A Mulher da Casa escrita por sisfics


Capítulo 13
Capítulo Dez: Leve-me para Casa. pt 2


Notas iniciais do capítulo

Não esqueçam que há segunda temporada ;)



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Isabella Pov

Horas de silêncio sem fim. Era estressante e cansativa a forma que estava levando esses últimos dois dias. Jacob e Sue me cercaram de cuidado e depois de tanto tempo livre para conversas já os considerava meus amigos. Contudo, ainda que sentissem carinho por mim como podia ver em seus olhos, nenhum dos dois me permitia fazer o que realmente queria: fugir para bem longe.

Algumas vezes perguntei-me se não era infantilidade minha, ou se só estava tentando enganar a mim mesma, mas então fechava os olhos e lembrava de Edward e a resposta para meus questionamentos era 'não'. Os três dias que fizemos de viagem foram bons para que eu organizasse em minha mente o que dizer a Carlisle quando chegassemos em Forks. Mas faltavam poucas horas para minha chegada e até agora nenhuma das minhas frases ensaiadas fazia muito sentido.

O compasso acelerado do meu coração também não ajudava muito. Depois de mais de um ano e meio reencontraria meu irmão caçula, o que me deixava louca de ansiedade.

- Ela está dormindo? - Jacob perguntou fisgando-me dos meus sonhos.

Percebi que se referia à mim para a mãe, por isso não abri os olhos só para ouvir o que falariam.

- Acho que sim. Já deve ter caído no sono. Por que a pergunta, querido?
- Isso é uma injustiça. - esbravejou ainda que fosse num sussurro.
- O que?
- Se a menina não quer ficar com eles, forçá-la a vir até aqui por causa do irmão é absurdo. É desumano, golpe baixo. Carlisle deveria se envergonhar.
- Jacob.
- E aquele imbecil do Cullen. Conheço a fama daquele cara. E mesmo depois de a ter expulsado da casa deles, agora a quer de volta. Como se as pessoas não tivessem sentimento.
- Filho, não deve se meter nessa história mais do que já estamos nos metendo. O lugar de Bella pode não ser aqui, mas onde estava também não era. Pelo menos com os Cullen está a salvo.
- Poderia estar a salvo em outro lugar. O que estão fazendo é chantagem.
- Para mim o nome disso é amor.

E assim a conversa acabou. Não por alguns minutos, mas pelas horas que faltavam até que chegassemos em Port Angeles. Meu sono também havia voltado já que passei quase toda a noite em branco com meus pensamentos, por isso assim que percebi que não falariam mais nada me entreguei à sonolência e só fui desperta, como da primeira vez muitos meses atrás, com um leve sacudir só que dessa vez da mão fria de Sue no meu ombro.

- Onde estamos? - perguntei coçando os olhos.
- Port Angeles. Vamos tomar o café-da-manhã, descansar a refeição e então teremos só mais uma hora e meia até em casa.
- Tudo bem. - sorri transmitindo a confiança que a fez desimpedir meu caminho para descer do Rabbit.

Estávamos em frente a uma lanchonete parecida com a de Adam. Sue trancou o carro e caminhou de braços dados comigo até a calçada onde seu filho nos esperava. Ao me ver, Jacob retribuiu um sorriso e abriu a porta para que entrássemos primeiro. Mesmo que as companhias fossem ótimas, o tempo corria devagar. Toda vez que levantava meus olhos para o relógio na parede poucos minutos haviam se passado. Meu reflexo na janela do estabelecimento não era dos melhores. Apesar do vestido bonito que usava, meu rosto estava pálido, ferido e muito magro.

- Ele estará na mansão quando chegarmos? - perguntei interrompendo a auto-avaliação.
- Willian? - Jake perguntou.
- Sim. Eu estou morrendo de saudades dele. Mal... - apontei para a comida - Não sei nem se consigo engolir mais nada.
- Sim, consegue. - incentivou.
- Seu irmão se deu muito bem com Carlisle e Esme. Notei que Rennesme ficou com um pouco de ciúme, mas os meninos o adoraram, acho que pela expectativa de terem alguém para ensinar coisas de garoto.
- Se fosse só por isso, mais fácil Will ensinar a eles. - sorri nervosa e rolei os olhos para os respectivos talheres já postos de lado - Sem querer explorar, mas podemos ir? - meu pedido foi prontamente atentido.

Jacob foi pagar a conta, enquanto eu voltava para o carro com Sue.

A mulher resolveu dar um pouco de descanso ao filho, por isso assumiu o lugar do motorista. Eu me sentei no carona e ele foi atrás para esticar as pernas e relaxar um pouco da longa viagem. A estrada foi ficando cada vez mais reconhecível; lembranças da mala do carro de Carlisle e Edward e eu em sua Harley-Davidson foram se aproximando sorrateiramente; minhas mãos suavam como nunca. Havia prometido a Will que iria até o fim por ele, passava pela minha cabeça desistir agora.

O ponto de ônibus que soltava quando vinha da cidade para a mansão ficou para trás na velocidade do carro. Logo Sue virou a esquerda na estrada de terra, minha última etapa até meu futuro. Quis não sentir segurança ao ver a casa de longe, porém foi impossível não sorrir e tremer de ansiedade. Não havia ninguém na porta, ou melhor dizendo, meu pequeno não estava lá com seus lisos fios loiros.

Já com lágrimas nos olhos fui surpreendida com o buzinar rápido e decido que Sue fez assim que paramos o carro. Nos encaramos por uns minutos, pelo menos até a porta ao meu lado ser aberta e Jacob estender a mão para me ajudar a descer. Aceitei outra gentileza sua, mas assim que pus os pés no chão não consegui mais levantar meu rosto. O vento muito frio anunciando chuva me fez ficar ainda mais arrepiada, logo um casaco apareceu na minha frente e o vesti agradecendo novamente.

Não podia me mover. O ar entrava superficialmente demais em meus pulmões. Minha decisão de tentar ser feliz mesmo sob a sombra do amor que sempre sentiria por Edward ou continuar caminhando por calçadas que não me levariam a lugar algum era dolorosa demais, mas fui tirada dela quando ouvi a voz doce e infantil gritar meu nome.

- Bella. - meus sentidos congelaram.

Sorri sem nem mesmo ver o bebê gordinho que meus pais trouxeram para casa enrolado em uma manta azul, o meu garotinho. Eu poderia me recompor? Seu carinho me daria forças? Levantei o rosto para encontrar o seu assustado atrás de Esme e a resposta foi 'sim'.


- Will. - tanto tempo que aquele nome não saía com tanta naturalidade.

