Medal Of Honor escrita por mah_veh


Capítulo 2
Um dia de folga




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Brenda Sr, muito obrigada pelo seu comentário, pelo incentivo no começo da fic, sei que no começo o negócio é difícil, mas são pessoas como você que amimam um autor a continuar.

Espero que você goste do capitulo e que continue acompanhando a história.

 Estou postando a fic em outro site também, e lá surgiu a questão, é capitão ou capitã? Pesquisei sobre isso antes de postar e encontrei um site em que diz:

Primeiramente, devo esclarecer que existem na língua portuguesa as formas femininas soldada, sargenta, coronela, capitã, generala. No entanto, como as Forças Armadas resolveram não adotá-las, preferindo empregar o nome do posto tanto para os homens como para as mulheres (até porque alguns ficariam estranhos, como ‘a tenenta’, e outros nem feminino teriam, como ‘major’ e ‘cabo’), a única diferenciação fica sendo o artigo:

A soldado Carla, a sargento Marta e a coronel Maria serão promovidas.

Parece que uma         tenente foi desacatada.

O coronel Gomes passou as instruções à         capitão Marli Regina.

Fonte: http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=60&rv=Gramatica

 Então ao ler isso, resolvi usar capitão, mesmo sendo ela uma mulher. O português acaba comigo rsrs... Agora vamos ao que interessa....

 

 

Iraque, 25 de maio de 2003. Base norte Americana Red Dawn

 

Assim que o relógio digital, mudou das 4:59 para as 5:00, a capitão Isabella Swan abriu os olhos. O despertador mal teve tempo de desperta, ela levou rapidamente a mão até ele o desligando.

Ao contrario dos outros dias, ela se permitiu ficar mais alguns minutos na cama, já que não sairia em missão naquele dia.

Ela estava ali naquele inferno que alguns insistiam em chamar de Iraque, há oitenta e três dias, e aquele estava sendo o seu primeiro dia de folga.

A capitão pensava seriamente em escrever uma carta para o recursos humanos do exército, reclamando daqueles abusos. Tinham noites que nem dormir a mulher podia, já que suas missões iam madrugada a dentro. Já outras vezes, mesmo tendo "trabalhado" o dia todo, ela era acordada em plena a madrugada, pelo major, dizendo que ela e seus soldados precisavam sair em uma missão urgente.

Pensando sobre aquilo, ela acabou sorrindo sem humor. Sabia muito bem que estava em uma guerra, e que tinha sorte de os tempos serem outros, porque se fosse em antigas guerras, com certeza ela estaria dormindo escondida, em alguma trincheira.

Ela não saberia mais o significado da palavra banho. Muito menos o que era comida descente. E o principal, sabia que se fosse um das guerras de antigamente, das quais ela via por filmes, só teria seu dia de folga quando fosse morta.

Eram aqueles pequenos detalhes, que a faziam deixar a carta ao RH de lado.

Ela fechou os olhos e tentou voltar a dormir, mal lembrava o dia em que dormiu até tarde, mal lembrava do dia em que ficou de preguiça durante todo dia. Na verdade ela achava aquilo estranho.

Achava totalmente estranho depois de oitenta e três dias, não ter nada para fazer. Se aquilo fosse em sua casa, ela até podia arrumar algo para ocupar seu cérebro, mas ali no Iraque? Não, não tinha uma livraria por ali, muito menos um cinema.

Talvez ela devesse mesmo escrever uma carta ao RH, mas pedindo para não terem folga, porque aquilo talvez levasse os soldados a paranoia.

De qualquer jeito era melhor não pensar sobre nada daquilo. Isabella tentou não pensar em nada, ela só queria voltar a dormir, foi ai que um rock n roll, para ela insuportável, começou a tocar.

ACDC, ela odiava ACDC, assim como odiava qualquer outra banda de rock, na verdade ela não gostava de música de espécie alguma, a única música que para ela se salvava, era o hino do país. Mas ao contrario dela, o tenente McCarty, do qual fazia parte da sua equipe, e obviamente também estava de folga, gostava muito de rock, e para o azar da mulher, o quarto dele, ficava ao lado do dela.

Ela pegou o travesseiro e pôs em cima da cabeça, tentando abafar a gritaria, mas como se de propósito, McCarty começou a gritar, mais alto do que a música.

— É muita falta de sorte. - Resmungou, e vendo que não conseguiria mais dormir, ela tirou o travesseiro do rosto. Sentou-se e suspirou.

Ouvir aquela gritaria de manhã cedo, não estava no seus planos, preferia mil vezes o som de tiros, bombas, pessoas gritando, a ouvir McCarty cantando com ACDC.

Suas mãos alcançaram a sua nada bonita calça camuflada do exército. Ela estava cansada daquela cor sem graça, daquela roupa sem graça. Nunca foi uma mulher de se apegar a coisas mateiras, nunca foi vaidosa, mas seria capas de passar o dia fazendo flexões, se pudesse ter uma calça jeans da qual sentia cada dia mais falta.

Os coturnos, ela também não os suportava mais, a mulher nunca foi fã de saltos altos, mas até deles ela começava a sentir falta.

Saltos, vestidos, maquiagem, cabelos hidratados, unhas pintadas, ela sentia falta de sentir mulher. Sim, porque ela era mulher, apesar de muitos soldados pensarem que ela jogava no time masculino, ela não jogava. Ela gostava de homem, de músculos, de mãos grandes apertando seu corpo, de barba por fazer roçando sua pele.

Sexo, ela sentia muita falta de sexo, muita falta de sentir seu suor se mesclando com o de alguém, falta de ouvir e falar sacanagens, falta de um orgasmo.

Para não pensar em suas frustrações sexuais, ela se pôs de pé. Colocou uma regata branca, penteou e amarrou os cabelos, escovou os dentes, pôs seu boné verde ridículo e deixou o quarto. Caminhando lentamente em direção ao refeitório.

O pátio da base já estava bastante movimentado, os tanques e jipes perambulavam pelo lugar. Alguns soldados saiam para missões, outros voltavam. Os que saiam olhavam assustados, para os que estavam voltando machucados, ou para os soldados que carregavam alguns corpos, já sem vida.

