Preguiça, Gula e Vaidade escrita por Diego Lobo


Capítulo 16
Capitulo 15 - O lado mais escuro.




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Cherry foi arrastada por toda uma infinidade de corredores e escadas. Alphonse á frente puxando seu braço, parecia que nunca iria parar.

— ALPHONSE ESTA ME MACHUCANDO! — tentava ela inutilmente, socando a mão do garoto. Quando chegaram à porta do seu quarto ele abriu em um empurrão e pegou Cherry no colo, que se debateu imediatamente.

Alphonse a jogou na cama.

— IDIOTA! — berrou ela louca de raiva.

— Cherry você esta impossível! — falou ele nervoso, deixando de lado o seu eterno sorriso — Olhe só pra você!

A garota começou a arremessar coisas no jovem, que facilmente se esquivou dos objetos voadores.

— Você me prometeu! — disse ele — Prometeu esperar a minha volta, agora sua mente esta em colapso.

— Meu deus, como você é exagerado! — resmungou ela, mas ainda se sentindo um pouco tonta.

— Você não vai sair deste quarto. Não vai trocar uma palavra com Stevan. Só vai sair para ir para escola, e visitar Mike, se quiser.

Cherry se agitou na cama se preparando para levantar, mas Alphonse bateu a porta e ela só teve tempo de escutar a porta de escutar a porta trancando.

— MAS QUE PORCARIA É ESSA? — gritava.

— Mandarei alguém chamá-la quando for a hora do jantar, até lá eu quero que descanse.

— Alphonse eu não estou brincando, abre essa droga de porta agora! — ela não tinha força para socar a porta, seu corpo formigava muito — AGORA!

— O jantar vai ser as dez! — disse ele se retirando.

— NÃO VOU JANTAR! — Alphonse parou de andar e voltou nervoso.

— ENTÃO VAI MORRER DE FOME!

Do outro lado, Cherry soltou um grunhido de fúria e começou a chorar a caminho da cama. Alphonse estava de volta, e parecia ter trago uma tempestade junto com ele. Trovejava do lado de fora.


As luzes do castelo piscaram por alguns minutos, todos já sabiam que Alphonse estava nervoso. O jovem caminhou com passos firmes até o quarto de Stevan.

Jenny, Lucius e Richard também estavam lá.

— Não foi um bom dia, não é? — falou Jenny triste.

— Não consigo entender! — começou a dizer — Eu confiei nela, confiei em você!

Stevan revirou os olhos.

— Alphonse, eu já e falei ao menos um Milão de vezes, a culpa não foi minha! — o garoto estava sentado em sua cama — Eu tentei evitar encontrar com ela, fiz tudo o que pude, mas Cherry encontrou um jeito.

— Ela vai ficar bem?

— Precisará de muito descanso e pouca luz do sol, isso irrita os olhos e provoca fortes dores de cabeça...

— Não teremos dias de sol tão cedo — falou Alphonse rápido — Jenny porque não fez nada?

— Eu tentei Al — falou ela aflita — Mas ela colocou aquilo na cabeça, estava obcecada em falar com Stevan..eu tentei, eu juro que tentei!

— Eu não fiz nada — comentou Lucius, mas foi ignorado.

— Não sei o que faço com ela, tive de pendê-la! — falou, começando a caminhar pelo quarto.

— Olha...acho que você não pode fazer isso — Alphonse lançou um olhar zangado para Stevan, que murchou —É meio que, crime...

— Ela me enganou! Me prometeu! — reclamava ele — Me deu a sua palavra!

— Não sei se traçar ela no quarto vai ser a solução — disse Jenny, mexia nas suas jóias, pensativa.

— Se quer o meu conselho, vocês dois precisam ficar separados por um tempo — disse Lucius, parecia entediado.

— E do que isso adiantaria? — perguntou Alphonse, com raiva maior.

— Nada, só não suporto vê-los juntos.

Antes que uma briga começasse, Stevan disse.

— Talvez seja uma boa idéia Al, longe de você a mente de Cherry terá tempo para pensar em outras coisas. Talvez com a sua presença ela lembre constantemente de que precisa descobrir o seu segredo..

— Eu não quero ficar longe dela, não foi pra isso que eu a trouxe!

— Só gostaria de saber — disse Richard de repente — Porque eu fui chamado?

Alphonse estranhou a pergunta, afinal ele não se lembrava de ter chamado Richard, na verdade estranhou sua presença desde o inicio já que o jovem não se interessava por esses assuntos.

— Eu descobri o que tem atacado os seus amigos — falou Stevan, chamando a atenção de todos — E tem relação com sua namorada, Sophie.


No quarto, Cherry cansou de afundar o seu rosto no travesseiro úmido e resolveu espiar pela janela. Chovia muito e seu quarto se enchia de luz a cada relâmpago.

— Odeio tempestades! — disse cruzando os braços.

Aproveitou para estudar. Nem conseguia se lembrar da ultima vez que pegara em um livro de estudos, se não fizesse isso ela seria reprovada, ao menos em um mundo real onde Alphonse não poderia interferir em suas notas. Sentia-se tão agitada, não queria ficar ali lendo, queria fazer algo. Estava inquieta.

