Preguiça, Gula e Vaidade escrita por Diego Lobo


Capítulo 20
Capítulo 19 - Através do espelho


Notas iniciais do capítulo

O próximo capítulo vai ser com os dois irmãos. Peço desculpa por não estar corrigido ou revisado. Um abraço



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Cherry ficou sentada por horas esperando a oportunidade de visitar Stevan. A parte hospitalar do castelo nunca esteve tão movimentada. Sophie não se importava com o grande número de pessoas circulando, ela andava com um sorriso e uma paciência sobrenatural. Alphonse não falou com ela depois que encontrou o amigo inconsciente no chão.

— Você pode entrar Cherry — chamou Sophie.

A jovem a conduziu pelo hospital improvisado, que em nada perdia para um hospital comum, até uma sala muito bem iluminada. Setevan estava deitado em uma cama com vários fios e tubos. Ele parecia mais novo do que antes. Cherry caminhou até ele e tentou arrumar seus cabelos castanhos desgrenhados. Com aqueles penteados ele parecia um daqueles cientistas loucos dos filmes antigos.

— Desculpe... — disse baixinho.

Sophie lhe contou que Stevan estava em um coma profundo, quase um estado vegetativo e que não havia mais o que ser feito. Jenny ficou em seu quarto chorando o dia inteiro e Julius saiu em viagem, mas ela sabia que ele também estava triste.

A escola como sempre era uma realidade alternativa. Cherry se sentia indiferente a matérias e qualquer assunto alheio que ela escutava. Estranhou por um momento que Lara havia desaparecido, David também não dava as caras.

De volta ao castelo tudo o que pode fazer foi ficar sozinha com suas tarefas escolares.  Jenny ainda estava trancada no quarto, Alphonse estava fora com Richard e não disse nada a respeito. Quando ela finalmente cansou de ficar em seu quarto Cherry resolveu ir ao quarto de Stevan. Uma completa bagunça, como sempre, ela foi apanhando os livros e meias do chão, tentando deixar o lugar um pouco arrumado.

— “Conhecendo a mente humana: Estudo avançado”, muito legal... — falou Cherry lendo o título de um livro. Ela deitou na cama do jovem e observou o teto.

Havia lá um desenho gigantesco de uma constelação e algumas folhas grudadas com labirintos rabiscados. Conforme seu corpo ia relaxando os sons da floresta se tornavam cada vez mais reais. Ela já tentava evitar aquilo por todo o dia, mas não aguentava mais. Fechou os olhos e retornou ao seu mundo.

Caminhou dentre as arvores coberta de musgo como se procurasse algo, mas na verdade desejava evitar a escuridão da floresta. Avistou algo movendo as folhas verdes do chão, haviam várias delas. Resolveu parar antes que cruzasse com a coisa.

Uma jovem surgiu do chão. Seus braços separavam as folhas, se movimentando como se estivesse na água. Ela tinha a pele cinza e brilhante. Seus olhos estreitos e de cor violeta fitaram o rosto de Cherry por um segundo, mas perdeu o interesse rapidamente. Seus cabelo era uma junção de fios e folhas grudentas. Tinha lábios cheios e de cor verde, era bela e ao mesmo tempo bizarra.

O curioso é que a jovem estava enterrada até os ombros. Mas estranhamente conseguia se mover como se o solo fosse feito de lama, ou um lago. Ela soltou uma risadinha e começou a se movimentar. Foi quando Cherry visualizou o seu enorme rabo de peixe emergir da terra e soltar folhas para todo o lado.

— Que tipo de drogas eu tenho usado para poder imaginar uma coisa assim? — falou Cherry observando a sereia mergulhar nas folhas e desaparecer, deixando sua risadinha no ar.

— Algumas mentes não precisam de estímulos químicos — falou uma voz — São simplesmente criativas.

Era nada menos que Stevan. O jovem, aparentando ser mais jovem do que nunca estando descalço e com roupas largas, saiu de trás de uma árvore.

— Stevan! — falou ela surpresa, correu para abraça-lo. Passou a mão em seu rosto pálido de sempre, parecia normal — Mas como?

— Depois que eu caí na armadilha que deixaram em sua mente, o meu corpo simplesmente me abandonou e eu fiquei aqui — explicou, como se fosse algo tão normal quanto alguém pegar uma gripe — Foi um mecanismo de defesa que eu não sábia que possuía.

— Mas você parece tão bem! — falou assustada, lembrando do seu estado no hospital. Então a culpa lhe atropelou — Stevan...me perdõe, eu realmente não sabia. Eu não deveria..

— Eu sempre soube dos riscos — disse, um tanto inexpressivo.

— Mas você está aqui!

— Na verdade, a minha forma corpórea é fruto da sua mente. Eu só estou em consciência, mas a sua mente reproduz meu corpo graças a sua memória.

Era o mesmo papo cientifico de sempre. Cherry não poderia se sentir mais culpada.

— Vamos te colocar de volta no seu corpo! — disse — Alphonse pode usar a sua energia!

— Ele nunca irá fazer isso — Stevan cruzou os braços estudando as folhas no chão.

— Se ele não fizer vai se ver comigo! — atacou ela irritada, imaginando Alphonse se negando a algo tão importante assim.

— Estou preso a sua mente Cherry, se Alphonse usar seus poderes para me tirar daqui, causará danos graves a você. Eu também não permitira isso — ele a olhou nos olhos pela primeira vez — Pare de se culpar, sua mente já esta infestada de culpa o bastante.

Cherry se sentiu tão exposta. Stevan todo aquele tempo estava vagando por sua mente. Apesar de que ela duvidava que havia alguma coisa ali que ele não vira.

— Tem que haver outra maneira! — falou em desespero — Não posso aceitar que você vai ficar aqui pra sempre!

O jovem caminhou até uma pedra e se sentou. Apoiou uma das mãos a cabeça e ficou olhando para o vazio.