Com muito esforço, tomei de volta o controle do meu corpo e pude assim esfregar os olhos com as costas das mãos para secar as lágrimas que tornavam impraticável ver suas bochechas tão branquinhas começarem a avermelhar assim como as minhas. E, sempre mais corajoso do que eu, os primeiros passos foram dados com Carlisle e a esposa admirados com sua alegria. Vendo minha dificuldade - pois eu queria mais que tudo correr para abraçá-lo, mas continuei imóvel - Jacob tocou minhas costas e sussurrou no meu ouvido:

- Você esperou por isso. Vá falar com ele. É seu irmão, Bella.

É claro que estava vendo que era ele, mesmo que estivesse maior e bem diferente, contudo foi preciso que me dissessem para acordar de um sonho em outro e só então acabei com a distância que faltava entre nós com três ou quatro passos largos. Sua íris estava ainda mais verde porque também chorava quando me ajoelhei na grama da entrada e o recebi num abraço muito apertado. Um abraço guardado em mim há anos, que finalmente ganhava sua libertação e alívio. Jamais parei para pensar o tamanho da falta que fez, só a sentia. Mas enquanto seu bracinhos roliços me abraçavam também senti uma parte da minha alma voltando a me pertencer.

- Bells.
- Meu amor. Meu garotinho. - beijei seu rosto deixando-o mais vermelho do que nunca - Eu senti sua falta. - apertei com ainda mais força.
- Eu também. - os olhos dela, o sorriso dele, o tempo que havia passado tão depressa - Você disse que ia voltar, mas não voltou. A tia disse que você tinha morrido que nem o papai e a mamãe, eu fiquei com medo.

- Oh meu amor, não chora. Por favor?
- Pensei que nunca mais ia te ver. Fiquei com muito medo.
- Eu também pensei, mas agora tudo passou. Estou aqui, a Bells voltou. - garanti o afastando um pouco para que me encarasse - E não vou mais sair de perto de você para nada. Nunca mais. Eu prometo, Will. Nunca mais.

- Mesmo? - vi todo o medo que o fiz sentir e beijei sua bochecha mais para afastá-lo dali assim como minha culpa.

Não sei quanto tempo fiquei ajoelhada no chão com a criança no meu colo, mas por mim aquele momento poderia nunca acabar. Todos os meus amigos em volta me deram o tempo necessário para minimizar aquela grande aflição que me consumiu esses meses. Acho que toquei cada escondido pedacinho dele me certificando de que estava inteiro e não fiz questão de ser discreta. A certo ponto da minha revista ouvi sua gargalhada tão gostosa encher meus ouvidos.

- Não ria da sua irmã. - ralhei passando as mãos por seus cabelos.
- Estou inteiro. Assim é você que vai me tirar um pedaço.
- Eu te amo. - encostei nossas testas e sorri - Eu te amo mais que tudo.
- Está me deixando envergonhado. - escondeu o rosto nos meus cachos e riu ainda mais - Senti falta do cheirinho de morango, sabia? Ah, eu gostei que você trouxe novos papais pra mim, gostei dos meus irmãos.
- O que? - apontou com entusiasmo para Carlisle e Esme ainda parados ao pé da escada que levava a grande porta de entrada.

Mesmo que soubesse que aquele homem tão bom jamais seria capaz de fazer algo que me prejudicasse, eu tinha medo de que tirassem meu Willian. O processo de adoção já estava quase na metade, como Sue me explicou ontem no carro. E pelo que a criança dissera, todos estavam se adaptando muito bem.

- Gostei dos nossos irmãos mais velhos, mas acho que a nossa irmã mais nova não gostou muito de mim. Ela gosta de você, falou em Bella o tempo todo. - rolou os olhos jogando os braços ao redor do meu pescoço - Gostei de tudo mesmo, até do meu quarto. A gente tava só te esperando pra ficar tudo bem.
- Me esperando?
- É, o Tio Carlisle disse que só faltava você para as coisas ficarem bem de novo, disse que estava vindo para cá, mas demorou tanto que achei que tinha desistido de mim.
- Eu jamais desistiria, amor. - me levantei já cansada de ficar no chão e trouxe Will para cima comigo.

Passei suas pernas ao redor da minha cintura e bati o pouco de terra que se aglomerara nos meus joelhos. Pude ver Carlisle falar algo com Esme antes de começar sua caminhada até nós, mas não soube dizer se era um pedido para que continuasse onde estava, ou algo como 'a segure se correr'. Seu sorriso se abriu ainda mais quando já estava próximo o suficiente para passar a mão sobre o ombro de Willian. Me fixei no vazio de novo por falta de coragem de encará-lo ou começar a conversa que vim temendo o caminho todo.

- É muito bom te ver, Bella. - sorri em agradecimento - Bom que tenha voltado para a sua casa.
- Carlisle, eu-
- Não precisamos dizer nada agora. É hora de entrar e esquecer suas preocupações. Todos estão te esperando. - me arrepiei.
- Eu não posso. - Will parecia confuso.
- É claro que pode. - tentei novamente, mas me interrompeu - Da mesma forma que te confie minha família quando ainda era uma estranha, peço que confie agora e entre por aquela porta.

Só aceitei seu pedido por gratidão e também porque o menininho em meus braços começava a ficar desconfiado da minha reação o que era a última coisa que queria nesse instante. Passando um braço ao meu redor, ele me guiou até sua esposa e todo o trajeto passei olhando para o carro onde Sue e Jacob esperavam como cães ansiosos pela ordem do adestrador. Estava me sentindo sufocada.

- Bem-vinda de volta, Isabella. - Esme desejou tirando Will de meu colo com um pouco de dificuldade por já ser tão grande - Sei que mal nos conhecemos, mas é muito bom de ter aqui e em segurança. - sua expressão de quem tinha me adotado também me deixou um pouco perplexa - Vamos entrar, por favor?

O menino ignorou meus passos titubeantes e, agarrando-me pela mão, fez força para me puxar até estarmos do lado de dentro com a mulher. Carlisle deve ter voltado para falar com seus amigos, eu também precisava para agredecer, mas não agora que Nessie estava pulando no meu colo quase me derrubando no chão. 

- Você tá aqui.  - exclamou depois de dar dois grandes beijos na minha bochecha.

Will por um segundo se separou de mim para assistir a cena com os braços cruzados e um grande bico enciumado, e logo senti o efeito do distanciamento como se tudo ficasse mais vazio. Se faltava pouco menos de um mês para ter dezoito anos, eu poderia passar esses dias no apartamento de Rosalie e Alice. Carlisle queria adotar a mim e meu irmão, não impediria, mas não estava nas minhas obrigações ficar morando com eles. Tenho certeza que minhas amigas não se incomodariam se eu levasse o garotinho comigo.

