A Mulher da Casa escrita por sisfics


Capítulo 11
Capítulo Nove: Do Céu ao Inferno. pt 2




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Isabella Pov

Comia distraidamente o último pedaço da sobremesa maravilhosa que Rosalie trouxera para o jantar. Tudo foi perfeito. A família adorou a nova integrante, e a felicidade estampada no rosto da minha amiga me deixava em êxtase. Fazia uns trinta minutos que ela e Alice tinham partido de volta para a cidade com Emmett e o grandão já devia estar no seu caminho de volta.

Fui surpreendida com cócegas na barriga que quase me fizeram cair da cadeira. Jasper saiu de trás de mim gargalhando, puxou uma cadeira e se sentou.

- Não teve graça.
- São pontos de vista diferentes. - fiz uma careta - Então, esse jantar foi...
- Perfeito. - quase explodi de felicidade - Emmett e ela estão tão felizes. Seu pai a adorou. Só eu sei o quanto estava nervosa em casa. Ah, e Nessie riu muito com Alice. As duas se deram muito bem.
- Sim, fiquei as observando. - uma lâmpada se acendeu sobre minha cabeça.
- Ficou, né. Sabe essa minha amiga é uma menina muito doce, engraçada, uma verdadeira pândega. Um senso de humor e um alto-astral incríveis. Provavelmente já a viu no Adam's. Vocês poderiam conversar.
- Está tentando jogar sua amiga para cima de mim ou é impressão minha?
- Eu não disse nada. - me levantei levando o prato até a pia - Mas, é claro, se essa idéia passou pela sua cabeça é porque já devia ter alguma coisinha aí dentro só esperando um estímulo para aflorar.
- É, você e seus estímulos. - veio para o meu lado - O primeiro deu bem certo. Procurei meu antigo professor de literatura. Enviei meus textos a cinco editoras e recebi duas respostas. Tenho uma reunião em Seatle na terça.
- É sério?
- Do jeito que seus palpites são bons, essa Alice será a mãe dos meus filhos.

Pulei em seu pescoço o abraçando com toda a força que tinha.

- Quer me esmagar, baixinha? - me segurou - Pelo amor de Deus, Bella, estou sem ar. - o larguei rindo - Não teve graça.
- Depende do ponto de vista.
- Aprende rápido.
- Você também. Mãe dos seus filhos, hein?

Jasper corou dando de ombros e precisei me segurar muito para não soltar uma alta gargalhada. Contou os detalhes da sua conversa com o antigo professor e também sobre o quanto estava ansioso para a tal reunião. Fiquei ainda mais feliz com essa notícia, afinal ele era para mim como um irmão e vê-lo contente completava meu dia. Caso a conversa na terça evoluísse, Jasper teria até mesmo que viajar para Nova Iorque para visitar os editores chefes.

- Eu disse para confiar no seu potencial. Estou muito orgulhosa. - o abracei de novo.
- Obrigado, Bells. Mas eu queria te pedir um favor. - sussurrou.
- Qualquer um.
- Não conte ao meu pai, nem a ninguém, tudo bem?
- Por que isso?
- Já está sendo bem difícil me controlar para não criar altas expectaticas, se contar para alguém vai ser bem pior. Não é nada certo, então me deixe ter a certeza na mão para contar as novas.
- Sabe que ele ficará feliz.
- Espero.
- Mas, porque está contando para mim?
- Porque achei que merecia saber. Se não fosse por você, já sabe o resto. - corou abaixando o rosto e aquilo foi tão fofo que precisei tirar sarro.
- Own, parabéns. - baguncei seus cabelos e depois beijei seu rosto.
- Já chega. Agora eu tenho que subir e descansar.
- Eu também. O serviço começa amanhã cedo. - ele sorriu e me deu uma empurradinha antes de sair na direção da porta.

Ainda sorrindo me virei também, desejando agora só deitar na minha cama e dormir sem pesadelos até amanhã. Mas quando levantei o rosto, Jasper ainda passava pelo portal e desejava boa noite para Edward que estava ali descansando. Assim que os passos de seu irmão não ecoavam mais nos degraus de madeira, ele levantou o olhar do chão e deu um sorriso debochado.

- O que está fazendo aqui? - perguntei.
- O que estava fazendo aqui com Jasper?
- Nada demais. Estávamos conversando.
- E que tipo de conversa te obriga a falar abraçada com ele?
- Edward. - revirei os olhos por não ter motivo para sentir ciúmes.
- Voc-

Se calou quando ouviu a porta da sala batendo. O assovio animado de Emmett foi se aproximando até ele aparecer atrás do irmão com um sorriso de orelha-a-orelha. Edward bufou e entrou na cozinha acompanhado dele.

- Ai, que noite maravilhosa. - abriu a geladeira pegando uma garrafa de água e depois um copo que encheu - Alice pediu que fosse dormir no apartamento amanhã, Bella. - cantarolou - Ah, parece que é a 'noite dos pais' e você deve estar lá.
- Você também vai para conhecer seus sogros? - provoquei.

Engasgou com a água e fez um sinal negativo com a cabeça enquanto guardava a garrafa de volta no lugar.

- A gente deixa isso pro futuro. Tenho aula na segunda.
- Amanhã é sábado, Emmett.
- E você acha que o trauma não é forte para me deixar maluco por três dias?
- Sempre idiota. - ele deixou o copo na pia e depois veio me dar um abraço de urso que me tirou do chão.
- Obrigado. Essa noite foi perfeita, escoteira. - dei uma risada com o apelido e ganhei um beijo estalado na bochecha que me fez corar ainda mais.

Mas acho que não fiquei envergonhada mais do que nervosa. Edward novamente bufou e endireitou a postura com as mandíbulas travadas. Emm me soltou e pediu desculpas por estar tão entusiasmado, mas o entendia já que também fiquei depois do jantar. Então, como chegou também foi embora depressa dizendo que precisava dormir e estava cansado. Novamente ficamos sozinhos e só quando tivemos certeza de que mais ninguém nos interromperia, ele voltou a falar.

- Não sabia que era assim tão amiga dos meus irmãos. Pelo visto são íntimos, não é? Apelidos, segredinho e-
- Ciúmes.
- O que?
- Você está com ciúmes e isso é lindo. - me aproximei, mas ele deu um passo atrás se encostando na parede.
- Espera um pouco, não explicou. Desde quando vocês são assim?
- Desde que todos me deixaram fazer parte da vida deles menos você, seu bobo. Ficou perdendo tempo implicando comigo, deu nisso. - seus ombros caíram e ele abriu um sorriso triste.
- Sinto inveja deles. - o abraçando pela cintura deixei alguns beijos na sua clavícula e depois deitei minha cabeça no seu peito.

Me deixei ser envolvida pelo seu braço bom e dei um sorriso gigante quando o senti inspirando com força o perfume dos meus cabelos. Uma idéia passou pela minha cabeça deixando minhas bochechas mais rosas do que já ficavam todas as vezes que me aproximava de Edward.

- Por que?
- Porque eles tem a sorte de te abraçar como queria muito fazer agora.
- Impaciente. - beijei seu queixo sentindo uma pontadinha de culpa pelo acidente - Eu também queria muito que pudesse me abraçar, que eu pudesse me aproximar sem medo de te machucar.
- Acho bom esses dois se controlarem e não ficarem mais de abraçinhos para lá e para cá. Você é minha.
- Ciumento. - fiquei na ponta do pé e uni nossos lábios.

Ele se abaixou um pouco para que eu não me cansasse e assim aprofundamos o beijo. Puxei os cabelos de sua nuca, soltou um gemido nos meus lábios e me mudou de posição me encostando agora na parede. Ri ainda durante o beijo, mas não fiz mais nenhum comentário, só queria um pouco mais dele para mim. A idéia ainda estava martelando insistentemente e foi o combustível para o afastar.

- Acha que seu pai ou mais alguém passaria no seu quarto durante a noite para ver se está bem? - negou ainda de olhos fechados e abaixei o rosto o escondendo - Então, quer vir dormir comigo?
- O que? - perguntou assustado e até meu pescoço e orelhas ficaram quentes.
- Dormir no meu quarto. Só nos dois. - ouvi sua risada e me escondi ainda mais.
- É. Acho que assim não precisaria mais sentir inveja de ninguém.
- Não mesmo.

Esperei pela resposta apreensiva, minhas mãos suavam e tomei um susto ao sentir seus lábios caminhando tranquilamente pelo meu ombro. Eles subiram pelo pescoço e pararam perto do meu ouvido.

- Vamos logo. - me senti pegando fogo mais uma vez.

Segurei na mão de Edward, ainda sem olhar nos seus olhos, apaguei a luz da cozinha e o puxei para meu quarto.

Dois meses depois

- Bom dia. - desejou mordendo o meu pescoço e precisei me afastar.
- Está louco?- tentei ser firme ao repreendê-lo, mas saiu como um gemido.

Rennesme sentada na sua cadeira cobriu a boca segurando uma risada, minhas bochechas coraram o que era seu objetivo principal, então dei um tapa em seu ombro que o fez choramingar falsamente de dor.

- Quer quebrar meu outro braço logo hoje? - perguntou indignado e revirei os olhos.

Continuei arrumando a mesa sob o olhar carinhoso de Edward e o debochado de sua irmã mais nova. Desde que a pequena descobrira que estávamos juntos tudo tinha se tornado melhor. Assim não tínhamos mais que nos esconder tanto e até passamos tempo os três juntos o que era uma delícia. É claro que aquele sorrisinho orgulhoso de Nessie quando nos via me deixava constrangida, ainda assim era bom.

Carlisle logo apareceu na sala de jantar. Seu olhar parou por um momento em Edward, os dois brigaram umas noites atrás porque o pai foi chamado até a escola para conversar com a diretora já que o 'irresponsável' do filho repetiria o último ano da escola por causa de faltas. Nem o braço quebrado fez com que a diretora retornasse na sua decisão, afinal havia mais faltas antes do acidente do que depois.

Apesar do ressentimento, ainda assim Carlisle levaria hoje o filho para tirar o gesso. Três semanas atrás todas as ataduras já tinham sido retiradas, só faltava esse último. Edward estava empolgado, planejando levar sua moto para o conserto, pegar Nessie no colo, dar um soco em Emmett e, o nosso segredo, o abraço. Levantei os olhos encontrando os dele e sorri.

Infelizmente o telefone tocou e Nessie animada disse que era Jasper que ligava todas as manhãs essa semana para contar as novidades de Nova Iorque. Era mesmo ele que falou com o pai e a caçula. Logo Carlisle quis sair e subiu para pegar sua pasta e Edward se levantou ansioso.