Aquilo tinha se tornado tão comum nos dias em que a capitão estava ali, que ela já nem ligava mais. Não que ela não se importasse, porque ela se importava, mas simplesmente tinha aprendido a conviver com aquilo. Eram tantos tiros, tantas bombas, tantas pessoas gritando, tantas pessoas chorando, tantos soldados feridos e mortos, que com o passar dos dias, aquilo foi se tornando normal, e ela aprendeu a conviver com aquelas coisas. Afinal, estava em uma guerra, não estava?

Isabella mastigava lentamente seu café da manhã, ovos mexidos. Ela estava longe dali, na verdade ela não estava em lugar nenhum, apenas mastigava e não pensava em nada. Sim podia ser estranho, com certeza era estranho, mas ela conseguia pensar em nada e pensar em nada lhe fazia bem. Então quando ela tinha uma folguinha, por menor que fosse, ela pensava em nada.

— Bom dia capitão. - A voz do soldado Whitlock, a trouxe de volta para o Iraque.

Lentamente ela levantou os olhos e encarou o soldado que estava diante dela, com uma bandeia nas mãos.

Era um garoto que provavelmente não tinha mais de vinte. Ele era comprido e magro, magro de mais para um soldado. Seus olhos azuis eram simpáticos, e pelos cinco segundos que a mulher o analisou, ela tinha certeza que aquele garoto não sabia usar uma arma. Ela teve certeza que não o conhecia, e nem o tinha visto por ali naqueles dias.

— Bom dia soldado. - O respondeu educadamente, para em seguida voltar a se concentrar em não fazer nada.

— Posso me sentar? - É, ter um pouco de paz, naqueles dias de guerra, não era uma tarefa fácil.

— Claro. - Ela o respondeu sem o encarar. Seus olhos estavam concentrados no em seu prato.

— Dia bonito, não? - Whitlock e a capitão, queriam coisas distintas. Um queria assunto, já a outra só queira o silencio.

Ela voltou a mastigar lentamente, assim que acabou sua refeição, juntou os talheres. Lentamente bebeu o suco em seu copo. Depois disso ela, voltou a encarar o soldado comprido, que tinha os olhos nela, esperando ainda uma resposta.

— Ainda é noite soldado. - Respondeu calmamente. - E se para você, dia bonito é de sol e calor, então com certeza vai ser um dia bonito. - Whitlock sorriu sem graça, vendo que tinha dado mancada.

Claro que ainda era noite. Ele sentia muito sono, não sabia para que acordar tão cedo, para ele a guerra deveria começar só depois das dez, mas em fim.

Aquele era o primeiro dia dele ali e se aquela fosse mesmo a capitão Swan, ela seria a sua capitão, por isso estava ali tentando se apresentar e quem sabe ganhar alguns pontinhos com a mulher.

— Desculpe senhora. - A mulher acho engraçado ele se desculpar por aquilo, como achou engraçado as bochechas dele ficarem vermelhas. Balançou a cabeça negativamente, pensando em como aquele garoto foi parar ali.

— Você não precisa se desculpar por isso soldado. - Ele assentiu.

Pela primeira impressão que teve dela, não a achou durona, como Clapton, seu novo colega de quarto, disse que ela era.

Reservada e quieta, foi aquela a primeira impressão que ela lhe passou. Ah e triste, pelos olhos dela, ele percebia que ela era triste.

— Desculpe senhora. - Ele se desculpou de novo, completamente sem jeito e ela quase sentiu vontade de rir do jeito desengonçado do soldado. - É que hoje é meu primeiro dia aqui. Quer dizer, eu cheguei ontem a noite, mas a senhora sabe... - Ele tropeçava nas palavras e ela se perguntava o porque de ele estar tão nervoso.

— Fique calmo. - Ela disse séria, ao segurar as mãos dele que segundos antes batucavam na mesa.

Ele ficou ainda mais nervoso ao ver as mãos dela segurando as dele, e ao ver aqueles olhos verdes lhe encarando com seriedade.

Whitlock respirou fundo tentando se acalmar. A capitão esperou alguns segundos e ao perceber que ele tinha melhorado, resolveu falar. - Agora sem gaguejar e sem batucar na mesa, me diga, o que você quer, soldado? - Ela largou as mãos dele e de novo ele respirou fundo e balançou a cabeça lentamente em sinal de positivo.

"Sem gaguejar, sem gaguejar" Ele repetia mentalmente, enquanto a capitão, não tirava os olhos dele.

— Hoje é meu primeiro dia aqui. - Daquilo ela já sabia, mesmo antes de ele ter dito. Ela assentiu pacientemente para que ele prosseguisse. - Meu colega de quarto, Clapton, disse que a senhora vai ser a minha capitão, então resolvi vir até aqui, me apresentar. - Ele conseguiu falar sem gaguejar, mas não sem ficar vermelho. Talvez ele tenha visto incredulidade e surpresa no rosto da capitão, mas não pode ter certeza daquilo, já que em um simples piscar de olhos, a fachada dela estava seria de novo.

A capitão não podia acreditar naquilo, o major Harrison, só podia estar caducando pela idade.

Primeiro ela ainda não tinha entendido o porque do major querer lhe arrumar um tradutor, já que durante aqueles dias, ela nunca precisou de um. O tradutor da capitão e seus soldados, eram suas M4, XM25, Barret M107, fuzis XM8, F2000, Comp M2 e por ali a fora. Não existiria tradutor melhor do que as armas.

Ela bem que tentou explicar aquilo para o major, mas ele insistiu em dizer, que um tradutor seria necessário sim, assim como disse também que mais tarde lhe explicaria o motivo.

Mas não era por aquele motivo que ela achava que o major tinha pirado, ela achava aquilo pelo o soldado que via a sua frente. O major não podia mesmo estar falando sério. Aquele garoto, ele morreria só de ouvir o barulho das bombas. Era insanidade e talvez chegasse a ser até pecado tê-lo ali, imagina então levá-lo para combate. Só poderia ser mesmo um engano, não podia ser sério.

— Por algum acaso, você fala Árabe? - Diga que não, ela pediu em pensamento, mas o sorriso que ele abriu, dizia que sim.

— Sim senhora. Fluentemente, vim para ajudá-la nas missões. - Ah, ela precisava agradecer o major. Provavelmente ele achava que a vida dela ali naquele inferno estava fácil de mais, e resolveu lhe dar uma ajudinha, lhe empurrando um garoto que podia ser qualquer coisa, menos um soldado.

