Preguiça, Gula e Vaidade escrita por Diego Lobo


Capítulo 5
Capitulo 4 - Novo lar


Notas iniciais do capítulo

(Perséfone) Capitulo betado *.~



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Cherry ergueu os olhos, lá estava o gigantesco castelo de Alphonse. Sempre estranhou o fato de que um lugar assim jamais aparecera em na televisão ou em uma revista, pois era realmente colossal. A estrutura era diferente do castelo de Anna Belle, que é bem antigo e tem o estilo das antigas construções medievais. Esse era bem claro e alegre, o branco predominava por quase todo o lugar, havia uma púrpura e um lilás espalhados, as torres pareciam ter sido feita por algum designer famoso.

De onde estava, era impossível ver o “castelo menor” que se encontrava por trás. Ela se lembra bem do lugar, pois foi lá que Alphonse preparou uma festa privada, enquanto outra rolava a todo vapor no castelo maior. A visão desse pequeno era restringida pela extensão do primeiro, eram vários metros cobrindo a paisagem, mas quem se importa, se o castelo em si era um espetacular visual.

A entrada era um pouco parecida com o castelo de sua avó, se for pensar na distância que se levava do portão principal até o castelo, quilômetros de distância, mas o conteúdo nesse caminho é que apresentava o diferencial. Um poderoso jardim cobria tudo ao redor, esculturas de pedras e outras formadas por arranjos florais cortados como se fossem figuras de animais, havia um chafariz enorme com uma construção bastante incomum, onde um caminho foi construído para a água circular livremente, parecia um córrego.

As flores, tantas que mal se podiam contar as espécies, era um de colorido infinito. Estrategicamente posicionadas em cada ponto, davam um show de visual, e como se tudo aquilo não bastasse havia aquela brisa maravilhosa visitando o paraíso florido acolhedor, como se esse fosse um de seus lugares preferidos. Tudo tinha cor, tudo tinha vida.

— Exagerado como o dono — riu Cherry, pensando já ter dito aquilo outras vezes, mas era sempre tão evidente.

O carro atravessava a estrada em um silencio esquisito.

Ela encostou a testa no vidro temendo o que a esperava no final do caminho. O sol já tocava a grama, não era mais um dia cinzento, as flores balançavam com tamanha tranquilidade que Cherry chegou a pesar que estavam dando as boas vindas.

Não havia recepção exagerada, festa, musica, nem nada do tipo. Quando o carro chegou à entrada do castelo somente Alphonse e Jenny a aguardavam, Cherry sorriu totalmente intrigada imaginando de onde viria a surpresa.

— Cherry! — exclamou a amiga ao ver a garota sair do carro, apreensiva — Ficamos um tempão te esperando!

O abraço de Jenny era tão caloroso e verdadeiro que naquele momento Cherry se sentia um pouco em casa.

— Desculpe — falou ela sem jeito, olhou para Alphonse estranhando sua quietude.

Estava parado a olhando, não tinha o sorriso repleto de dentes de sempre, era uma curva desenhada no rosto, alias era isso que o rapaz parecia naquele momento, um desenho. O sol batia em seu corpo e tudo reluzia, seus olhos cintilavam repletos de uma ternura que fizeram o corpo inteiro da garota arrepiar.

Alphonse se aproximou devagar enquanto ela o observava, desconfiada, ele apanhou sua mão e beijou com delicadeza. Os lábios do garoto estavam úmidos e em brasa.

— Que bom que é verdade — disse suavemente.

— O que?

— Não é um sonho, você vai mesmo morar comigo. — disse ele ainda inclinado e com os lábios roçando a mão de Cherry.

— Vou seu bobo — ela riu retirando sua mão — E você trate de se comportar...

Alphonse deu uma estranha olhada para Jenny, Cherry se virou para ver o que ele estava olhando, mas seja lá o que a amiga estivera falando secretamente ela parou de repente.

— E então? Posso ver meu novo quarto? — perguntou um tanto animada, fora melhor do que pensara. Não havia exageros nenhum e Alphonse fora bem sutil com sua chegada.

Ela podia respirar.

— Claro, mas antes eu posso te mostrar o castelo intei... — antes que ele pudesse terminar aquela frase, novamente algo que Jenny dissera secretamente o chamou a atenção — É claro que isso vai ficar para depois, agora você deve estar cansada.