- Volto daqui a pouco, tá? - ganhei um beijo de despedida.
- Tudo bem, meu amor.

Assim que saiu para acompanhar o pai, Nessie me seguiu até a cozinha e se sentou numa das cadeiras. Colocava a louça suja na máquina de lavar, mas minha atenção estava nas suas perninhas inquietas balançando penduradas e no seu sorriso travesso.

- O que está aprontando? - perguntei quando terminei o serviço.
- Nada.
- Não me engana, baixinha.
- Hum, é que eu queria saber o quanto você gosta do meu irmão. - minhas bochechas coraram.
- Não é um assunto que te interesse, Rennesme. - tentei ser firme.
- Hum. Pra falar a verdade é sim, mas já que você não quer me responder, será que eu podia ir lá para fora brincar?
- Cai fora. - ela riu e saiu correndo na direção da área para buscar sua bicicleta.

Fiquei algum tempo pensando naquela pergunta. O quanto gostava de Edward? Me sentei no chão da cozinha, abraçando as pernas e olhando para o teto imaginando a resposta. Só acordei dos devaneios quando a máquina fez um barulho indicando que a louça já estava limpa. A tirei de lá, sequei e guardei, mas como era sábado e não havia mesmo muitos serviços me permiti ir até o quintal dos fundos para ficar com Nessie, nem que fosse de longe.

Ela pedalou de um lado para o outro durante toda a manhã, sem um minuto para descanso. Mais tarde, decidiu por si própria que me ajudaria no almoço e assim voltamos para dentro. Fizemos a refeição juntas e depois brincamos dentro de casa mesmo. Estávamos sentadas no chão da sala, desenhando na mesa quando suas insistentes curiosidade de criança foram interrompidas pela porta da frente se abrindo. Logo meu Edward entrou e sorriu ao nos ver.

Sua irmã se levantou, correu até lá e o abraçou pelas pernas. Continuei onde estava tímida demais para repetir o gesto da garotinha. Estava muito ansiosa para vê-lo recuperado. Então, aumentando mais seu sorriso, levantou o braço e o sacudiu como se comemorasse uma grande vitória. Precisei rir da encenação mal feita.

- Já pode me pegar no colo? - a pequena perguntou.
- É claro.
- Não, Edward. Sem esforço, por favor? - pedi me levantando, mas antes de os alcançar e antes que passasse seus braços ao redor da irmã, ela deu um passo para trás e tapou o nariz fazendo uma careta.
- Cruzes. Que fedor é esse? - ele revirou os olhos e só por provocação esfregou seu braço no vestido cor-de-rosa dela que fechou os olhos colocando a língua para fora - Que nojo, garoto insuportável.
- Você que pediu o abraço. - se ofendeu.

Ele virou-se para fechar a porta, então quando cheguei mais perto pude também sentir o odor forte de gesso, éter e mais alguma coisa que parecia estar morta.

- Eca. - murmurei baixinho.
- Até você? - se indignou - Esperavam que eu estivesse cheirando à lavanda depois de ter ficado mais de dois meses com aquele gesso no braço?
- Só esperava que não fosse tão ruim assim. Você escondeu foi um rato morto dentro daquele troço, que horror. - Nessie disse com dois dedos enfiados quase até o meio das narinas.

Juro que tentei não rir, mas foi inevitável. Ele rosnou para a minha gargalhada e resmungando disse que entraria agora no banho. Lembrei que tinha recolhido as toalhas essa manhã então subi dois degraus para avisá-lo.

- Hey, Edward. Não tem toalhas.
- Leva uma pra mim? - pediu com uma sobrancelha erguida.

Corei, depois olhei para Nessie que pulava de um lado para o outro sacudindo as mãos no ar perto do rosto ainda retorcido numa careta e sorri.

- Tá, mas não se acostuma. - voltou a subir os degraus - Mocinha, se comporte aí sem mim, está bem? - ainda assoprando o ar ela assentiu.

Fui até o armário de roupas passadas e peguei um jogo de toalhas brancas limpas que levei até seu quarto. A porta estava aberta, então nem me preocupei em avisar que estava entrando. Edward estava com o corpo curvado procurando a roupa que queria dentro da gaveta. Assim que ouviu meus passos se ergueu e com um sorriso triunfante me observou colocar as toalhas sobre a cama.

- Coloque todas no lugar para mim, por favor?
- Claro, chefe. Mas então, não está esquecendo nada?
- Esquecendo? - revirou os olhos pela minha ignorância no assunto.
- É, Bella, o que combinamos para quando eu tirasse o gesso. - estava falando do abraço que tanto queria me dar, mas não podia.

Deu um passo na minha direção, mas então lembrei do cheiro que senti lá embaixo e, antes que tivesse a oportunidade de me envolver, subi pelo edredom ficando bem em cima do meio da cama. Ele me olhou confuso e fez um sinal com as mãos.

- O que é isso?
- A gente pode conversar mais tarde?
- Ah, Bella, pensei que estivesse de brincadeira lá na sala por causa da Nessie. Não vai me dizer que vai negar um abraço para o seu namorado.
- Vou dizer sim. Cara, você está fedendo.
- É só meu braço.
- Justamente o que vai me abraçar. - estiquei o dedo e apontei para seu rosto - Vá tomar banho e só depois de tirar toda essa nhaca é que penso no caso de um abracinho.
- Abracinho? - perguntou indignado - Ah, vocês estão exagerando. Vim no carro tremendo o queixo de frio porque meu pai deixou as quatro janelas abertas. Nessie dando showzinho. E agora até isso?
- Prometo não lhe negar nada mais tarde. Mas, por favor, banho. - retorceu os lábios mostrando os caninos e pegou as toalhas que estavam aos meus pés.
- Mais tarde quando?
- Depois que eu colocar Nessie na cama. - arregalou os olhos e pretendia protestar mas o interrompi - Nem um minuto a mais e nem um a menos. A gente se encontra no deque, que tal? - mordi o lábio de uma forma que sabia que não resistira então com muita raiva saiu resmungando até o banheiro.

Feliz por vê-lo bem desci da cama e voltei para a sala. Ele ficou umas três horas no chuveiro, quando desceu estava com o braço vermelho como se tivesse passado uma esponja com bastante força, fomos bem na missão quase impossível de não rir.

- Como eu sofro. - sussurou se jogando no sofá.

Desconfiada, Rennesme se aproximou certificando o ar e então o abraçou.

- Não resmungue. Nós te amamos.
- Sim, nós te amamos. - precisava fazer o jantar, então me levantei e no caminho passei pelos dois deixando um beijo na bochecha de cada um.

Peparava apenas um lanche para nós três quando o telefone tocou. Edward atendeu na sala, uns minutos depois os dois apareceram na cozinha avisando que o pai talvez não viesse dormir em casa porque caía uma tempestade muito forte e estava receoso de pegar a estrada, mas o estranho foi que não havia nem sinal de chuva onde estávamos.

Nessie tagarelava dando opiniões sobre os sanduíches que eu fazia, mas percebi que ele estava com a cabeça na conversa que acabara de ter com Carlisle e tinha uma ruguinha de preocupação na testa.

- Garotinha, suba para lavar as mãos. Já vamos comer. - assim que estávamos sozinhos me sentei no seu colo e o abracei - Que cara é essa?
- Meu pai parecia nervoso.
- Deve ser preocupação por causa da chuva, por deixar a casa sozinha.
- Acho que ele estava mentindo.
- Tire isso da cabeça. - apertei seus ombros  e beijei o canto de sua boca me arranhando levemente com a barba mal-feita - Ainda está pensando em sua mãe, não é? Na ligação.
- Ele parece diferente depois daquilo. - deu de ombros - Quando pensamos que as coisas estão entrando no lugar vem alguma coisa para remexer a ferida. - ouvi passos na escada.
- Esquece isso. - o beijei de novo e me levantei.
- Estou morrendo de fome. - ela anunciou esfregando a barriga como uma bonequinha.

Servi os sanduíches e comemos rindo das brincadeiras dos dois. Depois do jantar, ele disse que precisava subir por motivos importantes. Percebi que ainda estava chateado, por isso não fiz mais perguntas nem nada, mas quando foi me dar o beijo de boa noite soprou no meu ouvido um aviso para que não em esquecesse do nosso encontro mais tarde.

- Chato. - resmunguei um falso descontentamento e o assisti subir.
- Estou cansada, sabia? Amanhã me ajuda a colocar fitinhas na minha bicicleta, Bells?
- Uhum. - murmurei sem dar muita atenção.
- Sei que meu pai não pode fazer isso. Parece que amanhã vai ficar o dia inteiro no hospital também.
- Uhum.
- E depois de pendurar as fitinhas, vamos jogar a bike num grande triturador até só sobrar poerinhas, não é mesmo?
- Uhum. - minha cabeça deu um estalo - O que? - gargalhou apontando um dedo na minha cara e pulou de sua cadeira já com as bochechas vermelhas.
- Parece que está dormindo em pé, Bella. Completamente desligadinha. Acho que sei porque. - esfregou uma mãozinha na outra estampando um sorriso maquiavélico.
- Nove e meia. Ou seja, essa hora crianças intrometidas já deveriam estar na cama sonhando com anjinhos.
- Senti um leve tom de ameaça. - murmurou me puxando pela calça até a escada.

Subimos para seu quarto. Ela escovou os dentes, penteou os cabelos e trocou de roupa. A ajudei a se arrumar para dormir e a cobri quando já estava abraçada ao travesseiro. Seus olhinhos estavam mesmo fundos de cansaço por termos brincado o dia todo, logo estaria apagada. Ajeitei seus cachinhos atrás das orelhas e afundei mais o edredom ao redor de seu corpo.

- Está me prendendo para não fugir?
- Poxa, ainda nem passei as cordas pelos pulsos.
- Você é má.
- E você uma espertinha. - beijei seu nariz e me levantei - Boa noite, meu anjo.
- Antes de ir, posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Quando a mamãe voltar, você ainda vai estar aqui?
- Quando sua mãe o quê, Nessie? - pensei na minha conversa com Edward.

Ela teria ouvido?

- Acho que vi o papai falando com ela no telefone, mas é segredo. Ele não contou a ninguém e também não perguntei para não me encrencar. - sussurrou.

Deixei que meus pensamentos voassem um pouco enquanto me observava. Pensei na ligação daquela mulher que Edward atendeu. Teria ela tentado de novo mais tarde? A reação dele ao pensar que talvez seu pai estivesse mentindo essa noite. Cogitei as idéias por tanto tempo que quando dei por mim Rennesme já dormia tranquilamente.

- Acho que ainda estarei, meu bem.