— E além de falar fluentemente Árabe, acredito que também saiba atirar... - O rapaz engoliu em seco. Durante o um ano que ele passou no exercito, ele conseguiu atirar e acertar em tudo, menos nos alvos. Whitlock achou melhor não compartilhar aquilo com a capitão, mas Isabella era esperta, e viu pelas feições dele, que talvez ele conseguisse errar a mira até em um elefante.

— Tecnicamente. - Foi a resposta dele.

A mulher teve vontade de levar as mãos ao rosto e praguejar todos os palavrões existentes contra o major, mas se conteve. - Mas eu não vou precisar atirar, só traduzir. - Ele disse rápido, ao ver a mudança de humor da mulher.

Ao ouvir aquilo ela acabou sorrindo de uma maneira sarcástica, e olhou fundo, nos olhos de Whitlock, que achou aquilo perturbador.

— Se quiser permanecer vivo soldado, você vai precisar saber atirar. Atirar vai ser infinitamente mais útil do que traduzir. - Ele voltou a engolir em seco, ouvido aquelas palavras.

— Traduza para mim um tiro. - Ela pediu, bastante séria, o que fez o soldado constatar que ela queria mesmo que ele fizesse aqui.

— Er.. com todo respeito capitão, um tiro é um tiro, não se traduz. - Ela voltou a sorrir sarcástica.

— Você pegou o espirito da coisa. Um tiro é um tiro, ninguém precisa de tradução para saber o que é.

É isso que vai ouvir por aqui soldado, tiros. Muitos tiros, infinitos tiros, e se você não saber atirar, você não vai mais precisar saber traduzir nada, porque até aonde eu sei, mortos não são bons tradutores. - Isabella levantou-se dali, enquanto isso Whitlock sentia as mãos tremulas e o corpo tenso pelo o que a mulher tinha acabado de dizer.

Ela balançou a cabeça negativamente, vendo o que suas palavras causaram no garoto.

O major precisava de uma clinica psiquiátrica, ela tinha certeza daquilo.

— Temos o dia livre hoje soldado. Aconselho você a treinar tiros, para o caso de eu não conseguir reverter seu caso. - Ela sugeriu com a mão no ombro do rapaz. Depois daquilo rumou para o patio de novo, sem conseguir esquecer aquele assunto.

O dia já estava nascendo, o sol aos poucos ia quebrando a escuridão, e Isabella suspirou, sentindo saudades de um dia de frio.

Ela posicionou-se frente a enorme bandeira do seu país, que tremulava no céu. Sabia que estava perto das seis, e que em breve o hino começaria. Na verdade, todos os soldados sabiam, por isso que todos que estavam na rua, estavam posicionados frente a bandeira, assim como a capitão.

— Bom dia capitão. - Para McCarty não tinha dias ruins. A capitão as vezes imaginava que no parto ao invés de chorar, McCarty desejou bom dia.

Ele era um ótimo soldado, quando estavam em batalha, ele era um dos melhores. Sempre atento, rápido e sério. Já nos momentos de folga, ele era como uma criança grande, que vivia arrumando um jeito de fazer todos rirem de suas piadas.

— Bom dia tenente. - Ela desejou sem encará-lo.

McCarty acha a capitão a mulher mais gostosa que um dia já fez parte do exercito. Delicinha, era esse o apelido carinhoso que seu cérebro pervertido deu a ela. E mesmo ele amando Rosalie, a garota por quem era apaixonado desde sempre, mas nunca teve coragem de se declarar. Era com a capitão que ele tinha sonhos insanos a noite, e era por ela que ele sempre acabava no banheiro, batendo uma. O jeito sério e reservado dela, serviam para deixá-lo sempre mais excitado.

— Dormiu bem? - Ele questionou, na verdade ele precisou puxar um assunto, para não correr o risco de de repente agarrar aquela mulher e acabar levando um soco.

— Dormir. - Ela respondeu. Ainda estaria dormindo se não fosse pelo seu som, pensou. - E você?

— Feito um anjo. - A resposta dele a fez ter vontade de rolar os olhos, mas ela não o fez.

Eles não falaram mais nada, já que o hino começou. A capitão endireitou ainda mais a postura, juntou os pés e as mãos e pregou os olhos na bandeira. Emmett foi além e pôs a mão no peito, assim como muitos outros soldados ali presente, e segundos depois, todos cantavam o hino do país.

Isabella a maioria das vezes, não se achava uma mulher patriota, mas ela sabia que era, toda a vez que sentia os pelos de seus braços eriçarem ao ouvir o hino nacional, toda vez que cantava com vontade aquele hino, toda vez que olhava aquela bandeira, azul, branca e vermelha tremular no céu, e sentia-se orgulhosa de ser americana.

Sim, ela amava o país em que nasceu e foi criada, amava tudo que nele existia, e sempre o defendia, quando um idiota abria a boca para falar mal de qualquer coisa. Mas mesmo amando seu país, ela era contra aquela guerra, totalmente contra aquela guerra.

Ela sabia que não estava ali para defender o país porra nenhuma, ela estava ali para defender o orgulho ferido do imbecil do presidente Bush. Ela como todos os outros soldados, estavam ali pelo orgulho ferido do presidente. Só estavam ali dando continuidade a guerra do Golfo. Guerra em que o Bush pai começou e na qual o mesmo tomou no cú. Então o Bush filho, resolveu tomar as dores do pai, e quem pagava por aquilo, eram os soldados.

Desde que nascera, ela nunca teve motivo para se envergonhar do seu país, até começarem aquela guerra. Aquilo a fazia ter vergonha de ser uma soldado americana, porque ela sabia que nenhum argumento inventado para estarem ali, era real.

Sim, ela concordava Sadan Russen era um ditador sanguinário, mas só isso. Não tinha porra de armas de destruição em massa nenhuma. Ela daria sua cabeça se no final de tudo aquilo, eles encontrassem algo.

Ela não sentia orgulho nenhum em matar pessoas diariamente, não sentia orgulho nenhum em destruir a casa dos outros, de destruir escolas, empresas, hospitais, mercados e tudo mais.

Ela não via orgulho nenhum, em destruir a história daquele país e das pessoas que ali moravam, aquilo lhe afligia, as histórias que ela ajudava a destruir, dia após dia.

Isabella fechou os olhos por meio segundo e desejou fazer algo realmente digno naquela guerra, antes de morrer, ou antes de voltar para seu país.

