noite de chuva fui embora de novo me escondendo na carreta de um caminhão que partia da cidade. Rezei a madrugada toda e só parei quando já estávamos cidades de distância na tarde seguinte.

Pensei estar livre de todos os meus problemas, porém na primeira parada quando o motorista abriu a traseira e me encontrou na clandestinidade percebi que nada seria tão fácil. Tive sorte. Consegui correr, mas até hoje tenho a cicatriz no braço. Esse episódio só me fez perceber que aparentar ser uma garotinha indefesa me prejudicaria. A solução foi me esconder ainda mais. Comecei a usar roupas masculinas largas, amarrava faixas de gaze na altura dos seios para que não marcassem e cortei os cabelos bem curtos. Os primeiros meses foram infernais, mas logo me adaptei.

Não tinha amigos, mentia para todos, não deixava rastro em cidade nenhuma. Sobrevivi com o dinheiro que ganhava de esmola ou suava num serviço qualquer para ter. Passei fome dias, as vezes semanas. Cada noite num lugar diferente por medo de criar laços e fugindo das autoridades ou civis que pudessem me reconhecer dos cartazes de desaparecida. Fingi ser quem não era até me esquecer da verdade. Roubei. Me tornei um animal.

Vivi assim por quase um ano.

Até que um dia, em Port Angeles, me encostei numa calçada e dormi. Acordei com policiais ao meu lado. Nunca corri tanto na vida, decidi que só pararia quando chegasse na cidade vizinha, Forks. Entretanto, no meio do caminho havia um impecilho: três homens. Acharam divertido tirar o pouco dinheiro que tinha. E como era tão pouco me deixaram uma lembrancinha.

Se tivessem visto que era mulher, teria sido bem pior. Com o rosto sangrando ainda caminhei uns bons três quilômetros até cair na terra na beira da estrada. Quando vi os faróis pensei que morreria.

Desejei morrer.

Mas do carro não desceu nenhum outro monstro. Carlisle me levou aquela noite para o hospital que trabalha, mesmo contrariando seu superior. Ele cuidou de mim como qualquer pai faria com sua filha. Nunca vi tanta humanidade. Mas o médico que não me queria lá chamou as autoridades e no meio do plantão fugi para me esconder na mala de seu carro. Ele me trouxe para a mansão e cuidou de mim. Meus cortes cicatrizaram, a hemorragia que tive no abdômen melhorou e até a dor no meu peito. Então ele me ofereceu mais ajuda. Ofereceu sua casa.

Um emprego de governanta com ótimo salário era tudo que precisava para em breve resgatar meu irmão da nossa tia. Sonhava acordada vinte e quatro horas por dia. E para que nada entrasse no meu caminho, para que a despedida não fosse tão difícil quando chegasse, menti mais uma vez para dois anjos que me deram um lugar para ficar e para quatro irmãos que mais tarde adotei.

Sabem o resto da história. Como Edward me infernizou, minha vingança quando descobri. Mas sabem que desisti de tudo antes que qualquer coisa acontecesse. Como ajudei Jasper a ganhar confiança em si mesmo, como ajudei Rosalie e Emmett a ficarem juntos, e nem vou falar o tamanho da minha felicidade ao ver seus olhinhos naquele dia, amiga.

Mas então surgiu Edward e, entre minhas dúvidas e receio, me deixei levar pela curiosidade, pela necessidade, pelo amor e paramos onde estamos hoje. Essa tarde Edward descobriu sobre a vingança, tentei convencê-lo de que estava entendendo tudo errado, mas depois de ouvir o que disse percebi que era eu a confusa.

 A governanta, a amiga, a irmã, nada disso sou eu. Vocês não merecem nem nunca mereceram uma mentira e não passo de uma grande farsa mesmo que esteja tentando com todas as minhas forças fugir disso. Forks nunca será meu lar, pois não sou o tipo de pessoa que mereça um. Deveria ter continuado vagando sem rumo, seguindo o plano original, ou então jamais ter fugido de Vanessa. O que me fizesse sofrer menos.

Me arrependo amargamente de ter vindo para essa cidade, porque sei que não estarei fazendo infeliz somente a mim, mas a todos aqueles que gosto. Como vocês. Meus dois anjos. Me acolheram, protegeram, aconselharam e deixaram marcados em minha alma todos os momentos ótimos que vivemos juntas. Mas a carta de hoje é definitva. Contei tudo que devia ter escrito na outra. E não volto mais para Forks porque percebi que todo o amor que essa cidade me deu era uma mentira. Espero que me entendam e perdoem da maneira de vocês.

Jamais esquecerei das brigas pela pipoca no sofá enquanto víamos filmes, da língua solta da Alice, nem dos dotes de Rosalie. Não vou esquecer da generosidade, do carinho e, principalmente, a fidelidade. Vou embora pelo bem de todos e quero que saibam que as amo muito e espero que me desculpem por todas as mentiras que contei, todos os enganos que cometi, mas principalmente por não ser forte o suficiente para continuar aqui. Vocês sempre estarão no meu coração.

Muito obrigada. Adeus.

P.S.: Em cima da cama há outro envelope que peço que entreguem a Carlisle em breve. Por favor, nunca mostrem essa carta a nenhum Cullen. É meu último pedido de amiga. Espero que me entendam.

                                                                                               Bella.'

Não sei quanto tempo fiquei olhando aquele nome, imaginando seu rosto enquanto o escrevia, enquanto deixava mais uma lágrima molhar a folha como em vários outros pedaços do papel. Minha mão tremia tanto que não era mais capaz de manter a carta com apenas uma, então a joguei no colchão. Só me restou fazer algo que não fazia desde muito pequeno: chorar. Nada daquilo parecia verdade, mas um turbilhão de lembranças invadiu minha mente deixando que as peças se encaixassem e a dor no meu peito aumentasse.

'- Ela acabou de chegar. - Carlisle se levantou da mesa - Seja educado, filho. Precisamos de alguém para cuidar da casa e tenho certeza que ela será perfeita, então não a assuste.' - quando meu pai falou pela primeira vez sobre Bella com receio, cuidado, quase implorando que não a atormentasse.