Saí distraída e fui até os meus aposentos nos fundos. Precisava relaxar, então demorei embaixo do chuveiro. Depois do banho, fiz toda a minha higiene como se estivesse me preparando para dormir, mas ao invés de um moleton vesti uma outra calça jeans e blusa de mangas cumpridas. Prendi os cabelos numa trança embutida e sorri para minha imagem no espelho.

- Adolescente boba. - xinguei corando.

Pensei no que aconteceu. Ou contava sobre o que Nessie falou, ou fingia que nada tinha acontecido. Edward já se encheu de preocupação só por uma leve desconfiança que surgiu com a voz de Carlisle ao telefone, essa nova informação o deixaria muito mais chateado.

Vesti meu colar prata, meus sapatos e saí para encontrá-lo no deque. Um vento frio soprava insistentemente bagunçando os poucos fios de cabelo soltos. Caminhei pela grama com prudência para não escorregar. Mas quando pude vê-lo ao final da estrutura de madeira, esqueci todo o cuidado e corri.

Assim que me ouviu se virou com seu melhor sorriso torto estampado nos lábios e apenas isso me fez refrear um pouco toda a infantilidade já que fiquei praticamente bestializada. Assim que cheguei perto o suficiente, seus braços me envolveram com força e ele me trouxe para seu peito. O abracei também escondendo meu rosto em sua camisa. Mordi o lábio amenizando minha ansiedade e ele riu.

- Minha Bella. - sussurrou beijando meus cabelos.
- Finalmente. - falei, mas me arrependi porque sua risada me fez ficar completamente vermelha - Então, demorei?
- Meses.

Ele passou os dedos pelo me queixo e o segurando ergueu meu rosto para unir nossos lábios. 'Adolescente boba' - repeti na minha cabeça umas mil vezes enquanto sentia sua mãos acariciando minhas costas. Minutos mais tarde nos separou passando a ponta do seu nariz na minha e sorriu, mas uma gorda gota d'água caiu no meu olho e me afastei assustada.

- O que foi isso? - olhamos para o céu e recebemos em resposta uma estrondosa trovoada.
- Ah, só pode estar de brincadeira. - mais gotas nos atingiram e segurei sua mão.
- Aí está a chuva de que seu pai falava. Convencido? - mais uma trovoada o fez assentir assustado - Melhor entrarmos.
- Sou mesmo um sortudo. - rosnou e o puxei pelo braço para que saíssemos logo dali, mas era tarde demais.

A verdade é que nem deveríamos ter saído pela porta de casa. Não sei como não pude perceber mesmo já morando tantos meses naquela cidade que aquele vento irritante que soprava anunciava mais uma tempestade. Olhei nossas mãos unidas enquanto subiamos com dificuldade já que a grama da pequena inclinação dos fundos estava já encharcada e elameada. É claro que não percebi, estava ansiosa demais para chegar até ele.

- Droga. - Edward gemeu ao virar o pé num desnível do terreno e o abracei rindo.
- Você está bem?
- Sim. - parou por instante - Porque estamos correndo? Já estamos encharcados mesmo. - havia lógica no seu pensamento então dei de ombros o fazendo rir.

Abaixei o olhar e percebi que nossas calças, pés e até as camisas estavam respingados de lama por causa das fortes pisadas que demos no chão, ele também olhou na mesma direção e riu. A água escorria pelo rosto anguloso, os cabelos pela primeira vez estavam arrumados e a verde folha parecia bem escuro agora. O observei levantar o braço devagar e tocar meu rosto.

- Já beijou na chuva?- corando respondi que não e deixei que me envolvesse e colasse nossos lábios.

Toda vez que me tocava, fosse o mais intenso dos beijos ou o mais suave roçar de seu dedo na minha pele, era uma nova explosão de diferentes sentimentos e sensações que me deixavam confusa. Jamais experimentei um sentimento assim, na verdade nunca me apaixonei porque todos os garotos que conheci na escola ainda era jovem demais e depois que fugi de casa era uma cidade por noite. Mal decorava o nome do lugar e já precisava partir. Suas mãos presas a minha cintura me ergueram do chão e abandonei sua boca sorrindo.

- Edward. - tentei repreendê-lo, mas surgiu o efeito contrário quando me segurou só com um braço passando o outro por baixo dos meus joelhos - Me solte, seu louco. Sentirá dor mais tarde nesse braço. Você ainda está em recuperação.
- Sabe que só estou ouvindo 'blá blá blá', não é? - me escondi no seu pescoço e sequei um pouco o rosto.

Logo voltamos a caminhar para a mansão. Assi que entramos, pensei que Edward me colocaria no chão, mas passou direto pelo meu quarto e pela área caminhando na escuridão sem problema algum. Confesso que tive medo que nos derrubasse, afinal estávamos cegos e molhados com um lance de escada a nossa frente, mas me surpreendi quando já subíamos os últimos degraus e ele parecia tão tranquilo como se tivesse acabado de acordar.

- Pelo amor de Deus, só não me deixe cair. - murmurei para mim mesma, mas ele ouviu e riu.

Já estávamos perto de seu quarto quando depositou um beijo na minha testa e me virou um pouco para que tivesse mão livre para girar a maçaneta. Entramos, ele bateu a porta com o pé e me pôs no chão.

- Está bem? - perguntou para mim ainda no escuro.
- Sim.

Se afastou para acender a luz e só quando tudo estava claro vi as pegadas de lama que sujavam o chão já que esteve descalço o tempo todo. Agradeci por minhas roupas serem escuras ou ficariam manchadas. Apesar de tudo estar fechado começava a sentir frio e o bater dos meus queixos o fez desconcentrar seu olhar do meu rosto.

- Tem que tirar essas roupas antes que fique... doente e um banho... estamos sujos. Você quer roupas quentes? - perguntou apontando para o seu armário.
- Eu vou descer. - seu olhar caiu para o chão e suspirou.
- Não quer ficar essa noite aqui comigo? - minhas bochechas, orelhas e pescoço ficaram vermelhos e agradeci por não estar olhando para mim nesse momento.
- Hum.

Ele já tinha dormido mais de uma vez comigo no meu quarto, mas essa noite me sentia diferente.

- Se não-
- Eu quero. - soltei de repente.

Quase imediatamente quis me chutar até perder as contas. Onde estava a maldita Isabella tímida? Bem, na verdade ainda estava aqui, mas minha vontade e - o que poderia chamar até mesmo de curiosidade - de ficar com Edward eram mais forte do que qualquer pudor. Seu sorriso angelical, ainda assim imbecilmente provocador me fez tremer ainda mais forte. Dessa vez era de frio, mas daquele que vinha do meu estômago.

Foi até seu armário e vasculhou as gavetas por um tempo. Conforme os segundos passavam, a tremedeira aumentava ainda mais e a apreensão me fez morder os lábios com força. Já estava disposta até a oferecer ajuda quando fechou tudo e se aproximou com duas mudas de roupas nas mãos, uma delas jogou sobre a cama e a outra me entregou.

- Pode vestir. Vai ficar bem largo, mas vai ser legal te ver com uma roupa minha. - virando a boca para baixo evitou que sua risadinha saísse mais alta do que o necessário.
- Deve ser mesmo muito divertido me ver envergonhada.
- Não tem idéia do quanto. - entrelaçou nossos dedos - Vem.

Me puxou até a porta do banheiro, depois deixou que eu entrasse na frente. Apontou para uma toalha limpa - uma das que trouxe mais cedo e ainda estava sobre a pia - entendi que poderia usá-la, então deixou um beijo na minha bochecha e sem dizer mais nada saiu do banheiro. Fechei a porta e a tranquei, só então podendo desabar até o chão com um sorriso estúpido no rosto.

Não vinha som nenhum do quarto, então me despi e entrei embaixo da água quente acabando com os tremores de vez. Lavei os cabelos usando o shampoo de Edward e sorri ao imaginar que ficaria com seu perfume, também suas roupas e felizmente seus braços ao meu redor a noite toda. Assim que terminei, saí e me enrolei na toalha. Procurei nas gavetas por um pente, mas não encontrei. Então só sequei o quanto pude os fios e os deixei mesmo cacheados caindo sobre os ombros. Vesti a cueca, uma boxer branca, e camisa de mesma cor de botões que me cobria até o joelho.

Ri das dimensões desconexas, mas então me lembrei que provavelmente estaria me esperando lá dentro. Como seria abrir a porta e dar de cara com ele me olhando de cima à baixo? Agarrei a bancada da pia, respirando com dificuldade e me sentindo completamente tensa de novo. De repente, uma trovoada muito alta estremeceu a estrutura da casa e gritei. As luzes piscaram duas vezes até que no terceiro apagar não voltou mais.

Estava tudo escuro, não enxergava um palmo na minha frente, então escorreguei até estar agachada no chão tentando regularizar meus batimentos cardíacos que dispararam com o susto. Assim que voltei ao normal, me levantei e fui até a porta. Consegui destrancá-la, mas ao sair e chamar o nome de Edward três vezes percebi que estava sozinha.

- Merda. - resmunguei tateando o ar na minha frente para não bater na mesinha de cabeceira.

Assim que encontrei com a cama me joguei sobre ela, me sentando bem no meio de pernas cruzadas, e esperei. Onde quer que ele estivesse saberia que precisava voltar, então era só arrumar uma distração e me acalmar.

- AH! - gritei fazendo minha garganta doer quando um raio atravessou os fundos da casa iluminando todo o quarto.

Puxei o edredom para cima me escondendo embaixo dele o mais que pude. Parecia uma criança querendo se esconder entre os pais no meio da noite. Com esse pensamentos me veio a lembrança de Rennesme, se tivesse acordado e tentado me procurar estaria ainda com mais medo. Minha preocupação foi interrompida pela porta que se abriu e Edward entrou sorrateiro com um pires na mão e uma vela acesa dentro.

- Hey. Aquele grito foi seu? - escondi um pouco o rosto corando.
- Sim. Onde você estava?
- Fui tomar banho no quarto do Jasper. Estava lá embaixo tomando uma água quando faltou luz, então peguei uma vela no armário.
- Será que Nessie acordou com meu escândalo?
- Não. Passei no quarto dela antes. Nem sequer se assustou com o último raio.
- Ao contrário de mim. - admiti.

O pequeno foco de luz foi posto sobre a cabeceira enquanto ria do meu ataque confuso e desnecessário. Ele puxou o edredom um pouco para longe e se sentou ao meu lado. Não me intimidei em me aproximar até estar com as pernas sobre as suas e o rosto afundado em seu pescoço. Nem quando tinha sete anos passava por essas situações, por isso para disfarçar dei um beijo na sua nuca que o fez suspirar.

