Preguiça, Gula e Vaidade escrita por Diego Lobo


Capítulo 15
Capítulo 14 - Arena




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Capitulo 14 – Arena


— Pode entrar! — disse Felix, o jovem de cabelos arrepiados. Parecia o sol com todos aqueles fios espetados, mas era o sorriso que reluzia.

Mike entrou meio envergonhado, aquele era o quarto de Sebastian e ao contrario do seu era gigantesco. Todos estavam espalhados pelo chão, alguns sentados em “puffs” e outros sentados no carpete.

— Foi bem difícil encontrar esse quarto, acho que me passaram a informação errada — disse ele sentando ao lado de Lena, que comia um saco de marshmallows.

O quarto era extremamente organizado, com tudo em seu perfeito lugar. Haviam muitos livros alinhados em toda parte, uma mesa de xadrez, e uma lousa. Mike estranhou a lousa, ou quadro escolar para seu infortúnio, com muitas coisas rabiscadas em giz.

— Pensou que iria fugir da escola? — perguntou Lena contendo a risada — Aqui também temos algumas aulas, só que são sobre coisas diferentes.

— Hoje a aula vai ser especialmente pra você Mike — disse Sebastian de pé. Ao seu lado estava Felix, rabiscava alguns nomes no quadro.

— Salgadinhos? — ofereceu Edgar, comendo um pacote deles e deixando cair em sua barriga redonda.

— Nada de sujeira no meu quarto! — disse Sebastian nervoso.

— Olá Mike — disse a voz rouca de Caleb, o jovem negro estava bem ao seu lado.

— Oi — cumprimentou desconcertado.

— Como esta sendo o seu primeiro dia de Virtude? — perguntou Gaspar, o único dos jovens que só tinha um braço.

— Não sei explicar — disse — Começo a sentir as coisas de outra maneira...coisas que antes eu desconsiderava.

— Vejamos Mike — começou a dizer Felix — Você provavelmente já conhece todos, isso vai ser um pouco de informação repetida, mas vai ajudar a entender.

Ele se ajeitou no seu lugar e procurou prestar atenção no quadro.

— Adão e Eva — falou Felix — Ao contrario do que todos sabem, teve não dois ou três, mas sete filhos. As encarnações do pecado.

— Ou do demônio — acrescentou Sebastian.

Felix começou a pregar a foto de cada um dos jovens que morava com Alphonse em seu castelo, e que ele conhecia como “Os sete”.

— Vamos começar pelo líder desse grupo incomum, já que nunca se viu tantos pecados, de diferentes tipos, juntos — Felix apontou para a foto convencida, e um pouco engraçada, de Alphonse — É o pecado mais poderoso. Seus poderes possuem relação com os impulsos elétricos do corpo, literalmente falando. Raios! Na tempestade se tornam poderosos e escorregadios.

— A luxúria nesse caso é original, ou seja, um trabalho muito maior para nós — falou Sebastian.

— Não consigo compreender o que o fato de ele ser “original” tem haver com ser mais ou menos perigoso.

— Tudo haver! — respondeu Felix — Pecados originais são muito mais perigosos que os comuns, ou aqueles que ganharam a maldição. Seus poderes e o leque de habilidades são maiores.

— E tem algo que chamamos de “forma original” — falou Sebastian encarando Mike.

— Forma original?

— Pecados originais não são humanos, nunca foram. Possuem uma casca de pele, mas por de baixo existe uma outra forma e ela costuma revelar-se quando se sentem ameaçados — disse Felix.

— A verdadeira face da Luxúria é extremamente perigosa. Ela possui uma aparecia felina, não conseguimos compreender o porquê disso — O jovem de cabelos arrepiados circulou a foto de Alphonse.

— O pecado da luxúria é o mais populoso que existe, existem vários ao redor do mundo e continuam a se multiplicar.

— É um trabalho difícil imagino... — comentou Mike.

— Sim, mas com o tempo as virtudes descobriram que a solução para isso é matar esses que são os pecados originais. Ao contrario de suas “crias”, essas não estão em grande numero.

— E matando os “Originais” você acaba com as crias?