Morrer ou voltar para ela pouco importava, o que importava era fazer algo digno, algo para que quando ela fechasse seus olhos pela ultima vez, ela os fechasse sabendo que valeu a pena, que não foi parar ali em vão.

— Então capitão... - Assim que acabou o hino, McCarty voltou a puxar assunto. - O que pretende fazer no seu dia de folga? - A mulher tirou os olhos da bandeira e encarou o tenente.

— Estava pensando seriamente em ir ao shopping, fazer umas comprar, almoçar no burguer king, e pegar um cinema. - O homem deu uma alta gargalhada com a piada que acabara de escutar.

Era quase um fenômeno ouvir a mulher sendo engraçada. Ela quase nunca fazia piadas, na verdade ela quase nunca falava, sempre preferia ouvir. As vezes ela ouvia tantas baboseiras dos seus soldados, que acabava sorrindo. Não que fosse um sorriso de mostrar os dentes, era um sorriso em que os cantos da boca subiam rapidamente. Coisa de três segundos, foi o maior tempo que um dos sorrisos dela durou, McCarty nunca conseguiu contar mais de três segundos.

Ele vivia puxando piadas em sua memória, para quem sabe aumentar aquele tempo, mas não tinha jeito. As vezes ele duvida que ela ao menos ouvia o que falavam.

— Se tivesse um shopping por aqui, acho que até arriscaria ganhar um tiro para ir até ele. - McCarty comentou, também com saudades das coisas que ela falara.

— Nem me fale, se existisse um shopping por aqui, eu iria a pé. Nem que fosse no outro lado do deserto. - McCarty sorriu, vendo o quanto sua delicinha estava falante naquela manhã.

— Não tem shopping, mas tem o camelo ali fora, eles vendem alguns filmes legais. - A capitão tinha certeza que os filmes intitulados legais pelo tenente, eram algo como: trepando gostoso, trepa, trepa da alegria, ou coisas do gênero. Filmes pornográficos só fariam a tensão sexual dela aumentar ainda mais.

Outra coisa que ela não entendia era aquele camelo montado ali fora da base. Com toda aquela guerra acontecendo, eles conseguiam, ela não fazia ideia de como, filmes para fazer copias piratas, assim como conseguiam cds e outras bugigangas que se encontrava por lá. Ela nunca foi ao Paraguai, mas pelo que ouviu falar, aquilo talvez fosse parecido com o mesmo.

— Acho que eu não gosto dos filmes que eles vendem por lá. - Ela disse por fim, fazendo o tenente sorrir de novo.

— Com todo respeito capitão, acho que a senhora está sendo preconceituosa. Seria hipocrisia minha, dizer para senhora que eles não vendem o filme que a senhora está pensando que eles vendem, porque a verdade é que vendem. Assim como vendem também filmes normais, sem faixa etária.

Eles são Iraquianos, mas até que são limpinhos. - A mulher acabou sorrindo, aquele sorriso três segundos. McCarty constatou que ela estava de muito bom humor naquele dia.

— Não corre o risco do meu aparelho dvd explodir, caso eu venha a comprar os filmes de lá? - O homem voltou a dar rizada.

— Risco nenhum senhora. - Talvez aquela não fosse uma mal ideia, foi o que ela pensou.

Um filme ajudaria o tempo a passar, afinal de contas o major não ficaria nada feliz, de ter seu quarto invadido por ela, e se ela ficasse muito tempo sem fazer nada, tinha certeza que invadiria o quarto daquele homem lunático, e exigiria que mandasse o soldado Whitlock para casa.

— Ok, eu vou até lá então. Acha que já abriu? - É, com certeza a capitão estava mesmo muito entediada, foi o que McCarty pensou.

— Já. Eles abrem cedo, para pegar o pessoal que está voltando das missões. - Bella assentiu e começou a caminhar. McCarty logo correu para o lado da mulher.

— Vou com a senhora, preciso comprar algumas coisas. - Ele jamais a deixaria sair por aqueles portões sozinha. Era perigoso, afinal ela podia ser atacada. Ele a defenderia, daria a vida por ela, quem sabe assim ganhasse um beijo de agradecimento e pudesse morrer feliz.

Eles caminhavam em silencio lado a lado. Isabella pensando nos filmes que gostaria de encontrar por lá, e Emmett imaginando como seria beijar a capitão. Ele acabou suspirando tentando se livrar dos pensamentos. Tirou um cigarro do bolso e acendeu, depois ofereceu um a capitão, que pegou um sem fazer cerimonia.

Ela parou para acender o cigarro, Emmett fez o fogo e ela tragou. Os olhos dela acabaram parando no soldado magricelo que saia do refeitório.

— Ele vai ser útil para alguma coisa afinal. - Murmurou. McCarty seguiu o olhar da capitão e encontro com uma espécie de soldado desengonçado, olhando assustado para tudo.

— Quem diabos é ele? - Questionou analisando o projeto de soldado.

— O mais novo membro do nosso grupo. - A mulher respondeu, para em seguida por o polegar e o indicador na boca para assoviar. McCarty sentiu seu ouvido esquerdo ensurdecer, mas funcionou, o soldado desengonçado olhou naquela direção.

Ela fez sinal com a mão chamando o garoto, e andando de um jeito estranho de mais para um soldado, ele veio.

— Tá brincando que ele vai fazer parte do nosso grupo. - McCarty estava perplexo. Uma pessoa daquela não deveria nem estar no exercito, imagina então na guerra.

— Ele é o tal tradutor, do qual o major falou ontem. - Isabella explicou, enquanto observava o garoto se aproximar.

— O major só pode ter fumado tóxico. - Ela também achava aquilo, mas achou melhor não dizer nada.

Os dois acompanharam o garoto chegar sem dizer mais nada.

A primeira coisa que o soldado fez ao alcançar a capitão, foi prestar continência.

A primeira coisa que o tenente fez ao ver aquilo, foi rolar os olhos.

A primeira coisa que Isabella pensou, foi em que cruz teria ela grudado um chiclete.

— Whitlock, certo? - Ela questionou, olhando para o nome que estampava o uniforme do soldado. - Whitlock é assim que se pronuncia?

— SIM SENHORA. MAS PODE ME CHAMAR DE JASPER, SENHORA. - O garoto gritou empolgado, fazendo a capitão e o tenente trocarem um rápido olhar, que nada mais significava do que: estamos ferrados.