Ficou com raiva e resolveu ligar para David. Imaginou se Alphonse estaria monitorando a chamada, desejou que estivesse. Rapidamente teclou o numero da casa de David, aquela que quase visitara, e o jovem não demorou para atender com sua voz suave e inocente.

— É estranho dizer isso, mas de alguma forma sabia que era você — disse David. Cherry revirou os olhos e começou a conversar.

Obviamente ela não tocou no nome de Alphonse, mas o jovem acabou concluindo que a garota estava frustrada com algo. Conversaram por duas horas, ela achou que o garoto ficaria cansado como sempre ficava, pois o telefone de Davis ficava no corredor de sua casa e o jovem precisava ficar de pé, mas não aconteceu. Parecia determinado em manter Cherry na linha e confortá-la.

— Nenhuma garota David? — tentou ela — Depois de todo esse tempo?

— Algumas festas aconteceram, festas do time...

— Entendo.

— Foram situações que aconteceram, se você não tivesse perguntando eu nem lembraria. Que estranho.

— Não acho — falou ela — Você estava em uma festa, ficou com garotas que nem conhece...acontece e é normal que não se lembre delas.

— Quando você coloca dessa forma faz parecer que sou uma pessoa ruim.

Aquilo apunhalou Cherry com força e ela tentou se desculpar, afinal não poderia culpar David por viver a vida. Porém... O que é esse raciocínio? O jovem tem total liberdade de fazer o que bem quiser com a vida dele, e porque ela o julgaria por suas atitudes em relação a relacionamentos. Porque estava interessada?

— Cherry?

David não ficaria eternamente congelado no tempo esperando que ela se desfizesse de Alphonse para que ele a recebesse de braços calorosamente abertos. Se sentiu egoísta por se quer parecer enciumada com o comentário dele. Não era justo.

— David, preciso ir, estou muito casada — falou.

— Mas eu não quero desligar, vamos conversar um pouco mais — disse ele um pouco agitado — Gosto tanto de ouvir sua voz.

— Tenho que ir, tchau — e dizendo assim ela desligou, tornando seu dia oficialmente péssimo.

Suspirou alto e começou a dar voltas no quarto. Deu murros na porta e chamou por Alphonse e Jenny, mas ninguém respondeu a seu chamado. Não podia acreditar que estava trancada, parecia uma prisioneira, só que em um quarto de luxo. Encostou sua testa na porta, os olhos fixados no carpete, era possível visualizar os fiapos dourados do chão, todos os pequeninos detalhes de algo tão insignificante.

— Não tinha reparado nisso? — falou ela olhando o espelho no canto do quarto, mas a verdade é que ela nunca reparou muito em tudo o que havia naquele quarto, pois era enorme e cheia de coisas.

Lembrou da passagem por trás do armário, chovia muito e não valia à pena ir até lá fora e não saberia como fugir. O espelho tinha uma pela moldura envolta, cheia de detalhes em véus dourados com um bronze escuro que ondulavam nas pontas. Ela detestou.

Observou seu reflexo. “Há quanto tempo eu não tomo um sol?” ficou se perguntando, sua pele estava pálida e ela não gostava disso. Os cabelos castanhos escovados delicadamente e alinhados em suas costas, o laço vermelho estava de volta à cabeça. Seu rosto paralisado no reflexo, os olhos cansados e castanhos fitavam a garota, sua boca cheia e rosada não sorria. Piscou uma vez, as pálpebras pareciam levantar toneladas. E piscou novamente.

Só que não foi ela.

Ela estreitou os olhos achando que imaginou algo, mas seu reflexo piscou novamente e sorriu. Foi o bastante para Cherry dar um salto para trás assustada.

— É estranho você se assustar com isso, depois de tudo o que você já viu — o reflexo da garota começou a falar.

— Isso não está acontecendo! — falou ela levando as mãos à cabeça, tentou acordar do sonho que pesava estar.

A “outra Cherry” estava de pé do outro lado do espelho, enquanto a garota assustada se encolhia no chão. Os trovões não ajudaram o medo ir embora. Tentou se convencer de que estava imaginando coisas, ou que era Alphonse brincando com sua mente, mas de alguma forma ela sabia que não era ele, podia sentir.

O reflexo sentou delicadamente no carpete, do outro lado do espelho, e a olhou com um sorriso. A postura era diferente, parecia extremamente leve e confiante, lembrava um pouco a sua mãe.

— Quem é você? — perguntou Cherry, tremia encolhida na parede, a cena era completamente bizarra.

— Você já sabe, não vou responder uma coisa óbvia dessas — disse o seu reflexo — Vai ficar ai tremendo como uma pobre coitada, ou vai vir até aqui para conversarmos?

Ela engatinhou temerosa até o seu reflexo no espelho, a imagem tremia conforme os raios caíam do lado de fora.

— O que você quer? — perguntou ela, mas seu reflexo balançou a mão para que ela se calasse.

— Cherry, você não pode deixar isso acontecer conosco — falou ela, seus olhos nervosos como se estivesse passando uma bronca — Alphonse esta te tratando como uma propriedade. Ele te trancou. Você é uma prisioneira neste castelo.

Cherry engoliu em seco, abraçando suas pernas ela tentou escutar a si mesma.

— Ele te trata como uma princesa indefesa, e pensa que pode fazer o que bem entende com você. Tudo o que queremos é descobrir a verdade, não é mesmo?