- Senti tanta a sua falta. Você nem se despediu.
- Me desculpe? Também senti a sua.
- É tão bom te abraçar de novo. Você demorou demais.
- Eu já tinha dito isso pra ela. - Will resmungou ainda emburrado.
- É, mas agora sou eu que estou dizendo. - Nessie cruzou também os braços e sorri.
- Crianças, por favor. Vamos só dar boas-vindas à Isabella. - Esme pediu corada pelo comportamento dos dois.
- Só Bella. - expliquei num sussurro e abracei minha menina uma última vez antes de me levantar.

A sala estava vazia, como Carlisle dissera lá fora que havia pessoas me esperando pensei que veria Alice e Rosalie ou então Emmett e Jasper, tentando sumir com o outro personagem daquela família da minha cabeça, mas tirando o burburinhos das duas crianças que disputavam por minha atenção tudo estava silencioso. Não sabia se estava aliviada ou decepcionada. Percebendo meu olhar desesperançado, a mulher tocou meu braço de leve e com uma expressão vacilante sussurrou para que os dois não prestassem atenção:

- Acho que sei no que está pensando. Er, ele precisa conversar com você antes de todos. Pode compreender isso, não pode?
- Claro. Eu-eu espero por Carlisle.
- Muito obrigada mesmo por ter aceitado voltar para cá.
- Não sei se foi aceitação. Acho que não tive escolha.
- Sempre teve a escolha, menina. - a porta fez barulho atrás de nós - Ouça pacientemente. 

Antes que pudesse responder, havia braços ao redor dos meus ombros trazendo-me para um caloroso e quase desesperado consolo. Retribui aconchegando o rosto em seu peito assim como fiz minutos antes de ir embora. O ouvi agradecer a Deus por minha segurança em murmúrios e um pouco mais tarde me afastou para segurar meu rosto e mostrar o tamanho de seu sorriso. Fiquei tímida em sorrir também, mas não tomou como um mal sinal. Já conhecia meu jeito de ser, como era tímida. Apesar de difícil, ficamos bastante tempo nos encarando. Vi dentro dele toda a preocupação e agonia que sentiu esses dias, mas não havia palavras que se encaixassem nas minhas desculpas. Só deitei minha cabeça nele novamente e ouvi atentamente o que dizia.

- Em que estava pensando, menina? Eu disse que tudo ficaria bem, por que teve que partir? - Will agarrou meu vestido com as duas mãos, enquanto nos encarava com o rosto inclinado - Ficamos com tanto medo de não te achar ou de ser tarde demais. - sorri e chorei.
- Me desculpe? - pedi uns minutos depois.
- Não peça. Você estava com medo.
- Jamais pensei que se importariam tanto. - riu em desdém e acho que de tão baqueada com a chegada também ri.
- Venha comigo. Precisamos muito conversar. - deu um passo na direção da escada ainda me guiando, mas então percebemos imediatamente que meu irmão não se soltava da barra da roupa.

Eu também não queria que ele se soltasse. Se pudesse ficaria dias e noite abraçada a ele sem ninguém além de nós tamanha minha saudade. Queria perguntar como estava, o que sentia agora longe de nossa tia, como tinha sido no orfanato. Queria saber em que teria que ser forte por nós dois, acho que por já estar tão acostumada. Sorri tentando acalmá-lo e, por ter um pouco mais de experiência com paternidade, Carlisle se agachou para olhar em seus olhos.

- Will, sei que está morrendo de vontade de ficar com a sua irmã, mas poderia me emprestá-la um pouquinho?
- Pra quê? - perguntou com um bico. 

- Não precisa ficar preocupado. Vou só mostar as novidades. Já a devolvo, tudo bem? - assentiu ainda meio desconfiado, então me puxou para baixo e beijou minha bochecha antes de ir com Esme e Nessie para a cozinha - Ele está muito feliz.
- Por que fez isso comigo?
- Vamos conversar lá em cima, por favor?
- Se gostassem de mim, teriam me respeitado. Teriam aceitado que o melhor é o que eu quero.
- Isabella, vamos falar sobre isso longe daqui. Então, venha.

Me senti como um dos três meninos quando faziam alguma coisa que desagradava seu pai. O tom de voz não se elevava nem um pouco, mas era bem decidido. Não queria parecer uma criança mimada, só que as palavras estavam quase voando da minha boca. Agora entendia como Edward se sentia as vezes. Onde ele está? O que está fazendo? O que fez enquando estive ausente? A verdade é que essas eram as perguntas que rodeavam minha mente, mas eu queria esquecer.

Chegamos ao terceiro andar, Carlisle ainda segurava minha mão ao entrar pelo lugar que sempre soube ser o ateliê de trabalho de sua ex-esposa onde nunca entrei por ser trancado à sete chaves. O cômodo era espaçoso, muito bem iluminado e fresco, como imaginei ser o necessário para dar inspiração a alguém. Entretanto, o armário, a grande mesa e a cama me deixaram intrigada por não se encaixarem na idéia inicial. O som da porta se fechando interrompeu minha análise detalhada pelos móveis.

- Em que está pensando?
- Muitas coisas e muito confusas. Eu não sei direito.
- Gostou desse lugar?
- Sim. É... iluminado.
- Isso é ótimo. - respirei fundo antes de começar.
- Estou ficando repetitiva, mas me desculpe a forma que falei com o senhor lá embaixo. Sue me contou que as meninas lhe mostraram a carta que deixei, então deve estar confuso com o que leu e ao mesmo tempo triste pelas coisas que fiz depois de ter confiado em mim. Olha, doutor, não pos-
- Só me responda uma coisa. - odiei ser interrompida, mas assenti - Gostou desse quarto?
- Sim. Por que?
- Porque é seu.

- O que? - perguntei assustada dando uma outra olhada mais superficial nas coisas.
- Concordo com o que disse lá embaixo, apesar de não estar nem um pouco triste por tentar te obrigar a isso. Sei que trazer logo Willian para cá, mandar que minha amiga te procurasse em San Diego, montar um lugar só seu nessa casa, tudo é tão preciptado quanto imbecil. Não posso te forçar a ficar num lugar que não quer. Contudo, quando me dei conta de que tinha ido sem nem mesmo esperar só consegui pensar no quanto nenhum de nós seria o mesmo sem você. Não há dor maior no mundo para um pai do que perder um filho, Isabella. E foi dessa maneira que me senti essas semanas.
- Não, não posso.