Então a imagem dele a pegando no colo para descerem as escdas. Suas feições de dor, a mão de ambos em sua barriga. 'Meus cortes cicatrizaram, a hemorragia que tive no abdômen melhorou e até a dor no meu peito.'

'- Infernizem a vida dela até que saia daqui com seus panos e trapos dentro de uma mala.' - Se era verdade então, depois de tudo que passou quase um ano ao relento, era de se entender a persistência que encontrava em continuar naquela casa. Lembrei da foto guardada em sua carteira do menino loiro, o irmão que tanto amava, a escolha que fez de sofrer abandonada, melhor que deixá-lo crescer assistindo a irmã chorar escondida. 'pois gosto de Rennesme assim como do meu irmãozinho que deixei sozinho em casa quando vim para cá.' E ao lembrar da comparação que fizera com Nessie, lembrei também dos meus irmãos.

'Ele e uma garçonete que se esbarraram e pareciam se conhecer de algum lugar. Seu irmão está, acho que, namorando ela agora. A sua empregada estava lá.' Bella disse na carta que tinha ajudado Rosalie e Emmett a ficarem juntos, e eu disse na sua cara que ela o tinha empurrado para amiga porque estava ocupada. Onde estava com a cabeça?

'Enviei meus textos a cinco editoras e recebi duas respostas. Tenho uma reunião em Seatle na terça.' Jasper a abraçando com força, como fazia com nossa caçula. 'Como ajudei Jasper a ganhar confiança em si mesmo.' Não é possível que eu tenha sido tão idiota ao ponto de acabar com o coração de alguém que transformou para melhor tudo que tocou. Meu pai tinha razão, eu era inconseqüente e egoísta.

Esfreguei os olhos tentando enxergar, mas não adiantou muito. Senti uma necessidade assustadora ainda que desesperançada de achar na outra carta outras verdades, ou uma frase dizendo que voltaria ao menos para falar com meu pai em breve, qualquer vírgula que me deixasse respirar de novo. Mas quando desdobrei a folha, não encontrei nada como o que li antes. Só havia três parágrafo.

'Carlisle,

tenho certeza que um dia será recompensado por toda a bondade que há em você. Sei que se sente perdido e confuso com tantos problemas, mas saiba que os bons terão suas recompensas. Quero agradecer por tudo que fez até hoje. A maneira que me curou, me protegeu, abriu seu lar e seus braços à uma estranha. Um dia sei que terá uma retribuição que pague por todas as preocupações que trouxe com minha estadia em sua casa e em sua vida, mas sinto em dizer que não estarei aí para vê-las.

Faltam cinquenta e três dias para o meu aniversário de dezoito, a maior idade é o que me falta para ser completamente feliz e sei que poderia esperá-la junto a vocês, mas seu desejo de adotar meu irmão e a mim é impossível de ser realizado. Peço, pela nossa amizade, que esqueça essa idéia. O lugar de Willian é comigo, e o meu lugar é longe de Forks. Sou extremamente grata a tudo que me fez e lembrarei com carinho dos Cullen enquanto viver, mas estou saindo da vida dessa família e quero que saiam da minha. Tenho dinheiro o suficiente para me sustentar, e sempre fui esperta para me virar. Não preocupe-se um minuto sequer comigo, não gaste seu tempo.

Vou passar meus dias assistindo as estrelas pegarem fogo antes de resgatar meu irmão com minhas próprias armas. Um dia terá orgulho da filha que teve com seu coração.

Adeus,

Bella.'

Desabei. Sem expectativas, promessas ou qualquer sinal de que estava disposta a passar por nossas vidas de novo. Foi tão seca com meu pai que só então entendi o que deixara escrito por último para suas amigas. Ela não queria que nenhum Cullen tivesse conhecimento daquelas linhas, me deixaria a odiando por toda a vida e se despediria dos outros com uma desculpa qualquer. Não podia estar acontecendo.

Soltei um soluço preso na minha garganta e amassei as cartas extravasando meu ódio. Por que as lições para mim eram mais duras? Por que as penas mais pesadas? Eu estraguei de novo a vida daquele anjo mesmo depois que se entregou a mim da forma que fez.

- Eu sou um idiota. - rosnei chorando e libertando o nó em meu peito.
- Dizer isso não vai adiantar muita coisa. - Carlisle disse da porta.

Nos encaramos por um longo tempo, a transparência do que li, do que viveu e do que sentíamos passando de um para o outro e no minuto seguinte eu tinha oito anos novamente e precisava ouvir os conselhos sábios do único que poderia me entender. Ele se aproximou da cama com o rosto fechado que completava a lição que tinha acabado de aprender e se sentou ao meu lado pousando uma mão no meu ombro.

- Então?
- Pai, eu a afastei de mim. - fechou os olhos e se aproximou - Por que eu não a escutei? Por que não deixei que me explicasse o que estava acontecendo?
- Não pergunte, meu filho. Agora acalme-se.
- Me acalmar? Mas está sozinha, sem ninguém para protegê-la. Dormiu na rua, não podemos deixá-la assim. Ainda deve estar em Forks ou nas cidades vizinhas-
- As amigas de Bella chegaram aqui quase de madrugada com Emmett e as cartas. Depois disso, saímos para procurá-la por toda a cidade, e até em Port Angeles.

 - Não é possível.
- Deve ter pego uma carona na estrada. Já está muito longe agora.
- Carona? Pode ser perigoso, ela-
- Edward, por favor. - soquei o colchão antes de segurar meu cabelos e puxá-los com força - Não se desespere assim. Há uma forma de encotrá-la.
- Como?
- Estou em contato com uma agente social que sabe em que orfanato o irmão de Isabella está. Quando ela decidir que é hora de buscá-lo, seremos informados e eu poderei ir atrás dela novamente. E se quiser, você também. - a idéia pareceu boa nos primeiros segundos, mas então neguei.
- Só pode procurar as autoridades para achar o irmão quando já não estiver em risco de ser entregue para algum orfanato ou reformatório. Falta mais de um mês para isso acontecer. Não está pensando em ficar esse tempo todo de braços cruzados sem notícias, está? - seus ombros caídos foram minha resposta - Não. - gritei ao me levantar - Chame a polícia. Coloque aqueles policiais gordos do distrito em procura dela pelas redondezas.
- Se a encontrarem, chamarão o conselho tutelar.
- Não pretendia adotá-la? Então, se o conselho tutelar já estiver vindo será melhor ainda, já resolvemos tudo.
- Não é tão fácil.
- Não. Vocês é que complicam. Temos tanto dinheiro, por que não colocar um detetive particular atrás dela?
- Nem sequer sabemos por onde começar. - notei a derrota em seu olhar e me dei por vencido voltando a sentar.