— Fiquei pensando sobre isso. Na verdade só isso que tenho feito por aqui — divagou — A sua mente me mantém preso aqui também. Não é como se eu fosse um convidado.

Cherry piscou confusa.

— Esse lugar sabe sobre mim — explicou — Sabe que eu não pertenço a este mundo e que sei sobre o seu segredo. Mas mesmo que eu esteja sendo sincero em afirmar que não contarei para ninguém, nem mesmo para você, duvido muito que ele vá me deixar sair daqui.

— Como minha mente pode ter vontade própria? — indagou ela — Eu quero que você saia! Eu!

— Fiquei refletindo sobre essa rebeldia da sua mente e finalmente cheguei a uma conclusão, que apesar de não ter lógica alguma, parece ser a solução para esse enigma.

Ela esperou.

— Não estamos em sua mente Cherry — falou sereno.

Permaneceu parada, encarando confusa o jovem sentado. Olhava para os lados permitindo que aquilo fizesse algum sentido, mas não fez. Era tempo demais em silencio, então Cherry resolveu falar:

— Stevan, como pode não ser minha mente? — começou a dizer — Que diabos de lugar é esse então?

Ele respirou fundo, mas soou um pouco falso.

— Essa é e não é a sua mente — antes que Cherry pudesse dizer qualquer coisa ele continuou — Você possui lembranças que não pertencem a você. Depois de notar isso eu concluí que este mundo não foi criado exclusivamente por você.

A jovem caminhou até Stevan e se ajoelhou em sua frente. Por um momento ele desviou os olhos, mas ela queria uma conclusão daquilo. Seria paciente, mas a resposta teria que vir.

— Cherry, acho que você compartilha sua mente com seu irmão Mike — disse finalmente.

Então a resposta finalmente veio. Precisou de mais alguns minutos para continuar a falar.

— É normal que você não tenha o que dizer — falou Stevan — E também é normal que sua reação a isso seja estranha. Sua mente vai lidar com isso com bastante negação, pois ela já aceitou que tudo isso faz parte de uma mente só. Ela já encara como verdade, mesmo que no fundo ela saiba que são dois mundos em um.

— As portas... — começou a dizer, mas o interesse se perdia, como se algo a anestesiasse.

— Exatamente — confirmou — Sua mente estava protegida demais, isso não é normal. A maneira como ela rejeitou o seu avanço criando obstáculos mostra que a mente de Mike também está criando defesas.

Cherry ficou muda, perdida no nada.

— Falar sobre isso é arranhar a camada do seu segredo, então sua mente não vai permitir que você reflita sobre os fatos que dão base a essa minha teoria — ele olhou para cima — Jamais ouvi falar sobre duas mentes conectadas. Mesmo nós pecados da preguiça, só conseguimos acessar uma mente através dos nossos poderes, mas depois de um tempo a ligação é interrompida, pois demanda muita energia. Mas o que acontece entre você e seu irmão é algo extremamente poderoso.

As arvores balançavam com calma.

— Gêmeos — concluiu ­­— Irmãos gêmeos. Seria esse o motivo dessa ligação incomum? Seja o que for, isso muda totalmente o quadro. Não se sabe o que se esperar da mente de Mike...

— Você precisa sair daqui! — disse ela de repente.

— A outra maneira... —começou a dizer — De me tirar daqui. É você chegar até o fim disso. Até o seu segredo.

— Achar a próxima porta?

— Sim — confirmou — Mas eu preciso te alertar sobre algo. Talvez você não consiga dizer nada a respeito disso agora. Mas precisa estar ciente que, para chegar até o fim, à ligação entre você e seu irmão...

Ela piscou paralisada, incapaz de refletir e falar.

— A conexão entre você e seu irmão terá que ser rompida.

O professor colocou o trabalho com a péssima nota em sua mesa, fazendo Cherry despertar de algo. Estava na sala de aula, não conseguia lembrar como viera parar na escola, mas a lembrança de que Stevan estava preso em sua mente permanecia. Porém, tudo o que ele disse a respeito de sua mente desaparecera.

Ficou preocupada em estar sentada ali enquanto o garoto estava sozinho na floresta. Tentou imaginar uma praia tranquila, mas não tinha certeza se Stevan apreciava esse cenário. Sentia-se culpada por tudo aquilo. Tentou várias vezes vasculhar em suas lembranças, tentando imaginar onde estaria a porta.

— Stevan, se estiver ouvindo — falou ela baixinho — Fique tranquilo, eu vou trazer você de volta.

Não esperou chegar no castelo, ela adormeceu no carro mesmo. Correu apressada na floresta chamando por Stevan. O jovem estava no mesmo lugar. Mas havia algo estranho no ar.

— Preste atenção seu moleque! — disse alguém. Cherry percebeu que envolta de Stevan circulavam imagens, como de uma televisão. Uma criança estava parada olhando para cima, sua mão estendida para o nada. Um grupo de jovens estava parado á sua frente e o empurraram — Parece uma maldita estátua, saía da frente!

O pequeno caiu no chão confuso. Observou os jovens rirem de sua expressão e se distancias. Um garoto se aproximou e lhe estendeu a mão.

— Você é engraçado — disse. Cherry concluiu que o pequeno no chão era Stevan, com seus sete anos de idade. O jovem que lhe estendera a mão tinha cabelos negros e um sorriso único. Aparentava ter doze anos — Quer ajuda?

Quando Stevan aceitou a ajuda ele tomou um susto. A expressão ausente se fora, com o toque de Alphonse o olhar dele parecia fixo e atento.

— Quero que seja meu amigo — falou Alphonse com sua naturalidade abusiva de sempre — Eu me chamo Alphonse Asmodeus.

O pequeno não disse nada.

— Não aceito qualquer um como amigo, saiba disso — ele bateu nos ombros da criança — Daqui pra frente quero que venha sempre me procurar quando precisar. Pode ser qualquer coisa!

— Mas... — falou Stevan pela primeira vez. Estava espantado com a conversa maluca do jovem que acabara de conhecer, mas o tratava como um velho amigo — Por quê?