— Então Whitlock, baixe a mão. - A capitão ordenou e ele atendeu. - Esse é o tenente McCarty, caso eu morra ou algo do tipo, é ele quem assume nosso grupo. - Aquele era um ótimo jeito de apresentar uma pessoa, pensou o soldado.

— Um conselho soldado, na verdade não é um conselho, é uma advertência. - McCarty começou. - Jamais, em hipótese alguma, preste essa maldita continência a capitão, quando estivermos lá fora, em batalha ou não. Porque se você fizer isso, ela vai ser o primeiro alvo dos Iraquianos. Consegue entender? - O olhar duro e repreender que o tal McCarty lançava, amedrontava o soldado covarde.

— Sim senhor. - Murmurou desviando os olhos.

— Ótimo, agora que você entendeu essa parte, venha conosco. - Isabella jogou o resto do cigarro fora e voltou a andar, seguida dos dois soldados.

— Aonde vamos? - Jasper questionou.

— Dar uma volta. - A mulher limitou-se a dizer.

O coração de Whitlock batia cada vez mais descompassado, a medida que os três se aproximavam do portão que os mantinha seguros. Ele não gostava nada, nada, da ideia de sair dali, até porque estava sem seu capacete. Não que o capacete fosse adiantar de alguma coisa, caso alguém fosse resolver explodir perto dele, mas pelo menos suas chaces seriam menos ruins.

Bella falou rapidamente com os soldados que cuidavam da entrada do lugar, e segundos depois o portão começava a se abrir. Ela e McCarty passaram por ele sem exitar, já Jasper precisou do olhar repreendedor dos dois, para fazer suas pernas seguirem em frente. Ele não tinha noção da onde ia, mas ele queria muito não ir.

O garoto respirou um pouco mais tranquilo, quando eles pararam em frente a uma lojinha de bugigangas, onde um taque americano estava parado, além de ter alguns soldados armados por ali também.

A capitão rolou os olhos, ao ver a quantidade de filmes pornos que tinham por ali, mas ao procurar bem procurado, encontro filmes descentes, a maior parte deles, filmes velhos de guerra.

— Muito original. - Murmurou para si.

Ela pegou o patriota, o pianista e a vida é bela. Procurou por algum tipo de comédia, ou terror, mas não encontrou nada. Ou ela via alguns pornos, ou via filmes de guerra.

— Acha que Ryan mereceu? - Emmett tirou a concentração da mulher, que tentava entender a capa de um filme porno, ela não conseguia distinguir que partes dos corpos eram aquelas.

— Ryan mereceu o que tenente? Ryan deve estar dormindo, ele disse que dormiria o dia todo. - Ela murmurou ainda de olho naquela capa estranha.

— Não o nosso Ryan capitão. - McCarty ria. Primeiro por a mulher ter confundido os Ryans. Segundo por ela não tirar os olhos da capa de um filme porno. No fundo ele sabia que sua delicinha era uma safada.

— Falo desse Ryan. - Ela resolveu por fim parar de entender aquela capa e levantou os olhos, para ver sobre o que McCarty falava. Acabou sorrindo, ao ver que ele falava de um filme.

— Não sei tenente, quando ele finalmente começaria a viver o filme acabou, então... - Ela deu deu ombros.

— Na minha opinião, é meio absurdo deslocar todo um grupo, só para resgatar um soldado. - Aquilo realmente acontecia, quando o estado confirmava a extinção de uma família, eles deixavam o ultimo membro ir embora, e quando esse membro não era localizado, mandavam um grupo atras.

— Fala assim porque você não tem filhos. Imagina se você tivesse três filhos, se os três estivessem na guerra, e você recebesse noticia que dois deles estavam mortos. Queria ver se continuaria achando isso um absurdo. - Whitlock opinou.

— Você gostaria de correr o risco de morrer, só para resgatar alguém que não conhece soldado? - McCarty o questionou, e o silencio respondeu aquela pergunta. - Falar é tão bonito, quero ver você ser homem, para sair e ir atras de alguém desaparecido. Temos vários soldados desaparecidos, porque você não sai em busca de um? - Isabella concordava com o tenente, mas resolveu não se manifestar e continuar quieta. Para aquela conversa não se tornar uma discussão, resolveu também interromper.

— Quantos? - Ela levantou ou três dvds, questionando com o garoto que cuidava da espelunca.

— Cinquenta dólares. - Ele respondeu com um sotaque puxado.

— O que? - Ela estava incrédula. - Cinquenta dólares por três dvds, mais falsos que o sorriso do presidente? - Aquele garoto com certeza quis dizer outra coisa.

— Pergunta para ele em Árabe, quantos custa esses três. - Ordenou a Jasper e o soldado perguntou sem pestanejar.

— Cinquenta dólares senhora. - Ele achou graça por a cara de indignação da capitão, pelo jeito ela era mão fechada.

— Você é malucou? - Ela questionou com o garoto que não entendia nada. - Por cinquenta dólares eu compro os três originais. - Não adiantava nada reclamar, já que aquele garoto mal sabia como era bom dia em inglês e ela sabia daquilo, mas mesmo assim reclamava. Aquilo era praticamente um roubo, só faltava ele por a arma em sua cabeça.

— Diz para ele que eu pago trinta. - Jasper voltou a traduzir, meio que rindo da situação.

— Ele disse que trinta não dá. Ele tem uma mãe e um irmão para sustentar, já que o pai morreu, em uma dessas explosões por ai. - Uhum, aquilo era o que todos falavam.

— Traduza o que eu vou dizer. - Ela voltou a ordenar a Jasper, que assentiu.

— Olha só, são três filmes de guerra. Você tem pelo menos, mais cinco copias de cada um desses por aqui. Nós estamos em uma guerra, os soldados não se interessam muito por esses filmes, eles preferem esses pornos. - Ela pegou aquela capa estranha e mostrou para o garoto. - Isso são coisas que eles estão sem fazer a meses, então eles preferem ver isso. - Ela de novo levantou a capa. - Do que isso. - Mostrou os três filmes que tinha escolhido. - Se você não fazer por trinta dólares, eu não vou levar e eu sei que você não vai vender. Então não vai ganhar nem trinta e nem cinquenta, e esse dinheiro vai fazer falta para sua mãe e seu irmão. - Depois que Jasper acabou de traduzir o garoto encarou aquela mulher pão duro por alguns segundos e soltou o ar.