— Exato, mas não é um trabalho fácil de qualquer jeito — disse Sebastian — Passemos para o próximo.

Ele apontou para Jenny.

— O pecado da Gula — falou Felix — Ao contrário do que se popularizou, a Gula nada tem haver com o fato de comer demais e sim do desejo de se ter em excesso, muito mais do que necessita e se pode possuir.

— Em geral são fracos, mas a sua habilidade de criar um outro individuo, uma outra parte do seu ser, é irritante e dificulta encontrar o original — falou Sebastian.

Edgar, o gordo, engoliu todos os salgados de uma vez e tossiu.

— Mesmo os pecados da gula que foram “criados” possuem um original, que se destruído pode acabar com as réplicas. É muito raro se encontrar um pecado original, então não sabemos como é a sua forma — disse o gordo.

— Nosso amigo Edgar é a Temperança e é o inimigo natural da Gula. Mesmo que não aparente muito pelo tamanho — disse Sebastian soltando uma risadinha.

— Não gosto muito do termo inimigo Sebastian — falou Edgar comendo.

— Sabe, não é engraçado que o pecado da Gula seja uma menina tão magrinha e o seu oposto, a temperança, seja um balofo? — riu Sebastian, mas ninguém ali se quer sorriu — Só estou sendo engraçado, como vocês são tediosos.

— Bem... O próximo pecado é a Inveja — falou Felix quebrando o clima — Não precisamos mais se preocupar com Veronica Levi, já que ela esta obviamente morta, mas recentemente descobrimos que existe uma presença poderosa em Newcastle, um pecado recém criado por sua querida avó.

Todos esperaram que Mike dissesse alguma coisa, mas ele ficou calado.

— Então...o pecado da Inveja é muito traiçoeiro, perigoso e manipulador. Mesmo que seja fraco fisicamente, a habilidade de copiar a imagem de outra pessoa é perigosa demais e a sua influencia é muito grande.

— Precisamos acabar logo com essa nova inveja — disse Sebastian, dessa vez Mike não conseguiu ficar sem transparecer algo e isso foi notado — O que foi Mike, algum problema?

Mais uma vez a atenção se voltou para Mike, sentando de olhos confusos sem saber escolher as palavras.

— É isso que fazemos Mike, matamos pecados — disse Sebastian com simplicidade — Alphonse, o namorado da sua irmã, precisamos matá-lo também.

— Sebastian... — falou Felix.

— Ele precisa saber o que fazemos — rebateu o jovem de cabelos loiros encaracolados.

De repente a figura de Alphonse veio em sua mente, e sua famosa frase “Mike você é uma pessoa especial”. Inevitavelmente lembrou de sua irmã Cherry e como ela o amava.

— Eu tenho isso em mente — respondeu Mike sério.

— Ótimo.

— Não podemos perder tempo, planejamos isso á tempos ­— falou Lena de repente — Eu sou responsável por resolver o “problema” da Inveja, já que sou a Caridade, e posso dizer que algo precisa ser feito rapidamente. É uma presença maligna demais, posso sentir de longe!


— A preguiça é o pecado mais fácil, por assim dizer. Em geral são sempre muito jovens e descuidados. Muitos morrem enquanto usam seus poderes — falou Felix apontando para foto de Stevan, o jovem tentava deixar tudo claro, mas a verdade é que aquilo era muito confuso para Mike.

— Possuem poderes da mente, podem controlar outras pessoas com suas habilidades ou induzir a um coma profundo — Sebastian deu alguns passos — No caso de Stevan Belphegor se trata de um jovem muito inteligente e provavelmente será o responsável por descobrir nossas identidades.

— E Gaspar cuidará da preguiça por todos nós, não é? — o jovem que antes parecia sempre alegre e falante estava, naquele dia, um tanto calado.

Mike observou o jovem que não tinha um dos braços, imaginou como deveria ser terrível ter uma missão como aquelas, matar alguém tão jovem como Stevan que deveria ter quinze ou quatorze anos. Teria perdido o braço em uma de suas “missões”?

— Não são humanos, entendam! — disse Sebastian — São demônios!

— Esse vai te interessar Mike — falou Felix rapidamente, apontava para a foto de Richard — A ira, o pecado mais instável e devastador de todos é sempre um problema pra qualquer virtude.