Ela concordou com a cabeça, soltava lagrimas assustadas.

— Esta na hora de começar a mudar as coisas Cherry, mas pra isso você tem que querer...

A garota engoliu o choro e tentou parecer firme igual a seu reflexo.

— Eu quero — respondeu.


No quarto de Stevan a conversa continuava. O jovem acabara de revelar o que estava acontecendo.

— Virtudes? — perguntou Richard — Isso é alguma brincadeira?

— Eu pareço estar brincando? — falou Stevan sério em sua cama.

— Não estamos compreendendo Stevan, tente ser o mais claro possível! — falou Alphonse sem paciência.

— As virtudes, assim como nós, possuem forma humana...por assim dizer. É o nosso inimigo natural — ele cruzou as pernas — Depois de pesquisar bastante, é claro que já era de meu conhecimento sobre as virtudes em si, mas nunca imaginaria que fossem encarnadas também.

— Se isso for verdade...

— É verdade — falou Stevan interrompendo Richard.

— Então continuamos sem saber o que vamos enfrentar e que tipo de poder possui.

— São sete no total, um para cada um de nós — continuou o jovem — Castidade, Generosidade, Temperança, Diligência, Paciência, Caridade e Humildade.

Jenny encolheu com o pensamento e Julius parecia pensativo. Richard estava de pé e encarava Alphonse se como se esperasse alguma atitude.

— Obviamente sabem tudo sobre nós. Quem somos, nossas habilidades, e o mais importante...

— Como nos destruir — completou Alphonse.

— Precisamos fazer algo! — disse Richard — Quem são essas pessoas?

— Foi impossível descobrir suas identidades, tem alguma coisa de estranho que atrapalha uma pesquisa mais a fundo, algo relacionado com a historia e o tempo... não há registros, nenhum rastro. É quase impossível isso acontecer.

— E como chegou a essa conclusão? — perguntou Julius de repente — Sonhou?

— Não — disse Stevan calmo — Eu me lembrei de Sophie.

Richard o encarou desconfiado, Alphonse tomou um passo a frente se colocando entre os dois.

— Sophie possui essas habilidades incomuns de curar as pessoas e nós nunca questionamos o porquê?

— Não havia o que se questionar, ela é especial! — falou o jovem loiro nervoso.

— Sim, eu concordo — falou Stevan — Mas o que ela é? Um pecado? Duvido muito.

Richard parecia um tanto perdido, como se ele me se questionara alguma vez e a pergunta retornara a sua mente.

— Ela tem toda essa bondade dentro de si, e suas habilidades não se enquadram em nenhum dos sete pecados. É algo positivo.

— Então tudo o que você precisou fazer foi pesquisar a respeito — disse Jenny tentando entender — O que teria tal poder e ao mesmo tempo tanta bondade...

Stevan abriu a boca devagar, mas foi interrompido pela risadinha de Julius.

— Claro que não sua tonta — falou — Porque ele perderia tempo fazendo uma pesquisa boba quando poderia facilmente vasculhar a mente da garota por respostas?

— VOCÊ FEZ O QUE? — explodiu.

Alphonse abraçou o rapaz para que ele não arrancasse a cabeça se Stevan, que não mexeu um músculo. Parecia aborrecido que Julius contou o que fizera.

— Stevan, por favor me diz que você não fez — pediu Alphonse.

— Al, era o único jeito! — falou ele, finalmente demonstrando emoção — Você me pediu para procurar, foi isso que eu fiz.

— Richard, era o que você queria! — disse Alphonse, ainda abraçando o amigo — Tenho certeza que Stevan não a machucou.

— Ela esta perfeitamente normal, nem se quer suspeita de nada — explicou Stevan.

Richard relaxou os ombros e apertou os olhos com força, como se estivessem em chamas.

— E o que descobriu? — perguntou com dificuldade.

—Sophie é uma virtude, descobriu isso quando era bastante nova — começou a dizer — Nessa época ela foi levada a um grupo de ânsias que explicou o que ela era e que não estava sozinha. Essas virtudes são extremamente cautelosas, é fácil notar que nesse encontro existiu algum tipo de influencia na mente da garota e as informações estão fragmentadas em sua mente.

— Você acha que mantiveram essa memória desprotegida propositalmente? — disse Alphonse.

— É possível — falou Stevan observando a expressão triste de Richard — Mas não vamos nos precipitar a julgar qualquer coisa sobre Sophie, é provável que ela tenha sido usada como parte de um plano.

— Mas em que isso seria favorável? — perguntou Jenny.

— O medo — falou Stevan — Estão brincando com nossos nervos, apostando que seremos imprudentes. Sabem de todas as nossas habilidades, me arrisco dizer que o único motivo que o impediram de atacar a todos nós no passado foi Julius.

— Julius? — perguntou Jenny olhando para o jovem descontraído em seu lugar.

— Nunca viram uma vaidade antes, tiveram receio de atacar o que não conhecem — falou Alphonse — Mas parece que isso mudou.

— O que posso fazer se não fui feito para lutar — riu Julius, mas não parecia tão confiante na voz.

Stevan foi até o tabuleiro de xadrez e moveu um peão.

— O que faremos? — perguntou Richard.

— Nada.

— Ficou louco?