De alguma maneira, meu pai estava certo e ainda havia outros detalhes. E se a achássemos e Bella não quisesse voltar? Depois do que fiz a ela, definitivamente, um alto 'não' seria sua resposta. Minha cabeça girava sem parar nas palavras que li. Levantei o rosto deixando qua a claridade que vinha da janela o iluminasse e imaginei se estaria olhando para o céu também agora.

Um estalo.

Corri aos papéis no chão assustando Carlisle e li em voz alta o pedaço que me interessava.

- 'Vou passar meus dias assistindo as estrelas pegarem fogo antes de resgatar meu irmão.'
- O que?
- Eu sei onde Bella está.


Isabella Pov

Dias depois

Corri, até que não houvesse mais energia alguma em mim para continuar os esforços. Até que a dor nos meus pulmões ressurgisse com o ar que havia acabado. Até que nada além do som dos meus passos pesados chocando-se nas poças d'água da pequena viela pudesse ser ouvido. Corri, desviando dos montes de sacos de lixo pretos e me esgueirando de cada novo obstáculo que aparecesse no meu caminho.

Não sei por quanto tempo mais mantive meu ritmo depois que os gritos atrás de mim cessaram, mas meus pés já tão fracos não suportaram mais e acabei por cair com o rosto na lama assim que virei em um beco. Acho que arranhei minhas bochechas no asfalto e ainda que com dor não pude dar atenção ao ferimento porque no exato momento que ergui meus olhos encontrei presas afiadas sendo exibidas com raiva para mim. O grande cachorro preto saiu da sombra que o prédio fazia e deu dois passos na minha direção rosnando e deixando que a tempestade molhasse ainda mais seus pêlos.

Percebi que estava invadindo seu território, por isso me considerou uma ameaça. Pensei em maneiras de me levantar sem que o assustasse mais ou provocasse um ataque, mas enquanto tentava raciocinar só o via se aproximar cada vez mais. Observei de esguelha rotas de fuga e pude assim notar que tinha uma pedra de concreto perto da minha mão esquerda. Num movimento que não soube de onde veio, agarrei o bloco e joguei sobre o animal que se esquivou me dando a oportunidade de levantar e voltar por onde tinha vindo retornando à corrida.

Ainda chorando pensei no quanto me parecia com aquele cão. Acuado, raivoso, tentando se defender até da sombra e um tempo depois achei em outro beco atrás de uma loja, um novo esconderijo para mim. Não havia uma cobertura que pudesse me abrigar da chuva, sequer uma caixa de papelão que servisse de amparo, ou até mesmo cama. Era só mais uma viela suja e fedida onde passaria aquela noite, pois estava cansada demais para procurar algo melhor.


Me encolhendo de frio fui até o fundo, me encostei na parede de tijolos vermelhos e escorreguei até encontrar o chão não tão frio quanto o resquício insistente de uma rajada de vento que atravessava a avenida logo ali perto. Soprei pela boca afastando a água que se acumulava nos contornos dos meus lábios e abaixei a cabeça a escondendo entre as pernas. Não funcionou puxar o capuz do enorme casaco para me proteger, pois ele também estava ensopado.

Um barulho de caixas caindo me fez dar um salto ainda que discreto para não revelar minha posição. Levantei um pouco os olhos vasculhando o lugar, mas não havia ninguém. Sozinha como sempre, para desabar uns minutos mais em lágrimas, para encarar o frio e a fome que me dominavam.

Se não tivesse tentado roubar a carteira daquela senhora, os policiais jamais teriam me visto e toda a maratona que corri na última hora teria sido evitada. Mas estava faminta, minha testa queimava de tanta necessidade e meus estômago dava voltas. Ainda assim, mesmo que aquele dinheiro me ajudasse a amenizar minha dor, eu jamais me sentiria bem se o tivesse conquistado. Infelizmente ainda era honesta demais para tais coisas.

Por lembrar de honestidade, cacei no entorno dos cadaços de meu tênis o canivete suíço que ainda me servia de ferramenta e proteção mesmo depois de ter ficado tanto tempo afastada das ruas. Algo dentro de mim sempre me aconselhou a guardá-lo, agora entendia o porquê daquele pressentimento. O escondi de novo só que na manga do meu agasalho, só assim conseguiria me aconchegar em mim mesma e tentar dormir tranquila sabendo que se alguém aparecesse teria como me defender.

Por essa noite ficaria sem minha forma diária de ganhar forças para continuar com essa tortura, pois sempre que olhava para cima e via as estrelas a voz de minha mãe tomava conta das minhas lembranças sempre com palavras encorajadoras, 'ajuda está a caminho', 'tudo ficará bem'. Fechei os olhos me forçando a imaginá-las sozinha e acabei caindo no sono.

Não sei quanto durou meu sono, mas tinha certeza que era o insuficiente para meu corpo. Ainda assim não tive outra escolha quando senti uma mão pesada tocar meu ombro sacudindo-me de leve. Entorpecida e lenta, abri os olhos só o necessário para encontrar os grandes e negros daquele homem que sorria timidamente para mim. Meu corpo reagiu por si mesmo e num solavanco afastei-me o quanto pude tirando o canivete já com a parte mais afiada apontando para seu rosto.

- Sai de perto de mim. - gritei.

Ainda não era dia, mas a chuva havia cessado. Seus olhos se estreitaram para a ameaça na ponta da arma e um papel que segurava na sua mão direita foi amassado. Não pude deixar de perceber seu sorriso no canto dos lábios aparecer mesmo com minha rápida defesa.