— Não estou cansada, só com um pouco de fome — brincou.

Os olhos de Alphonse se abriram com violência e Cherry pensou que ele fosse explodir, mas como mágica ele controlou seus impulsos.

— O almoço será servido em minutos — disse ele de uma maneira até engraçada, Cherry começou a desconfiar mais.

— Almoço? Eu gostaria de beliscar alguma coisa, não almoçar. Se você não se importar...

Novamente Alphonse parecia perdido.

— Vamos entrar ou iremos ficar plantados aqui o dia inteiro?

O que aconteceu em seguida deixou Cherry extremamente estressada. Alphonse não se mexia, parecia confuso e perdido. Jenny em seu lugar levava a mão no rosto e balançava a cabeça.

— Mas é claro Cherry vamos entrar, já tomamos sol demais! — disse a amiga de repente, mas Cherry estreitou os olhos encarando Alphonse, enquanto Jenny a puxava.

Por dentro do castelo tudo mudou. De fora o lugar aparentava até ser moderninho apesar do tamanho, mas no seu interior a garota se sentiu voltando no tempo, séculos e séculos atrás.

— Realmente não me lembro disso... — admitiu maravilhada com o lugar.

— Você nunca entrou no castelo, entrou? — disse Alphonse ganhando a dianteira das duas garotas.

— Eu já entrei algumas vezes sim Alphonse, mas nunca havia reparado...

De fato Cherry já entrara no castelo uma vez, mas havia se esquecido, na ocasião ela e Verônica tiveram um pequeno desentendimento, mas sua passagem pelo lugar fora tão rápida que ela nem se dera o trabalho de olhar. O que parecia bastante impossível agora, o lugar era absurdo.

Tinha certo toque gótico, com o formato das coisas, estatuas de anjos bem acima de todos, pareciam rir dos mortais que caminhavam por ali. O grande salão de entrada era assim, bastante iluminado, as janelas com aros belíssimos e dourados, deveriam ter anos de existência.

Alphonse apreciava a expressão encantada de Cherry.

— Tem outra cultura aqui, não sei qual é — disse ela intrigada — Grega?

Alphonse sorriu.

— Sim, digamos que esse castelo carrega muita historia em suas paredes, da minha parte grega também — Jenny ficou muda, parecia se deliciar com a conversa dos sois.

— Eu sabia! Você tem traços bastante incomuns — ela observou Alphonse, mas desviou o olhar quando começou a corar — É bonito, quando é essa mistura sabe...

— Eu gosto desse meu lado grego... Minha cor de pele sempre me agradou.

— Há, você pode ser descendente de grego, mas você não me engana Al, essa sua cor é bronzeamento artificial, tenho certeza disso!

— Temos o elevador, mas que tal subirmos de escada para observar melhor o castelo? — disse ele fugindo do assunto.

Cherry riu e acompanhou Jenny e Alphonse, que trocavam olhares engraçados, porém ela ficou distante. Observou as janelas enormes que acompanhavam os degraus, o dia brilhava lá fora. Pequenas coisinhas cor de rosa caiam sem parar, como uma chuva.

Ela estreitou os olhos para tentar ver o que era aquilo, pareciam ser pétalas.

Era lindo, jamais vira coisa parecida. Alphonse e Jenny pareciam distraídos demais em suas trocas de olhares para perceber a chuva de pétalas, as escadas pareciam nunca acabar, mas Cherry não se importava, era bem legal olhar aquilo.

Mas algo mudou a expressão de Cherry, que antes estava tranquila e serena, completamente. Na janela as pétalas rosa e brilhantes ganharam uma coloração extremamente roxa, caíam com violência. Ela olhou para Alphonse, continuava distraído demais para ver. Quando se voltou para a janela, pétalas negras caiam como borrões, algumas grudando no vidro deixando uma tinta negra escorrer...

— Cherry? — chamou Jenny, a garota se assustou com o chamado — Algum problema?

Cherry estranhou a pergunta e virou-se para janela, não havia mais pétalas caindo.

— Não... — sussurrou.

— Você esta cansada, podemos ver o resto do castelo mais tarde — disse Alphonse meio preocupado — Mas o que achou da minha humilde casa até agora?

Aquela pergunta fez com que Cherry voltasse para realidade e sorrir.

— Normal — deu de ombros.

— Normal? — ele parecia surpreso, Jenny riu.