— O que podemos fazer? — perguntou Stevan — Não sabemos onde se encontram e nem do que são realmente capazes.

— Imagino que possuam um poder semelhante ao meu, porque só assim poderiam se locomover tão rápido a ponde de não deixar rastros — falou Alphonse.

— Exceto que não precisam do auxilio de uma tempestade — corrigiu Stvan.

— Então é isso? — falou Richard sem acreditar — Não podemos fazer nada?

— Stevan? — tentou Alphonse.

— Tenho uma idéia de quando irão atacar novamente — falou o jovem — Mas preciso trabalhar melhor minhas ideias. A única coisa que me vem à mente agora é pegá-los em uma armadilha.

— Preciso dormir — falou Julius cansado, mas incrivelmente ainda com sua impressionante beleza intacta — Não sei vocês, mas eu tive um dia cheio e quase fui comido vivo por empresários e advogados insuportáveis.

— Reúna seus seguidores — falou Alphonse para Richard — Explique a situação, tente ao menos, amanhã faremos uma busca ao redor do castelo, não iremos muito longe.

O jovem concordou e saiu disparado para fora do quarto, Julius também não demorou a sair também. Jenny parecia temerosa junto á Stevan.

— Vamos morrer? — perguntou ela com lagrimas nos olhos.

Alphonse suspirou e sorriu.

— Não vou deixar — ele observou a expressão nada positiva de Stevan — E quero que vá para seu quarto eu volte para sua rotina, não faz bem ficar pensando nessas coisas. Pode deixar que iremos resolver.

Jenny tentou sorrir. Alphonse puxou a garota para um abraço muito apertado e cutucou sua costela, onde ela sentia cócegas. A garota riu e foi para o corredor.

— Satisfaça as suas duvidas — falou Stevan quando Jenny desapareceu.

— Sem brincadeiras, quero saber qual é a situação da mente de Cherry. Não me esconda nada!

O garoto passou a mão nos cabelos, estava chateado.

— Sua garota é muito teimosa. Conseguiu de alguma maneira retornar ao seu mundo mental e avançou muito mais do que o previsto, perigosamente rápido.

— Houve algum dano? — Alphonse sabia que no pouco tempo que Stevan tocou a garota para trazê-la de volta, foi o bastante para ter análise completa de sua mente.

— Ao que parece a mente de Cherry cobra uma coisa da garota para cada avanço.

— Como assim?

— Ela prejudica a si mesma, cada vez que Cherry se aproxima do seu segredo — disse ele encarando Alphonse — É como se ela estivesse, incondicionalmente, punindo a si mesma por invadir a sua própria mente.

— Ela abriu a porta?

— Sim. Eu estou surpreso, achei que a mente dela iria indicar que aquele era o fim da linha, e que eu precisaria agir nesse sentido, forçar um avanço. O problema é que eu teria um certo tempo para isso, preparar a mente dela.

— Mas Cherry descobriu um meio de avançar — ele sentiu uma pitada de orgulho e sorriu pensando na teimosia da garota.

— Com descanso e uma boa alimentação ela ficará bem, porém preciso te avisar sobre algo.

Alphonse suspirou bem fundo.

— Sabia que teria algo...

— Sim — responde Stevan tomando a postura de advertência — Fique avisado que para cada avanço que Cherry faz em seu mundo ira causar uma mudança na garota. Será uma espécie de transformação que poderá ser notada em vários aspectos.

— Como o que?

— Comportamento, forma de ver as coisas...é provável que tenha uma troca de personalidade também.

Alphonse sentou ao seu lado e apoiou seus braços em suas pernas. Ainda usava a mesma roupa da viagem.

— Você vai ter que ser paciente Alphonse, Cherry vai será um desafio daqui para frente — Stevan sentiu vontade de tocar o ombro do jovem, mas teve receio.

— Pobre Cherry — disse triste.

— Ela é mais forte que você — falou Stevan — Serão camadas da mente que ela vai atravessar, para no final enfrentar o seu verdadeiro eu. A verdade.

— Não queria que fosse dessa maneira — disse Alphonse cansado — Não assim.

— Quero dormir, por favor, saia do meu quarto.

Alphonse pegou o travesseiro e acertou a cabeça do jovem várias vezes. Quando saiu do quarto Jenny ainda estava no corredor.

— Você vai seguir o conselho dele e se afastar da Cherry por um tempo? — perguntou ela.

Alphonse encostou na parede, ao lado de Jenny. Olhava para o teto e fechou os olhos tentando pensar direito.

— O que você acha Jenny?

— Acho que deve procurar a resposta dentro de você, e que nem tudo você precisa consultar a mim ou ao Stevan — falou Jenny, uma estranha surpresa para o jovem.

— Tudo bem Jenny? — perguntou preocupado, mas ela balaçou a mão negativamente.

— Só tente fazer o que é certo — disse meio triste, e em seguida caminhou para longe dele.


A tempestade durou por várias horas e pela manhã era possível ver todo o gramado da frente do castelo coberto com a água da chuva. Alphonse refletia em sua janela, os raios de sol tocando o seu corpo e peito á mostra. A criada que arrumava em silencio a sua cama não resistiu em olhar o jovem sem camisa olhando para janela.