- Ainda está com medo? - perguntou um segundo depois.
- Não. - respondi o mais pacífica possível.
- Já entendi sua tática.
- Qual delas? - circulou minha cintura e fez com que me sentasse melhor em seu colo passando uma perna a cada lado de seu corpo.
- Está com medo de que eu faça graça do que aconteceu e por isso está com essa cara de paisagem. Vou logo avisando que não vai funcionar.

Inspirando fundo retruquei:

- E eu já entendi seu probleminha.
- Qual deles?
- Não tem um pente naquele banheiro. Está explicado porque só vive com esse cabelo bagunçado como se um pássaro tives-

Me puxou pela nuca para um beijo. Sabia que só fizera aquilo para que eu calasse a boca, por isso cruzei os braços em sinal de protesto. Ele riu e ainda com seus lábios nos meus tentou falar:

- Você estava fazendo aquilo de novo.
- O que?
- Resmungando desenfreadamente como uma louca. Desculpa ter te calado. Você até fica bonitinha se atrapalhando, mas precisava te falar uma coisa. - o afastei curiosa.
- O que? - sorriu de forma meiga enquanto brincava com o primeiro botão da camisa que eu vestia.

E somente aquele seu gesto já me fez esquecer todo o mundo lá fora. Estávamos sozinhos, na sua cama, e tão próximos que até mesmo no escuro seria capaz de ver qualquer imperfeição no seu rosto.

Se houvesse, é claro.

- Precisava dizer que... ficou muito bem nas minhas roupas. - abaixou o olhar e estranhei parecer envergonhado - Você está linda, Isabella. - minhas bochechas coraram e também escondi o rosto.
- Obrigada. - agradeci com o pouco de voz que me restara.

Tentei não ficar tão tensa depois do que disse, mas era completamente incontrolável. Uma parte de mim não conseguia acreditar naquilo que dissera, apesar de querer era quase impossível. Por tudo que já passei antes, não conseguia imaginar alguém tão especial, como descobri que Edward era, me observando com olhos de amor, de carinho e até mesmo de desejo. Talvez por isso me sentia tão insegura perto dele. Comecei a me amaldiçoar por ter aceitado passar essa noite aqui.

- O que houve? - sua voz arremessou meus pensamentos para longe.
- Não é nada.
- Como não? - ajeitou os ombros tentando esconder também sua tensão, então segurou meu queixo com as pontas dos dedos e o ergueu até que prendesse meu olhar - Se calou de repente. Falei algo de errado? - desviei minha atenção para sua outra mão que procurava a minha.
- Não, Edward. Nada de errado. Só pensamentos. - sorri meio triste.

Ele pegou um dos travesseiros e o ajeitou na cabeceira da cama para que pudesse se reclinar. Depois me puxou pela cintura, me fazendo deitar em seu peito. Via seu queixo perfeitamente reto, os lábios finos esforçando-se para segurarem algumas palavras e os olhos compenetrados na sua missão. Me aconcheguei, agarrando sua camisa de algodão e deixei que continuasse me fazendo carinho.

Minhas certezas ficavam turvas a cada arrepio e a partir de certo momento comecei a responder com meu corpo e não minha razão. O estopim aconteceu quando sua boca tocou a pele da minha garganta tão exposta, tão fria. Impulsinei-me um pouco mais para frente tentando ganhar o máximo daquela sensação tão prazerosa. Ele segurou minhas mãos e envergonhada percebi que havia afundado minhas unhas nos seus ombros.

Achei que estava o machucando, mas ao contrário. Ao tomá-las nas suas, Edward só fez com que eu as deslizasse por seu peito. Como se ensinasse o caminho e eu tão distraída com sua língua caminhando tranquilamente pela minha pele me esforcei bastante para saber o que queria.

Ambos movimentos eram tão calmos como se guardássemos a lembrança um do outro. Seus dentes prenderam meu lóbulo algumas vezes porque notara que arfava sempre que chegava àquele ponto. Também consegui juntar algumas informações sobre ele. Como gostava quando eu passava as unhas em sua nuca, aquilo também fazia sua pele se arrepiar; como desacelerou um pouco quando arranhei em círculos perto de seu umbigo.

Tentei ignorar a voz na minha cabeça que dizia ser aquilo uma péssima idéia. Havia conversado com as garotas depois da primeira vez que eu e ele dormimos na mesma cama. Contei - meio que forçada pela insistência delas - as sensações confusas que tinham me deixado desnorteada e ganhei como resposta um 'deixa rolar'. Estava tentando deixar.

- Hm. - gemi quando mordeu meu queixo.

Ele se afastou com um sorriso vitorioso no rosto e quis que aquela maldita vela não estivesse acesa para não revelar a expressão constrangedora que devia ter agora na cara.

- Gosta?
- Não só disso.
- Eu te amo, Isabella. - me lembrou e sorrindo roubei um beijo seu.

O puxei para que desencostasse as costas da cama e o acompanhei. Nossas línguas sobrepondo uma a outra, uma dança não tão calma quanto as que já experimentei. Parecíamos brigar, mais intenso do que a primeira vez, mais quente do que todas as outras também. Meu corpo estava entrando em combustão, ainda assim congelava ao tocar nele, e isso fazia com que perguntas surgissem na minha cabeça. Porquês, comos, quandos, malditas interrogações.

Seus dentes puxaram meus lábios, agarrei seu cabelo com um pouco mais de força e senti uma pressão quente no meu quadril. Mas não tive tempo para pensar mais nada, pois Edward me fez sair de seu colo e me deitou logo tomando lugar entre minhas pernas e nos afundando em outro beijo.

Quis saber se estava causando nele o mínimo de prazer que também causava em mim, por isso deslizei minha mão por dentro de sua camisa, acariciando suas costas e me senti leve quando seus músculos retesaram.

Ele rapidamente se ajoelhou, tirou a camisa me dando uma visão privilegiada de seu corpo e se deitou de novo, mas com as mãos apoiadas ao lado do meu rosto, sem sequer jogar seu peso sobre o meu. Minha garganta secou imediatamente e apertei os dedos dos pés os curvando até que me causasse dor.

Meu coração disparou ao vê-lo desabotuar o primeiro botão da camisa, revelando um pouco mais da minha clavícula e colo. Estava com medo agora - muito mesmo - do que ele queria, de como eu deveria reagir, o que deveria fazer. Meu Deus, a verdade é que entendia o que ele desejava e também queria mais que tudo dar continuidade, mas não sabia se poderia ser aquilo que Edward esperava. Precisava pará-lo.

Mas sua boca voltou a me tentar, arrastando-se sutilmente pela pele descoberta e fazendo meu peito subir e descer com mais violência. Agarrei seus ombros como minha única esperança de fazê-lo parar, só que abriu mais um botão, e outro, e outro. E toda a resistência foi se acabando. Seu quadril voltou a pressionar o meu em movimentos intercalados e acabei gemendo alto.

Sua boca voltou a minha, me explorando com rispidez e percebi que tirou sua calça de moleton enquanto me distraí. O beijo desceu, um caminho quente até o vão entre meus seios. Os outros botões terminaram mais rápido do que pude imaginar, só então agarrei seus cabelos da nuca e afastei um pouco seu rosto do meu colo.

- Edward, pare. - murmurei.
- Bells.
- Por favor, pare. Pare. - o soltei, segurei os dois lados da camisa e me cobri.
- O que houve? - perguntou confuso se sentando.

Fiz o mesmo só que escorregando pela cama para me afastar mais.

- Eu não sei. - falei com o rosto escondido.
- O que foi?
- Eu- eu-

Olhei em seus olhos. O verde tão negro como jamais vi e soube que precisava falar a verdade.

- Eu sou virgem. - sussurrei.

Apesar de ter sido muito baixo, soube que tinha escutado porque seus olhos se arregalaram um pouco e seus ombros caíram.

-  Como assim? - escondi mais o rosto me amaldiçoando por ter que explicar.
- Eu- eu sou. Droga, nunca estive com ninguém. Eu -

Fechei mais a camisa, me abraçando com força criando um escudo, e abaxiei o rosto sentindo minhas bochechas rosarem.

- Me perdoa por não ter falado antes? Eu devia. - puxei meus cabelos com um pouco de força demais, mas não reclamei afinal minha intenção era mesmo me punir pela idiotice - Me perdoa?
- Hey. - para que não me assustasse ainda mais, escorregou pelo lençol lentamente até estar perto o suficiente para passar um braço ao redor dos meus ombros - Olhe para mim. - neguei com a cabeça - Olhe para mim, Bella. Só olhe.

Respirei fundo resgatando um pouco de coragem e ergui o olhar até encontrar o seu. Edward não parecia mais o mesmo de um minuto atrás, era como se tivesse saído daquele transe com mais facilidade do que eu - porque mesmo com receio ainda me arrepiei quando me tocou. Um sorriso tranquilizador brotou nos cantinhos de seus lábios e me fez suspirar.

- Não entendo porque está pedindo desculpas.
- Porque não falei. Deixei que viéssemos até aq-
- Shi. - me calou com um dedo e esfregou uma mão no meu braço para espantar o frio - Não ache que foi um problema essa noite tem chegado até esse ponto. Eu que devo pedir desculpas porque fui apressado, mas é que imaginei... por você ser mais velha. - abaixei o rosto com vergonha da minha mentira.
- Mas é que nunca conheci ninguém.
- Tudo bem, Bella. Sem problemas. Entendo que esteja com um pouco de medo. Não vou pedir que continue algo que não está confortável para fazer. Eu- bem, só faça quando sentir que é o certo a fazer. Só quando quiser, amor. - com cuidado se aproximou e deixou um beijo na minha testa.

Achei que estava tudo bem, mas entristeci logo em seguida vendo que se afastou com intuito de levantar da cama. Achei que estava magoado comigo ou sei lá mais o que. Ele ficou em pé, esfregou o rosto e respirou fundo. Foi então que pensei bem.

Não sei se outro homem seria paciente comigo, que se afastaria querendo meu bem e me entenderia. Qualquer outro homem não seria carinhoso como foi, nem me deixaria o poder da escolha. Eu sabia que o amava, era algo que crescia dentro de mim e ficava cada dia mais impossível de esconder. E também confiava, pois se não houvesse esse sentimento jamais teria mesmo me entregado na mão dele. Não teria voltado a me aproximar depois de tudo que fez para mim.

Agora era outra culpa que me importunava: a de tê-lo afastado. Pois se todos os prós estavam lá, que maldito contra me impediria? O medo? Mais hora menos hora precisaria deixar de ser aquela menina que tinha receio da aproximação de todos. Já sabia que Forks era meu lugar, junto dele, então porque continuar o afastando? Só estava me fazendo sofrer. Respirei fundo e segui o conselho das garotas.