— Sim Alphonse, eu achei normal! — e dizendo assim ela passou entre eles tomando a frente — Falta muito pra chegar ao meu quarto?

— Sim — admitiu Alphonse — Mas tem um elevador bem aqui perto.

Agora foi a vez de Cherry se deliciar com a reação de Alphonse, que a encarava curioso tentando entender porque a garota não se surpreendera com seu majestoso castelo. Antes de chegarem ao elevador ela notou os inúmeros quadros do corredor pelo qual eles passavam; desenhos engraçados com uma grande variedade de estilos.

— São de diversos países — disse ele apanhando a mão da garota, massageou os dedos de Cherry com certa força — Gostou?

— Legal; Mike iria adorar isso — falou ela, o elevador já estava a espera dos três, como se fosse por meio de mágica. Mas Cherry suspeitara que a maioria das coisas daquele castelo deveriam funcionar sob a vontade de Alphonse e seus poderes.

O andar em que o quarto de Cherry iria viver ficava no último andar. Ela não sabia se era perto do quarto de Alphonse, ele não lhe informou onde era. A porta era grande e talhada com imagens de anjos, era meio rosada e delicada.

— É aqui Cherry... Espero que goste — disse ele abrindo a porta, a garota olhou o quarto e deu duas piscadas.

— Parece bom, acho que vou deitar um pouco... Te vejo mais tarde? — Alphonse parecia decepcionado por completo, mas algo que ela desconhecia o fez respirar fundo e simular um sorriso.

— Claro, e mando alguém vir lhe trazer alguns petiscos — disse ele se retirando com calma.

— Isso seria ótimo! — falou ela antes de entrar no quarto, Jenny esperou o amigo desaparecer.

— Eu também não consigo acreditar que você vai morar aqui Cherry, pare mesmo um sonho! — disse a amiga encantada demais.

— Acho que vai ser bom, eu me sentia meio sozinha no outro castelo — ela sorriu para Jenny esperando corresponder sua animação — É bom ter uma amiga para conversar.

Jenny quase explodiu de felicidade, mas essa também se conteve.

— Te vejo mais tarde então! — e foi embora quase saltitando, balançando seus vários assessórios reluzentes.

Quando a garota desapareceu no corredor Cherry correu para seu quarto e fechou a porta eufórica. Levou as mãos a boca com seus olhos arregalados e encharcados.

— Meu deus! — exclamou completamente admirada.

O quarto parecia ter vida própria.

O teto tinha um engraçado formato de funil, como se ela estivesse em uma torre, e não estava? O papel de parede era uma mistura de rosa e púrpura com detalhes em relevo de coisas douradas, pareciam varias criaturas como cavalos alados, sereias, anjos... O carpete era extremamente fofo, de um cinza brilhante, ela poderia dormir ali mesmo se não fosse a cama espetacular que a chamava.

Aquela cama parecia ter sido arrancada de algum conto de fadas. Tinha uma armação tão cheia de detalhes com um cortinado que descia majestosamente, era meio azulado e tinha pequenas estrelinhas presas que brilhavam. A seda prateada cobria a cama, tinha travesseiros fofos e volumosos espalhados em toda parte.

A verdade era que tudo parecia ter saído de um conto de fadas. Os armários enormes e brancos com detalhes dourados, o quarto era um encanto completo e Cherry estava em êxtase absoluto. Ela retirou os sapatos para sentir o carpete, seus dedos roçando lhe provocou uma risada.

A janela do quarto estava coberta pela cortina, ela andou com cautela e em um movimento rápido ela abriu. Novamente suas mãos foi à boca, supressa demais ela soltou um gemidinho. A visão de seu quarto era indescritível, pois o quarto dava para um jardim quase encantado. Diferente do que Cherry vira na entrada, esse era muito mais natural cheio de fores e vida, havia também uma floresta logo à frente.

Ela abriu a janelas e passarinhos assustados voaram para longe. Imediatamente o sol invadiu seu quarto e toda a cor que havia ali que já era incrível ganhou um reforço maior. Um calor gostoso invadiu o peito de Cherry, a garota desabou no chão deitando-se no carpete fofo, se contorcendo sentindo o tecido. O sol batia no seu corpo e a brisa mágica que beijava seu rosto, fechou os olhos abraçando seu corpo como se fosse uma pequena semente.

Ali mesmo ela adormeceu.