Ele fechou os olhos para localizar Cherry. Estava no quarto desde que fora trancada, não jantou na noite passada. Notou que alguns dos amigos de Richard, pecados da Ira, chegando de moto. Seria um dia cheio.

— Odeio ter que acordar tão cedo — disse Stevan ao encontrar Alphonse no corredor.

— Você diz isso todo o dia antes de ir para escola — falou, e não demorou muito para encontrar Jenny e suas jóias barulhentas.

Julius conversava com algumas pessoas de terno, parecendo completamente desinteressado. Quando viu os três resolveu segui-los, o destino era o quarto de Cherry. Ao pararem na porta Alphonse ficou temeroso.

— Com medo da fera? — perguntou Julius.

Alphonse moveu os dedos e o dispositivo eletrônico que trancava a porta fez um “clique”.

— Cherry, querida? — chamou ele, enquanto todos a aguardavam.

— Isso é ridículo, ela é nossa amiga! — falou Jenny deixando os três e indo em direção a porta, mas antes que chegasse a maçaneta girou de leve. A loira parou.

A primeira surpresa foi de Jenny, que estava mais próxima, o que deixou Alphonse preocupado e conferir o que era.

— Nossa, Cherry! — exclamou Jenny.

Cherry estava com os cabelos negros e cortados, até o pescoço e sem um corte elegante como antes. Tinha um visual como se estivesse eternamente molhado, talvez devido à tinta que fora usada. Repartido de uma forma despreocupada, ele caía dos lados meio embaraçado e mais volumoso.

Com o cabelo preto a sua pele criou um contraste forte, estava mais pálida do que antes. Usava um casaquinho preto, parecia um tanto velho e justo nos braços, e uma blusinha leve branca por baixo. Um jeans surrado não era surpresa, mas um violão preso as suas costas foi inesperado.

— Confesso que não esperava por essa — disse Julius, com milhões de comentários maldosos em mente. Cherry passou por todos, sorriu levemente para Jenny, e desceu as escadas em completo silencio.

— Isso vai ser interessante — falou Jenny, mas Alphonse estava parado ali, nem se quer piscava — Al?

Ele sorriu.

— Alphonse você esta bem? — Julius e Stevan também se aproximaram do jovem, esperando uma resposta.

— Eu... — começou a dizer com uma cara assustada, e todos se aproximaram mais, preocupados com a expressão do jovem.

— Qual foi o problema? — perguntou Julius curioso.

— Eu...

— Deve estar em choque — disse Stevan sem entender. Alphonse abriu a boca.

— Eu... — ele inchou o peito e soltou as palavras — Com tanto tesão neste exato momento.

Os três reviraram os olhos e soltaram reclamações dando meia volta.

— Preciso sair de perto dele antes que seja contagioso — falou Julius.

Cherry não tomou café, em vez disso foi direto para o carro e saiu na frente de todos. Recebeu alguns telefonemas de Jenny, mas ignorou todos. Ela apanhou seu celular e puxou os fones de ouvido, com os olhos vidrados na estrada. Foi fácil viajar em pensamentos ao som da musica tranqüila de jardinagem no site.

Foi um simples detalhe. Quando Alphonse apareceu no quarto o monitor do computador de Stevan estava desligado, então, ninguém sábia ao certo como a garota conseguira sozinha voltar ao mundo de sua mente. Tudo o que ela precisou fazer foi voltar ao site e fazer o download de todas as musicas. Na noite anterior, trancada em seu quarto, ela retornara a floresta de sua mente, mas não teve sucesso em encontrar a porta. E nem coragem de avançar até a parte escura.

Deu certo.

Aos poucos ela estava de volta à floresta, podendo sentir as folhas úmidas no chão como se fosse real. As fadas guiavam o seu caminho e as árvores pareciam respirar. Foi uma visita a sua mente que não deu resultados e a deixou cansada.

— Você esta bem? — perguntou o motorista e ela mentiu.

Antes de chegar a escola ela retornou a floresta mais uma vez.

— Vocês sabem onde fica a próxima porta? — perguntou ás fadas que rodopiavam no ar.

Não houve resposta.

— Não entendo o que uma coisa tão estúpida faz na minha mente — resmungou, mas as criaturinhas escutaram e soltaram murmurinhos enraivecidos deixando a garota sozinha.

Olhando em volta não era possível ver nada além de arvores, mesmo a distancias maiores o que se via eram borrões verde, como se a mente da garota reproduzisse ao fundo uma pintura de uma floresta.

— Chegamos — disse o motorista.

A garota fez um grande esforço para abrir os olhos. A entrada do colégio estava bastante cheia e a garota sem o uniforme e com um violão nas costas chamou a atenção de alguns. Alphonse já estava lá, fingia conversar com um grupo de garotos. Não foi surpresa alguma para ela já que havia uma gigantesca nuvem escura cobrindo toda a cidade.

Levou uma advertência quanto ao uniforme, mas não foi à única. Outras garotas também não usavam o uniforme, ao contrario de Cherry resolveram discutir sobre o assunto com os supervisores, mas a garota foi direto para a sua sala.

Cherry optou por não voltar à floresta em quanto estava em aula. Sua cabeça doía demais, como se pesasse tonelada. Nenhum professor parecia se importar com ela, ou com qualquer coisa, então ela debruçou sobre a mesa e afundou seu rosto nos braços cruzados e ali adormeceu.