— Ok. - Murmurou por fim.

— A senhora é boa em negociação. - Jasper ria se divertindo com aquilo.

Ela estava tirando o dinheiro do bolso, quando seus olhos bateram em um óculos escuro que ela gostou. Era do mesmo modelo que Tom Cruise usava em Top Gun. Com certeza não era um Ray Ban, como estava escrito ali, mas ela não encontraria uma loja autentica da Ray Ban no Iraque.

— Quarenta. - Ela ofereceu, mostrando os dvds e os óculos. - O garoto Iraquiano entendia perfeitamente os preços, e ele sabia que não arrancaria muito daquela mulher. Então balançou a cabeça concordando.

Ela tirou cinquenta dólares do bolso e entregou ao moleque. Enquanto ele pegava o troco, ela aproveitou para por os óculos.

Tirou o boné o colocando na cabeça de McCarty e soltou os cabelos, os sacudindo a cabeça para ajeitá-los. Foi então que seus olhos pararam em algo magnifico, algo que quase a fez sorrir mostrando os dentes.

Sim, ela estava vendo uma sandália, sim era mesmo uma sandália. Uma falsificação barata das sandálias brasileira havaianas, que a capitão tanto gostava.

Ela levou a mão lentamente aquela coisa verde fluorescente que fazia seus olhos brilharem e as tocou, tendo certeza que não era uma ilusão.

— Quantos? - Ela perguntou ao iraquiano que estava com o troco estendido a algum tempo.

— Dez. - Ele respondeu, guardando o troco.

— Ok. - A capitão não conseguia tirar os olhos da sandália, aquilo era incrível, não era? Ela enfiou a mão no bolso e tirou de lá mais dez dólares, entregando ao garoto.

— Eu fico com ela, pago vinte. - Assim que Jasper acabou de traduzir o garoto iraquiano riu, mas pegou o dinheiro.

— Meu Deus, uma sandália. - Ela ainda estava em êxtase, rapidamente tirou os coturnos e meias, e pôs aquela maravilha, que o homem inventou. Ela mexia os dedos, os observando livres e confortáveis, aquela sensação era quase tão boa, quanto a um orgasmo.

— Se eu soubesse que queria tanta uma sandália, teria lhe presenteado. Essa está ai a algum tempo. - McCarty também ria do êxtase da mulher.

— Gente, vocês não tem noção do quanto eu sonhei em caminhar de sandálias, por pelo menos um dia.

Olha como ela linda. - Os dois soldados riam daquilo, principalmente ao verem a mulher sorrindo de verdade para as sandálias.

McCarty com certeza faria um memorial em homenagens aquelas sandálias feias. Se ele soubesse que ela sorriria daquele jeito, lhe daria um par de sandálias por dia. Pela primeira vez, ele gostou de Jasper estar junto com eles, já que ele teria uma testemunha, para afirmar aos outros, que a capitão sorriu para uma sandália.

Ela colocou suas meias dentro dos coturnos e os pegou. Em seguida pegou seus dvds e virou-se para o muambeiro.

— Obrigada moço, muito obrigada. - Agradeceu sorrindo, para em seguida seguir o caminho de volta, enquanto Emmett e Jasper olhavam a cena meio pasmos pela felicidade que uma sandália causava.

— Vou cuidar bem de vocês prometo. - Ela murmurava olhando para as sandálias em seus pés. - Se um dia eu voltar para casa, vou lhes apresentar minhas havaianas, mas não se preocupem, vocês sempre vão ter um lugar especial na minha memória. - Se o tenente a visse falando com o par de sandálias, com certeza pensaria que a capitão andava fumando do mesmo tóxico que o Major, mas ela não se importava com aquilo, tudo que ela sabia, era que seus pés teriam o dia livre.

Ao por os pés dentro da base, a capitão ouviu seu nome. Parou, girou nos calcanhares e encontrou com a figura do major Harrison. Se não fosse por suas lindas sandálias, era diria que o dia tinha ficado péssimo. Ele caminhou rapidamente ao encontro dela, e ao alcançá-la a viu prestar continência.

— Sabe que não precisa fazer isso. Somos amigos, não somos? - Muito amigos, pensou ela.

Ela não era amiga dele porra nenhuma, na verdade nem amigos ela tinha. O major Harrison era um homem interesseiro, e medroso, nunca pôs o nariz para fora da base, sem estar em um blindado.

— Com todo respeito major, eu não acho que sejamos amigos. - O sorriso do homem se desfez.

Aquela mulher não tinha papas ma língua, e quando ela queria falar, ela não mandava recado.

— Algum problema major? - Ela questionou.

Tudo que Isabella menos queria, era ter o dia de folga cancelado, ela não queria perder aquele dia, não depois de ter encontrado aquelas sandálias.

— Problema algum. - O homem voltou a sorrir falso. - Só gostaria de conversar com você em minha sala. - Ela assentiu, porque ela também queria muito falar com ele.

— Claro senhor. Se me permitir, só gostaria de deixar essas coisas em meu quarto. - O homem olhou para os dvds em uma mão da mulher e seus coturnos em outra, para depois abaixar a cabeça e ver aquelas sandálias verdes fluorecentes horríveis, reluzindo nos pés da mulher.

Teve vontade de fazer alguns comentários, mas achou melhor ficar quieto, ele não queria a irritar antes do tempo.

— Certo. Te vejo lá em dez minutos então. - Ela assentiu.

— Como quiser senhor. - Antes de se retirar ela voltou a prestar continência.

— Ah capitão? - O major a fez olhar para trás. - Gostei dos óculos. - Dos óculos ele realmente tinha gostado, aquele modelo caiu bem na mulher.

— Obrigada. - Ela murmurou antes de seguir caminho.

Menos de dez minutos depois, Isabella batia na porta do major, se anunciando.

O homem sorriu nervoso, sabendo que a irritaria, e a irritaria muito. Ainda não entendia porque tinha que ser ele a passar aquela missão a ela, e não o general Cullen, que estava escondido, atras da porta entre aberta, da sala de reuniões, que tinha acesso direto a sua.

— Com licença. - Ela pediu ao entrar. O major apontou para a cadeira.

— Sente-se. - Disse em seguida.