Alphonse viera algumas vezes avisar sobre o almoço, mas Cherry avisou que estava indisposta, nem se quer abriu a porta. Susan, uma das varias criadas do castelo, e amiga de Christine, lhe trouxe vários lanchinhos nesse meio tempo.

— Christine me disse que você era linda, mas a maneira com que dizia... — a mulher ruiva de cabelos presos arrumava a cama Cherry, enquanto a garota instava seu computador na confortável mesinha de seu quarto — A maneira que ela falava de você, era tão carregada de exagero, mas olhando agora posso ver que não era exagero nenhum!

— Christine é uma pessoa tão adorável, parece até mentira que alguém assim ainda exista. Vou sentir saudades... — resmungou a garota se estressado com a fiação do computador.

— O mestre Alphonse me pediu para lhe avisar do jantar que será daqui a algumas horas — falou a mulher afofando o travesseiro, tinha uma voz calma e rouca.

— “Mestre”? — perguntou ela revirando os olhos — Estou vendo que aqui o tempo não passa, não é?

Susan deu uma risadinha, mas preferiu não comentar a respeito.

— Esta tudo do seu agrado senhorita? Precisa de alguma coisa?

Ela retribui o sorriso caloroso.

— Não obrigada, gosto de ficar no quarto, os corredores são gelados demais!i

— Oh senhorita, estamos tendo alguns problemas técnicos no aquecedor do castelo, os técnicos prometeram que logo tudo vai estar em ordem!

Ela tinha o mesmo tom preocupado de Christine, mas Cherry não queria perder tempo explicando que não tinha nada demais e que aquilo só era uma desculpa para permanecer no quarto, e fugir de Alphonse.

Depois de instalar o computador ela escreveu um pouco, nesse meio tempo ela pensou ter ouvido um miado, mas o ignorou. Jenny chamou do outro lado da porta, não sentido necessidade de bater.

— Desculpe Cherry, posso entrar? — perguntou a garota, estava bem arrumada.

— Ah Jenny, por favor, não me diga que o Al organizou algum tipo de festa!

Jenny olhou para os lados.

— Ok, então eu não digo...

Cherry bufou entrando no quarto e fundando na cama, ela soltava um grunhido zangado. A amiga sentou ao lado da garota rindo.

— Olha Cherry... Eu sei que Al é bem bobão às vezes, que você esta evitando encontrá-lo para não ficarem mais difíceis as coisas entre vocês... Mas você tem que dar uma chance pra ele de vez em quando!

Ela soltou um grunhido mais alto no travesseiro.

— O que devo vestir? — perguntou ela levantando a cabeça derrotada, e Jenny sorriu satisfeita.

Depois de tomar um banho, ainda de toalha, Jenny terminava de secar o cabelo da amiga. Depois disso, penteava o cabelo de Cherry, totalmente encantada, enquanto cantarolava uma musica em francês.

— Ele é tão bonito e sedoso —cantarolava a loira olhando no espelho, havia penteadeira enorme no quarto, com um espelho redondo — E ele é tão comportado, parece de uma boneca... Uma princesa.

Cherry observava sua imagem no espelho, absorta em um vazio, aquela palavra princesa fazia com a garota se sentisse esquisita, ela nem reclamou das puxadas em seus cabelos que Jenny dava tão inocentemente.

— Vamos agora ao vestido! — exclamou Jenny saltitante.

Algum tempo depois, o grande salão, onde o jantar já estava acontecendo, se enchera de uma luz dourada que refletia no chão de mármore que mais parecia um espelho.

— Porque esta demorando tanto? — perguntou Alphonse impaciente, andava de um lado para outro.

Não estava sozinho, Lucius bem ao seu lado com a mão no ombro do amigo tentava aclamá-lo. Mas por todo o imenso salão havia pessoas espalhadas, algumas sentadas em mesinhas douradas e outras de pé dançando com a música ao vivo que tocava uma sinfonia tranqüila típica de bailes.

— Talvez a ideia do baile tenha sido um pouco demais — falou Richard que também estava ali, usava uma espécie de terno elegante.

— Você acha? — perguntou Alphonse desesperado.

— Foi uma ótima ideia! — respondeu Lucius revirando os olhos — Tenho certeza que Cherry irá aparecer a qualquer momento.