Ela só acordou quando um dos colegas de turma esbarrou sem querer no violão, que fez um barulho alto.

— Desculpe — falou o jovem, assando rapidamente por ela.

Se não fosse aquele barulho ela nunca se daria conta de que já estava no intervalo. Pegou o violão e foi para área externa localizada atrás do colégio. Os alunos completamente dispersos não deram muita atenção para ela, estavam longe demais para escutar o som do instrumento. Ela se sentou na grama e encostou suas costas cansadas em uma velha árvore.

Antes que seus dedos tocassem a corda do violão alguma coisa passou delicadamente por sua orelha esquerda. Ela se virou e viu David agachado e sorrindo. Colocara uma flor.

— Combina perfeitamente com seu novo visual.

Cherry simulou um sorriso, mas retirou discretamente a flor violeta. Ela girou em sua mão, fazendo as pétalas rodopiarem devagar.

— Que musica você vai tocar? — perguntou o jovem animado, sentando ao seu lado.

Ela fechou os olhos e coçou sua cabeça, tentando mais uma vez um sorriso simulado.

— David, gostaria de ficar sozinha — disse, quase sussurrando — Se não se importa.

Mesmo com a nuvem escura o corpo de David parecia ser abençoado com algum tipo de iluminação. Sentando naquela grama, seu pescoço virado em direção a ela, os olhos semi-abertos repousavam em um único e especifico lugar. Os lábios de Cherry secaram imediatamente, mas ele não percebeu, pois ela se voltou para outra direção.

— Não quero te deixar sozinha, Cherry — insistiu — Mesmo que você queira isso, ninguém deveria ficar tão só.

Ela encarou o jovem, seu olhar petrificado. O cabelo negro se mexia com a brisa gélida tocando sua face, não precisaria falar novamente. David entendeu.

— Vou continuar esperando — disse, tocando nos ombros da garota antes de ir embora.

Cherry virou-se para observar alguém muito além de onde David estava. Junto a arvores e repleto de outros jovens estava Alphonse. Seu olhar encontrou o seu, era raro quando ele fazia isso e não sorria. Dessa vez ficou sério, diferente de seus amigos que pareciam tão falantes.

Começou a tocar seu violão. Por um momento ficou curiosa se Alphonse estava tentando adivinhar de onde ela arranjara o instrumento. Nunca contou a ele que Alex lhe presenteara com aquele violão, mas que ela jamais o usou devido ao que aconteceu na floresta.

“São rascunhos de um pensamento” — começou a cantar.

Começo a imaginar,

é uma caminhada que eu, sozinha, já não posso suportar...

Seus dedos param e assim as cordas do violam emitiram um ultimo som agudo. Cherry fitou a grama balançando, perdida em pensamentos e sem motivação para continuar a tocar. Sabia que se olhasse para Alphonse naquele exato momento ele retribuiria o olhar, pois conseguia sentir a sua presença constante.

— Porque parou? — falou a voz — Senti que viria coisa boa.

De pé estavam três garotas vestidas com roupas escuras e cabelos coloridos em alguma parte. Usavam piercing e batom preto, como se a maquiagem pesada já não fosse o bastante para chamar a atenção. Eram as garotas que sempre riam quando Cherry passavam.

— Desculpe, é um show particular — disparou ela, tentando desviar o rosto.

As garotas deram a volta e se sentaram na grama de frente a Cherry.

— Eu me chamo Olivia, mas pode me chamar de “Liv” — falou a mais alta das três. Tinha fiapos de cabelo arrepiados no topo da cabeça, algumas mechas cor violeta e muita maquiagem — Essas feiosas se chamam April e Lily.

April tinha um cabelo bem curto e picotado, seu nariz tinha um piercing esquisito. Parecia não comer a dias. Já Lily era bem rechonchuda, seu cabelo era pintado quase que por completo, se uma cor que ela gostaria muito que fosse roxo, mas era outra coisa.

— Gostei do seu novo visual — comentou April — Mudança da água para o vinho.

Cherry gostaria que elas fosse embora, mas pareciam insistentes e realmente lhe faltava vontade de começar uma briga.

— A expressão dela mudou também, quer dizer, da pra sentir daqui que ela quer arrancar nossas cabeças — disse Liv.

— Ou algo parecido — admitiu Cherry, soltando um sorriso.

A três riram.

— Você não disse o seu nome, mas talvez queira continuar bancando a indiferente... o que eu acho um máximo é claro, mas gostamos de você — falou Liv.

— Porque não vieram falar comigo antes? — perguntou Cherry — Preferiram ficar rindo da minha cara é claro, mas agora que mudei meu cabelo e minhas roupas sou mais interessante, não é?

A três trocaram olhares confusos e depois voltam a Cherry.

— Nunca rimos de sua cara — falou Lily — Te achamos interessante desde a primeira vez que vimos o seu vídeo.

A careta que Cherry fez provocou uma risada em April. Não tinha idéia do que ela estava falando.

— Encontramos um vídeo seu no site da escola, ok somos lesadas por entrar naquele site, mas gostamos do que vimos — disse Liv.

— E o que diabos vocês viram naquele site? — perguntou, começando a se irritar e com vontade de olhar para a direção de Alphonse, já o culpando por qualquer coisa.