- Claro que pode. Quando ninguém além de mim te aceitava, ficou. Por que fazer diferente dessa vez?
- Quando ninguém além do senhor me aceitava, era mais fácil. Não havia laços. Não precisava me preocupar com o que faria ou diria, se acabaria magoando alguém, ou decepcionando. Não havia mais ninguém para amar além de poucas lembranças, logo ninguém para me magoar quando fossem embora, quando me abandonassem.
- Somos uma família. Não abandonamos uns aos outros.
- Experiências anteriores me fazem discordar, doutor. E ponto final. - cruzei os braços dando dois passos na direção da cama, mas não continuei.

Precisei parar para respirar um pouco, também lutar contra as lágrimas que teimavam em brotar. Carlisle não respondeu simplesmente porque não existia resposta. Estava certa em número, gênero e grau. Eu mesma o havia provado isso. Já me considerava da família quando larguei tudo pelo que Edward me fez. Senti um vento gelado soprar meu rosto e percebi que estava abrindo a janela de duas portas enquanto pensava.

- Sabe que li as cartas, que falei com suas amigas. Sabe como me senti? - corei bem envergonhada.
- Traído, imagino. É como me sentiria.
- É como se sentiu. - corrigiu - Ou não teria planejado uma vingança depois que descobriu como eles estavam agradecendo toda a sua dedicação.
- E ainda assim o senhor insiste.
- O que?
- Eu tive a oportunidade de jogar seus filhos uns contra os outros e até mesmo contra o senhor. Me tornei um veneno. Cada um tinha seu segredo comigo, bastava abrir a boca uma mísera vez e aconteceria uma briga. Eu fui capaz de pensar em magoá-los para me sentir um pouco melhor e ainda acha que devo fazer parte dessa família?

Me virei para encará-lo ainda em pé ao lado da porta encontrando um sorriso debochado seguido de um dar de ombros que me enfureceu. Confesso que se não tivesse respeito por ele já o teria xingado por muitos nomes.

- Por que está sorrindo?
- Porque acabo de ver uma criança tentando de forma ridícula se pôr no papel de vilã, mas que acaba de confessar crimes que sequer chegou a cometer por puro amor a todos eles. 'Eu tive a oportunidade', 'bastava abrir a boca' e, o melhor de todos, 'fui capaz de pensar em magoá-los'. É incrível como não consegue enxergar. Não só concordo como também tenho que admitir que muitas vezes já pensei em me vingar dos meus filhos, de pendurá-los pelo pescoço para que me obedecessem. Bella, isso é normal. Acontece em qualquer lugar que se concentre muitas pessoas com personalidades diferentes. Você acertou quando disse que me senti traído, mas acima de tudo foi o medo da discórdia entre os meus filhos que me preocupou. Não aquela que você poderia hipoteticamente numa dimensão diferente implantar, mas a que sempre fizeram entre eles mesmos e agora tinham arranjado um novo alvo. Todo pai tem medo de ver seus filhos desunidos, mas ao contrário do que 'planejou', só os uniu mais. Quando descobrimos que tinha fugido, Emmett foi correndo até a cidade vizinha, Jasper perambulou por todas as estradas secundárias com uma foto sua na mão e Edward - ergui o rosto surpresa - Sem ele, jamais teríamos adivinhado onde estava. San Diego era tão óbvio quanto improvável. Foi lendo sua carta que nos mostrou o caminho certo até você.

- Ele leu minha carta?

- Leu, Bella. E, o que mais me deixou surpreso, foi que reviveu cada letra escrita como ninguém mais fez. A última vez que vi meu filho chorar ainda pedia colo.
- Ele. Chorou? - Carlisle sorriu envergonhado, me guiou pelo ombro até a varanda e parou para olhar a paisagem da lateral da mansão.

Por que estava tão nervosa por saber que derramou algumas lágrimas por mim? Também o fiz tantas vezes por ele e sequer se importou quando me expulsou desumanamente de sua casa e vida. Eu precisava me sentir tocada por esse gesto? Não nessa vida, não mais. Decidi enquanto estava fora que Edward estava morto para mim, à sete palmos de terra abaixo dos meus pés. E, apesar de ainda pensar em nós, não dividiria qualquer espaço com ele. Não podia ficar com os Cullen porque primeiro precisava me curar dessa doença ingrata.

- Achou que se descobrisse que estavam namorando eu a demitiria?
- Tive medo. De que não me achasse boa o suficiente para seu filho, que se chateasse comigo ou achasse que era uma aproveitadora que só queria mais mesmo depois de toda a ajuda que ofereceu, que se zangasse comigo ou com ele e não pudéssemos ficar juntos. - as duas últimas palavras foram inaudíveis.
- Achou que eu tiraria do meu filho algo que o estava fazendo bem?
- Se leu mesmo o que escrevi, sabe qual erro cometi e qual ele também cometeu. Então, não sei se fizemos exatamente bem um ao outro. Não quero mais falar desse assunto.
- Você o ama?
- Doutor, por favor?
- É o que te impede de dizer sim e ficar aqui?
- Carlisle. - rosnei séria demais.

Ele se assustou dando um passo para trás e levantou uma mão pedindo calma. Eu logo murchei toda a minha coragem e irritação tratando de engolir mais algumas respostas.

- Não é minha intenção tocar uma ferida tão recente, meu anjo. Mas perguntei porque queria que soubesse que não é a única. Edward está sofrendo. Ele está arrependido.
- Remorso pelo que descobriu. Não é exatamente o que estou procurando.


- E o que procura?
- O que não vou encontrar aqui. Quer adotar meu irmão? Pois que adote, não posso impedí-lo. Quer adotar a mim? Faça. Não me responsabilizo pelas conseqüências que pode trazer ao prender um desastre como eu na sua família. Agora, por tudo que é mais sagrado, não me peça para ficar nessa mansão porque a resposta é não. Faço suas vontades, me mantenho em segurança, mas na cidade com minhas amigas. E não poderão me impedir de ser a família de Willian. Vou passar o tempo que quiser com meu irmão, sem chantagem ou pressão para voltar, sem passado. Essas são as minhas condições para ficar em Forks. - tentei sair, mas segurou meu braço.