Ela o obedeceu e sentou-se, cruzando as pernas em seguida. Ela o encarava, esperando que ele começasse, como ele não dizia nada, resolveu então, ela começar.

— Com todo respeito major, conheci ainda a pouco o soldado Whitlock, e descobri que é ele o soldado tradutor que o senhor que por no meu grupo.

Eu não acho que ele sirva para isso. Ele é um bom tradutor, pude perceber isso ainda a pouco. Mas senhor, o garoto não sabe atirar. Ele gagueja quando está nervoso, imagine se esse infeliz acaba ficando cara a cara com um iraquiano.

— Aonde comprou essas sandálias? - O homem questionou, apontando para os pés dela.

Ela teve vontade de bufar e berrar com ele, perguntando se ele tinha a ouvido.

Maldita, maldita hierarquia, ela pensava.

— A cinquenta metros da base. Tem um camelo ali, que vende algumas bugigangas. - Explicou meio sem paciência.

— Não acha que ficou um pouco grande para seus pés? - Ela olhou para os pés e analisou, é talvez sobrassem um três dedos atras, mas ela não se importava.

— Só tinham essas, senhor. - Ele sorriu, tirou os olhos dos pés de Isabella e a encarou.

— E funcionam, certo? Servem para o que foram feitas. - A mulher franziu o cenho, pensando aonde ele queria chegar.

— Certo. - Disse por fim.

— Então, o mesmo se aplica ao soldado Whitlock, ele não é o ideal para nossos "pés", mas é o que temos, ou seja, melhor do que nada. - A mulher balançou a cabela negativamente, e acabou rolando os olhos, pela comparação idiota.

— Major, nós nunca precisamos de um tradutor, não é como se fossemos precisar agora. E outra, o garoto vai morrer na primeira batalha que tivermos, então eu sinceramente não consigo ver serventia.

— Disse certo, nunca precisaram até agora, mas vão precisar para a próxima missão. Vão precisar e muito. - O homem cruzou as pernas e abriu um sorriso falso.

— Quanto sua outra preocupação, fique tranquila, os covardes geralmente sempre sobrevivem. - A mulher estreitou os olhos ao ouvir aquilo.

Ah, como ela gostaria de um dia pular no pescoço daquele homem.

— Vai ver, eles só sobrevivem porque a única coisa que eles fazem, é ficarem sentados na cadeira de suas salas, comendo rosquinhas e distribuindo ordens. Enquanto seus subordinados estão lá na rua, fazendo serviço sujo. - Ela disse tudo pausadamente. Alto e claro, para que o homem não tivesse duvidas, sobre o que tinha ouvido.

— Está querendo insinuar alguma coisa, capitão? - Ele perguntou com a voz já alterada, não acreditando na audácia e falta de respeito, daquela mulher.

— Me diz o senhor, eu estou querendo? - Ela respondeu a pergunta com outra pergunta. Ao invés de se desculpar, ela o provocou ainda mais.

— Me respeite Swan, me respeite ou eu ACABO COM VOCÊ. - O homem explodiu, tamanha era a cara de ironia e arrogância da mulher.

Tudo que ela queria era que ele partisse para cima dela, assim teria uma desculpa para arrebentar a cara do homem e lhe dar um bom corretivo. Ela o socaria com mais raiva do que socava seu saco de pancadas.

— Desculpe se eu magoei seus sentimentos, senhor. - Pediu ao cruzar os braços, seu sorriso ainda mais sínico.

O homem sentiu vontade de pular em cima dela, e lhe dar uns tapas, mas ele tinha um séria suspeita que ela revidaria. Assim como tinha duvidas, se conseguiria com ela. Então ele puxou forte o ar tentando se acalmar.

— Temos uma missão para seu grupo... - Ele começou.

— Hoje é o nosso dia de folga senhor. - Ele bateu com as mãos na mesa, perdendo a paciência.

— CALE A BOCA. - Gritou e depois voltou a puxar o ar para se acalmar. - Cale a boca e só fale quando eu mandar. - Ela respirou fundo, contendo a vontade de atacá-lo e balançou a cabeça concordando.

— Você sabe que seu grupo é o melhor. Estamos aqui a quase três meses, e seu grupo só foi sofrer a primeira baixa na semana passada.

Seus soldados são ótimos, e é você que os lidera. Eles não seriam ótimos se a capitão não fosse ótima também. - Pelos elogios, ela percebeu que o negócio seria bem pior do que estava pensando. Ela odiava muitos elogios, porque sempre que eles apareciam, uma missão suicida estava por vir.

— Temos um soldado desaparecido. - Ele continuou, para em seguida jogar uma foto do tal soldado em cima da mesa.

Isabella pegou a foto e a analisou atentamente.

Aquele homem lhe parecia familiar. Ela era capaz de apostar que já tinha visto aqueles olhos verdes, e aqueles cabelos de uma cor totalmente estranho, antes. Sim, com certeza ela o conhecia, mas não era do exército, nem da guerra.

— Eu não o vi, desculpe. - Disse sem expressão alguma, jogando a foto em cima da mesa.

Ela precisava sair dali, persentia que algo ruim viria.

— Por isso está desaparecido, ninguém o viu. - O major tentou fazer uma gracinha, a deixando ainda mais possessa.

— O nome dele é Edward Cullen. - Um choque percorreu o corpo de Isabella, ao ouvir aquele nome.

Ela fechou as mãos em punho e trincou os dentes. Claro que ela conhecia quele idiota, eles brincavam juntos quando eram pequenos.

Edward Cullen era filho do general Carlisle Cullen, o homem que Isabella odiava com todas as suas forças. O pai de Edward, era o homem que deixou o pai da capitão para morrer. O homem que seu pai Charlie, considerava seu melhor amigo, mas que o deixou, o abandou, com medo de morrer também.

Isabella detestava qualquer Cullen, ela os achava traiçoeiros, falsos e traidores.

— Ele está desaparecido, a duas semanas. Foi atras de uma amigo capturado, essa é informação que temos. - Isabella ergueu a sobrancelha, e um sorrisinho irônico apareceu em seus lábios.

— Posso falar? - Ela pediu, levantando a mão, como se fazia no jardim de infância. Mesmo achando deboche ali, o major assentiu para que ela seguisse em frente.

— Provavelmente suas informações estão erradas. Um Cullen atras de um amigo capturado?