Alphonse olhava para as escadas, eram duas enormes, que davam a volta pelo salão, se a garota viesse desceria por elas a qualquer momento, como havia dito Lucius sorridente. Ele olhou para seus sapatos, imaginando se realmente fora uma boa ideia chamá-la para viver no castelo, mas os pensamentos se foram quando todos exclamaram por algo.

— Magnífica! — exclamou Lucius, Alphonse teve receio em olhar por um segundo, mas não se conteve.

Era o sol, ou algo incandescente, Cherry.

Usava um vestido dourado com babados angelicais que desciam até o chão. Seu cabelo estava amarrado em um coque com uma mecha despencando do lado de seu rosto, impecavelmente maquiado com sombras que realçavam seus olhos derretidos.

Os olhos de Alphonse cintilaram, sua garganta seca demais, seus dedos do pé apertavam no mesmo lugar enquanto as luzes piscavam por um momento ou dois, Richard e Lucius botaram a mão nos ombros do rapaz e o empurraram de leve.

Cherry descera cada degrau com extrema elegância, com os olhos entreabertos, ninguém mais no salão importava, só existia Alphonse. Ela não resistiu mostrar um sorriso envergonhado, mal sabendo que o jovem enlouquecera com aquilo.

Imediatamente Alphonse foi ao final da escada apanhar a mão da garota que usava uma luva, também dourada, que lhe cobriam até os cotovelos.

Ele beijou a mão sem tirar os olhos da garota.

— Falar agora que você esta encantadora, tentadora, mágica... Seria uma grande idiotice, um clichê! — disse ele com a voz tremula.

— Mas foi bom escutar isso mesmo assim. — disse ela completamente corada.

Os dois giraram pelo grande salão, acompanhados pela musica graciosa e o restante dos convidados, que Alphonse de algum modo convidou.

No final da dança, o jovem a conduziu até uma das mesas, onde Richard, Julius e Stevan estavam sentados.

— Sophie ainda não chegou? — perguntou Alphonse ajeitando a cadeira para que Cherry pudesse sentar.

— Emergência no hospital... — resmungou Richard de braços cruzados.

Stevan não estava dormindo dessa vez, mas apoiava o rosto na mesa observando os contornos dos talheres, enquanto Julius revirava os olhos. Jenny estava dançando com um rapaz alto e atraente, mas Cherry tinha algumas suspeitas.

— E então... — falou ela de repente, todos voltaram à atenção para a garota — O jantar é sempre assim?

Richard piscou e a ignorou, Stevan fechou os olhos lentamente e Julius bebeu uma taça de vinho.

— Não Cherry querida, isso é apenas um jantar de boas vindas! — disse Alphonse passando a mão no pescoço da garota, provocando arrepios óbvios.

— Já que o almoço de boas vindas não deu certo... — falou Julius com a taça de vinho na boca.

— Escuta Al — ela mordeu os lábios. Nervosa — Já fiz o que você queria, participei dessa maluquice. Agora volte a ser o Alphonse de antes!

O jovem a encarou meio perdido.

— Eu sei que você teve a melhor das intenções, e eu adorei isso. Mas não quero que você mude, gosto de você do jeito que é... Mais ou menos.

— Mas não gostou do jeito com que eu me comportei? — perguntou triste.

Ela odiava quando ele fazia a cara de cachorro tristonho, porque aquilo a despedaçava em mil pedaços. Olhou para os lados, havia tantas pessoas que ela jamais vira na vida e aquilo estava deixando meio desconfortável.

— Quem são essas pessoas? — perguntou nervosa olhando ainda para os lados, jurava para si que algumas cochichavam.

— Alguns conhecidos, gente importante da cidade... Eu te disse isso Cherry querida — falou Alphonse como se a confusão o tomasse quase por completo — Tem alguma coisa errada?

Cherry parou de olhar para os convidados e voltou sua atenção ao rapaz, mas não estava muito feliz.

— Não há nada de errado Al, só atenda ao meu pedido e volte a ser quem você é! — ela bateu no ombro do garoto que olhou assustado para a mão da garota — Não precisa mudar!

Alphonse pela primeira vez parecia ter algo consistente na cabeça, ele se ajeitou na cadeira e a fitou com os olhos antes de falar:

— Porque é tão errado assim eu tentar mudar um pouco?... Pra você — ele baixou o olhar e falou devagar — Você não faria o mesmo por mim?

— Não.