- Condições, Isabella?
- Se me trouxeram de volta, era porque queriam ouvir o que eu tinha pra dizer. Me perdoe pela sinceridade, doutor?
- Então, te oferecemos um lar e vai rejeitar?
- Já dei minhas condições, não vou continuar com papinho.
- Não acha que está sendo ingrata demais depois de tudo?
- Acho. Mas não acha que estou sofrendo por isso?
- Não precisa ser assim.
- Não é o senhor que dita as regras. O destino fez assim. Só estou seguindo o caminho mais fácil, porque nele eu não tenho mesmo pra onde ir.
- E que tal o outro caminho? Espinhoso, difícil, mas que vai te levar a algum lugar com certeza bem melhor do que o que já experimentou. Vai precisar enfrentar algumas coisas nesse caminho, inclusive você mesma. Mas terá apoio o percurso inteiro. Pense, Bella. Não adianta fugir de algo que está dentro do seu coração. - me soltou e desconectou nossos olhares lentamente e sem que eu esperasse saiu do quarto.

Eu não podia pensar, porque se fizesse veria que estava certo. Fugir e continuar remoendo os acontecimentos dentro de mim, era isso? Mas eu só queria um dia em minha vida sem problemas, planos, sem vida. Só existir. Me sentei no chão frio e comecei a chorar esperando que voltasse para me resgatar como sempre. Mas quando levantei o rosto não foi em salvação que pensei.

Acho que um dia vou conseguir explicar o tamanho da raiva que me tomou ao vê-lo tão sereno parado em pé exatamente por onde seu pai acabara de sair. Meu corpo todo queimou de ira, as lágrimas cessaram - para minha total estranheza -, trinquei o maxilar e levantei apoiando-me na parede. O verde dos seus olhos estava mais escuro, talvez fosse a sombra das grandes manchas roxas que os margeavam. Deveria me sentir mal por isso, pelo menos um pouquinho, mas me satisfazia ver que estava péssimo tanto quanto eu. O rosto transparecendo todo o cansaço.

- Bells. - disse sorrindo quando me recompus.

Minha sanidade mental estava completamente acabada. Ao ouvir meu nome sair de seus lábios, só consegui sorrir. Não era de felicidade. Era um sorriso meio macabro, um pouco debochado, extremamente rancoroso. Não sei se ele percebeu a diferença, não me importava porque se não tivesse mesmo notado, eu trataria logo de mostrar os fatos. Edward nunca foi de colocar as cartas na mesa, então vai aprender agora. Parece estranho, mas eu precisei agir daquela maneira pois depois do meu disse esse era o único jeito que merecia ser tratado a partir de hoje, como o lixo que sempre me considerou.

- Pensei que quisessem me convencer a ficar, te trazendo aqui não é uma boa tática.
- Voc-
- Olá, Edward. Prazer em reencontrá-lo. Como vão as coisas? - me forcei a entrar no quarto mesmo que cambaleando - Espero que todos estejam bem.

Acho que percebeu minha falta de firmeza no caminhar e deu um passo a frente para talvez me ajudar se caísse. Acabei rindo mais.

- Bella.
- O que está fazendo aqui? - sacudi a cabeça vendo o quão idiota era minha pergunta - Claro, essa casa é sua. Pode estar onde bem entender. - apoiei o rosto nas mãos.

Havia duas Bellas gritando na minha cabeça.

- Está se sentindo bem?
- Pro inferno se estou me sentindo bem ou não. Não abra a boca para fingir se importar. - seu corpo estava no caminho até a saída - Diga logo o que quer aqui para que eu vá.


Desejei que não pudesse identificar a tristeza escondida nas últimas letras, no último fio de voz.

- Eu achei. Só achei que poderíamos conversar. Na verdade, eu preciso te falar muitas coisas.

A primeira Bella implorava para que ouvisse o que tinha para dizer e nutria esperanças de o que Carlisle dissera fosse real, ou seja, que Edward estivesse arrependido e disposto a pedir desculpas. A segunda não pedia, mas impunha uma necessidade monstruosa de acabar os últimos pedaços que restavam daquele canalha na minha frente.

- Me falar muitas coisas. Não duvido nada, mas acho melhor não. - estava tremendo, precisei buscar apoio no bandô mais próximo - Chame Carlisle.
- Por favor?
- Resolveu suplicar agora, Edward? Imagino o quanto deve estar sendo difícil aquietar o rei tem na barriga.

Me sentei ou desmaiaria, e só então percebi o quanto estava próximo e com as feições ainda mais preocupadas. O perfume não era mais o mesmo que impregnava nas minhas roupas. Não havia a nota inconfundível do tabaco, nem a cítrica que me fazia lembrar seus longos passeios na moto. A mão que estendia na minha direção era uma ofensa maior do que as que já fizera, por isso deslizei pelo colchão para o lado. Como eu queria agora vomitar cada maldito sentimento que sentia por ele.

- Sei o que está passando pela sua cabeça, Bella. O quanto deve estar magoada-
- Você acha que eu estou magoada? - rosnei antes de forçar uma gargalhada - Desde quando se preocupa com algo além de você? Nunca se importou com o que não estivesse orbitando seu próprio umbigo. É melhor sair desse quarto e chamar seu pai.
- Não antes que ouça o que tenho para falar de nós dois. - cobriu o rosto perdido - Não era para estar aqui. Conversei antes com Carlisle e prometi a ele que não apareceria, mas precisava dizer que te amo. Não há um sentimento em mim agora que não envolva você, até mesmo a raiva que estou sentindo de mim mesmo. Senti tanta a sua falta. Preciso lhe dizer o que aconteceu.

 - Você sabe o que aconteceu? - ficou ainda mais envergonhado - Então acha que porque leu a maldita carta que deixei sabe mesmo tudo o que passei? Por que não explica como é a dor da fome? - pousei a mão sobre o estômago - Me conte: primeiro você sente uma cólica muito forte, depois uma ardência como se as paredes estivessem se grudando uma nas outras por causa do vácuo. Então, chega a dor, como uma faca presa entre suas costelas se remexendo para se libertar. Até que essa aflição toda sobe até aqui, não é isso? - toquei dessa vez minha testa - Mal consegue abrir os olhos com as pontadas de alerta. Seu corpo está definhando e você tem que continuar andando. Que impressionante!Agora me conte como essa dor nem se compara àquela que fez meu coração morrer antes de mim. As perdas, as humilhações e o medo. Continue explicando, Edward. Como me trouxe alegria e a arrancou por pensar que não merecia. Não pare, por favor? Estou comovida de como conseguiu captar a essência do que escrevi.

- Bella, por favor, não faz assim. Sei que estou errando desde o início, que não mereço um minuto da sua atenção, mas estou arrependido de tudo que fiz. Eu deveria ter parado um pouco para escutar o que tinha para dizer. Só que eu te amo demais e quando pensei que não era correspondido, que fiz parte de um plano, acabei enlouquecendo. Desde o início quando descobri que estava apaxionado por você foi a mesma luta para ser correspondido, pois você tinha medo de confessar. Tudo tinha se encaixado e por medo de vê-la me deixar é que te expulsei.