Não, provavelmente não é ele. Os Cullen, nunca voltam por um amigo major, imagina então, ir atras de um. - Falou amargamente, com o cenho franzido. Toda a amargura que que sentia, saiu ali naquelas palavras.

— Mais respeito capitão. - O homem exigiu serio. - Mas respeito.

Edward é filho do general Carlisle Cullen.

— Eu não me importo. - Ela cuspiu as palavras.

E não se importava mesmo, no fundo ela até desejava que eles capturassem o garoto idiota e o fizessem sofrer bastante, para que Carlisle sentisse na pele, a dor de perder alguém.

— Eu não me importo, se você não se importa. - O homem começava a ficar bravo novamente. - Eu mando aqui, você me obedece. - Ah ela queria socá-lo. Socá-lo até seu nariz e boca sangrarem e ele implorar por misericórdia. Ela até se viu fazendo aquilo, mas se controlou.

— Claro major, seus desejos são uma ordem. - Sua voz soou muito, mais muito sarcástica. - Se for de sua vontade. De sua humilde vontade, talvez o senhor queria dizer o que quer de mim. - O major não sabia por quanto tempo mais, aguentaria todo aquele sarcasmo.

Aquela mulher merecia um bom corretivo. Ele jurava que queria entender o que a deixou daquele jeito. Ele sabia que ela odiava Carlisle e sabia o motivo. Só não sabia se era por aquele motivo, que ela tinha se tornado o que era.

— Quero que reúna seu grupo e que vá atas dele. Soube que ele passou pela base Stell Curtain a quatro dias atras. Ele disse a alguns soldados que iria em direção a base Tall Afar, ao sul, perto da ponte. - Isabella arregalou os olhos incrédula.

Aquilo era um completo suicido. Todos sabiam que os iraquianos eram mais fortes lá. Todos sabiam que era lá onde acontecia as maiores baixar americanas. Assim como todos sabiam que era muito difícil, para não dizer, quase impossível, chegar até lá.

— Ficou maluco Major? - Quando percebeu já estava perguntando, e chamando o homem de maluco. - O senhor disse que eu tenho o melhor grupo.

— E tem. - Ele disse convicto. Ela o olhava com se realmente o achasse maluco.

— Se eu tenho o melhor grupo, não seria interessante mantê-lo vivo?

Quer que andamos quilômetros, enfrentemos aqueles lunáticos, atravessemos todas aquelas malditas armadilhas, para resgatar um garoto? - Sua voz passava de incrédula.

Com certeza estou sonhando. Foi o que Isabella pensou. Só podia ser um sonho, ou melhor um pesadelo. O major estava querendo que ela levasse seu grupo para o abate.

— É o melhor grupo, e no seu comando sei que vão conseguir chegar até lá, e trazer o garoto de volta. - Ele sabia que seria difícil, como sabia que haveriam mortes, mas achava aquilo realmente possível. Ele confiava em sua capitão arrogante, mas muito eficiente.

Já a capitão estava espumando, ela não teria mesmo que suicidar seu grupo para salvar a vida do filho do homem que ela mais odiava, teria?

Isabella sentia uma imensa vontade de espancar alguém e descontar toda sua raiva. Ela lançou um olhar de ira para o major, que mesmo tentando disfarçar, sentiu um arrepio lhe percorrer o corpo.

— Eu não vou fazer isso. - Falou entre os dentes, provocando o major.

— Vai sim, você não tem escolha. - Isabella rezava para não encontrar com ninguém ao sair dali, pois tinha certeza de que se encontrasse, descontaria toda a sua raiva.

— Por que? Por que eu? - Questionou irritadíssima.

— Já disse, porque é a melhor. O General mesmo concordou com isso. Foi ele quem lhe sugeriu. - Não aguentando mas ouvi aquilo, Isabella deu um soco na mesa, e levantou-se irada, deixando o major imóvel.

— Eu quero que o general vá para o inferno. Por que ele mesmo não vai atras do filho? Por que ele não deixa de ser covarde e o busca? - A mulher estava descontrolada, e aquilo fez o major ficar quieto por alguns minutos.

— Você vai buscar o garoto, vai o trazer de volta. - Ele exigiu, assim que recuperou sua coragem.

Isabella se aproximou perigosamente do homem, que tentava manter um olhar digno.

— Isso é suicídio. Você está nos mandando para a morte. Espero que o senhor saiba disso, e carregue essa culpa para sempre.

Isso não é um jogo major, o senhor não vai poder começar de novo, quando der game over. Está nos mandando para o abate. Está assinando nosso atestado de óbito. - Ela falava perto do ouvido do Major, e mesmo que ele negasse, sabia que ela talvez tivesse razão.

— Isso que quer que façamos, não é para o bem dos Estados Unidos, é para o bem de um general covarde, que não tem coragem nem de ir atras do próprio filho.

Eu não vou morrer pelos Estados Unidos, vou morrer pela covardia de um General. Escreva isso na minha lapide.

Porque embora meu grupo seja o melhor, como o senhor diz que ele é, eu tenho certeza que não vamos voltar dessa missão suicida. - As palavra de Isabella, fizeram os pelos do major se eriçarem.

Ele tinha certeza de que se aquele grupo fosse extinto, ele jamais esqueceria daquela conversa. Mas ele estava de mãos atadas. A ordem vinha de cima, vinha de um general, e ele não podia fazer nada contra.

Era o general Cullen, que ouvia a toda a conversa escondido, quem decidia.

— Faça isso capitão. É uma ordem. - Murmurou por fim.

Isabella sabia que não adiantaria em nada insistir, então com um olhar ainda mais frio que o habitual o encarou.

— Tudo bem. Porem antes de ir, vou escrever uma carta ao governo, e vou perguntar porque mesmo estamos aqui. Se é pelos Estados Unidos, ou se é por Edward Cullen. - Ela trincou os dentes ao falar aquele nome. - E só vamos partir amanhã, hoje estamos de folga. - Ela marchou até a porta, já a estava abrindo quando lembrou de algo.

— Ah, e antes que eu me esqueça, as sandálias só me servem, porque são maiores que meus pés, se fossem menores, elas só serviriam para me atrapalhar. - Isabella ignorou qualquer respeito, hierarquia, ou qualquer meda daquelas, deu as costas para o major e fechou forte a porta, fazendo um enorme estrondo.

Então é isso, espero que leiam, gostem e comentem... Até mais


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