XI. Brigas de um quase casal.

  Blake pagou o seu café e o de Nikki e os dois saíram do Starbucks, caminhando tranquilamente, dobrando a esquina da 96th com a Avenida Madison. Nikki estava quieta e parecia querer evitar qualquer tipo de conversa. Mas não custava tentar. Novamente.

- Sinto saudades desse lugar – Blake murmurou, olhando ao redor – É realmente uma pena ter que estudar tão longe de Nova York.

- É... – disse Nikki, olhando para os lados.

- Então vai ser assim? – perguntou Blake, parando na frente de Nikki, que ficou meio assustada.

- Assim como?

- Você vai ficar calada desse jeito, com essa cara? – ele não sabia ao certo porque o comportamento de Nikki o incomodava tanto, só sabia que incomodava. Não era do feitio da Nikki ficar quieta e amuada. Blake estava quase sentindo falta dos “cala a boca” e “por que estou namorando de mentira com você, mesmo?”, não que ele assumisse isso, claro. Mas ele seria a pior pessoa no mundo se ao menos não se desse o esforço de arrancar um sorriso de Nikki ou até melhor, um comentário sarcástico.

- Eu só tenho essa.

- Não. Não tem e você sabe – cortou – É por causa daquele cara? O Adam?

  Nikki olhava para todos os lugares que não fossem os olhos de Blake. Estava na cara de que ele tinha acertado na mosca.

- O que ele fez pra você, Nick? – ele suavizou sua voz, segurando o ombro de Nikki carinhosamente, procurando por seus olhos.

- Nada – ela gaguejou.

  Blake sorriu, pegando o queixo de Nikki e levantando seu rosto, obrigando-a a olhá-lo.

- Você sabe que eu sei que você está mentindo.

  Nikki empurrou o braço de Blake para o lado e começou a andar, deixando-o para trás.

- Não é da sua conta, Blake.

- Talvez realmente não seja, mas confesso que não gostei daquele cara e estou muito irritado com o fato de que ele conseguiu te deixar desse jeito – disse Blake, conseguindo alcançá-la.

- Não precisa bancar o namorado preocupado, Blake, nós estamos sozinhos – Nikki murmurou.

- E se eu quiser? – ele desafiou, parando novamente na frente de Nikki. Ela cruzou os braços.

- Então se divirta brincando sozinho – esbravejou, dando meia-volta e atravessando a rua.

  Blake precisou de alguns segundos para se dar conta de que Nikki tinha se afastado numa velocidade impressionante. Ela estava quase dobrando à esquina quando ele começou a correr atrás dela

- Nikki!

*

  Alison entrou em seu dormitório se sentindo leve. Até... Feliz. Ela iria agradecer Scott pelo resto de sua vida por fazê-la esquecer do drama da sua vida por algum tempo.

  Eles correram até alguns metros além do lago Tyeels e da cerca que marcava o limite do território de trás dos fundos do Maryon. Scott, provavelmente por puro cavalheirismo, foi o primeiro a desistir e os dois se deitaram na grama, arfantes.

- Boa corrida – ele elogiou.

- Valeu.

- Já pensou em jogar hóquei?

  Alison fez uma careta.

- Não, não... Meu negócio é pregar botões, medir saias e costurar casacos.

- Estilista, hein?

- Por enquanto só uma aspirante à estudante de moda.

  E depois desse, foram mais um milhão de assuntos. Só notaram que estava tarde quando Scott notou o céu, que começava a adquirir um tom alaranjado. E então ela correu para o Rosenhill, ansiando por um longo banho. Mal tinha alcançado sua toalha quando seu celular tocou. Era Hayden.

- O que aconteceu?

- Nossa, e é assim que você atende uma ligação do seu irmão? – Hayden brincou.

- Você só me liga quando se mete em encrenca ou quando quer alguma coisa, então... Sim. O que foi dessa vez?

- Nada demais. Só desloquei a mandíbula do Heath Connan.

  Alison sentiu uma pontada desconfortável no estômago ao ouvir o nome de Heath, que foi imediatamente aplacada quando ela se deu conta do que seu irmão estava contando.

- Sério?

- Ahã. Mamãe surtou, claro. Ela me tirou os treinos de rugby e eu e o Heath vamos ter que ajudar o Black a limpar a velha capela para começarem a reforma – Alison quase pode ver o irmão revirando os olhos ao dizer aquilo.

- Hayden, Hayden... Obrigada.

- Por nada, maninha. Amo você.

- Por incrível que pareça, eu amo você também – Alison brincou – Te vejo no jantar.

*

  Nikki olhava ao redor, procurando pelo pai em meio aos convidados que conversavam e riam, na recepção do jantar, no luxuoso Hotel Plaza da Quinta Avenida. Ela estava com Zoey grudada em seu braço e sua mãe estava a poucos metros, junto de Adam, bancando o casal feliz. Era de revirar o estômago. 