- Isso faz algum sentido?
- Se sentisse o que estou sentindo agora, entenderia.
- Se sentisse o que senti minha vida inteira também. - sugestionei com uma das sobrancelhas erguidas - Sejamos inteligentes pelo menos dessa vez: passou e não há nada que vá mudar isso. Não nos veremos mais, então porque se martirizar com palavras? Vou descer para falar com Carlisle, com licença.

Me levantei mais firme em meus próprios pés, mas antes que passasse por entre ele e o bandô sua mão fria agarrou meu pulso. Um corrente elétrica percorreu cada filamento do meu corpo numa onda única e tumultuosa. Senti culpa por não estar no controle desses detalhes, mas logo me recuperei e abaixei o rosto para onde me tocava.

- Pode, por favor, tirar sua mão imunda de mim.
- Não posso permitir que faça isso. Entrei aqui para te convencer a ficar, Bella. Ninguém vai sair até que eu cumpra minha promessa.
- Admiro sua determinação, mas preciso lembrar que essa não seria a primeira vez que desisti de um juramento.
- Pode me dizer do que desisti antes?
- De me amar.

Não que fosse importante, mas notei com alegria e remorso as lágrimas que começaram a desenrolar copiosamente pelo seu rosto. Não sei porquê. Eu havia contado as horas desde que o vi pela última vez e ao mesmo tempo aproveitei esse tempo para plantá-lo junto com os problemas que quis esquecer e agora estava aqui admirada com cada gota salgada que se desprendia do seu queixo até parar na blusa. Acho que estava surpresa por ter chegado onde queria.

- Não desisti de te amar, Bella. Nem nunca vou, porque você é tudo para mim.
- Acho que seu mundo acabou então, Edward. Não confiou nas minhas palavras, isso pra mim não é amor.
- Não. Por favor, me perdoa? Vamos ao menos tentar voltar ao início, corrigir os erros. Não posso aceitar que te perdi.
- Não pode aceitar que me perdeu para você mesmo. - corrigi - Para quê fingir que nos perdoamos? O sentimento acabou, se é que existiu e não passou de ilusão. Só sobrou raiva. Não vou aceitar algo assim.
- Não repita o meu deslize.
- Impossível. Eu jamais seria tão tola.
- Será se tentar ir embora.

Apliquei a força que me restava em sacudir o braço e tentar me livrar do aperto de seus dedos em volta de mim, mas ele não aliviou a pressão o que me enfureceu.

- Por que não entende de uma vez e me solta?
- Porque, mesmo que não entenda, eu te amo.

Tentou tocar meu rosto, mas antes que chegasse mais perto apliquei a força que restou em mim para me soltar de sua algema e desferi um tapa na mão que se erguia. Voltou a me encarar, as lágrimas ainda tão apressadas quanto antes, tão vulnerável como sempre estive. Cruzei os braços dando mais um dos meus sorrisos.

- Fique.
- A empregada ingênua que expulsou aquela noite morreu. Espero que entenda o que pode significar. Não vou ficar porque só saber que está vivo já me faz mal. Eu prefiro voltar a morar na rua do que sobre o mesmo teto que você.

Minha dor acabara de atravessá-lo e soube que era o fim. Abaixei o rosto para não ver suas reações e aguardei longos minutos até se recuperar.

- Não sei se esperava outra resposta sua, Bella. Se é assim, eu só tenho um último pedido a te fazer: procure meu pai e diga que vai ficar. - rolei os olhos irritada - Porque eu estou saindo da mansão ainda essa noite.

Não deixei transparecer meu espanto e confusão. Ele parecia tão firme ao falar sobre sair de casa, mas no fundo sabia que era um blefe, mas um deles. Como uma idéia que brotava aos poucos do chão, as explicações chegaram mais inacreditáveis.

- Não sei se sabe, mas fiz dezenove anos enquanto estava fora.
- Quer que o dê parabéns? - debochei.
- Sou aquilo que você tanto deseja, maior de idade. Posso sair de casa e morar sozinho. Ainda assim nunca haveria razões para isso já que aqui tenho tudo que preciso, todos os confortos. - secou o rosto e respirou fundo - Só que não é mais importante assim. Só há um desejo em mim agora e é o de que seja feliz. Estive pensando muito enquanto estava fora, planejando porque sentia que você jamais me perdoaria mesmo que eu tentasse com todo o meu coração. E como não resta mais nada dele, decidi meu destino. Em alguns meses, fez mais bem a toda essa gente do que eu em toda a minha vida. Meu pai, meus irmãos, suas amigas, até mesmo minha mãe que acaba de te conhecer, todos te amam e não podem ficar sem você.

 - Isso é uma proposta?
- Desde o dia que chegou ajudou cada um deles e, o mais importante, os amou como jamais me permiti ou simplesmente não quis demonstrar que fazia. Você os merece muito mais do que eu. Então, serei homem pela primeira vez e farei o que é certo: sair do seu caminho.
- Edward? - estava começando a suar frio - Isso é uma mentira muito bem ensaiada. Teve três semanas para deixar perfeita sua atuação. O papel do mocinho arrependido que, esperando por uma Bella patética como eu era, me emocionaria ao ponto de me jogar novamente ao seus pés implorando que não faça isso. Não por mim. Não tenho mais sangue de barata. Tente me manipular de novo e verá o que vai acontecer.
- Não é teatro, Bella. Eu só quero o seu bem.
- Difícil crer vindo de um homem tão egoísta.
- Sinceramente, eu... já sei qual meu próximo passo, também o seu.

Me surpreendi quando quebrou o fitar tão intenso do meu rosto - como se fosse a última vez que fosse vê-lo - e sorriu antes de ir até a porta. Sua mão tremia pressionando a maçaneta, muito mais do que tremeu na primeira vez que tocou a minha quando fomos ao mesmo tempo em busca em um pote de geléia na mesa do café para Nessie. A parte insana desejou que girasse a chave prometendo que não partiríamos até me persuadir. A outra, só que não estivesse mesmo mentindo e abandonasse a mansão.