— Eu sempre quis ter um irmão mias novo — disse.

Cherry se aproximou quando as imagens começaram a desaparecer lentamente. Stevan notou sua presença somente naquele momento.

— Desculpe, não consigo controlar minhas lembranças nesse lugar — comentou baixinho — Confesso que já havia me esquecido dessa.

— Eu odeio quando ele consegue ser tão amável — confessou Cherry, ela sentou ao lado de Stevan — Acho que você gosta muito do Alphonse, não?

Stevan ficou mudo por um momento.

— Alphonse é o único amigo que tenho — falou com calma — É difícil as pessoas lidarem com o que é diferente. Você não pode exigir que elas tenham paciência com a sua maneira de ser, porque já estão ocupadas demais lidando com seus próprios problemas e particularidades, que se emprenham tanto em esconder.

Cherry comoveu-se profundamente com aquelas palavras. Consegui se identificar um pouco com aquilo tudo.

— Alphonse consegue passar por cima de tudo isso, porque para ele pouco importa. Ele visualiza a sua pessoa e concluí se ela é interessante ou não. Mas o seu método de avaliar isso é bastante incomum, acho que ele consegue enxergar nossos desejos mais profundos — a voz Jô jovem parecia sumir em alguns pontos — Às vezes...

— Às vezes acho que Alphonse é a única razão para que eu não tenha abandonado tudo isso, como os outros pecados fazem. Para nós parece tão simples abandonar a realidade em que vivemos e trocar tudo aquilo pela terra dos sonhos — era uma canção triste que ecoava por toda floresta, a voz de Stevan — Alphonse é o que me prende a vida real.

Cansou daquele sensação incomoda de culpa m seu peito e levantou.

— Vamos! — chamou.

— Para onde? — perguntou confuso.

— Sei onde está a porta — disse segura — Sempre soube. Mas acho que tive medo de admitir, preguiça de tentar... preciso deixar de ser tão estúpida!

Correram ela floresta. Cherry com a certeza de estar puxando Stevan pelo braço, cruzou caminhos estreitos e desviou de fadas luminosas. Era a parte escura o seu objetivo, mas o medo não desapareceu.

— Entendo — disse ele, ainda acompanhando Cherry na correria — Imaginei que estaria por aqui.

Ela parou e encarou o jovem.

— Você sabe sobre a parte escura?

— Claro que eu sei — deu de ombros — Só achei muito desconfortável, apesar de gostar de lugares com pouca luz.

A garota buscou alguma coisa que se parecesse com uma porta, mas julgou não estar fundo o bastante naquela escuridão. Caminhou dessa vez, temendo cada barulho estranho que fazia as folhas se mexerem milímetros. Não era possível ver o caminho a frente, pois era literalmente um mergulho no escuro.

— A escuridão — falou Stevan calmo, deixando o cenário mais assustador ainda para ela — Cada ser humano tem uma parte escura em sua mente... Mas são poucos que se arriscam e explorá-la.

As silhuetas das arvores possuíam uma leve iluminação azulada e galhos curvados como garras. Seu coração batia temeroso, seus passos diminuíam cada vez mais.

— Você não sabe dizer onde está a porta? — perguntou preocupada. Mas ao se virar constatou que Stevan não estava mais lá.

Sentiu vontade de se descontrolar e sair correndo, mas resolveu respirar fundo. Continuou andando com passos medrosos, estava mais difícil avançar pois o caminho era espremido pelas arvores. Um som agudo perfurou seus ouvidos.

Cherry soltou um gemidinho assustada, mas continuou a andar. Suas mãos tremulas tentavam alcançar algo com que se apoiar. Era difícil ver o que estava a sua frente. Ela sentia uma respiração macabra em toda parte. Era mil sons de criaturas da noite juntas em um só. Parecia vir de um peito estufado e subia até os lábios produzindo aquela nota de terror.

Estava a sua frente. De braços abertos em tom ameaçador, comprido demais. Sem detalhes do corpo, só uma figura escura assustadora. Cabelos compridos e olhos vermelhos e estreitos em sua direção. Mesmo que o restante da floresta fosse impossível de assimilar agora, o mostro a sua frente era bastante visível, apesar de sua escuridão.

— Alphonse! — disse assustada. A criatura se aproximou, as mãos transformadas em garras enormes.

Ela engoliu o choro e obrigou seu corpo a parar de tremer. Sabia que não havia mais tempo, estava deitada no carro em direção ao castelo e a qualquer momento o motorista tentaria acordá-la. Mas a cada passo seu a criatura soltava um urro demoníaco.

Ele avançou com fúria.

— Me desculpe.. — disse ela de repente, o mostro parou centímetros dela — Não foi culpa sua, nunca foi.

A criatura estava curvada diante dela, soltava um sopro gélido.

— Eu sabia, sempre soube o que você era — o demônio começou a encolher aos poucos — E mesmo assim eu quis seguir em frente. Sabia quais seriam as consequências.

Um passo para trás do ser. Cherry apertava os olhos deixando as palavras saírem com calma.

— Me desculpe Alex — chorou — EU te usei, não tinha esse direito. O medo que eu tenho de você...a imagem que tenho de você, é culpa exclusivamente minha.

E lá estava Alex, confuso e perdido, á sua frente.

— Aquele momento ficou cravado em minha mente, eu não consegui aceitar que aquilo foi minha primeira vez... E assim eu criei um monstro, apara pode absolver-me de meus pecados — ela caiu de joelhos, a floresta foi tomada por uma luz verde, a escuridão se fora — Você pode me perdoar?

O jovem era a figura do dia citado por Cherry. Cabelos loiros desgrenhados e belos, descamisado e sujo de terra, o jeans surrado. Alex sorriu para ela e deu passo para traz, feliz. Ele tocou em uma gigantesca arvore e foi engolido por ela. Lá estava a porta.

Stevan estava ao seu lado.