- Meu Deus. - uma voz feminina veio de trás de nós dois e só então reparei na mulher de sobretudo preto que estava com os dois braços aflitos estendidos na direção do rapaz - Filho, se afaste.

Ele fez um sinal com as mãos pedindo calma e sorriu ainda mais.

- Bella? - enruguei o cenho surpresa - É você, Isabella?
- Como sabe meu nome? Quem é você? O que tá fazendo aqui? E o que quer?
- Acalme-se e abaixe a faca. - sussurrou.
- Me responda.
- Não precisa ter medo. Não te farei mal nenhum. Meu nome é Jacob Black e sou um amigo. Um que veio te trazer ajuda, por isso sei seu nome. Estou aqui para falar com você e só quero que confie em mim e abaixe o canivete para conversarmos. Só isso.
- Um amigo? Eu não tenho amigos.
- Sim, você tem. Mais do que pode imaginar. - estava sendo muito difícil manter-me de pé e também meu braço erguido, minhas forças estavam se esgotando mais rápido do que pensei e tive medo de desmaiar - Sei que é difícil, mas deve acreditar em mim e na minha mãe. Queremos levá-la daqui para um abrigo. Deve estar cansada, com frio e com fome.
- Não.
- Por favor? - deu um passo a frente mesmo com o guincho de sua mãe e o tremer inquieto da minha mão - Deixe-me te ajudar.

Algo nos olhos daquele estranho me transmitiu paz, a mesma que só senti quando Carlisle me contou que gostaria de me adotar. Havia uma lista interminável de motivos contra a proposta dos dois, meu medo de que fossem agentes sociais que pudessem me levar para um reformatório, ou então simples desconhecidos que tenham me reconhecido de algum cartaz de desaparecida dispostos a me levar de novo para a polícia. Ainda assim a segurança que me enviou foi tão forte que a única alternativa que tive foi abaixar o braço e guardar meu canivete no bolso do jeans.

A mulher atrás de nós suspirou aliviada levando as mãos ao peito e o rapaz abriu ainda mais o sorriso. O movimento que fez em seguida foi lento e cuidadoso, como os que fiz com o cão raivoso horas mais cedo. Seus dedos foram se abrindo calmamente até revelar a foto que amassara quando o ameacei e nela estava minha imagem junto a Alice e Rosalie. Nós três sorríamos alegres demais por estarmos saindo juntas pela primeira vez. Me lembrava daquele dia, da sessão de cinema que assistimos e do quanto insistiram para que eu tirasse aquela foto.

- Como isso foi parar na sua mão?
- Eu disse que você tinha mais amigos do que poderia imaginar. Agora acredita?
- As conhece?
- Rosalie Hale e Alice Brandon?
- Sim. - bufei.
- Um pouco. Não o necessário para dizer que são minhas amigas, mas o suficiente para implorar que venha comigo.
- Elas o mandaram aqui? Como me encontrou?
- Foi bem difícil. - riu sem-humor - Mas ontem a noite te vimos na Boulevard sendo seguida por aqueles policiais, depois foi só perguntar para algumas pessoas na rua.
- Você é um detetive ou alguma coisa do tipo?
- Não. Como já disse: sou só o seu amigo. - estendeu uma mão para mim - Vamos. Acho que precisa sair daqui. - neguei com a cabeça, não por não precisar de ajudar, mas porque se me movesse acabaria caindo de dor.

De alguma forma, ele me entendeu e se aproximou olhando nos meus olhos. Seu grosso casaco foi posto sobre meus ombros e me ofereceu novamente a mão.

- Está se sentindo mal, não está? - quis negar para não aparentar tanta fraqueza, mas estava escrito na minha testa - Segure-se em mim, Bella. Tudo ficará bem.

Tremendo violentamente coloquei minha mão na sua e não consegui deixar de notar o calor tão confortável que passava de sua pele para a minha. Fechei os olhos dando um passo para frente com sua ajuda, mas minha tonteira piorou, afinal estava sem comer há dias e tinha acabado de acordar. Ainda assim me forcei a ir ao encontro da mulher que sorria insistentemente para mim.

Se eles queriam me ajudar, não negaria que precisava. Mas sabia que também não poderia ficar muito tempo com os dois ou me levariam de volta para Washington e já tinha fixado em minha mente que Forks nunca foi meu lugar. Era gratificante ver que minhas amigas se preocupavam comigo, mas seria impossível corresponder as expectativas de todos, além do mais eu não queria ver nenhum Cullen na minha frente e voltar àquele lugar teria suas conseqüências.

Assim que paramos em frente a mulher, abri novamente meus olhos para avaliá-la. Um sorriso acalentador estava estampado em seu rosto e com a mesma segurança de seu filho fez um gesto com as mãos para que a deixasse se aproximar.

- De onde são exatamente? Para onde querem me levar?
- De Forks. E logo estaremos no nosso hotel, querida.
- No hotel de vocês. E o que vão fazer comigo?
- Cuidar de você é uma boa dica. - ele disse mais perto de mim.
- Não preciso que cuidem de mim. Posso aceitar a ajuda por hora, mas não vou ficar forçada em lugar nenhum e não quero que contem a elas que me encontraram. Nem a ninguém em Forks. Não quero voltar para a cidade.
- Você está pálida, frace, fria. - apertou seus dedos nos meus - Não tem condições de determinar exigência nenhuma. Além do mais, se não vier conosco logo policiais estarão te caçando de novo e não sei se terá capacidade para correr como fez ontem depois que tentou assaltar aquela mulher.
- Você viram tudo?

- Está envergonhada por isso?
- Não quero que pensem que sou uma marginal ou coisa do tipo. Fiz aquilo-
- Porque estava precisando. - me interrompeu segurando também minha mão sobre a do filho - Não preciso dizer o porquê, mas passei por uma situação muito parecida com a sua na minha infância, Isabella. Por isso sou quem sou hoje e agora venha até nosso carro para cuidarmos de você.