Ele não escondeu o seu interesse maior no que era dito naquele exato momento, sentia que deveria levantar e ficar ao lado de Sebastian para prestar algum tipo de presença, mas se conteve.

— As habilidades da Ira são sempre relacionadas à força e ao fogo. É um pecado altamente destrutivo, não se importa em devastar tudo o que estiver à sua frente e esse é o seu maior ponto fraco.

Sebastian cruzou os braços.

— Geralmente os que possuem o pecado da ira acabam causando sua própria morte — ele inspirou fundo — A tantos casos de prédios ou qualquer tipo de construções, destruídos pela ira. São dos escombros que encontramos os corpos dos jovens, calados pelo próprio poder.

Felix circulou a foto de Richard varias vezes.

— Nenhuma pessoa consegue carregar o pecado da ira por muito tempo, é justamente por isso que os que nascem com essa maldição acabam morrendo com pouco tempo de vida.

— Então não existe o pecado original da ira? — perguntou interessado.

— Não — respondeu Felix — Mas os que buscam esse poder já sã poderosos o bastante, possuem até uma segunda forma, que você deve conhecer Mike.

Richard era tomado por fogo quando sua ira chegava a níveis extremos. Ele nunca esqueceria daquela cena em que sua irmã tentou salva-lo e ele quase morrera.

— Richard não nos preocupa tanto quanto Alphonse. Suas “crias” são jovens estúpidos que não pensam antes de partir para um ataque — falou Sebastian com simplicidade — Precisamos elaborar uma maneira para que ele leve seus amigos pecados junto com sua ira.

— Você faz parecer fácil — disse Mike intrigado e meio confuso.

— Se você conseguir ser tão bom quanto eu, Mike, talvez até seja — o jovem sorriu — Mas por enquanto você é só um peão.

Lena lhe beijou na bochecha.

— Nosso peão gostoso.

— A vaidade... — disse Felix circulando a foto de Julius — Não temos nenhuma informação sobre as habilidades deste pecado, nada foi registrado. Isso nos fez recuar um ataque inicial, afinal, jamais alguma virtude enfrentou este pecado antes.

— Porém, depois de uma intensa observação dos passos deste jovem, acabamos por concluir que ele não apresenta perigo algum e suas habilidades provavelmente tem haver com sua aparência e o quão persuasiva ela pode ser — falou Sebastian.

— Não entendo, se a vaidade é uma raridade como você diz, qual é a serventia de uma virtude que a combata? — perguntou Mike.

— Você esta certo... — disse Felix — Eu sou a virtude da humildade, a que contrapõe a vaidade, e realmente não vejo muita serventia para este título. Entretanto, isso nunca me impediu de ajudar as outras virtudes. Eu espero que entenda os nossos objetivos que não são focados em um pecado somente, mas sim em todos.

O jovem ficou meio pensativo, mas Sebastian soltou uma risadinha e esclareceu.

— Significa que mesmo que você seja uma virtude destinada a combater um pecado especifico, a sua obrigação esta em combater a todos.

— Muitos de nós sequer já combateu o seu pecado objetivo — falou Lena — Eu, por exemplo, jamais encontrei um pecado da inveja antes..Posso ter contado por ai que sim, mas a historia verdadeira é outra.

— Eu já saquei, nem sempre enfrentamos quem estamos predestinados a enfrentar — disse Mike cruzando os braços, se sentia um pouco importante.

— E por ultimo, a avareza — falou o jovem de cabelos arrepiados e circulou muitas vezes a foto de Christopher, mais do que as outras — Será nosso primeiro alvo.

— Graças a sua separação do grupo, Christopher esta vivendo em uma mansão no campo. Não tem muita proteção e esta longe da cidade — Sebastian direcionou seu olhar para Caleb no fundo do quarto — Temos a sorte de ter do nosso lado um famoso matador de pecados, ok estou brincando, mas Caleb já deu fim a um numero considerável de “avarezas”.

— Muito mais do que uma alma possa agüentar — falou o jovem escuro com dificuldade. Ele era a virtude da generosidade.