— Conheço que fiquei surpreso que você tenha descoberto quem ele era tão rápido — falou o garoto.

— Uma lembrança que eu transformei em pesadelo — disse ela triste.

— Ela era um trauma seu — explicou Stevan — A primeira vez que você se arrepende.

— Preciso encontrar a chave! — lembrou-se, mas seus olhos já estavam despertos.

Alphonse gostou da sensação de andar de moto. Seguiam pela estrada ao redor do castelo, Richard e seus subordinados o seguiam com motos.

— Daqui pra frente seguimos a pé! — berrou Alphonse para os demais.

As motos pararam perto de um gigantesco campo. Alphonse usava roupas escuras e couro, Richard estava pálido como sempre e usava uma jaqueta marrom, igual aos seus seguidores.

— Até onde vamos? — perguntou Richard passando por ele.

— Dessa vez iremos um pouco mais longe — explicou Alphonse. Suas botas negras afundavam na grama, mas isso não incomodava o rapaz.

Caminharam por vinte minutos, o que era extremamente sacrificante para alguém que possui o pecado da Ira no corpo.

— Não entendo por que Julius precisou viajar justamente quando estamos em guerra! — resmungou.

— Julius teve dificuldade de aceitar o que aconteceu — explicou Alphonse, ele apanhou um graveto e começou a brincar de golpear — Mesmo que estivesse aqui duvido muito que pudesse ajudar com qualquer coisa, alem de reclamar.

— Stevan era de grande ajuda nessas horas — comentou Richard.

— Ele é nosso amigo, acima de tudo — disse Alphonse firme.

Uma hora se passou. Os pecados da ira criado por Richard começaram a reclamar e esmurrar o chão. Mesmo assim a caminhada continuou até que o castelo se tornou apenas um borrão.

— Isso não teria acontecido se não fosse a sua namorada — soltou Richard, claramente estressado.

Alphonse lhe lançou um olhar fulminante, mas conteve-se. Estava preocupado com Stevan, mas Cherry não saía de sua cabeça em nenhum momento. Tocou o ombro de Richard para acalma-lo com seu poder, mas sabia que aquilo não poderia manter o jovem calmo por muito tempo.

— Ultrapassamos demais o lugar do último ataque — falou Richard, se referindo ao campo onde muito de seus seguidores morreram.

— Nosso objetivo é um pouco mais á frente — disse Alphonse — Nunca tinha reparado nesse lugar...deveríamos fazer uma grande festa quando isso acabar.

Alphonse finalmente parou. Nem Richard nem o restante dos jovens entenderam o que estavam fazendo ali. Era um largo e extenso campo vazio.

— O que estamos fazendo aqui? — perguntou Richard desconfiado.

— Vamos chamar a atenção — e dizendo assim Alphonse entendeu o braço e disparou um longo raio azul para cima. Não havia nuvens naquele fim de tarde, então era algo incomum de se ver.

Todos olharam para os lados com atenção, mas nada aconteceu. Alphonse repetiu o movimento mais algumas vezes, depois sentou na grama cansado. Ele massageava as folhas como se tivesse procurando algo.

— Que apareçam de uma vez! — rosnou Richard — Vou arrancar a cabeça de cada um deles!

Os jovens pecados da ira concordaram com uivos de alegria. Depois de alguns minutos luzes despencaram do céu. Não era possível ver quem eram, pois se tratava de seres de luz.

Alphonse abriu um sorriso.

— Finalmente apareceram — ele se pôs de pé, Richard serrou os punhos.

Eram apenas três deles. Parados os observando sem fazer absolutamente nada. Richard mal podia se segurar, mas Alphonse o segurava calmamente.

— Virtudes! — gritou Alphonse.

Sebastian se revelou com um sorriso. Edgar, Félix e Gasper também.

— O famoso Alphonse Asmodeus em pessoa — disse Sebastian, ele analisava todo o lugar minuciosamente — Assim tão fácil?

— Exatamente, só que a facilidade infelizmente não está do seu lado e sim do meu — disparou Alphonse — É uma pena que não vieram todos!

Sebastian soltou uma risadinha. Edgar e Félix entraram em uma posição de ataque, enquanto Gasper remexia o seu braço.

— ATAQUEM! — vociferou Richard, e seus subordinados partiram em direção as virtudes, ele mesmo também avançou.

Antes que sua velocidade sobre-humana alcançasse o rosto de Stevan, um clarão de energia violenta o golpeou no estomago e o jovem teve seu corpo arrastado pelo chão vários metros deixando um rastro de destruição na grama.

Edgar esmurrava alguns dos subordinados, enquanto Felix os golpeava em alta velocidade. Sebastian arremessou alguns com suas mãos invisíveis. Ao longe, Richard explodira em chamas e caminhava lentamente na direção de todos.

— Você me deixou bastante irritado, sabia? — falou Alphonse olhando Sebastia.

O jovem loiro fez beicinho e coçou a cabeça fingindo confusão.

— Será que você esta bravo porque eu e meus amigos despedaçamos alguns dos seus? — ele olhou para Edgar e Feliz sorrindo — Ou foi porque acabamos com o preguiça?

— Não os provoque Sebastian — falou Edgar preocupado.

Um clarão azul iluminou todo o lugar. Alphonse sorria com loucura.

— Não me faça rir, olhe para o céu — ele apontou para cima — Não há nenhuma nuvem para ajudar com seus poderes. Vocês pecados são tão burros que tira a emoção da coisa.

Alphonse estendeu os braços e se curvou. Vários raios azuis rompiam de seu corpo. Sue rosto começou a afinar como de um felino e sua pele ganhou um tom anil. Sebastian arregalou os olhos.

— Impossível! — exclamou — Gasper, atire!

Gasper estendeu seu braço rapidamente e disparou o feixe de luz na direção de Alphonse. O barulho foi ensurdecedor, como um impacto alucinante. Mas o Luxúria estava intacto no mesmo lugar, protegido por uma espécie de bolha luminosa de energia azul. Seus rosto curvado e olhos mortais.