Ela não aparentava ter mais que cinqüenta anos, mas ao falar daquela maneira seus olhos deixaram passar, muito mais que um conselho, uma vivência. A mesma que fazia meu peito pesar, então ainda meio hipnotizada com a notícia fui levada até um rabbit azul marinho que estava duas ruas depois estacionado em frente a uma loja de bebidas. A senhora sentou-se comigo na traseira do veículo enquanto seu filho arrancava com velocidade olhando pelo retrovisor para mim, acho que com medo de me ver fugindo.

- A senhora-
- Sue. Me chame de Sue. - explicou esquentando minhas duas mãos nas suas já que agora não estava mais preocupada em manter uma segurando o canivete no bolso.
- Sue, mesmo que tenha dito que já passou por situação parecida, não consigo acreditar de onde vem tanta preocupação por alguém como eu.
- E se lhe disser que não somos desconhecidas? - tentei fisgar na memória de onde aquele nome me era tão familiar - Sabe, Isabella, meus pais morreram quando eu tinha três anos e fui criada em orfanatos até os sete. - tocou meu rosto fazendo com que uma fisgada de dor atravessasse meus nervos.

Ela sorriu, pegou dentro de sua bolsa um lenço branco e tocou o mesmo lugar que só então percebi que estava sangrando do tombo que tomei mais cedo.

- Um dia um casal resolveu me adotar, mas não aceitei e fugi na primeira semana na nova casa.
- Por que?
- Me responda você. - insinuou com uma sobrancelha erguida, afinal eu também tinha fugido - Passei quase cinco anos morando nas ruas. - terminou a frase como também a limpeza do corte e fiquei curiosa.
- E depois?


- Voltei para a casa do casal que havia me adotado e nunca fui tão feliz em toda a minha vida. Sabe, o problema não está no abraço que nos acolhe, mas se queremos ou não ser acolhidas. - abaixei o rosto envergonhada deixando que continuasse com os cuidados as vezes exagerados com meu rosto todo sujo e ferido.

Tentei não pensar no que dissera, pelo menos não até estarmos em frente a um motel de beira de estrada chamado 'Pavements' poucos minutos depois. Seu filho desembarcou apressado assim que parou o carro e correu até a minha porta pondo-se como muleta para que conseguisse descer. Estava exaurida demais para questionar tamanha generosidade que parecia ser a característica principal de todos os habitantes daquela maldita cidade ao Norte.

Sue disse algo como 'preciso ir até a recepção', mas não dei muita atenção graças aos meus ossos que queriam se quebrar a qualquer instante. Jacob me apoiou na carroceiria para trancar as portas, dando espaço para que eu observasse seu rosto com clareza. Ele devia ter pouco mais de vinte anos, a pele bem morena, o olhar amendoado e o sorriso bondoso. Não entendi como não me lembrava de seu semblante, mas então como uma boba me adverti que minha estadia não tinha sido tão bem aproveitada assim para recordar de todos na cidade.

- O que está pensando? - perguntou quando notou minha medição.
- Não sei. Acho que tentando te reconhecer. - ele sorriu.
- Pois de você eu me lembro.
- Como?
- Atendia as mesas no Adam's aos sábados a noite. - me senti um pouco melhor de confiar nos dois, aquilo era uma confirmação da pouca história que haviam contado.
- Quem presta atenção nas garçonetes?
- Uma menina tão bonita e educada não tem como não ser notada. Agora, venha. Você precisa se agasalhar e comer alguma coisa antes que desmaie. - passou um braço pela minha cintura e com o outro forçou o meu sobre seu ombro.
- Muito obrigada.

Ele me ajudou a caminhar até o quarto onde estava com sua mãe.

Assim que entramos, fui posta sobre a cama de solteiro que ficava mais próxima da porta, mas assim que me soltou percebi que seus olhos estavam muito preocupados. Ele olhou para a porta ainda aberta para ver se sua mãe estava entrando, se ajoelhou na minha frente e puxou meus pulsos os colando em suas bochechas. Estranhei o gesto, mas insuportável mesmo foi sua pele muito quente em contraste com a minha.

- O que-
- Você está com hipotermia.
- Ham?
- Preciso chamar minha mãe para cuidar de você. Precisa trocar suas roupas molhadas, se deitar, acho que vou buscar bolsas de água quente. - se levantou.
- Não me deixe aqui sozinha.
- Mas-
- Pronto. Já informei ao gerente que partiremos logo a tarde. - Sue entrou, trancando a porta atrás de si e jogando seu cachecol e bolsa sobre uma poltrona.
- Mãe, ela está com hipotermia.
- Não era de se admirar. Deve estar a horas com essa roupa encharcada da chuva de ontem a noite. - olhei no relógio de cabeceira e vi que eram quatro da manhã - Preciso que compre algumas coisas para mim, Jacob.
- O que?
- Um anti-séptico e band-aids para o ferimento que ela tem no rosto. Comida, de sal. Arranje uma lanchonete aberta vinte quatro horas ou coisa parecida. - puxou a pele da minha mão formando um bico que ao ser soltado demorou a voltar para o lugar - Ela também está desidrata, compre soro na farmácia e pegue as roupas dela na mala do carro.
- Minhas roupas? - foi só o que consegui perguntar.
- As que deixou em Forks, querida. - olhou para trás e fez um sinal para Jacob - Ande, garoto. Vá logo. Cuidarei dela, logo estará melhor. - assentiu ainda que preocupado e saiu do quarto voltando minutos depois com uma mochila preta que sabia que era de Alice, mas logo partiu de vez.

Sei que na hora que se seguiu sua mãe cuidou de mim com carinho como se fosse uma criança, mas não reclamei. Tomei um banho fervente, vesti roupas mais fechadas e fui posta na cama sobre várias cobertas. Tinha perguntas para fazer, mas ela sequer me deixava falar.