Tinha algo que Mike não conseguia explicar. Havia um campo de força maluco, uma presença, algo indescritível sobre Caleb que fazia ele se sentir estranho, como se aquela pessoa carregasse uma infinidade de experiências, e isso o envelhecia. Parecia um jovem sábio, como se apenas seus olhares fossem o bastante para dizer qualquer coisa.

Um desses olhares, repleto de significativos, repousou sobre Mike e ele encolheu imediatamente, sentindo que ali não era seu lugar. Mesmo com aquela sensação tentou ignorar.

— A primeira fase de extermínio dos “sete” começa com esse cara — falou Félix — Quando todos nós julgarmos se você esta preparado ou não, iremos avançar no nosso plano.


— Eu vou conhecer o chefe de vocês algum dia? — e outra vez ele conseguiu a atenção de todos — Sabe... o cara que esta faltando, a ultima virtude.

— O “castidade”? — perguntou Félix — Ele já sabe sobre você Mike, deixou a escolha em nossas mãos.

— E com isso se encerra nossa pequena aula! — falou Sebastian entediado — Por favor, saiam do meu quarto.

Todos riram, parecia fazer décadas desde a ultima vez que se ouvia uma risada devido ao clima tenso.

— Para alegria dos seus músculos Mike, amanhã haverá uma pequena avaliação para ver se você serve para entrar em nosso engraçado grupo.

— E quando o Sebastian diz “pequeno teste” ele quer dizer que você terá que lutar com outros caras para conseguir isso — falou Gasper, finalmente abrindo a boca.

— Mal posso esperar — mentiu, Lena massageou suas costas.

No corredor, Mike e Lena se separaram do restante do grupo, estavam a caminho do quarto do jovem. A porta mal fechou quando ele a tomou em seus braços e a beijou com loucura, ela sorria desavergonhada enquanto ele mordia seus lábios.

— O que esta acontecendo comigo? — perguntou chutando a porta para fechá-la. Tirou o cinto de sua calça em um segundo e Lena sentada na cama puxou a calça para baixo.

— Mike White você continua a usar essas cuecas ridículas! — não havia nada de incomum na roupa de baixo do rapaz, mas Lena sempre quis que ele usasse algo mais provocante.

Ele retirou sua blusa deixando os músculos saltarem os olhos de Lena, que deu uma risadinha e mordeu seu dedo.

— Mike, meu deus, não te reconheço mais! — ela soltou uma gargalhada quando ele se jogou para cima dela fazendo cócegas e lhe cobrindo de beijos.

— Porque estou tão louco? — perguntou, sem conseguir parar de beijá-la.

— Seus sentidos estão intensificados, você quase explodiu quando eu toquei no seu ombro lá no quarto do Sebastian — ela soltou uma risada.

— Cala boca!

— Não é engraçado? — disse ela ofegante enquanto Mike a despia rapidamente, o quarto tinha pouquíssima luz — Fui eu quem roubou a sua primeira vez, e agora farei isso de novo em sua nova vida.

— Você, Lena, é uma ladra! — falou ele engolindo o pescoço da garota — Roubou meu coração..

— Não acredito que você disse isso! — ela ria — Eu sabia que iria dizer algo tão clichê assim, é bem a sua cara Mike!

— Já disse pra calar essa sua boca! — ele puxou as pernas da garota para si, como se ela fosse feita de papel, com brutalidade de desejo.

Mesmo no escuro os lábios de Lena reluziam em desejo. Ela passou os seus braços envolta do pescoço do rapaz, seu corpo estremecia em chamas, se aproximou perigosamente do ouvido do rapaz.

— Isso vai ser uma experiência alucinante Mike, prepare-se para ir ao espaço e voltar em apenas cinco segundos — disse ela com a voz fraca e provocante.

Ela estava certa.

Lena não estava ao se lado pela manhã, mas aquilo não surpreendeu Mike. Sua visão não estava embaçada e nem o seu corpo estava mole. Simplesmente acordou como se tivesse fechado os olhos por um segundo.

— Já estou indo! — respondeu ele imediatamente, pouco antes de Edgar abrir a porta do quarto.