  Falando em estômago, a quantas horas Nikki estava sem comer mesmo? Oito? Dez? Ela estava a ponto de desmaiar. Não que a culpa fosse dela, claro. Mas era difícil engolir alguma coisa quando Adam ou sua mãe estavam no mesmo ambiente, exibindo sua aliança com um diamante de vários quilates. Enquanto se maquiava, Nikki teve a ajuda de sua mãe, ritual quase sagrado entre as duas e ela quase perdeu a conta de quantas vezes teve que engolir seco para evitar que o café que Blake tinha lhe pagado voltasse.

  E falando em Blake, ela não tinha o visto desde que chegara. Já havia se passado um bom tempo - tempo que parecia passar ainda mais devagar quando cada segundo era exaustivamente registrado pelas lentes dos fotógrafos.

  No meio de tantos convidados, Nikki reconheceu o rosto sorridente do pai e se aproximou, sorrindo largamente.

- Pai! – chamou.

- Docinho! – Robert a abraçou.

  As semelhanças entre Rob Hastings e Nikki eram quase absurdas. Nikki tinha puxado do pai desde a cor e a textura dos cabelos até o jeito de sorrir. Catherine vivia dizendo que isso era ingratidão, pois a carregou durante nove meses na barriga, sofrendo enjoôs, dores nas costas e a dor do parto e depois Nikki nasce parecida com o pai.

  Nikki perguntou:

- Como você está?

- Eu? Como é que você está, querida? Está gostando da escola?

- Estou adorando.

  Robert sorriu e os dois se viraram para os paparazzis, posando para algumas fotos. Nikki de repente lembrou-se de uma coisa que Blake tinha lhe falado. Imagine a cara de Lauren ao ver uma foto nossa na Page Six. Afastou-se abruptamente do pai, que ficou confuso.

- O que aconteceu, querida? – ele perguntou.

- Ah, papai, eu vou procurar uma pessoa, eu já volto. Surpresa.

  Mesmo sem entender nada, Robert assentiu. Nikki agarrou o pulso de Zoey e saíram em disparada pelo hall, Nikki procurava freneticamente pela figura alta e loura de Blake. Ao vê-lo, ela estacou e seu queixo foi direto de encontro ao chão.

  Ela sabia melhor que ninguém que Blake era bonito – lindo e maravilhoso, na verdade – mas não tinha a menor idéia de que era possível alguém tão gostoso ficar ainda melhor.

  Blake usando terno chegava a ser quase indecente. O modelo se ajustava perfeitamente ao seu corpo e o preto o deixava ridiculamente sexy. Nikki precisou engolir seco algumas vezes antes de conseguir voltar à sanidade. Zoey seguiu o olhar da amiga e ofegou.

- Não – disse a loira – Aquele não pode ser o Blake.

- É – Nikki disse, sem ar.

- Você é a vadia mais sortuda do mundo, sabia?

  Nikki apenas confirmou com a cabeça.

- E o que nós estamos fazendo paradas aqui? Vamos lá falar com ele! – Zoey puxou Nikki, mas ela não se moveu um centímetro.

- Estamos apreciando – Nikki disse.

- Que tal a gente apreciar bem de pertinho? Vamos!

  Elas se aproximaram. Como se adivinhasse, Blake olhou exatamente para a direção de Nikki e sorriu. Quando ela estava perto o suficiente, ele pegou sua cintura com uma mão e a puxou em sua direção, dando um selinho.

- Oi, amor – Blake disse.

- Blake.

  Zoey pigarreou.

- Oh, foi mal. Blake, essa é a Zoey, minha melhor amiga.

- Oi – Zoey sorriu, supersimpática.

- Prazer em conhecê-la – Blake lhe deu um aperto de mãos – Ela sabe? – ele perguntou para Nikki.

- Claro que sabe.

- O prazer é todo meu – Zoey suspirou. Nikki conteve o riso.

  Blake se curvou para falar no ouvido de Nikki.

- Está mais calma? – sussurrou.

- Não – Nikki sussurrou de volta.

- Hum... Quer que eu cuide disso? – Blake arqueou a sobrancelha, sorrindo com malícia.

- Você tinha mesmo que começar com as brincadeiras?

- Só faço isso porque sei que você adora.

  Nikki riu.

- Como vão as coisas no planeta Vá Sonhando, Blake?

- Estão ótimas. E você Nikki? Como está o planeta Sou Louca Pelo Blake?

- Você devia perguntar isso para a Lauren, uma vez que ela é a rainha de lá.

- Ah, o ciúme... – Blake suspirou.

- Por que eu teria ciúmes de você, Blake? Você é o garoto mais egomaníaco, atrevido, convencido e idiota que eu já conheci.

- Eu também amo você, querida – Blake a segurou mais junto de si.

- Eu odeio você – Nikki disse, se afastando.

- Adoraria ouvi-la dizer isso para mim aos gritos.

  Nikki, ao entender a ambigüidade da frase, deu um empurrão de leve em Blake e disse.

- Guarde essa fantasia para o banheiro. Vou me sentar. Nos encontramos mais tarde.

  Blake sorriu e ela girou nos calcanhares, agarrando o braço de Zoey e marchando para o lugar onde Catherine, Robert e os pais de Zoey, Rebecca e Joe, conversavam, Nikki soltando fumaça pelos ouvidos por não conseguir vencer Blake em uma discussão sequer.

  Blake realmente a tirava do sério.