Ele moveu os braços e de repente uma gigantesca serpente de energia rompeu do chão. Fazia curvas no ar liberando vários raios. As virtudes começaram a se afastar, mas Alphonse fez outro movimento e a criatura avançou com violência abocanha-lo Gasper.

AAAAAAARG

O jovem se debatia com violência no chão com a corrente elétrica passando por seu corpo. Edgar foi a seu auxilio, porém não se dera conta de Richard em chamas surgir no local e golpea-lo com força no rosto.

Sebastian avançou na direção de Alphonse, concentrou suas mãos invisíveis na direção do pecado, mas a serpente avançou em sua direção também, ele escapou por um triz. Félix corria envolta da bolha do Luxúria procurando uma brecha para atacar. Ele tombou com violência no corpo para de Richard, parecia uma rocha.

— MORRA! — urrou Richard lançando suas chamas por toda parte, mas Félix conseguiu correr para longe.

Edgar aterrissou com toda força em cima da Ira, fazendo o chão tremer com violência com o impacto.

— Richard! — chamou Alphonse, observou que Gasper estava de pé novamente e Sebastian e Félix estavam atentos a bolha.

Ele fechou os olhos e se concentrou. De repente raízes de pura energia foram arrancados do chão. Ergueram-se como tentáculos de um polvo gigantesco.

— CUIDADO! — berrou Félix ao ver os tentáculos se movimentarem, mas a serpente ainda estava ativa.

Mas o objetivo dos tentáculos não era as virtudes. Alphonse estendeu as raízes de energia até cada um dos subordinados de Richard no chão. Assim que ele os alcançou, os jovens levantaram imediatamente, como marionetes. “ATAQUEM!”, ordenou mentalmente.

Os jovens pularam para frente, avançando com agilidade em direção a Sebastian e Félix, mesmo que fossem golpeados não tombavam no chão e continuavam a avançar. Os tentáculos de Alphonse estavam presos em cada um deles e se esticavam a sua vontade. Edgar estava no chão enquanto Richard o golpeava sem parar soltando urros de ira.

— EDGAR! — gritou Félix, tentou correr até lá, mas a serpente se pôs em sua frente, mas um feixe de luz a acertou em cheio fazendo-a desaparecer. Gasper se preparava para lançar mais um na bolha de Alphonse.

Não teve tempo de atacar o Luxúria, pois as marionetes foram em seu encontro então teve que direcionar sua atenção á elas.

— Algumas coisa tem que estar errada — falou Sebastian nervoso, seus olhos percorriam todo o campo sua mente funcionava rapidamente — Não tem nenhuma droga de nuvem no céu!

Edgar estava bem, Félix conseguiu vir em seu auxilio, mas Richard ainda estava atrás dele.

— O corpo dele esta pegando fogo, não vou conseguir golpea-lo — falou Félix — Precisamos do Gasper!

Edgar retirou um gigantesco pedaço de terra do chão e arremessou em Richard.

Sebastian fitou Alphonse por mais alguns segundo e seus olhos abriram com violência com a conclusão.

— Ele não saí da porcaria do lugar! — falou alto — Olhem para os pés do Luxúria, tem alguma coisa!

Edgar e Félix conseguiram ver, era um grosso cabo condutor de energia. Os pés de Alphonse estavam presos a ele.

— Desgraçado! — soltou Félix, mas Alphonse o acertou em cheio com um raio azul.

— RICHARD — berrou — RICHARD VENHA ATÉ AQUI!

Mas o jovem não lhe der atenção alguma e continuara a perseguir Edgar.

— CORTEM O CABO! — gritou Sebastian, tentando se defender das marionetes.

Alphonse entrou em desespero, não esperava que descobrissem tão depressa. Começou a estender um de seus tentáculos até Richard, mas ele estava longe demais. Félix levantou do chão, seu rosto empapado de sangue. De sua calça ele retirou uma faca que se encheu de luz imediatamente. Disparou em direção a grama, lá estava o local onde o cabo percorria.

Alphonse ainda esticava o tentáculo de energia até Richard, quase conseguindo o alcançar, mas o jovem se movia demais.

— Merda Richard! — resmungou desesperado.

Felix começou a cerrar o cabo em grande velocidade, enquanto Gasper finalmente disparava mais um feixe de luz na bolha.

— RÁPIDO! — urrava Sebastian, jogando para longe as marionetes, que paravam no ar e voltavam a ataca-lo.

Félix perfurava o cabo com grande agilidade, estava quase partindo ao meio. A dor alucinante passava por seu corpo, mas ele não pararia agora.

— RICHARD! — gritou Alphonse.

A faca descia pelo cabo chegando ao seu fim, junto com os milímetros que faltavam do tentáculo até Richard. Alcançou o pescoço do jovem em chamas e no mesmo segundo desapareceu junto com as marionetes, deixando em silencio novamente.

Transportados de volta ao castelo, Sophie os aguardava com várias macas. Alphonse não conseguira transportar corretamente todos os jovens, que acabaram chegando pela metade. Estava completamente zonzo. Antes de tombar no chão ele precisou eletrocutar Richard para fazê-lo voltar ao normal.

— Que merda foi aquela? — perguntou Richard indo ao seu encontro antes que o jovem caísse no chão.

— Era o plano do Stevan, antes de ficar daquele jeito — disse Alphonse quase sem energia alguma — Disse que eles tentariam nos atacar. Mandei colocarem aquele cabo de energia lá, está ligado á usina...custou um bocado de dinheiro, mas agora sabemos com o que estamos lidando.

— Precisamos voltar lá e acabar com cada um deles..

— Não! — cuspiu as palavras — Que droga Richard! Precisamos retirar todos daqui, Jenny, Stevan, Sophie, Cherry! Não podemos derrotá-los!

— Isso é conversa de covarde!  — atacou Richard.

— Só estavam em quatro Richard! — Alphonse ofegava bastante — Foi uma sorte gigantesca Stevan ter pensado nesse plano, mas não vão cair nisso outra vez. Não tem nenhuma tempestade á caminho, precisamos retirar todos!