Consegui sentir. Do lado de fora estavam Edgar, parecia comer algum tipo de frango, e um pouco atrás estava Gasper. Em algum lugar ali perto Félix andava de um lado para o outro e fumava um cigarro nojento. Mike podia sentir a presença deles, e de muitos outros monges que andavam pelos corredores.

— Dormiu bem? — perguntou Félix.

Mike sorriu brevemente e seguiu os jovens para fora do mosteiro. O dia parecia agradável, se não houvesse uma gigantesca arena e vários jovens gritando sem parar.

— Acho que fico esperando que vocês digam que é tudo uma brincadeira e que não terei que enfrentar ninguém — falou Mike, observava a reação de Edgar que não o confortou nem um pouco.

— Desculpe.

— Tudo bem, acho que tive uma vida boa — disse ele — Exceto que não tive.

Félix deu um tapa em suas costas.

— Ânimo, talvez você se divirta!

Alguns dos monges pareciam deixar de lado suas formalidades religiosas e se entregavam a juventude. Das “arquibancadas” eles berravam enlouquecidos e vaiavam, fizeram isso quando viram que Mike se juntou a outros rapazes, era uma energia intensa. Estava em logo a baixo das arquibancadas, o barulho de pés batendo era ensurdecedor.

— Parece um coliseu — comentou Mike baixinho.

— Tente não mijar nas calças, garoto novo — o comentário partiu de um imenso monge careca, difícil saber se era realmente um monge.

Outros jovens encararam Mike de cima em baixo, o clima ficou pesado de repente e ele compreende a seriedade da situação. Ninguém sorria ali, alguns tremiam nos cantos, outros treinavam golpes no ar. Félix e Edgar desapareceram.

— Bom dia! — disse Lena ao entrar no lugar, mas não estava falando com Mike apenas e sim com todos que estavam ali.

Ela sorria e trazia consigo um saco de couro surrado, ela jogou no meio dos jovens.

— Essas serão as armas que usaram na arena — disse a garota, um dos jovens meteu a mão e retirou uma espada. Não era de metal e sim de algum tipo de material transparente, como vidro.

Algo estranho aconteceu. Assim que o jovem monge apertou seu punho para segurar a arma, uma luz intensa tomou a espada tornando-se um objeto luminoso.

— Essas armas refletem o poder que cada um de vocês carregam, não se preocupem se elas não acenderem com qualquer um de vocês, pois é perfeitamente normal.

O monge musculoso e careca retirou do saco um gigantesco machado transparente que se encheu de luz. Ele soltou uma risadinha deixando a mostra seus dentes amarelados. Mike não teve pressa, mas quando chegou sua vez ele retirou uma espada. Nada aconteceu quando ele a segurou.

— Eu disse que acontece — falou Lena passando por ele — Espero que estejam todos prontos, porque o portão será aberto agora!

Quando ela terminou de falar todos escutaram o barulho da grade de metal se levantar. Houve uma correria insana para chegar até a arena, o monge gigante derrubou alguns em seu caminho. A arena era algo totalmente fora no mosteiro. O ambiente era muito diferente.

Mike notou que ninguém usava qualquer tipo de proteção, muito pelo contrario, usavam trapos típicos de mosteiro e alguns nem isso. Ele ergueu sua espada de vidro, obviamente não se tratava de vidro e sim algum outro tipo de material que ele desconhecia, era meio pesado para ele, o que fez pensar em como os monges mais magros estariam sofrendo naquele momento.

A luta não começou. Todos esperavam por algum tipo de anuncio.

— Que comece de uma vez! — urrou um monge perto de Mike, parecia apavorado, sua arma era uma corrente, mas ela não reluzia.

Sebastian e Gasper estavam na arena, sorriam com uma simplicidade incomum. Quando o loiro de cabelos cacheados levantou a mão os gritos de euforia se calaram imediatamente.

— Lutaram até que sobre apenas um — disse Gasper — Os desacordados serão recolhidos como derrota.

— E os mortos serão enterrados com a vergonha — disse Sebastian sorrindo, mas Gasper o olhou de lado achando que o comentário fosse sério.

— Seus oponentes não serão somente monges, mas sim duas virtudes completas que irão circular pela arena.