Quando Jacob voltou já era dia claro, meus olhos pesados não o viram adentrar o quarto, mas senti sua mão cobrindo meu pulso assim que se sentou ao lado de sua mãe. Achei que seu gesto fosse um alerta para me levantar e comer os sanduíches que trouxera para mim e que estavam espalhando um cheiro apetitoso pelo quarto, por isso sorri e sussurrei:

- Estou acordada. - meu corte ardeu pelo remédio espirrado sobre ele.
- Eu sei. Só estou te ajudando a se manter aquecida. Como ela está, mãe?
- Não se preocupe. Em algumas horas estará apostando corrida com policiais de novo. - dei uma risada ainda que fraca - O humor já está até melhorando, não é? - prendeu os band-aids grudando os dois lados da pequena abertura para que a pele se restaurasse sozinha.
- Acho que devo pedir desculpas pela maneira que os assustei. Não deveria ter puxado aquela faca.
- É claro que deveria, menina. - Sue me repreendeu - E se fosse alguém que quisesse te fazer mal, como teria se defendido?
- Mas não era.
- E sabe a quem agradecer por isso. - suspirei pesadamente - Cuide dela, Jacob. Estarei no corredor fazendo uma ligação.

O rapaz não disse nada até estarmos sozinhos novamente e ele se deslocar para a outra ponta do colchão ficando assim de frente para meu rosto. Ele sorriu por me ver de olhos abertos e com sua ajuda me sentei reclinada no encosto de madeira. O lanche descansava na cômoda ao meu lado e sem cerimônia nenhuma busquei o saco para comer logo o que estivesse ali dentro. A parte humana no meu cérebro alertava que eu precisava sentir vergonha, mas estava com tanta fome e sede que até me esqueci que Jacob estava logo ali me observando.

- Me desculpe. - minhas bochechas coraram quando percebi.
- Não, tudo bem. Eu estou feliz. - bebi um pouco mais de água sentindo minha dor-de-cabeça passar também com a fome.
- Vocês são pessoas especiais. Ficarei devendo um favor pelo resto da minha vida.
- Jamais poderíamos cobrar.
- Acho que preciso te dizer uma coisa.


Guardei o pouco que sobrara da comida novamente dentro do saco e o deixei ao meu lado pensando no trabalho excessico que estava dando aos dois. Uma pequena dúvida surgiu em minha mente: para quem Sue estava ligando? Seria Alice ou Rosalie? Esses devaneios só reforçaram minhas idéias. O rapaz parecia apreensivo com minha preparação, mas eu também estava porque meus planos eram de fuga.

- É bom saber que ainda existem pessoas boas no mundo, mas acho que já é da minha natureza decepcionar todo mundo que me ajuda. Vocês não vão fugir a essa regra.
- Do que está falando?
- É bem estranho que duas pessoas atravessem três estados para procurar uma menina que sequer conhecem. Você mesmo disse que não era bem o que se pode chamar de amigo delas duas, então porque tanto interesse em vir atrás de mim?
- Acha que temos segundas intenções nisso? - se ofendeu.
- Não sei. Depois de um dia morando na rua você começa a desconfiar até mesmo da sua sombra. Você e sua mãe foram bondosos comigo, e mesmo indo contra tudo o que eu vivi, aceitei e sei que deveria retribuir, mas já passou da minha hora de cair fora daqui. - afastei o cobertor o assustando.
- Onde acha que vai?
- O lugar que me encontrou. - enrugou o cenho - Há muitos outros como aquele pela cidade. - me levantei apesar da tonteira e atravessei o quarto puxando a bagagem que Alice enviara para as costas.
- Espera, não pode sair assim. Você disse que ia aceitar ficar com a gente.
- Eu avisei que não ficaria num lugar forçada. Sei que querem me levar de volta ou não teriam vindo até aqui, mas não volto pra lá por nada nesse mundo. - apoiei a mão na maçaneta quando aquele nome me surpreendeu.
- Nem por Willian?

Congelei com as duas mãos na porta, só me acalmando ao lembrar que se minhas amigas estavam atrás de mim, provavelmente teriam mostrado para seus ajudantes a carta que deixei.

- Como sabe o nome do meu irmão?
- Ai, droga. Eu não devia estar falando isso. Senta aqui e eu vou chamar minha mãe, tá?

- Não antes que eu vá embora.
- Não, por favor. Está há dias numa sub-vida, não pode se jogar de novo no mar.
- Como sabe o nome do meu irmão?
- Chamo minha mãe e ela te explica tudo.
- Como sabe o nome do meu irmão? - rosnei mais alto.
- Eu... - abaixou o rosto envergonhado - O conheci em Forks.

O choque foi ainda mais forte do que o anterior. Não pude sequer respirar por longos minutos até que me convenci que acabaria por cair no chão em breve se não procurasse apoio, então fui me sentar na poltrona onde estava as coisas de Sue. Ele se preocupou com minha reação, mas a última coisa que queria agora era que chegasse perto de mim por isso ergui a mão e resmunguei 'basta' bem alto.

Não havia resquícios de mentira em seus olhos, mas de muito arrependimento pela besteira que soltou o que me ajudou a juntar todos os fios soltos na história. A foto de minhas amigas, as cartas, o nome do meu irmão e - como num estalo - o de Sue que ficou claro nas minhas lembranças. Quando aquela mulher apareceu na minha vida, as coisas estavam dando reviravoltas cada vez mais difíceis de se acompanhar, era compreensível que eu tenha esquecido.

- Sua mãe é a agente social amiga de Carlisle. Minhas amigas mostraram as cartas aos Cullen e eles os pagaram para vir atrás de mim. Foi isso? - não precisei de resposta - Sim, foi isso.
- Não fomos pagos para te procurar.
- Então, foi por pena. - estava me referindo ao meu irmão e a carta, mas entendeu errado.
- Não, Isabella. Por já ter passado por isso ela era a melhor pessoa para te procurar. É minha mãe, então vim junto. Não foi por piedade, nem dinheiro. Só amizade à Carlisle.
- Ele adotou meu irmão? - se tivesse lágrimas estaria chorando agora - Não me diga que-
- O processo está em andamento.
- Traíras. - desejei com toda força nunca ter escrito despedida nenhuma, mas de certa forma entendia os sentimentos delas e dele.

Então uma outra dúvida me fez pensar por minutos à fio: Edward teria lido as cartas?