Lutando contra todos os meus pudores saí da cama sem fazer nenhum barulho e dei dois passos até onde estava. Edward ainda mantinha o rosto pressionado contra as mãos, como se tentasse se controlar. Segurei a gola de sua camisa e a despi me arrepiando quando o frio me envolveu. O ponto de calor mais próximo era suas costas e, com ainda bastante dificuldade, me colei a ele o abraçando pela cintura.

Um choque muito forte mesmo abalou nós dois. Primeiro senti um pouco de dor, porque sua pele estava bem quente, mas um milésimo depois tudo se tornou prazer. Até nossas respirações aceleradas eram perfeitas para o momento.

- Bells? - chamou girando um pouco o rosto.
- E se for o certo a se fazer, você me perdoa?

Demorou um tempo, mas com um sorriso se virou me abraçando. Meu corpo todo ficou vermelho quando me beijou.

- Você e sua mania de pedir desculpas.
- Eu te amo, Edward.

Nos beijamos de novo, e ainda que estivéssemos abraçados e semi-nus, ainda que eu tivesse acabado de afirmar que aquilo era o que queria, ele não estava igual. No início achei que isso era ruim, imaginei que tivesse estragado a minha primeira vez, mas então nossos passos calmos foram se aproximando da cama e quando a senti bater contra minha panturrilha Edward calmamente me afastou forçando-me a sentar. Segurou meu rosto com as duas mãos, roçou sua boca na minha e sentou ao meu lado.

- O que está fazendo? - perguntou.
- O certo. Foi você que disse.
- Não. Espere um pouco. Não quer pensar?
- Se isso acontecer acabo desistindo.
- Bella, é melhor não. Não quero que se sinta obrigada, por favor?
- Não estou. É só que confio em você e te amo, então não há porque não seguirmos em frente.
- Tem certeza, meu amor?
- Tenho quando me chama assim. - pude ver seu sorriso, então me lembrei que ele poderia me ver também e dei um certo jeito de passar os braços para frente e me cobrir um pouco - Só precisa ter um pouco de paciência comigo. - lembrei mordendo o lábio.

Ele suspirou e beijou onde mantinha com o dente preso.

- Tudo bem. - suspirou - Vamos tentar.

Esperei que fizesse o próximo movimento, mas ao contrário continuou lá parado na expectativa de que eu saísse correndo ou algo parecido. Respirei fundo para não fazer mesmo aquilo e me afastei deitando na mesma posição que estava antes. Fechei os olhos para não vê-lo me observando de cima à baixo e esperei até sentir a cama afundando ao meus pés. Ele os tocou, primeiro com as pontas dos dedos depois com a palma e subiu lentamente pela minha perna.

Ao chegar nas minhas coxas me remexi um pouco inquieta com o formigamento que surgira dentro de mim, mas aquilo pareceu maior estímulo para que continuasse subindo até chegar as minhas costelas, laterais dos seios e pescoço. Me assustei quando as desceu de novo até chegar a boxer que eu usava e me silenciando com um beijo fez com que ela saísse do meu corpo.

Silenciando nossa imprudência.

Inconscientemente, ajudei-o a se livrar daquela peça e também me agitei certamente incomodada por estar completametne nua aos seus toques. Mas ainda havia aquele resquício de loucura escorrendo como um veneno de um para o outro. E sei que só agradeci por estar escuro o suficiente. Sei que no futuro toda essa barreira em mim cairia, mas para meus primeiros passos já os via grandes demais.

Fechei os olhos e assim os mantive mesmo quando senti sua boca se afastando para o meu pescoço e colo, exatamente de onde tínhamos parado. Enrolei seus fios cobre da nuca entre meus dedos como se quisesse tomar um pouco as rédeas da situação e ter controle nos seus movimentos, mas sabia ue era mesmo só coisa da minha cabeça para me dar mais segurança. Ele depositou um beijo terno no meu seio esquerdo, meu corpo se preciptou, então murmurou:

- Saiba que pode me pedir para parar a qualquer momento. - assenti no escuro - Vou te fazer relaxar, mas preciso que confie em mim. Sem pensar, só sinta. - repeti meu gesto e esperei.

Esperei resgatando forças para segurar o gemido quando afundou sua língua quenta na minha pele escorregando suavemente. Seu hálito misturando-se ao movimento tão sensual e a idéia de que estava me provando provocou uma onda intensa de calor pelo meu centro. Segui seu conselho e expulsei toda e qualquer dúvida que eventualmente surgisse, apenas dando atenção para o prazer de me expor ao seu beijo ousado que tomava-me inteira em sua boca. O calor aumentando com o mover de seu corpo sobre o meu, agarrei com mais força seus cabelos e abri os olhos uma única vez para assistí-lo mudar de um para o outro provocando um gemido alto que tentei segurar trincando os dentes.

Pela primeira vez na vida, não quis ser dona do meu corpo pedindo em murmúrios por mais ao arqueá-lo em direção ao seu. Os beijos desceram um pouco mais alcançando minhas costelas, como também minha cintura e pararam ao redor do umbigo.

Seus dentes puxaram minha pele tão gentilmente que foi difícil explicr o arrepio violento que me devastou. Abri os olhos numa lufada de coragem ara encará-lo e encontrei seu rosto levantado na direção do meu meu. Avaliava minha expressão com satisfação. Nossos olhares se cruzaram, penetrando um no ouotro com tanta intensidade ue o pouco de ar que ainda havia nos meus pulmões escapou. Acariciei sua nuca como gostava, em resposta fez o mesmo com minha coxas e deixou escapar um sorriso torto.

- Sou mesmo muito tolo por ter ficado tanto tempo longe de você, não ter te dado logo o que merecia. Eu te quero muito.
- Eu também. - beijou minha pele uma última vez antes de afastar um pouco minhas pernas.
- Minha Bella. - gemeu descendo seu rosto.

Nem tudo que fez até agora me preparou para o fogo que consumiu todo o meu corpo ao sentí-lo me beijar. Se antes já estava lutando bravamente para não me contorcer sobre seus toques, agora então estava a ponto de ensandecer. Seus hálito deixando mais fervente minha pele úmida, usando seus lábios e língua para provar até a última gota do que poderia oferecer. Inferno. Afundei minhas unhas no colchão sem ousadia o suficiente para tocá-lo enquanto se concentrava em mim.

- Edward. - gemi sem forças quando me abocanhou com um pouco mais de urgência.

O senti gemer também aumentando o formigamento de prazer que irradiava do meu sexo para todo o resto deixando meus músculos tensionados a espera de uma libertação. Então sua língua me penetrou aumentando a intensidade dos espasmos que me abalavam. O êxtase cresceu incontrolavelmente, segurei o lençol com um pouco mais de força e gemi mais uma vez seu nome quando aquilo que só poderia chamar de expectativa chegou ao seu limite e deu origem a outra coisa.

Me estremeci inteira sentindo meu centro se apertar com força. Meus pensamentos nublaram, filhetes de prazer percorreram cada célula do meu ser e minha vista ficou turva. Ele me segurou com um pouco mais de força e continuou seus movimentos.

Não entendi o que estava acontecendo a mim, mas sabia que era muito bom, que com certeza queria mais e que Edward havia cumprido o que prometera. Me fizera relaxar, sentir prazer e agora me faria dele e somente dele. Os choques ainda eram tão vivos que não pude emergir imediatamente. Uma voz dentro de mim precisou gritar para que eu correspondesse aos seus lábios que se colavam aos meus, enquanto colocava o preservativo. O abracei com minhas pernas sentindo parte de seu peso sobre mim.

- Não sei se será tão bom para você. Vou fazer o meu melhor, mas se quiser parar eu-
- Shi. - agarrei seus cabelos com um pouco mais de força - Sem hesitar, Edward. Eu te amo. - assentiu um pouco confuso e voltou a me beijar.

Confesso que estava com mais medo de não ser bom para ele do que para mim. Minha sensibilidade ainda estava tão abalada com o que fez comigo a pouco que não senti muito quando forçou minha entrada estreita para ele. Seus movimentos foram lentos e controlados, mas só senti o desconforto que temia quando já estava todo dentro de mim. Ele esperou que me acostumasse, não se moveu, não disse nada. A ardência aumentou muito quando tentei ajeitar meu quadril embaixo do seu.

Minhas unhas estavam cravadas com força em suas costas fazendo sua respiração ficar ainda mais acelerada. Sua mão desceu pela minha lateral, se infiltrou entre nós e me tocou.

- Edward.
- Relaxa, meu amor. - pediu com a voz presa a garganta.

Só depois de algum tempo é que consegui atender seu pedido e me concentrei na satisfação que voltava a mim lentamente. Ele se moveu devagar beijando meu pescoço e colo enquanto isso. Não posso dizer que não estava doendo, que ainda havia incômodo, mas só por ser com ele e saber que estava se esforçando ao máximo para me fazer bem toda a cena se tranformava.

Os sons dos nossos corpos se movendo, os sussurros e gemidos estavam me enlouquecendo. A pressão que senti antes enquanto me beijava não se comparava a agora.

Aprendi a seguir seu ritmo, como resposta seus gemidos ficavam cada vez mais altos. Edward colou sua testa a minha e sorri ao ver seu rosto tranformado de prazer. Mas em seus olhos ainda havia preocupação, então puxei sua boca para a minha e o beijei com urgência servindo também para me fazer chegar ao auge mais rápido. As mãos quentes e grandes me exploravam inteira. Suas estocadas ficando mais rápidas e fortes.

- Oh Bella, você... - meu corpo estava se apertando em volta dele com mais força aumentando as pontadas de dor, mas ele me tocou com mais velocidade e me beijou até que eu esquecesse.

Apertei mais minhas pernas ao seu redor, agarrei suas costas procurando apoio para os tremores e deixei ser invadida por novas e mais intensas ondas que se espalharam. Todos os meus sentidos se desligaram com a queimação incrível que envolveu meu corpo. O dele se contraiu e relaxou também chegando ao ápice dentro de mim. Estava feliz por ter chegado até o fim, por ter sido boa para ele.

- Eu te amo. - murmurou nos meus lábios.

Quando abri os olhos, foi como da primeira vez que o encarei só que mil vezes mais forte e íntimo. Éramos só Edward e Bella sem nenhum problema, sem mentiras e sem julgamentos. Acho que foi a primeira vez que pude chamar algo de realmente nosso. Então lembrei de algo que ouvi de um casal muito apaixonado que conheci nas minhas andaças pelo país. Eles diziam que amar era abrir mão de si mesmo para dar ao outro e o que mais queria agora era ser de Edward enquanto me quisesse.