— Você cantando em uma banda aqui na escola — disse April — E cantando bem!

— Ah...

— Sempre quis ter uma banda, só de garotas é claro — comentou April — Mas é tão difícil.

— Olha, você pode ficar sozinha tocando o seu violão e cantando para si mesma — disse Liv sorridente — Ou andar com a gente e compartilhar um pouco sua raiva.

Cherry assentiu. Como se lhe oferecessem um remédio que ela não precisasse, mas preferiu tomar mesmo assim. Não serviria para a dor que sentia, nem faria os seus problemas irem embora. Era uma distração.


Uma semana se passou. O lugar era exatamente o mesmo, as quatro sentadas na grama, apenas três conversavam e riam. Cherry não trouxera o violão dessa vez e sim um caderno para rabiscar um esboço de uma floresta e todos os lugares onde ela visitou. Bem ao norte ficava a parte mais escura que ela riscara várias vezes tentando deixar escuro o bastante.

Mike apareceu.

— Oi — chamou de repente, as três garotas trocaram risadinhas — Tudo bem?

Cherry observou o irmão, como sempre musculoso. Ela notou que haviam algumas feridas pelo corpo, os traços pareciam ter mudado também.

— Sim — respondeu inexorável.

Mike observou por uns segundos a irmã e seu nome visual, mas manteve o sue objetivo.

— Eu...queria que você fosse á casa de Muriel, vou preparar um almoço — a dificuldade em fazer o pedido era tamanha que as garotas mal puderam conter as risadas — Gostaria que você fosse.

Observou mais uma vez a expressão do irmão, tinha uma esperança e medo nos olhos, e ela desejou que ele também enxergasse isso nela. Um socorro.

— Ok — sorriu finalmente — Eu vou aparecer.

Mike pareceu satisfeito e se despediu. Não precisou nem dar três passos para que as três garotas se aproximassem de Cherry, mas ela foi rápida em explicar que se tratava de seu irmão. Não foi o bastante para que diminuísse a excitação.

— Cherry você precisa aparecer lá em casa, diz que sim ou do contrário ficarei magoada — suplicou Liv.

Não compreendia. Não importava que aquelas três garotas estivessem vestidas de preto e possuíssem tatuagens, pois nada daquilo parecia as diferencias de todas as outras garotas do colégio. Havia o mesmo comportamento eufórico de Jenny, as risadinhas assanhadas de qualquer garota que cruzasse o caminho de Alphonse, e as futilidades da Lara.

— Não sei...

— Ah, qual é Cherry! — suspirou April — Não me diga que seu namorado não vai permitir!

O rosto de Cherry congelou por um segundo.

— Meu namorado? — perguntou perplexa.

Lily olhou para outras garotas.

— Você não acha que a gente não sabe que seu namorado é o Alphonse Asmodeus, não é?

— Não gostamos de garotos normais, desses que qualquer garotinha sai suspirando — gabou-se Liv — Mas temos que admitir que seu namorado desperta nosso lado pervertido.

A três soltaram risadas altas e aquilo irritou Cherry profundamente.

— Ele não é meu namorado! — falou ela, calando as garotas — É só um amigo.

Ficaram em silencio por um tempo até que April resolveu dizer.

— Então porque moram juntos?

— Não é da sua conta! — disparou ela estressada.

— Desculpe, não queria te ofender — falou a garota assuntada — Mas o colégio inteiro comenta sobre isso, me desculpe mesmo.

Ela não conseguiu acreditar em como perdera a calma tão facilmente daquele jeito. Sentiu uma vergonha imensa e a sensação que as garotas nunca mais voltariam a falar com ela.

— Eu vou — disse de repente — Você só precisa explicar ao meu motorista...é amanhã, não é?

— Se você quiser ir Cherry, se não quiser ta tudo bem...

— Não, eu quero ir sim! — apressou-se em dizer — Eu vou.


No dia seguinte ela estranhou bastante que a sua decisão de sair do castelo não fora questionada por ninguém. Jenny estava aborrecida com ela, tinha lá os seus motivos, e Alphonse não cruzava o seu caminho, mas ela sabia que enquanto houver nuvens escuras em Newcastle os olhos de Alphonse estavam por toda a parte.

O motorista já estava informado da localização da casa de Liv, e também estava ciente da casa de Muriel. Não pretendia demorar com as garotas. Ela concluiu que seria algo bom sair com aquelas garotas, pois seria um refugio dos pensamentos relacionados á Alphonse e a sua jornada pela sua mente. Além disso, nessa semana ela não retornara a utilizar as musicas de jardinagem e se sentia revigorada.

Liv morava em um apartamento luxuoso no centro da cidade. Quando Cherry entrou já estavam todas devidamente acomodadas e dançando com alguma musica que ela nunca ouvira na vida. April sorriu para a garota, carregava uma bacia de pipoca.

Assistiram três filmes: um romance, uma comédia e um drama horrível. Cherry percebeu que precisaria se desculpar elo seu acesso de raiva, já que as três obviamente trocavam olhares temerosos.

— Eu estava estressada com algumas... — explicava — Minhas notas não andam bem. Coisas desse tipo.

— Tudo bem — falou Lily — Você pode descontar na gente toda sua raiva e frustação.