- Não estou nem um pouco satisfeito, mas com certeza um pouco mais digno. Espero que um dia alguém saiba dar valor ao que deixei escapar das minhas mãos. Que siga em frente, ame e sorria. Não posso prometer que nunca mais me verá, mas juro que serei como um fantasma. Ficarei o mais longe possível para que possa se reconstruir de novo. Pode não acreditar em mim, mas sei que me ajudará a cumprir essa promessa. Só saiba que apesar da minha forma estranha de expressar, eu te amei desde o primeiro segundo que pus meus olhos em você. Adeus, Bella.


A porta se abriu. Seu vulto a atravessou.

 E, ainda que parecesse, eu não me sentia só.

Willian Pov

Estava muito frio, quase congelante. Nem o cobertor gigantesco que a Bells colocou em nós dois funcionou, nem a cortina que cobria a cama, e nem o abraço apertado que ela me deu antes de dormir. Revirei no colchão porque essas roupas estavam me irritando e dei de cara com ela acordada, pelo que parecia. Tinha uma ruguinha pequena entre as sobrancelhas, o cantinho da boca estava virado pra baixo e parecia mais desanimada do que nos outros dias. Eu só queria entender porquê e tentar fazer graça pra ela sorrir como era antigamente.

- Oi.
- Pode me dizer porque está acordado?
- Porque eu tô mais frio que um sorvete. Essa cidade é sempre assim?
- Estamos no início do verão, amor. Logo melhora e teremos alguns dias de Sol. E eu prometo que vamos sair para passear como fazíamos em San Diego. Melhor assim?
- Duvido que eu não vou ter que usar pelo menos uns três casacos até com Sol. É muito gelado aqui. Como agüentou esses meses? - Bells riu do meu queixo que estava tremendo.

E olha que eu nem tentei ser engraçado, é que não tava mesmo conseguindo fazer ele parar de bater. Acho que entendeu que não era fingimento, por isso encheu meu rosto de beijos. Na mesma hora, tentei me defender e a brincadeira serviu pra esquentar os ossos.

- Ah, vamos, meu baixinho. Não seja cruel comigo e deixe sua irmã morder esse nariz gostoso. Por favor?
- Sai pra lá. Com essa boca grande você me engole inteiro fácil. Saí, Bella. - gritei quando fez cosquinha na minha barriga - Você está acabando com a minha moral. - tinha lágrimas nos meus olhos de tanto rir e só depois é que ela parou gargalhando da minha cara.

Cruzei os braços e a joguei pro lado. É claro que eu estava aborrecido. Se ficasse me tratando que nem um bebê, nunca ninguém ia me respeitar.

- Não faça esse bico.
- Você é muito chata.
- Em vinte anos, vai sentir saudade de quando eu te importunava assim bem cedo. - apertou meu nariz.
- Promete? - acho que ficou ofendida, mas não respondeu porque deram duas batidas na porta.


Isabella se assustou e ficou um tempo olhando para o outro lado do quarto com uma careta que parecia ser de dor. Ela se sentou bem rápido, eu fiz o mesmo e aproveitei para me esconder embaixo do edredom entre os seus joelhos. A gente não tinha visão de raio-x, por isso com a voz meio estranha perguntou:

- Quem é?
- Carlisle. Posso entrar? - meu cabelo foi arrumado violentamente antes que respondesse.
- Claro.

Girou a maçaneta devagar. Estranhei porque ontem de noite quando resolvi vir até o quarto dela, a porta estava trancada e Bella me disse que era costume ou alguma coisa assim, mas agora estava aberta. Os olhos dela estavam vermelhos quando pedi para dormir na sua cama. Alguma coisa estava diferente e tinha medo de perguntar porque sabia que ganharia um 'isso é coisa de adulto' como resposta.

Ele primeiro colocou só o rosto no espaço que abriu, mas depois que viu que a gente estava sentado esperando entrou bem mais animado. Deu bom dia com um grande sorriso e eu respondi com um alô. Tio Carlisle parecia ser um homem muito legal. Eu gostava dele porque era sempre calmo e preocupado quando falava comigo, mas principalmente porque cuidou da Bella quando Tia Vanessa me disse que estava morta e porque estava cuidando de nós. A verdade é que eu ainda preferia a Tia Esme porque ela parecia mesmo uma mãezona, mas não significava que não o adorava.

- Bom ver que já estão acordados. - empurrou um pouco o edredom para se sentar - O que faz aqui, menino?
- Ah, é que tava um frio de rachar de noite, tio. Aí eu vim dormir com a Bella pra ela me esquentar um pouquinho.
- Will. - acho que falei alguma besteira.
- Que foi?
- Nada demais. - ele bagunçou o cabelo que ela tinha acabado de arrumar e por isso ri - Com o tempo vai se acostumar com nosso clima. Enquanto isso, tenho certeza que sua irmã não se incomoda de te receber todas as noites aqui.
- Não mesmo. - beijou meu rosto e acho que fiquei vermelho porque começaram a rir.

- Bem, crianças, esperava conversar com um de cada vez, mas já que Willian está aqui não há porque não falar com os dois.
- Algum problema, doutor?
- Na verdade, se continuar me chamando dessa maneira teremos um. - quase a acusei de estar me imitando porque suas bochechas ficaram bem vermelhas, mas ele continuou - Sabem que hoje é um dia especial, por isso vim. É errado falar sobre esse assunto antes de resolvê-lo, Sue disse que o juiz poderia não gostar se ficasse sabendo, por isso segredo, por favor? É que antes de sairmos para o encontro com o conselho eu gostaria de reforçar o que já ouviram antes: sejam vocês mesmos. Sei que o sentimento de gratidão que tem por nós é muito forte. - falava só com Bella - Mas a escolha os pertence, digam o que quiserem ao juiz.
- Eu quero ficar. - falei mais que depressa.

É claro que eu preferia ficar aqui com a Tia Esme, mas ela morava agora na cidade com o Edward, bem perto das amigas bonitas da Bella. Ainda assim, eu gostava de todos porque eram sempre muito legais comigo. Menos aquela formiguinha irritante com aquela voz fina e enjoada que ficava tentando roubar a minha irmã de mim saltitando de um lado para o outro. Rennesme era a pessoa mais chata que já conheci, se não existisse seria bem mais fácil.

Ele riu da minha pressa e beijou minha testa, depois a encarou de uma forma que sempre faziam, mas eu nunca entendia. Deveria ter chegado antes nesse casarão.

- Não haveria outro lugar nesse mundo melhor para ficar, Carlisle.
- Eba, finalmente. - bufei.
- Sim, claro. - se desconcentrou dela rindo - Há outra coisa e essa é uma responsabilidade unicamente sua. - olhei para os lados.

Estava falando comigo?