- Eu também te amo.

Três semanas depois

Edward Pov

Sua boca encontrou-se com a minha delicadamente, mas foi o suficiente para me tirar de qualquer sonho. Suspirei preguiçoso sentindo cada parte de seu pequeno corpo encaixado no meu como duas peças perfeitas. Escorreguei minhas mãos pelas suas costas e sorri.

- Bom dia. - desejei abrindo os olhos pela primeira vez encontrando os seus amendoados me observando com atenção.
- Bom dia. - respondeu alargando seu sorriso - Agora é melhor que vá para seu quarto.
- E mais uma vez ela consegue acabar com meu pobre coração com apenas três palavras.
- Ah, Edward. Sem dramas. Sabe que foram mais que três. - a encarei furioso, mas só provoquei seu riso.

As bochechas corando e se quebrando em duas covinhas que a deixavam com aparência mais infantil ainda assim perfeita como sempre. Acordar ao lado de Isabella era a melhor sensação que já tinha experimentado.

- Você é tão engraçadinha. - a apertei mais contra mim, afundando o rosto em seus cabelos para sentir o perfume de morango.

Notei que se esforçou bastante para resistir ao carinho e não retribuí-lo, mas sabia que a tal preocupação que a deixava com os músculos tão tensos era o motivo também para me querer fora de sua cama, escorraçado de seus lençóis, antes mesmo das cinco e meia da manhã.

- Edward.
- Só mais um pouco. Mal amanheceu.
- Acha que não quero que fique? - beijou meu peito até arrancar de mim um baixo gemido.
- Sinceramente, assim não consegue me convencer.
- Como se eu mesma estivesse convencida. - rimos juntos, então nos rolei no colchão até estar sobre ela.
- Quando vamos contar?
- Eu não sei. Sabe que tenho medo pelo meu emprego. - suspirou passando os braços ao redor do meu pescoço - Também gostaria de sair dessa mentira.

Algo dentro de mim disse que poderia estar se referindo não só ao nosso namoro escondido, mas também a outras coisas do seu passado que tanto evitava falar. Mas não me preocupei em perguntar o que era porque não queria estragar os raros encontros que tínhamos.

- Logo?
- Logo. - sua confiança me fez sorrir.

Fechei os olhos quando escorregou suas unhas pela minha nuca causando uma reação exagerada ao meu corpo. Aquela que só Bella causou até hoje. Se me queria para fora porque provocar?

- Bells. - tentei avisar, mas seus lábios junto aos meus impediu-me de completar qualquer raciocínio.

Agarrei com firmeza sua cintura, acariciando a pele macia, e deixei suas pernas se entrelaçarem as minhas, mas sabia que só estava piorando minha situação para levantar. Então, ainda sem firmeza alguma, me afastei para ver suas bochechas extremamente vermelhas e respirei fundo.

- Se quer mesmo que suba, então não me beije assim.
- Me desculpa? - corou ainda mais.
- Não por isso.

Suas pálpebras fecharam-se permitindo que voltasse ao sono merecido depois de nossa noite. Como sempre bobo demais quando se tratava dela, beijei seus olhos, a ponta do nariz, lábios e depois cada ombro. Só então me levantei cobrindo seu corpo com o lençol e procurei ao lado da cama minhas roupas. As vesti com calma enquanto admirava os pontos da pele clara e macia descoberta e como a luz acizentada que entrava pela fresta na cortina iluminava suas curvas me deixando sem fôlego.

A última peça que vesti foi a calça de moleton, enfim estava bem para sair do quarto, ainda assim esperei só mais um pouco. Só até que o cansaço a levasse completamente de mim deixando um sorriso de canto de boca ainda brincando em seu rosto. Passei a mão pelos cabelos um pouco ansioso e fui para minha cama antes que desistisse de tudo e voltasse a me deitar no calor dela.

Confesso que ter sido seu primeiro me deixou mais nervoso do que jamais estive. Só queria que fosse tão bom para ela quanto estava sendo para mim desde que decidiu entrar na minha vida, mas pelo menos uma vez fiz tudo certo e só a aproximei mais de mim. E desde então, aliás desde a primeira vez que me chamou para dormir ao seu lado, havia se tornado um vício, quase uma necessidade, fugir no meio da noite para ela.

É claro que com essa história de caminhar sorrateiramente pelo corredor - ou como fiz noite passada já que meu pai estava com a porta do quarto aberta e precisei sair pela janela - me cansava e nossas horas de sono diminuíram consideravelmente, mas sabia que valia a pena.

Acho que dormi no mesmo instante que deitei a cabeça no meu travesseiro. Me lembro de ter ouvido Rennesme entrar no meu quarto mais tarde e de meu pai me chamar para o café, mas apaguei de tal forma que ninguém conseguiu me por para fora. Quando levantei já era quase meio-dia e só porque meu celular estava gritando nos meus ouvidos com um alerta de mensagem. Era só Paul querendo saber quando voltaria a treinar, mas nem me dei ao trabalho de responder depois que senti o perfume maravilhoso de ensopado que vinha do primeiro andar.

Tomei um banho depressa, vesti qualquer roupa e desci. Mas encontrei a cozinha vazia, uma panela com comida no fogão, um pote de sal derramado no chão como tambem o celular de Bella. Chamei seu nome duas vezes sem resposta, então entrei no cômodo um pouco vacilante e apaguei o fogo que já fazia o caldo na panela pular do recipiente.

- Bella. - chamei mais uma vez, mas fui interrompido pelo celular que vibrou no chão.

Primeiro fiquei em dúvida se atendia ou não, mas enquanto pensava o peguei e apertei a primeira tecla que vi abrindo assim uma mensagem que era de Alice e dizia:

' Porque desligou daquela maneira? Eu sei que tem alguma coisa de errado. Pelo amor de Deus, o que aconteceu e não quer nos contar? É sobre seu irmão? Por favor, Bella, pode confiar em nós. Talvez possamos te ajudar, então atenda o telefone. Quem é esse homem? '

O assunto me deixou mais confuso do que antes e o que mais me chamou atenção foi sua colega de apartamento falar de seu irmão - que também seria meu em breve - já que segundo ela eu era o único além de Carlisle que sabia mesmo de toda a história da morte de seus pais e os maltratos de sua tia. Estava acontecendo alguma coisa.

Decidi olhar outras e encontrei uma que não foi lida de meses atrás:

' Por favor, se lembre do que conversamos quando começamos esse joguinho de sedução. Se o plano de conquistar Jasper deu certo, não significa que com Emmett será a mesma coisa. Você já alcançou seu objetivo com o do meio, porque não parar aqui? Nem pense em subir para o quarto do grandalhão. Fique quietinha onde está. '

Jogo de sedução. Conquistar Jasper. Subir para o quarto de Emmett. Sobre o que afinal estavam falando? Já nervoso voltei a ler outras mensagens, umas recebidas, outras enviadas.

' Me lembrei de uma coisa! Enquanto estiver no cinema com Jasper finja que está com frio ou coisa parecida. Ele pode tentar te abraçar. Se não for uma porta de tímido para isso.'

' Ele está muito lerdo. ' - quase caí no chão ao ler sua reclamação.

' Ele tem o tempo dele. Espere que chegue em você. O primeiro encontro foi ótimo, vai te chamar de novo. Relaxa.'

Isabella tinha saído com meus irmãos? As coisas aqui nessa estavam funcionando então na base de uma porra de jogo de sedução? Eu era só isso? Minha resposta chegou quando li a próxima.

' Acho que essa história de conquistar Jasper, Emmett e Edward para me vingar vai demorar muito. Não seria mais fácil se enquanto um racionaliza, eu já vou avançado para o outro? Emmett estará na cidade até quarta. Posso fazer ciúmes em Jasper para que ele seja mais rápido e já deixar tudo quase pronto para o segundo. '

Eu era só a merda da terceira vítima numa vingança. Era o que tinha acabado de ler. Era isso que alguém na minha cabeça gritava enquanto relembrava todos os abraços que já a vi trocando com cada um. Eu tinha me apaixonado por uma mentira? Nunca senti raiva tão grande quanto a que me fez correr até o quarto de Isabella buscando explicações, mas quando cheguei lá não entrei. Parei na porta com o que vi: ela e Carlisle abraçados.

E para piorar o ouvi dizer:

- Eu te amo, Bella. Não vou deixar que vá.

Isabella Pov

- Eu volto já. - beijou minha bochecha - Te amo, Bells.
- Até daqui a pouco, pequena.
- Vamos logo, sua baixinha. - Jasper a pegou jogando por cima do ombro e Nessie gargalhou - Obrigado. - acenou para mim.
- Cuidem-se.
- Sim, senhor. - ela bateu continência ainda nas costas do irmãos e fez uma careta.

Depois que entraram no carro e partiram, voltei para a cozinha onde começava a preparar o almoço de Carlisle e Edward. Apesar do cansaço estava animada e com um sorriso gigantesco no rosto sem ao menos um motivo concreto para isso. Acho que era porque tudo estava dando certo entre [i]ele[/i] e eu, e também com as informações sobre Willian que meu amigo conseguia. Sabia que estávamos chegando perto e agora só faltava um mês para completar os dezoito anos. A tão sonhada maior idade. Outras garotas desejavam sair para festas, baladas ou sei lá mais o quê.

À mim só aguçava a vontade de viver sem ter que me esconder.

Poderia sair na rua sem medo e correr para qualquer parte sem a idéia fixa de que alguém poderia me descobrir e me levar de volta para Vanessa. Ou então, já que ela renunciara a guarda de Willian e também a minha, indicarem-me um reformatório. Eu não precisaria mais voltar para esse tipo de lugar. Minhas correntes teriam se quebrado.

Olhei para a cozinha em volta de mim e sorri lembrando de todas as coisas que passei nessa casa. Quando ainda encharcada de chuva vim vestida numa camisola de hospital carregada por Carlisle desde a garagem, quando conheci toda a família, eu e Edward no chão depois da guerra de comida no aniversário de Nessie. Suspirei alto e me virei de volta para o fogão repassando meus planos.

Assim que completasse a maior idade contaria para meu namorado toda a verdade - espero que não fique magoado - e então conto para todos que estamos juntos. Willian será um Cullen, eu continuarei em Forks e vou ajeitando a vida aos poucos. Planos tão perfeitos que mal pude acreditar que estavam tão próximos.