— Desde que esteja preparada para a nossa também — comentou Liv sorrindo.

— Pode mandar! — respondeu Cherry, e as três riram.

Comentaram sobre suas vidas e seus problemas, sempre acompanhado de petiscos. Cherry conheceu o quarto de Liv. Era tudo o que ela esperava, não poderia ser mais previsível. Vários pôsteres de bandas de rock pela parece escura e camisas e outras coisas derivadas. Era tudo tão forçado que ela tinha sérias duvidas se a garota gostava realmente daquelas coisas.

April apareceu no quarto com uma garrafa.

— Nossa já esta pronto? — perguntou Liv lambendo os lábios.

— O que é? — perguntou Cherry baixinho para Lily.

— Um dos famosos “drinks” da April. É bem gostoso porque ela sempre mistura com algo doce.

“Tenho certeza que você deve adorar” pensou Cherry com maldade.

— Não obrigado, eu não bebo — recusou ela, assim que April estendeu a garrafa. Estavam sentadas na cama de Liv.

— Acredite Cherry, vai te ajudar esquecer seus problemas um pouco — Liv deu uma golada na garrafa, parecendo exageradamente animada.

Cherry revirou os olhos.

— Se entrega uma vez só Cherry — falou April — Você é tão fechada.

A garrafa praticamente falava com ela já que as três ofereciam o tempo todo. Como ela previu que seria insuportável permanecer com as três depois que ficassem realmente animadas, ela resolveu pegar a garrafa.

O cheiro não era forte. Parecia ser algum tipo de bebida alcoólica misturado á algum doce de leite ou algo do tipo. Deu uma golada, não estava nada mal. Para silenciar a frustração das três ela bebeu mai um pouco, sendo louvada com tapinhas.

— Essa é minha garota! — disse Lily carregada de sotaque britânico, o que tornou a frase engraçada.

Mas algo aconteceu. De repente Cherry sentiu um formigamento nas pernas, mas não foi algo normal, que geralmente acontecia quando ela bebia. O efeito era rápido demais. Seus braços moles nãos conseguiram suportar o peso do corpo e ela deitou de costas. As amigas riram daquilo e deitaram ao seu lado, todas olhando para o teto de pôsteres e rindo.

Mas Cherry não estava rindo. Algo estava acontecendo com ela. Não conseguia mexer o seu corpo nem pronunciar uma só palavra. Sua visão começava a embaçar e seus olhos permaneceram bem abertos. Quando ela percebeu o que estava acontecendo ela entrou em pânico, mas era tarde demais. Estava na floresta.

Dessa vez ela não tinha controle algum. Não conseguia caminhar nas folhas úmidas, mas seu corpo flutuava para frente. Adentrado as arvores e passando pelas fadas, ou borrões luminosos. A bebida retirou o seu controle ao invés disso a garota parecia estar sendo dragada por sua própria mente, para o fundo da floresta.

Seu corpo chegou no lado escuro. Não havia sons de seres fantásticos, nem o balançar das arvores. Finalmente seus pés tocaram o chão.

— Droga! — falou sem fôlego.

Tudo ganhou uma profundidade absurda. Era tudo real para ela, podia sentir o cheiro da floresta, os detalhes sombrios eram nítidos. Todos os contornos e sombras, tudo foi intensificando. Escutou algo andando entre as folhas. Soltou um gemidinho e começou a andar.

Mas para onde?

Era impossível ver para onde ir, só conseguia andar mais rápido.

URG

Ela gritou quando escutou o barulho. Era a criatura novamente.

— NÃO! — berrou desesperada.

A criatura elava a poucos metros a sua frente e quando viu Cherry correr disparou em sua direção em fúria e urrando. Ela elava em pranto novamente, esbarrando em ganhos e folhas cortantes, podia sentir o hálito quente da coisa. Sua garras dilacerando tudo a sua frente.

— SOCORRO! — ela luata com todas as forças, se embrenhando em lugares apertados e se espremendo para sair deles, enquanto a criatura estendia seu braço comprido até seu rosto escorregadio. Ela caiu no chão e começou a rastejar.

Mas algo a puxou.

— NÃO! — urrou.

A criatura fechou as garras nos tornozelos da garota e a puxou para si. Cherry lutava como podia, agarrando no solo e gritando. Era impossível ver os detalhes da criatura porque ela parecia ser feita de escuridão.

Quando finalmente trouxe a garota para perto ele a virou. Cherry gritava a todo pulmão, torcendo o rosto, tentando desviar daquele hálito quente e mortal. A criatura soltava um barulho horrendo, como de uma boca enorme se abrindo aos poucos com os estalos da saliva.

Em um movimento ela rasgou a blusa da garota. Ela chorava se debatendo na escuridão total daquela floresta. Suas roupas sendo rasgadas, ela conseguia sentir com toda intensidade sua pele desnuda no chão. Seus olhos arregalados até a alma enquanto a criatura se aproximava mais e mais dela. Gritava, berrava, urrava por socorro. Mas ele não veio.

Enquanto isso no quarto as três adormeceram com sorrisos no rosto, mas Cherry permanecia imóvel e de olhos abertos.



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Notas finais do capítulo

curtam a pagina de Luxúria no Facebook e até o próximo :) http://www.facebook.com/pages/Lux%C3%BAria/203164129762965



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