Seus grandes olhos verdes magoados dançaram em minha memória com um misto dos nossos últimos momentos juntos. Mais uma das manhãs que acordou ao meu lado, dos seus gritos, sua força ao jogar meu celular no chão, suas lágrimas e a dor que me causou. Estava tão distraída que não vi quando a mulher entrou, estranhando imediatamente onde eu estava e perguntou ao filho o que tinha acontecido. Só levantei o rosto quando sua mão delicada tocou a minha enquanto se ajoelhava a minha frente.

- Querida, não devia ter mentido para você. Mas, veja bem, era o único modo de trazer para cá conosco. Se ouvisse o nome dos Cullen ainda no beco não teríamos como te resgatar.
- Não pedi para ser resgatada.
- Não conscientemente. - suspirou exasperada - Jacob, deixe-nos a sós um pouco. - obedeceu sem discutir e quis muito me levantar e ir com ele para fora - Fugir não é a solução, Isabella. - sabia para onde eu estava olhando.
- Sou grata por ter me trazido para cá, mas não tem o direito de me prender, nem de me arrastar de volta para aquela mansão. Não sabe um terço da minha história, nem do que passei, não sabe porque não quero voltar.
- Sim, eu sei.
- Não.
- Sei sobre como se envolveu com o filho mais novo do meu amigo. - mordi a língua segurando um soluço - Mas sei também como tocou cada pessoa daquela família de uma maneira especial e não diga que elas também não te tocaram.
- Meu lugar não é em Forks.
- Seu lugar é onde está sua família.
- Minha família está morta. E Carlisle acaba de enterrar também o meu irmão. Ele não tem o direito de me prender à eles dessa maneira. Não tem o direito de me forçar a voltar usando o amor que tenho por Willian como isca.
- Querida.
- Você sabe que estou certa.
- Sabe que ele também está.
- O doutor não sabe a verdade do que aconteceu entre Edward e eu. Além do mais, não me afastei só por causa dele, mas por mim. Tive a chance de destruir eles na mão, não fiz porque os amo, agora não tem o direito de fazer o mesmo comigo e Willian.
- Acalme-se, Isabella.


- Não tem como. - controlei o grito só por não querer ser rude com alguém tão caridoso - Perdeu seus pais cedo assim como eu, então entende quando digo que ninguém pode substituí-los, não é?
- Sim. Por mais que se esforcem.
- Só que Carlisle foi o mais próximo de pai que tive em todos esses anos e se voltar sei que vou estragar tudo para ele, para mim e para todos daquela família. Não posso carregar uma culpa como essa. Minhas amigas mostraram a carta que escrevi para eles. - confirmou minha frase - Não as culpo, mas sei que a errada na história fui eu por ter escrito, só queria me despedir. Mas não posso simplesmente ignorar o fato que me querem de novo por piedade.
- Não é verdade. Eles te amam.
- Não posso ser o que querem. - a abracei pois era a única forma de consolo para o medo que me dominava.
- Shi, querida. Acalme-se.

Ajoelhei também no chão e me embalou como uma criança tempo o suficiente para que todas as minhas lágrimas cessassem e meu queixo parasse de tremer. Quando voltou a falar, foi no mesmo tom de voz de minha mãe usava, o mesmo que reconheci nas poucas falas que troquei com Esme.

- Lembra quando te disse que o problema não está no abraço acolhedor, mas no acolhido? - assenti quando entendi o que queria me dizer - Não dificulte as coisas, querida. Se acha que se sentirá mal perto deles, não tem noção de como ficará quando estiver longe. Pode não parecer claro agora, mas seu lugar não é aqui, não mais. Volte. Nem que seja para dizer para Carlisle seus motivos por não querer ficar, todos, sem vírgulas que atrapalhem a compreensão.
- Vai tentar me convencer a ficar.
- Sou amiga dele antes mesmo de Jacob nascer, menina. Sei que se for verdadeira, irá convencê-lo e ele deixará também seu irmão ficar com você.
- Acha mesmo?
- Sim. Venha conosco para Forks. Uma tarde é tudo que precisa para conversarem. Dê essa chance a vocês dois.

Não sei qual argumento me convenceu, mas fui pega de surpresa assentindo debilmente.


Edward Pov

Mais uma vez, achava no amanhecer minha mais perfeita oportunidade para reencontrar Isabella. O brilho fosco por trás das árvores nessa hora específica do dia me remetia as poucas - e especiais - vezes que abria os olhos para encontrá-la nos meus braços, ou então antes disso quando era acordado pelo cheiro de café vindo da cozinha, seus resmungos impacientes quando se atrapalhava com alguma coisa e seu grande sorriso quando se sentava conosco à mesa.

Era cruel remoer essas imagens na minha memória, mas não pude evitar. Pesado de remorso, me levantei da cama que não tinha mais serventia e caminhei até a varanda com uma idéia martelando na minha cabeça. Minha última alternativa era torcer para que não tivesse que colocá-la em ação. Pensando nisso, fui surpreendido pela porta do quarto que se abriu mesmo sendo ainda bem cedo para todos estarem acordados.

- Bom dia. - Carlisle desejou com um sorriso entristecido que fez afundar ainda mais as olheiras marrons embaixo de seus olhos.

Não era o único que estava perdendo o sono. Apesar de Willian ter renovado as esperanças de todos com sua chegada, meu pai e eu partilhávamos preocupações idênticas. Sem chance de descanso nas últimas três semanas. Fiz um sinal com as mãos para que se aproximasse e me sentei novamente no peitoril para olhar o jardim dos fundos da mansão e o rio. Ele demorou até chegar ao meu lado e assim que o fez me pediu com um gesto que o encarasse.

- Como passou a noite, filho?
- Como todas as outras: preocupado.
- Uma hora seu corpo não vai mais suportar toda essa maratona. Deveria tirar umas horas para você. Por falar nisso, feliz aniversário. - ri sem humor e o assisti revirar os olhos para meu desinteresse.
- Horas pra mim, pai? Não acha que eu tive o suficiente quando ela estava aqui?
- Seus dezenove anos, Edward.
- Não me importa. Não agora.
- Mas deveria. Eu me importo e tanto que tenho um presente para você.
- O que?