Richard se retirou em direção a Sophie com certa pressa. Alphonse temia que as virtudes já estivessem á caminho do castelo.

― Precisa de alguma coisa senhorita? — perguntou o motorista para Cherry. A garota não saíra do carro ainda, parecia perdida em seus pensamentos — Senhorita?

Quando percebeu o que estava fazendo ela simplesmente saiu do carro sem dizer nada. Para recepciona-la vieram ao seu encontro vários cachorros de diferenças raças que Jenny e Alphonse compraram.

— Saiam! — gritou tentando escapar.

Ao entrar no castelo foi fácil nota o silencio. Sempre encontrava um dos pecados fazendo qualquer coisa, seja Julius dando ordens aos criados, Jenny chegando com novas compras, Stevan desmaiado em um dos vários sofás da entrada...

“Tenho que encontrar essa maldita chave!”, pensou aflita. Subiu as escadas tentando imaginar onde poderia estar. Da primeira vez Cherry conseguiu a chave com uma estranha velha que morava em uma cabana, mas ela não tinha certeza mais se aquilo fora real. Passando pelo corredor ela viu Jenny caminhando devagar até seu quarto, ela apenas acenou. Estava triste demais e não usava suas joias de sempre.

— Posso entrar? — perguntou ela antes que Jenny pudesse fechar a porta do quarto, sem perceber que Cherry a seguiu.

A jovem acenou um “sim” com a cabeça. Era primeira vez que Cherry vira o quarto de Jenny tão mal iluminado. As cortinas estavam fechadas, mesmo com sua cor dourada que por si só já iluminavam todo o ambiente, o lugar estava triste.

— Não sabia que você era tão apegada ao Stevan — comentou.

Cherry desejou não ter feito tal comentário. Jenny começou a chorar e foi preciso buscar em algum canto do quarto gigantesco um lenço para conter a umidade daquele rostinho.

— Stevan é minha família Cherry — explicou ela, meio estressada com o fato da garota não percebido aquilo ainda — Alphonse, Stevan, Julius são minha família...

“Você precisa arranjar uma família melhor”, pensou Cherry. Mas ela suspirou com aquele pensamento, odiando a si mesma pela frieza. Massageou as costas da amiga.

— Sempre quis te perguntar uma coisa Jenny — falou Cherry, era uma tentativa de despertar o lado contador de histórias de Jenny.

— O que? — perguntou ela fungando, seus olhos carregados com uma olheira terrível.

— Como foi que você acabou se tornando um pecado?

Jenny levantou da cama, completamente espantada com a pergunta. Ela olhava para os lados meio nervosa.

— Por que diabos você quer saber disso?

Cherry ficou surpresa com aquela reação, achou que Jenny contaria sem problemas, e ainda adoraria isso. Mas aquilo a fez pensar se era uma pergunta normal a se fazer. “O que está acontecendo comigo?”.

— Desculpe! — falou rapidamente, levou as mãos a cabeça — Jenny acho que estou enlouquecendo.

A garota de cabelos dourados soltou uma risada e apertou o nariz no lenço soltando uma fungada. Sentou do lado de Cherry.

— Acho que você já esta louca há algum tempo amiga — falou ela com a voz esganiçada — Mas eu vou te contar...

— Não precisa Jenny...

— Quer me ver pegar outro lenço? — ameaçou, Cherry assentiu.

— Eu tinha oito anos de idade e meus pais tinham acabado de me matricular em uma nova escola. A melhor escola de Londres... todos os alunos ricos frequentavam aquele lugar — Jenny descansou o lenço em seu colo, ela olhava para cima — É estranho Cherry, uma criança não deveria se preocupar com fortunas, brasões, influência... Naquele mundo era assim. De todos os estudantes eu estava na lista dos mais bem afortunados.

Cherry abraçou seus joelhos descansando sua cabeça delicadamente e escutando a história.

— Havia esse garoto, lindo demais, que se matriculou na mesma escola — ela fungou — É engraçado, tão jovens e já era importante ter uma namorada. Esse garoto tinha várias, não sei, mas deve ser parente do Alphonse.

Cherry revirou os olhos.

— Certo dia ele se aproximou de mim, extremamente bem educado. Falou sobre sua família e como ela era rica, igual a minha. Todo dia trazia um presente diferente para mim, as outras crianças morria de inveja — ela sorria — Até que um dia ele educadamente me convidou para ir em sua casa. Duas crianças, mas que mal poderia haver nisso? Meus pais não hesitaram e permitir quando lhes contei que ele era igualmente rico.

— Fui tratada como uma verdadeira princesa, a mansão dele era maravilhosa! Eu era uma criança vivendo um pequeno sonho — O sorriso foi se desfazendo — Até que um dia, de volta á mansão do garoto, fui apresentada a uma estranha proposta.

— Ele estava em seu quarto, com as mesmas roupas engomadas de sempre, mas o seu olhar, sua expressão era bastante diferente da de sempre. Não era infantil, havia algo maduro ali, que me dava certo medo — Jenny continuou — Atrás dele havia uma pequena mesinha com um doce de cor dourada.

— “Jenny você gostaria de ter tudo?” ele me perguntou. “Você quer viver milhares de sonhos de uma vez? Conhecer todos os lugares que quiser?”, dizia ele. Eu só pude concordar, por deus eu tinha oito anos de idade — Jenny estendeu sua mão — Ele me ofereceu aquele doce estranho que eu inocentemente aceitei.

— E se transformou no pecado da Gula... — disse Cherry conclusiva.

— Sim — falou ela triste — Minha surpresa foi enorme naquele dia quando esse garoto me mostrou que naquela mansão ele jamais se sentia sozinho por não ter nenhum irmão, pois poderia criar quantas cópias quiser.