Pela primeira vez em anos, recuperei algo que se foi junto com a minha infância: a fé e a esperança. Meu mundo estava cor-de-rosa e dele fui arrancado quando ouvi o toque barulhento do meu celular reclamando atenção no meu quarto. Abaixei um pouco o fogo e fui até lá. Era Alice, o que só me fez sorrir ainda mais e o atendi depressa.

- Alô.
- Bells?
- Bom dia, baixinha. Tudo bom?
- Er, tudo. - parecia um pouco receosa.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não sei dizer.
- Está com uma voz preocupada, amiga. Onde está?
- Em casa. Rosalie saiu bem cedo com Emmett para Seatle.
- Os pombinhos já estão te enjoando, imagino.
- Não tanto. Gosto muito de vê-la feliz. Aliás, você também. - minhas bochechas coraram mesmo estando sozinha.
- Er, Allie. Por favor, vamos mudar de assunto? - ouvi uma risada ainda que preocupada do outro lado da linha.
- Na verdade, não era para ter puxado esse papo com você. Só liguei mesmo porque aconteceu uma coisa que me deixou um pouco desconfiada e precisei te ligar para tirar uma dúvida.
- É algo sério?
- Só você pode me dizer.
- Então fala logo. Está me deixando ainda mais nervosa.
- Bella, um homem veio no nosso apartamento hoje. - Alice começou receosa.
- E? - provei um pouco do ensopado e precisava de mais sal.
- Ele disse que era do conselho tutelar e precisava falar com você. Ele me mostrou a documentação e como era confiável respondi que estaria na mansão dos Cullen e dei o endereço. Agora, porque o conselho tutelar está te procurando?

O pote de sal e o celular caíram no chão.

Acabou tudo. - foi só o que consegui pensar.

Permaneci imóvel como se tivesse levado um forte choque. Meu cérebro não fucionava direito tentando processar toda a informação e a maldita frase repetia como um sinal de alerta. Acabou tudo. Acabou tudo. Eles me encontraram, mas como conseguiram? Me lembrei do médico arrogante que me quis fora do hospital e nosso encontro no quarto quando Edward se acidentou.

Tinha lágrimas nos olhos quando me abaixei para pegar o celular e colei seu fone novamente nos ouvidos. Alice gritava meu nome parecendo amedrontada, mas se era esse o sentimento que a consumia agora, então não fazia noção do meu. Desliguei a ligação e chorei mais. Não reagi racionalmente. Deixei que meus pés seguissem por vontade própria até meu quarto, sem me importar com o vago chamar assustado que me perseguia.

Assim que entrei nas dependências de empregada caí no chão ao lado do armário e me abracei tremendo de medo. Lembro-me bem das outras duas vezes que me senti assim, apenas na morte dos meus pais e na minha primeira fuga quando retornei à Vanessa e ganhei um forte soco pelo que tinha feito. Fechei os olhos com força ignorando sua voz me chamar preocupado. Não podia acreditar que estava acontencendo tudo de novo logo agora que minha vida voltava a entrar nos eixos.

- Não pode ser. - repeti debilmente.
- Pelo amor de Deus, o que não pode ser, Isabella? Me responda. - Carlisle me sacudiu.

Olhei seu rosto, olhos arregalados de preocupação, as mãos me segurando com força e medo. E só chorei mais por saber que poderia perdê-lo ou, ainda pior, arriscá-lo por ter me escondido tanto tempo. Precisava partir. Se faltava tão pouco para finalmente estar livre, então voltaria dentro de um mês e se conseguisse explicar toda a história para ele tinha certeza que jamais me impediria de ir. Até porque voltar já estava inscrito em mim à fogo. Esse era meu lar.

Mas não consegui me expressar. Tinha medo demais para conseguir falar e só o estava deixando mais nervoso. Num impulso que não entendi de onde veio, empurrei suas mãos e o abracei pedindo que me tirasse daquele inferno. Acho que chamei Carlisle de pai, porém não tive certeza porque não conseguia mais nem compreender o que passava pela minha cabeça quanto mais ouvir o que dizia.

- Acalme-se, meu anjo. - beijou meus cabelos - Me explique o que aconteceu.
- Tenho que ir embora agora.
- O que? - me empurrou assustado - Como assim ir embora?
- Ele veio. Eu não sei quem é. Quem descobriu. Vieram atrás. Sabem onde estou. Alice deu o endereço da mansão. Podem te prejudicar. Não quero isso, Carlisle. Você é muito bom e sempre me ajudou. Eu tenho que ir embora antes que as coisas fiquem pior.
- Quem veio, Bella?
- Um agente social. Eles sabem onde estou. - tentei me levantar, mas impediu.
- Quem te disse isso?
- Alice acaba de me ligar dizendo que um homem identificado como sendo do conselho tutelar esteve no nosso apartamento essa manhã à minha procura e como não sabia do que se tratava deu o endereço da mansão para ele. Logo estará aqui, Carlisle. Tenho medo de que possam te prejudicar por ter me escondido aqui por tanto tempo. Eu preciso ir embora.
- Não vou permitir que vá. - o empurrei rudemente e me levantei sendo agarrada pelo pulso em seguida.
- Você não está entendendo. - choraminguei.
- É você que não está entendendo. Não vou deixar que fuja daqui. Vai viver na rua de novo? Quando te encontrei você tinha sido espancada por assaltantes, como não pode perceber que lá fora não é seguro? Você é só uma menina, Isabella.
- Sou uma menina que sabe se cuidar. Vivi quase um ano dessa forma. Vivo mais um mês.
- Não diga besteiras.
- É você que está dizendo. - meu coração estava muito acelerado, senti até um pouco de vertigem - Me deixa partir, por favor. Eu prometo que volto.
- Pode querer voltar, mas e se as coisas lá fora não deixarem? Você fica.
- Eu vou. - rosnei sem paciência.
- Isabella, não discuta comigo. Ficaremos aqui e nenhum agente social vai te levar dessa casa. Trarei seu irmão para cá e poderá ter uma família de novo. Por favor, fique.
- Eu não posso.
- Ninguém vai te tirar daqui.
- Você não manda em mim. Não é meu pai.
- Mas quero ser. - quase gritou me sacudindo.

Só então parei tão chocada quanto no momento que ouvi Alice dizer que estavam atrás de mim.

- Você o quê?
- Será que é assim tão inocente para não ter percebido minhas intenções desde o início? Não poderia ser diferente depois de todos esses meses que ficou conosco nessa casa. Algo dentro de mim, que não sei explicar, gritou quando vi aquela sombra caída na beira da estrada. Foi mais do que apenas compaixão, Bella. De alguma forma sabia que era alguém que precisava de ajuda e que me ajudaria também. E foi exatamente o que aconteceu esse tempo que passou aqui. Você se transformou na mulher da casa, cuidou de todos nós com tanto amor e dedicação. Não minta dizendo que não se apegou aos meus filhos e eles à você. Nunca vi Emmett tão compromissado, Jasper tão decidido, Edward tão maduro e Rennesme tão feliz. Não há motivos para que vá se achou aqui e em nós seu lar. Quando lhe falei meu desejo de adotar seu irmão, não completei minha idéia por medo, mas a verdade é que se expandia a você também. Já te sinto minha filha. Confio cegamente em você, me preocupo e quero sempre te apoiar se tiver um problema. Precisa ficar para enfrentarmos mais essa barreira juntos.

As lágrimas me cegaram de vez. Depois de meia dúzia de palavras não vi mais o rosto de Carlisle, mas o senti tocar meu coração e me encher de alegria como pensei que não seria possível. Eram exatamente as palavras que precisava ouvir. O abracei com uma força desmedida ouvindo seu sorriso de satisfação quando me enlaçou também. Não sei quanto tempo ficamos assim, mas pareceu uma eternidade.

- Eu te amo, Bella. Não vou deixar que vá.  - beijou meus cabelos lembrando meu pai quando se despedia para o trabalho - Prometa.
- Eu-
- Prometa que vai ficar.
- Prometo. Eu prometo.
- Muito obrigado, meu anjo. É só o começo. - um pouco mais aliviado me afastou e estava tão pálido quanto eu - Preciso de sua ajuda agora. Deveria ter te contado, aliás contado para todos aqui, mas receio que o dia ficará confuso. Pode confiar em mim?
- Sim.
- Minha ex-esposa está chegando e preciso falar com ela antes de te levar para um lugar seguro.

- Sua ex-esposa? - pediu para que falasse mais baixo - Como assim 'lugar seguro'? - esfregou o rosto nas mãos e precisou de alguns minutos para racionalizar a resposta.
- Entenda que se há alguém vindo com a certeza de que está aqui talvez já estejam se preparando para levá-la à algum juizado.
- Ou reformatório. - minhas pernas tremeram - Não posso voltar para aquele lugar. O que vivi em São Francisco era um inferno.
- Se acalme. - pensou mais um pouco, estava começando a ter pena de Carlisle, mas sem saber o que passava na sua cabeça não poderia participar das idéias - Acho que já sei. Faça suas malas.
- Porque?
- Tire tudo que é seu dessa casa. Qualquer vestígio de que tenha existido. Vou ligar para a minha amiga assistente social que está nos assistindo no caso de Willian.
- Vai me colocar na mão de um deles?
- Não, Isabella. Ela é diferente. Sabe sua história e o quanto quero seu bem. Não vai tirá-la de mim.
- E se os outros a procurarem por ser sua jurisdição?
- Se o fizerem, não será na casa dela. Tenho certeza que não se incomodará de ficar com você por dois ou três dias.
- E porque não posso ficar no meu apartamento no centro?
- Mesmo suas amigas dizendo que não estava lá eles devem voltar quando não te acharem aqui. Não discuta mais comigo. Faça sua mala e me espere na sala de estar. Vou subir e ligar para ela.
- E sua esposa?
- Por favor, atenda a porta se Esme chegar. Não é nada urgente, pode muito bem esperar o tempo que for enquanto decido todos os detalhes com minha amiga.
- Acha que isso pode dar certo?
- Confie em mim e tudo ficará bem no final, meu anjo. Prometo.

O abracei e beijou minha testa antes de me deixar novamente sozinha. Meu corpo ainda tremia, mas minha única saída era seguir corretamente seus planos pois qualquer erro poderia me levar embora. Arrumei uma mala média com tudo que era meu dentro. A fechei e pus ao lado da porta. Mas meu coração estava apertado e sabia que era porque antes de me esconder precisava falar com Edward.

Não só falar baboseiras inventadas para justificar minha ausência, mas a verdade. O porquê da minha fuga repentina, contar quantos anos tinha, como fui parar de verdade na mansão e o apoio que recebia de seu pai desde que cheguei. Limpei o rosto manchado de lágrimas com a lapela da camisa e respirei fundo até minha aparência não estar tão assustadora. Seria difícil colocá-lo a par, mas pior era partir deixando que pensasse coisas erradas sobre nós dois.