Não que antes estivesse alheio à Carlisle, mas estive tão acostumado a vê-lo com a mesma expressão todos os dias que não percebi de imediato o brilho mais vivo em seus olhos, muito menos aquele sorriso que pensei ser desanimado, mas na verdade era prometedor de boas novas. Desci da grade cruzando os braços para encarar melhor meu pai, pois só havia nesse momento uma notícia no mundo que o faria agir desse jeito e só de pensar meu coração disparava.

- Qual meu presente?
- Sue e Jacob encontraram Isabella em San Diego. - foi como música para os meus ouvidos.
- Está brincando?
- Jamais faria isso.

Precisei de um minuto para passar o choque, mas assim que me recuperei logo corri para abraçá-lo. É claro que se assustou com meu gesto e sua reação foi se afastar um pouco, mas era de se entender. Seis meses atrás mal olhava nos seus olhos. Meio sem graça, mas com um sorriso gigantesco, dei um passo para trás e perguntei:

- Ela está bem? Como a encontraram? Onde e quando?
- Se acalme.
- Não. Me responde. Ela está bem?
- Mais ou menos. Quando a viram, estava sendo perseguida por policiais numa rua porque tinha tentado assaltar uma senhora.
- Roubando? - parecia inacreditável para a minha Isabella.
- Jacob só a reconheceu porque viu seu rosto de relance. Ela se escondeu, demoraram até encontrá-la novamente, então era por volta de duas quase três da manhã quando a descobriram num beco. Ela estava machucada e com hipotermia-
- Machucada? - interrompi já sendo envolvido por culpa - Quer dizer, ferida? Ela-
- Filho, Bella está bem. Depois de conversarem, a levaram para o hotel, se alimentou, tomou um bom banho, parece que a temperatura já começou a subir e ela vai descansar agora. Devem sair de San Diego no fim da tarde. Em dois dias estarão aqui.
- Dois dias? - esbravejei.
- São três estados, Edward.
- Podiam pegar um avião. - fiz um sinal assim que terminei de falar - Esquece. Me lembrei: ela não pode por causa da documentação.

 - Isso mesmo. - bateu a mão no jeans que usava - A situação dela é delicada. Temos sorte por ter a ajuda de Sue e do juiz. Assim que ela chegar, podemos dar entrada com o processo de adoção e o apoio da minha amiga será valioso.
- É. - respondi sem vontade.
- O de Will também. Aliás, apesar de estar se dando bem com todos nós, a sua adaptação será melhor quando a irmã também estiver com a gente.
- Se aceitar ficar, não é?

Não queria ser negativista, precisava não ser por mim e por todos eles. Já fui o culpado por sua partida, ainda resmungar que não a veríamos mais era demais até mesmo para um monstro como eu. Mas, eu amo Isabella, e só agora pude perceber o quanto a conhecia bem mesmo com todas as mentiras e segredos porque nossa ligação era mais forte do que qualquer uma que já tenha sentido em toda a minha vida.

E por conhecê-la assim, tinha certeza de que não viveria mais em paz ao meu lado. Uma parte de mim esperava que eu tivesse despertado em Bella amor na mesma intensidade que despertou em mim, era minha vaidade falando. Mas outra parte, a humana, entendia que jamais seria da mesma forma depois do que fiz e podia entender o orgulho que ela provavelmente sustentaria ao voltar para Forks.

- Do que está falando? - Carlisle perguntou me puxando pelo braço para dentro do quarto até nos sentarmos em minha cama.
- De umas coisas que eu estava pensando. Tenho tido muitas idéias, algumas não tão boas.
- O que quer dizer com 'se aceitar ficar'?
- Olha, eu - sem coragem encarei o chão - Eu amo a Bella, mas errei muito feio com ela e tenho quase certeza que não vai querer ficar aqui comigo. Seria uma tortura para os dois.
- Não pense assim, filho. A conheço o suficiente para saber que é muito boa de coração e sabe perdoar.
- Não depois do que fiz, pai.
- Pode tentar convencê-la. - tentou me animar mais uma vez e, só para não contrariar, sorri fingindo crer, mas não fui muito convincente - Ela logo chegará.
- Eu já tenho um plano.

Seus olhos se estreitaram desconfiados, mas antes que questionasse sobre as minhas reais intenções a porta do quarto se abriu de novo e a minha garotinha de olhos verdes forçou o rosto redondo pela fresta que ela própria abriu. Meu pai se virou com um sorriso sabendo o que estava por vir já que a cena se repetia todos os anos no meu aniversário.

- Oh, poxa vida. Ele já está acordado. - Nessie choramingou com um bico.
- Por isso não. - me deitei na cama, recostando a cabeça no travesseiro e fingi dormir como um bobo.

Ouvi os passinhos de formiga ecoarem no chão, então o colchão ao meu lado afundou e de repente a senti se jogando sobre mim para beijar todo o meu rosto. Fiz algumas reclamações, enquanto tentava me proteger e escapar inutilmente, e pedi por piedade, mas ela continuou com ainda mais vontade. Abri só um dos olhos teatralmente e segurei seu rosto apertando as bochechas para que fizesse um biquinho.

- Não axianta. Eu ainda poxo te faxer cosquinha. - disse me fazendo sorrir.
- Quer me torturar ou veio aqui para outra coisa? - revirou os olhos corando.
- Tudo bem. Parabéns. - afrouxei o aperto que fazia com os dedos e, se contorcendo em caretas, voltou a colocar os músculos no lugar - Isso é injustiça. Nunca consigo te acordar.
- Talvez no ano que vem.
- Sim, talvez. - se acomodou em meus braços e sorriu.
- Ainda é bem cedo, acho que vou deixar vocês sozinhos para dormirem um pouco. Ou tentarem. - sussuroru a última parte para mim - Feliz aniversário, garoto.
- Obrigado, pai.

Carlisle saiu do quarto e, apesar do momento espevitado ainda estar afetando sua chama, Nessie logo caiu no sono com a cabeça deitada em meu peito. Fechei os olhos também agora que o peso de preocupação por não saber seu paradeiro fora retirado das minhas costas. Em dois ou três dias, Isabella estaria de volta a nossa casa e daqui nunca mais sairia, nem que eu tivesse que abandonar minha família para dar a ela o que eu e a vida roubamos.

  


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam o review.