— Fiquei espantada demais, mas ele me ensinou como fazer também e tudo mudou — parecia difícil pra ela continuar — De alguma forma a minha infância me deixava. Eu não me sentia mais criança, a cada cópia que eu criava eu sentia minha mente amadurecer.

Cherry imediatamente se lembrou de Zahara, a namorada de Albert, o grande amigo de Alphonse. Segundo ela, que também era um pecado da Gula, as cópias retiravam a força vital da pessoa, diminuindo os seu tempo de vida. Ficou imaginando se Jenny saberia daquilo.

— Eu lembro muito bem como aquilo acabou — Jenny apertou os dedos — Lembro de caminhar pela mansão dele, com minhas cópias correndo atrás de mim. Foi naquela tarde que eu encontrei aquele quarto...

O clima parecia ter esfriado ainda mais.

— Entrei devagar naquele lugar escuro. Dando passos vagarosos pelo lugar — ela abria os olhos molhados com espanto, estava vivenciando a cena novamente — Lá estava uma cama mofada, abandonada por todos. Não era só uma cama, havia alguém deitado lá!

— A pequena cópia se aproximou da pessoa deitada. Esticou seu pescoço para espiar. Era um homem extremamente velho que dormia ali, havia alguns aparelhos ligados á ele. Então, de repente, a voz do garoto invadiu aquele quarto escuro.

— “Vejo que você achou o velhote” disse ele com aquela voz diabólica. Eu perguntei quem era, se aquele deitado naquela cama era o seu avô, mas ele balançou a cabeça negativamente — Cherry engoliu o seco — “Esse lixo não é meu avô, é a minha droga de forma original”.

Cherry levou as mãos a boca completamente espantada.

— Eu o olhei aterrorizada, mas ele sorria. “Não se preocupe Jenny, eu sou jovem. Olhe pra mim e esqueça ele!” falou ele com naturalidade. Mas eu perguntei se os pais dele não achavam aquilo estranho na casa, então ele me contou que não existiam pais — Cherry a encarava — O que existia era a versão dele adulta que se passava por seu pai. “Com você aqui Jenny, meu pai vai finalmente poder ter uma parceira. Minha querida mãe” ele ria o tempo todo. “Vamos ser uma grande família feliz”.

Ouve um silencio no quarto.

— Eu fugi e nunca mais voltei naquele lugar — disse ela.

— E depois disso você encontrou Alphonse? — perguntou Cherry.

— Alphonse teve um caso com uma cópia adolesce minha, mas não se lembra mais dela — Jenny voltou a sorri — Depois disso eu já sabia quem ele era e onde encontrá-lo.

— E você simplesmente apareceu pedindo abrigo? E seus pais?

— Eu nunca mais vi meus pais... — disse Jenny triste — Desapareceram depois daquele dia. Acho que estava tudo planejado parque que eu morasse com ele naquela mansão, mas não saiu como ele queria.

— Isso é um absurdo Jenny! — falou Cherry chocada — Seus pais desapareceram?

— Sim... Alphonse os procurou depois que vim morar aqui, mas nunca os encontrou.

Cherry achava aquela história absurda.

— As vezes um pensamento macabro me assombra — disse Jenny, observou a expressão espantada de Cherry — Naquela época eu criei tantas cópias...não tenho certeza do que aconteceu com elas, ou o que fizeram. Não sei se tinham a consciência de que eram cópias, não tenho mais certeza se nenhuma delas sabe. Penso o que poderiam ter feito se todas tivessem voltado para minha casa de uma vez...e meus pais estivessem lá...

— Pare! — pediu Cherry, ela apanhou a mão de Jenny — Jenny não pense nessas coisas!

Aquela conclusão era absurda demais para ela digerir. Cherry sentiu seu mundo começar a girar novamente, observando Jenny, tão doce e delicada, mas com um passado tão bizarro como aquele. Era mais um daqueles momentos em que ela se sentia tentada a fugir daquilo, deixar esse mundo de pecados que ela jamais pediu para entrar. Tudo era tão sombrio e sujo.

Cherry abraçou Jenny, que começara a chorar reparando na expressão petrificada da amiga.

— É culpa minha...eu não deveria ter perguntado — falou Cherry apertando Jenny — Me perdoa?

Jenny com a cara enrugada de maquiagem extremamente borrada concordou. Ela sorriu.

— Cherry eu preciso confessar — fungou — Seu cabelo está horrível, eu detestei! — E assim as duas riram.

Depois de deixar o quarto de Jenny, Cherry caminhou pensativa pelos corredores. Não avistou Alphonse em lugar algum, ela estava tentada em pedir a sua ajuda, mas Stevan foi bem claro.  Seus olhos pesaram assim que ela abriu a porta de seu quarto.

O ambiente sereno e bem arrumado era um verdadeiro convite para um bom cochilo. Mas ela sabia que não adiantaria voltar para a floresta sem a chave da porta. Sentou no chão e começou a acariciar a cortina de seda do quarto.

— A peregrina chega enfim ao um empasse — falou a voz, fazendo Cherry quase se atirar pela janela aberta.

No espelho do quarto estava seu reflexo consciente olhando para ela com um sorriso. Ela engatinhou até a “outra Cherry”.

— Você de novo! — disse espantada.

— Por que você não se decide de uma vez por todas o que quer? — perguntou seu reflexo — Esse seu conflito interno é cansativo e irritante. Não se pode ir para esquerda e direita ao mesmo tempo, escolha um maldito caminho!

— Começo a pensar — falou Cherry, entregando-se á aquela alucinação — Qual o sentido de descobrir esse segredo? Vale realmente á pena todo esse risco?

— E agora depois de tudo você vai desistir? — perguntou a outra.

— Não posso, Stevan precisa de mim...é minha culpa — falou ela botando as mãos na cabeça — Não entendo...Por que minha mãe me pediu isso? Por que Alphonse me incentivou? Não vejo nenhum dos dois aqui me ajudando a seguir em frente! Parece que estou fazendo algo errado.