- Minha?
- Sim. Vai ser uma missão difícil, mas tenho certeza que conseguirá. Sue só me informou ontem, mas em certa altura da conversa com o juiz e o psicólogo você terá que contar o que viu pouco antes de Bella fugir de casa pela segunda vez. - abracei minha irmã pra ela não ter medo.

- Como assim o que eu vi?
- Está tudo bem, Will. Eu não me incomodo mais com esse assunto. Já passou bastante tempo e não fico mais triste. Não precisa ficar tenso desse jeito.
- Não mesmo?
- Claro que não, meu amor.
- Por que esse senhor quer saber essas coisas?
- Bella ficou muito tempo fora de casa. Contando exatamente o que aconteceu deixará mais claro para ele o porquê dessa ação tão impensada, também o porquê eu e minha família não a delatamos a nenhum órgão responsável. Você foi uma testemunha.
- Testemunha?
- Viu o que aconteceu. Mas enfim, acha que pode fazer isso?
- Claro. - olhei para ela que sorriu - Se a Bella não vai ficar chateada e ainda vai ajudar o senhor, então não tem porque não falar.
- Que ótimo que pensa assim. É um menino corajoso, Willian. - escondi o rosto e comecei a rir.

Onde estava Rennesme agora para ouvir seu pai falando assim de mim?

Nós conversamos mais um pouco sobre o último encontro que teríamos com aqueles homens engravatados e fiquei bem mais tranquilo por saber que estava acabando todas as visitas cheias de pergunta da amiga do tio que cuidava da nossa adoção. Então, depois dessa tarde, acho que seríamos uma família. Receberíamos o sobrenome Cullen, seríamos 'filhos no papel' dele e moraríamos aqui para sempre. Estava ansioso pra isso.

Assim que já estava começando a ficar tarde, mandou que nos arrumassemos para tomar o café. Me arrumei no meu quarto e Bella no dela, mas não a esperei para descer porque minha barriga chegava a doer tamanha a fome. Só o que me fez esquecer dela foi a porta da sala aberta por onde espiei e vi o tio Carlisle abrindo a porta de um carro prata de onde Tia Esme saiu. Corri para abraçá-la passando na frente de Nessie com muita vontade de empurrá-la.

- Estava com saudade, meu pequeno?
- Muita, tia. A senhora vai com a gente no juizado?
- Sim, vim ficar com vocês.
- Sai da frente. - Rennesme disse antes de passar para o colo da mãe.

Percebi que Edward dirigia e ele parecia triste.

Dei a volta nas duas, aproveitando a passagem ainda aberta para me sentar no banco do carona sem que os três percebessem minha escapadinha. Vi que seus grandes olhos verdes não se desprendiam nem um segundo do terceiro andar da casa. Será que ele queria falar com Bella? Toquei seu braço o assustando, mas rimos depois e o cumprimentei.

- Hey, Will. Senti sua falta. Tudo bem? - quando o conheci, já tinha essa aparência cansada e triste, mas pelas poucas conversas que ouvi enquanto estava aqui percebi que não era seu natural.
- Sim. Só um pouco nervoso para falar com o juiz. Sabe, depois de hoje eu vou ser seu irmão.
- E quem disse que já não é?
- Obrigado. Então, como você está?
- Muito bem. Com saudades de mim? - fiz uma careta por estar se gabando, mas depois assenti - Você cora como a sua irmã.
- Quando vai voltar para cá e jogar beisebol comigo como prometeu?
- Bem, um dia. Não sei se será logo, mas não vou me esquecer do que te disse.
- Ah, você não vai entrar para tomar o café com todos?
- Melhor não. - olhou de novo para a casa - Eu lhe disse que estava morando definitivamente com minha mãe. Nós dois sabemos que ela precisa de alguém para cuidar dela. - confirmei suspirando - Não devo entrar o tempo todo na mansão, não é mais meu lar.
- Nem um pouquinho?
- É melhor não. Er, como está sua irmã?
- Bem. Se arrumando para sair. Quer falar com ela?
- Não. - coçou o rosto nervoso - Não diga a ela quer perguntei, tudo bem? Um segredo nosso.
- Sem problemas.
- Will, vamos? Ou chegaremos atrasado, querido. - Esme disse atrás de mim.

Eu me despedi de Edward com um aperto de mão, depois o vi ir embora e segui Tio Carlisle até a mesa. Bella já nos esperava lá com a mesma cara de quando acordou. Me sentei ao seu lado, mas não disse nada nem quando reclamei do casaco que me apertava o pescoço. Comeu em silêncio e quando terminou disse que subiria só para pegar uma última coisa antes de entrarmos no carro e começarmos a viagem.

Fiquei preocupado. Ainda mais depois de Nessie cruzar também os braços sentindo o mesmo ao vê-la. Apesar de não gostar muito daquela garotinha, precisava confessar que gostava muito de Isabella e isso a fazia bem. Parece que todos entendiam o que estava acontecendo, menos eu. Decidi mudar isso, então subi os três lances de escada e entrei no seu quarto sem bater antes da porta.

- Vai demorar muito? - perguntei porque estava mexendo numa gaveta e se assustou com minha voz.

Ela a fechou rapidamente e colocou seu celular no bolso de trás da calça jeans.

- Não. Já podemos ir para o carro. Não prefere levar outro casaco? - esfregou o nariz vermelho e forçou um sorriso.

Caminhei até ela e abracei suas pernas. Era só até onde conseguia alcançar por ser pequeno, mas foi o suficiente. Bells fez cafuné na minha nuca gostando, mas também estranhando meu apoio. Eu só queria que ela soubesse que eu estava aqui.

- Está triste?
- Não. Por que ficaria?
- Porque sempre te encontro sozinha e deprimida. Tem certeza que posso falar tudo hoje? - se ajoelhou na minha frente.
- Não tenha medo. Se as vezes pareço um pouco triste ou distante, não é culpa sua, nem das coisas que estão acontecendo ou do que aconteceu. A Bella tem muitas coisas passando pela cabeça, são informações demais e cada um tem uma forma de lidar.
- Então, se você não tá triste, pelo menos pode me dizer se essas novidades tem alguma coisa a ver com o Edward.
- Por que essa pergunta?
- Porque ele perguntou de você quando veio deixar a tia. - suspirou.
- Não é sobre nosso irmão. - estava mentindo - Diz que vai ficar tudo perfeito, por favor? - pediu mexendo nos meus cabelos.
- Não sei se vai ficar perfeito, Bells. Mas sei que vai ficar bem, assim é melhor porque sabemos que não é um sonho. - sorriu e me beijou antes de sairmos para a nossa família.


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Notas finais do capítulo

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