— Não iremos pegar leve — comentou Sebastian mordendo os lábios.

De onde estava os monges cochichavam baixinho e Mike pode ouvir o monge gigante comentar:

— Ótimo, um sem braço e outro viadinho. Isso vai ser moleza! — rosou contendo a sua risada.

Mike tinha certeza que Sebastian escutara aquilo, pois podia ver seus olhos reluzirem de hesitação em começar.

— Comecem! — berrou Gasper, e de repente o corpo das duas virtudes ganharam uma luz própria. Deslocaram-se para extremidades da arena.

Todos exclamaram surpresos. Não demorou muito para que os olhares preocupados e desesperados tomassem a face de cada um dos jovens inclusive o de Mike. Começaram a correr. De longe ele conseguia ver Lna parada o encarando com um sorriso perpétuo, de alguma forma ela perdera sua humanidade para ele, parecia um ser diferente.

— O que devo fazer? — perguntou para ela, mesmo a muitos metros de distancia ele sabia que ela o escutaria.

— Ganhe — respondeu ela e se retirou com naturalidade e frieza.

Um jovem berrava ao seu lado brandindo sua espada luminosa ele tentou golpear Mike, mas ele conseguiu se esquivar por pouco. Segurou o braço do rapaz, os olhos arregalados esperando ser nocauteado, o medo escorria por sua testa. Ele o soltou

O jovem não entendeu o que aconteceu e saiu correndo. Mike não queria fazer aquilo, mas sabia que era algo inevitável na situação que se encontrava. Ele observou a arena, os berro enlouquecidos, não consegui distinguir um rosto do outro. Os monges da arena, dispersados para todo o canto, eram arremessados para longe pelo borrão luminoso das virtudes que se moviam a uma velocidade incrível.

Sebastian parou e seu corpo voltou ao normal. Sorria em alegria golpeando sem dificuldade alguma todos que se atreviam a cruzar o seu caminho. Gasper arrastava pelas pernas alguns que tentaram fugir, sem sucesso, e o jogou para fora da arena como se fossem trapos.

Mike observou o monge brutamontes, golpeando outros jovens com agilidade e nem por isso menos brutal. Não se conformava com os que desmaiavam, usando esses para acertar outros remanescentes. Ele sentiu que alguém percebeu a sua distração e com agilidade se aproximava de suas costas, teria que fazer algo.

Girou com sua espada acertando as pernas do monge que girou no ar e caiu no chão desacordado. Outros vieram, dois ao mesmo tempo.

AHHH

Um conseguira golpear suas costas, usava um corrente luminosa e a dor fora alucinante, como milhões de agulhas penetrando na pele. Mike o golpeou com um soco na cara, o rapaz girou no mesmo lugar antes de desacordar. O outro teve seu golpe rebatido por ele, ambas as armas não possuíam luz própria, mas Mike fora mais rápido e acertou um golpe no estomago.

— Chato! — cantarolou Sebastian ao passar como um borrão ao seu lado, Mike fora arremessado para longe, mas algo estranho aconteceu.

Ele não deixou a arena como os outros. Seu corpo se tornou estranhamente pesado e antes de atingir a arquibancada sua perna alcançou o chão e levantou poeira e terra até parar. Ele suspirou aliviado, mas esse momento durou pouquíssimo.

Bem na sua frente o monge gigante girava um jovem magricela, que berrava. Quando os olhos do rapaz encontraram o de Mike ele jogou o pequeno monge para o lado e abriu seu sorriso amarelo.

— Vai fazer com que meu treinamento tenha valido a pena? — perguntou o monge, erguendo seu machado ameaçador.

Mike apertou os punhos em sua espada, trazendo-a para frente de seu rosto e apontando a lamina para o gigante. Ele bufou e deu um passo para frente, mas aquilo foi rápido demais, os passos tomaram uma dianteira que Mike não esperava e quando mesmo percebeu a sombra gigantesca estava bem a sua frente. Ele pulou.

A multidão soltou uma exclamação imediata e confusa. Não foi um pulo comum, Mike estava a muitos e muitos metros do chão. Conseguia ver a arena por completo, as pessoas se movimentavam agitadas.