— Pode ser que sim, pode ser que não — Cherry prestou atenção ao reflexo que abriu sua mão revelando uma chave prateada — Mas a questão é: Até onde você vai?

Lá estava a chave, do outro lado do espelho. Ela reluzia intensamente aos olhos de Cherry, enquanto seu reflexo oferecia o objeto a dúvida tomava o corpo da garota.

— Qual o preço? — perguntou Cherry.

— O controle — falou a outra — Me dê o controle. Deixe a “velha Cherry” sair. A chave será sua, como você quer.

— O controle... — sussurrou Cherry baixinho — Perder o meu controle.

— E fazer finalmente o que você tem vontade. Finalmente deixar os seus desejos te guiarem, sem conflitos, sem pensar duas vezes — ela girou a chave — Pegue.

Cherry levantou do chão, seu reflexo fez o mesmo. Ela olhou para os lados, seu coração batia forte. Ela soluçou um choro, mas avançou para dentro do espelho.

Alphonse recobrou um pouco de suas energias e disparou para dentro do castelo. Os degraus da escada passavam como borrões enquanto ele subia correndo. Cada passo apressado pelo corredor era um aperto em seu coração. A sua frente uma constelação de cores inundava sua visão.

Procurava pela presença de Cherry, que estranhamente havia desaparecido. Esticou sua mão antes mesmo de tocar a maçaneta da porta. O quarto estava silencioso no vazio. Ele caiu de joelhos com os olhos arregalados. Sua energia se estendia por todo o castelo, mas ele queria mais. Obrigou-a sondar muito mais do que permitia, avançando pela estrada que levava até Newcastle. Sentia o sangue escorrer pelas suas narinas, ele tremia.

— Alphonse! — gritou Jenny balançando o corpo do jovem — O que esta havendo?

Ele abriu os olhos, não havia absolutamente nada para se ver. Tudo estava branco por alguns minutos.

— Cherry... — sussurrou.

—Ela saiu, encontrei-a no corredor há uma hora! — disse Jenny aflita com a cena.

— Impossível, eu teria sentido sua presença! — disparou ele nervoso, mas tonto — Jenny alguma coisa aconteceu, ela desapareceu!

Rapidamente a garota puxou um aparelho celular de sua cintura e começou discou o número da garota. Depois de várias tentativas ela desistiu.

— Cherry deve estar com Mike, é a única explicação. Você sabe que ela odeio fazer compras — Jenny estava nervosa também.

— Jenny me escute — Alphonse levantou e segurou os pulsos da garota — Quero que você saía imediatamente do castelo, Richard vai conduzi-la até um lugar seguro. Faça suas malas imediatamente!

Jenny não pensou duas vezes em concordar. Alphonse tinha raros momentos como aquele, então ela sabia levar a sério uma ordem daquelas.

— Mas e a Cherry?

Alphonse passou a mãos pelo cabelo negro reluzente, os dedos desliavam facilmente para trás. Estava chegando ao desespero rapidamente.

— Irei procura-la em cada maldito canto — afirmou para ela, dando início imediatamente a sua busca.

A floresta estava em um nível realístico muito mais elevado do que antes. Cherry corria pelo caminho que ela conhecia muito bem, deu alguns tapas para espantar as fadas que ficavam em seu caminho. Ao ver Stevan ela o abraçou bem forte.

— Consegui! — disse ela alegre mostrando a chave — Agora podemos abrir a porta, não se preocupe!

Stevan parecia não esperar por um abraço, ou por tamanha felicidade. Seus olhos fitaram a chave de prata, parecia refletir por um segundo, mas concordou.

 Não havia mais escuridão na floresta, a porta estava presa á arvore como antes. Ela girou a chave e um clique ecoou no lugar. Ela encarou o jovem mais uma vez, sentiaque estava muito próximo de seu objetivo.

— Espere Cherry! — disse ele, com se saísse de um transe e pela primeira vez se comportamento de maneira diferente da de sempre.

— O que foi? — perguntou sem entender, já que Stevan não conseguia dizer, só ficou ali parado com algum tipo de conflito interno.

Cherry conseguia entender. Stevan estava se preocupando com ela e sabia que seria um perigo maior daqui pra frente.

— Não se preocupe, vamos conseguir! — disse confiante.

Ela girou a maçaneta, um luz vermelha escapou quando a porta foi aberta. Não era mais uma floresta e sim um deserto.

— Que lugar é esse? — perguntou espantada.

O deserto tinha uma areia vermelha e labaredas subiam em todos os cantos. No céu havia uma gigantesca estrela de papelão brilhoso que girava ameaçadoramente.

— Cherry! — chamou ele mais uma vez preocupado — Nesse seu estado...

Ela voltou a ficar confusa.

— Nesse seu estado, as horas passam mais rápido — começou a falar — Você precisa voltar agora, não pode deixar o tempo passar enquanto você esta aqui!

Um terror invadiu o pensamento de Cherry. Ela não conseguia se lembrar de adormecer e vir parar em sua mente. Como diabos ela viera para em seu mundo? Onde estava seu corpo?

— Você ficou tempo demais! — disse ele olhando para os lados — Volte agora!

— Não sei como! — respondeu ela desesperada.

— Ainda tenho um pouco de poder aqui — ele a tocou no rosto.

Cherry retornou a realidade como se estivesse se afogando. Não foi como as outras vezes, ela não despertou simplesmente, a sensação era como se alguém tivesse a ressuscitado.

Havia um ventilador girando no teto bem devagar. Ela não reconhecia aquele teto ou a pequena janela a seu lado. Seu corpo deslizava de maneira livre por um cobertor meio húmido. A sensação de liberdade em seu corpo era por que Cherry estava completamente nua naquela situação. Os sentidos começavam a retornar para seu devidos lugares e ela se remexia espantada se sentado em uma cama que ela não reconhecia.

A única coisa familiar em todo aquele quadro era que ao seu lado estava alguém que ela conhecia muito bem, e igualmente nu dormia ao seu lado.

— David?

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Notas finais do capítulo

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