Com dor arrastei minha mala até a garagem onde a joguei ao lado do carro de Carlisle. Caía uma tempestade muito forte lá fora, tão forte quanto a que caiu na nossa primeira noite, então antes que corresse até ele a campainha chamou minha atenção. Me abracei com um pouco de medo e também transtornada pelo turbilhão de acontecimentos, mas não me esqueci antes de abrir a porta olhar no visor para saber se era a senhora Cullen ou quem mais temia.

Pude respirar tranquila ao ver o semblante conhecido de fotos e também de lembranças que não me pertenciam. Abri a porta para a mulher de rosto bondoso e sorriso preocupado que me observou dos pés a cabeça antes de torcer as mãos umas nas outras. Enxerguei expectativa, saudade e até pavor quando saí de sua frente sinalizando que entrasse.

- Er, bom dia. - desejou olhando para a escada esperando que alguém aparecesse.
- Bom dia, senhora Cullen. - voltei a trancar tudo - Devo voltar aos meus afazeres. O doutor já deve saber que está aqui. Já descerá. Se precisar de qualquer coisa pode me chamar. Com licença. - quis subir até o segundo andar encontrar Edward, mas sua mãe segurou meu braço.
- A menina que Carlisle falou. Isabella seu nome, não é?
- Sim, senhora.
- Me chame de Esme.
- Acho melhor não. Com licença.
- É tão bonita quanto me descreveu. Como também assustada. Não se preocupe. Não sou nenhum monstro e sei o que aconteceu.
- Como?
- Isabella, está tudo arranjado. Podemos sair. - a voz de Carlisle chamou nossa atenção e senti a mão que me agarrava ficar fria.

Me senti tão estranha naquele ambiente quando os dois finalmente se encararam. Vi o quanto ele ficou pálido mesmo que já tivesse se preparado com antecedência para a chegada. A senti tremer, congelar e suar frio nas mãos com o olhar ainda afixionado no ex-esposo. Afinal, o que eu ainda estava fazendo ali? Com delicadeza desprendi meu braço afrouxando seu aperto com um leve sacudir. Planejei sair dali sem ser percebida, mas Carlisle mais frio do que jamais o vi olhou para mim e levantou um papel que segurava entre os dedos.

- Precisamos conversar, Bells.
- Carl.
- Olá Esme. - rosnou - Não vou mentir dizendo que é um prazer te encontrar. Chegou numa hora ruim. - pensei que a mulher ao meu lado cairia no chão, mas não devia me meter - Infelizmente estou de saída. Se quiser pode ficar em casa até voltar.
- Onde vai?
- Não preciso lhe falar. - terminou de descer os degraus e buscou seu casaco dentro do armário ao lado da porta - Nossos filhos não estão. Só Edward trancado em seu quarto como de costume. Emmett saiu com a namorada. E Jasper levou Rennesme para um grupo de leitores infantis na biblioteca, então vou sair com Bella agora e devo voltar em uma ou duas horas.
- Não pode adiar dois minutos?
- Não. - ela olhou para mim como se fosse capaz de interferir na ação de seu ex-esposo.
- Sei que deve ser importante, mas demorará tão pouco, Carl.
- Não vou falar sobre isso agora. - estava mesmo eu assistindo os papéis se inverterem bem em frente aos meus olhos?
- Doutor, gostaria de passar lá em cima no quarto da baixinha antes de sair e escrever um bilhete para Nessie. Sei que ficará chateada e preocupada comigo porque combinados de brincar quando voltasse do passeio com o irmão. Enquanto isso tenho certeza que poderia falar com a senhora Cullen.
- Ex-senhora Cullen, Isabella. Tudo bem, pode ir. - tive dó da mulher, mas não estava ali para tomar parte de nenhum dos lados.

Então voltei a minha principal missão e quando dei por mim já empurrava a porta do quarto de Edward.

O lugar estava pouco iluminado. As janelas fechadas como também as cortinas e nenhuma lâmpada sequer acesa. Ele estava de costas para mim, olhando apenas as rajadas de luz que momentaneamente sujavam o chão conforme os raios rasgavam o céu lá fora. Fiz barulho ao fechar a porta e ele me olhou por cima do ombro. Meu peito estava ainda mais apertado por não imaginar sua reação, mas principalmente porque seu rosto parecia triste quando voltou a encarar o vazio a sua frente. Me convenci de que era impressão minha ou por estar tudo escuro não vi certo.

Já chorando me aproximei e toquei suas costas por cima da camisa preta que adorava vê-lo usando. Edward não pareceu se importar muito com minha presença. Continuou ajeitando roboticamente sua jaqueta de couro já quase abandonada dentro da gaveta desde o acidente na moto.

- O que faz aqui? - finalmente quebrou o silêncio, o que foi o suficiente para cair numa crise incessante de lágrimas.
- Nós precisamos conversar. Preciso da sua ajuda, amor. - balançado a cabeça riu debochado.
- Está me pedindo ajuda? Que irônico.
- Edward, por favor. Precisamos conversar e tem que ser rápido.
- Pode dizer, amor. Sou todo ouvidos.
- Me olhe. - seus ombros enrijeceram e lentamente se virou até me encarar.

Os olhos estavam frios como não vi nem mesmo quando ainda era aquele cara imaturo, irresponsável e vazio que conheci. E isso me deu tanto medo que dei um passo para trás.

- O que uma menina tão esperta com uma mente tão ágil pode desejar de um pobre rapaz como eu?
- Edward.

- O que uma inocente garotinha de San Diego órfã e sozinha no mundo precisa de mim? Meu Deus, estou tão curioso.
- O que está acontecendo?
- Seque essas lágrimas de crocodilo. Essa merda não funciona mais comigo. - vestiu sua jaqueta e apontou para a porta - Porque não pede para conversar com seu amigo Carlisle? Talvez ele aproveite a oportunidade e também te leve ao cinema. Oh, me desculpe. Amassos no escurinho é só com o Jasper.

Estava tão preocupada com meus problemas que não compreendi a raiva por trás das palavras.

- Eu-
- Sua cara de desentendida é a melhor que já vi em toda minha vida, Isabella. Com todo esse maldito talento tenho certeza que seria uma atriz premiada. Só me tira uma dúvida: sua amiga loira que namora meu irmão sabe o quão vagabunda você é ou só mesmo a 'mentora Alice'? - ofeguei com a ofensa - Ora, vamos. Sabe muito bem do que estou falando. Achou que poderia manter sua mentira por quanto tempo?
- Não.
- Cale a boca. - gritou se aproximando e, quando já estava com seu rosto quase colado ao meu, voltou a cuspir seus xingamentos - Não finja que não entende onde quero chegar e nem pense em começar a falar enquanto estiver aqui. Não quero ouvir mais mentiras, basta te olhar e já sinto ânsias. Você é uma cachorra falsa que só está nessa casa em busca de dinheiro.

- O que?
- Cale a boca. - me encolhi chorando ainda mais - Quando chegou aqui pude ver suas intenções com Carlisle, mas quando decidi interferir com minhas brincadeiras as coisas complicaram. Estive certo o tempo todo. Precisava de paz para completar seu plano? - segurou meu rosto com muita força e agarrei seu pulso tentando impedí-lo - O que melhor para tirar três caipiras do seu caminho do que usar e abusar de si mesma? O primeiro foi fácil. Sessões de cinema, um pouco de conversa e sua ajuda falsamente humanitária. O segundo foi mais complicado. O que aconteceu, Bella? Não suportou Emmett e teve que jogá-lo para sua amiguinha?

Me empurrou quase provocando uma queda. Não tinha voz para explicar que estava errado, como também vontade de lhe bater por ser tão estúpido.

- O terceiro foi tão fácil. - rosnou com lágrimas nos olhos - Tão pateticamente fácil que pode levar a brincadeira para um outro nível. Afinal, se um dia assumisse suas coisas com Carlisle para todos nós quem acreditaria numa criança como minha irmãzinha e no filho problemático? Nem mesmo seu pai. Ninguém.

Foi até seu armário, abriu a gaveta com tamanha violência que a fez cair no chão e do emaranhado de roupas que se formou em seus pés tirou meu celular.

- Devo ter te proporcionado altas gargalhadas, não é mesmo? Como alguém pode ser assim tão idiota? Eu quase mudei por você. Por uma vadia que me usou para uma vingança e ainda por cima enganou também meu pai. - riu mexendo em alguns botões.
- Edward, não é verdade. Não tudo isso que disse. Está enganado sobre o que aconteceu. Eu nunca me envolvi com seus irmãos, nem com seu pai. Carlisle é-
- Cale a boca. - o aparelho quase quebrou quando o jogou com força contra meus pés - Eu li as mensagens que trocava com sua amiguinha. Eu vejo a forma como Jasper olha pra você. E acabei de te ver lá embaixo com meu pai.
- Não. Ele estava me ajudando.
- Pare.
- É sobre o meu irmão, Edward. É sobre mim. Eu menti sobre quem eu sou e agora tem pessoas atrás de mim. Ele só quer me proteger.

E quando pensei que me daria a chance de ser ouvida, quando menos esperei por qualquer ação, fez algo que acabou com todo e qualquer sentimento bom que nutria por ele. Não foi forte - era apenas um aviso para que me calasse -, mas meu rosto ardeu onde bateu e por muitos minutos não consegui levantar o rosto do chão. Chorei tanto quanto ele, em choque pelo que fez e pelo que me dizia com dificuldade.

- Sairá da minha casa ainda essa noite e sem que ninguém saiba. Não me importa como vai conseguir, mas vai sair por bem ou por mal. E se aparecer de novo, vai se arrepender de ter entrado na vida dos Cullen. Isso não é uma ameaça. É uma promessa, Isabella.


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Notas finais do capítulo

Bem, esse capítulo nove foi bem longo e bem tenso. Desculpem a demora na postagem, mas quis completá-lo no orkut antes de vir aqui e estive ocupada. Preciso deixar dois recadinhos para vocês.

O primeiro é que essa semana tive a idéia de fazer uma segunda temporada de A mulher da casa. A idéia foi super apoiada lá no orkut. E também gostaria de saber a opinião de vocês. Fiz uma enquete na minha comunidade onde poderão entender melhor e até deixar sugestões para a próxima fase da história. O link é: http://www.orkut.com.br/Main#CommPollResults?cmm=94843040&pct=1309536823&pid=2089304113

O segundo recado na verdade é um pedido. Vejo que o número de leitores vem aumentando, mas não o de reviews. Poxa, gente, façam uma autora feliz :)