— CACETE! — exclamou espantado ao perceber o que fizera.

O movimento desesperado do jovem para fugir do jovem o impulsionou para cima, muito acima. Seu coração acelerou com força quando percebeu que seu corpo cedia a gravidade e começava a cair. Ele soltou grito que acompanhava sua queda.

O que houve foi que o seu corpo perfurou o chão a ponto de fazer um enorme buraco. Mike não estava morto, ele não sentiu nada alem de uma pequena dor no traseiro. Quando ele deixou o buraco foi recebido com uma euforia maluca.

— Esse é o espírito Mike! — disse Gasper.

Mas o monge gigante ainda estava lá, meio confuso com o que Mike fizera, porém com seu objetivo ainda em mente. Começou a correr na direção dele.

Mike percebeu que tudo mudara. Ele não era mais o mesmo, não tinha mais a força de uma pessoa comum, o veneno funcionou de certa forma, não havia o que temer. Jogou sua espada fora e olhou para os seus punhos e encarou também seu objetivo.

Desviou do primeiro golpe, que levantou bastante terra no chão. Mike segurou o braço gigante do jovem e o derrubou com força no chão. Parecia um elefante caindo e fazendo tudo tremer. O monge levantou tonto, mas não demorou a voltar a atacar Mike, dessa vez com sucesso.

Arremessado até a base da arquibancada, vários expectadores caíram para os lado enquanto parte da construção cedia ao impacto do corpo de Mike colidindo com a parede. A pancada doeu um bocado, e foi uma grande surpresa quando ele saiu da fumaça, não andando, mas em um salto sobrenatural para frente. De encontro com o monge, os dois jovens foram arrastados pela intensidade do choque, vários outros monges que ali duelavam, foram levados pela terra que se levantava.

— Você luta bem — disse o monge gigante, sua cara meio retorcida e cuspindo dentes.

— Você também! — disse Mike sem fôlego, sentia algo quente descer por sua testa, mas não dava a mínima — Preciso te vencer, nada pessoal!

Os dois riram.

— Anos de prática! — falou o monge — Deixei minha casa, não me arrependo...não tinha nada lá. Esse é o momento da minha vida, se não conseguir agora, então que seja o meu fim!

Mike não iria ceder, conseguia sentir a vitória em suas mãos. Avançou com um soco no rosto do monge, o impacto foi grande, mas não o bastante. Um golpe no estomago fez com que ele deixasse o chão mais uma vez, e outro na testa fez com que retornasse para terra.

Mike estava quase desacordado.

— Cara, eu sinto muito que tenha esperado tanto — disse Mike cuspindo sangue — Mas quer saber, esse também é meu momento...e que seja a sua historia! Eu também estou construindo a minha e que se dane a sua! Não vou ter pena de você!

O monge sorriu, seu rosto desfigurado e engraçado.

— Obrigado deus, você era o oponente que tornaria esse momento tão honrado — Mike levantou, seus punhos estendidos — Venha e vamos acabar com isso!

O monge errou por muito pouco o seu golpe, e isso foi sua ruína. Mike acertou um golpe, que tremeu o lugar, e mais outro e outro. Seu corpo já possuía um gingado bêbado de quem sentia suas forças esvaírem por cada golpe que dava, era um sacrifício se quer respirar.

— Outro dia — disse ele sorrindo e caindo de joelhos.

O monge que ainda estava de pé soltou um barulho, um gemido, e caiu como uma árvore, estirado ao chão e levantando poeira. Derrotado.

O mundo se encheu de gritos e euforia.

Os outros que ainda permaneciam de pé, foram com facilidade derrotados pelas virtudes que corriam em borrões. Mike fechou seus punhos na terra, usando os braços estirados como suporte para não desmaiar. Seus olhos apertados e o corpo gritando de dor.

Ele ergueu sua visão para as duas pessoas a sua frente.

— O que acha Sebastian? — perguntou Gasper.

— Não me pergunte essas coisas, você sabe que eu gosto de brincar até não poder mais — falou o loiro.

— Então eu digo que temos um vencedor — riram os dois.

Mike também sorriu, e com isso pode desmaiar também.



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