Imediatamente Richard, Julius e Stevan levantaram da mesa e se retiraram educadamente. Jenny caminhava alegre até eles, mas Stevan e Richard a arrastaram para o centro do salão.

— Você não faria o mesmo? — perguntou novamente, aflito.

Cherry cruzou os braços e pernas, estava bastante séria.

— Não Alphonse, eu não mudaria! — ela baixou o rosto para encará-lo de frente — Porque mudaria? Você sabe como eu sou, foi por esse meu jeito que você se apaixonou, não?

Alphonse balançou a cabeça rapidamente em negativa.

— Você não esta compreendendo o que eu quero dizer Cherry!

— Então me explique Alphonse, por favor — atacou ela com seu tom irônico.

— Não estou pedindo que você mude, mas porque não posso esperar que você retribua o que estou fazendo por você.

— Eu não quero mudar Alphonse, você tem que me aceitar do jeito que sou, assim como eu aceito o seu jei...

— Novamente Cherry querida — interrompeu ele, fazendo com que Cherry se espantar — Você não esta entendendo.

— Eu amo o sei jeito, e não quero que mude... Mas você não o faria por mim? Não faria o mesmo que eu estou tentando fazer por você? — Alphonse desabafava mais e mais — A impressão que eu tenho é que de nós dois eu sou a pessoa que mais se entrega nessa relação... E que não significa tanto assim pra você!

A garota pôs as mãos no rosto, completamente exausta, não tinha fome por isso nem tocara na comida que lhe aguardava na mesa.

— Não sei mais o que significa pra mim Alphonse. Não sei mais dizer. — ela olhou para o teto, como era difícil manter seus olhos naquele ponto do teto, estava tão cansada — Eu gostaria mesmo é de ficar bastante tempo trancada naquele quarto; pensando e chafurdando nas minhas lembranças.

— Isso me faz lembrar... Que eu ainda não cumpri minha promessa — ele levantou e apanhou a garota pela mão — Disse que iria te ajudar com seu segredo...

— E eu continuo extremamente curiosa quanto a isso — disse ela, um pouco aliviada por os dois estarem deixando o salão.

— O que achou do quarto? Você não me disse.

— É bonito — respondeu seca.

— Era da minha mãe, o engraçado é que eu não precisei mudar nada. Eu o achei perfeito para você.

Naquele momento Cherry parou de andar. Percebeu como estava sendo idiota, o quarto pertencia à mãe de Alphonse. Ela simplesmente adorou o quarto. E estava sendo imatura por não admitir.

— Eu amei Al! — soltou as palavras — Parece um sonho, estava com vergonha de admitir, mas é tão confortável que eu nem sei por quantas horas eu cochilei!

Alphonse parecia satisfeito.

— O vestido também era dela também — Ele apontou para o vestido que Cherry usava — Eu não me lembro dela o usando muitas vezes... Ficou tão perfeito em você que chega a me assustar.

— Sua mãe tinha um gosto excelente! — elogiou, tentando manter a imagem da mãe de Alphonse impecável, procurando respeitar a mulher que ela de alguma forma se identificava. Afinal o pai do rapaz também fora um luxúria, e provavelmente devido à maldição do esquecimento que o pecado trazia a abandonou.

Chegaram à porta do quarto rosado, Alphonde ficou de frente de Cherry, era uma situação muito esquisita porque parecia que a garota queria o mais rápido possível entrar no quarto e fugir dele.

— Não imaginava que seria tão estranho. — disse ele ainda segurando na mão de Cherry, que parecia querer escorregar a qualquer momento.

Ela se sentia sufocada, incomodada demais, não conseguia nem se quer encará-lo. Tudo o que queria era se esconder no quarto para sempre, como se estivesse esgotada de tantos pensamentos confusos, nervosa consigo por nunca chegar a um consenso, por sempre ser indecisa e patética.

— Amanhã depois da aula... Não podemos atrasar se não o Stevan fica uma fera — disse então Alphonse.

— Stevan? — Cherry não entendeu. Sua mão já girava a maçaneta.

— Sim, não conheço ninguém melhor pra te ajudar com esse problema do que ele — ele parecia meio triste.

— Meu segredo?

— Não se preocupe, Stevan é confiável — Alphonse beijou a mão livre da garota e deu um sorriso verdadeiro antes de se retirar — Seja bem vinda...



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Notas finais do capítulo

olha os meus coments em ;P



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