III. Algumas más notícias, Alison.

  Depois do treino, completamente exausta, Nikki entrou em seu quarto e estranhou ao ver Kayla enfiando suas roupas dentro de seu baú-mala.

- Ah... O que aconteceu?

- Eu vou dar o fora daqui – Kayla disse, fechando o baú.

- Bom... – Nikki não sabia muito bem o que dizer – Adeus?

  Kayla colocou o baú sobre as rodinhas e deixou tudo do lado de sua cama. Vestiu seu casaco e saiu, deixando Nikki sozinha.

- Adeus, Nikki, sentirei sua falta – Nikki sussurrou para si mesma, debochada.

*

  Kayla se sentia meio inquieta, nervosa. Suas mãos suavam frio conforme ela se aproximava do 145, dormitório da Alison. Respirou fundo antes de bater.

  Alison sorria ao atender a porta, mas ao ver Kayla, o sorriso desmanchou.

- O que você quer? – perguntou.

- Posso entrar? – Kayla gaguejou – Preciso falar uma coisa séria com você.

  Alison pensou um pouco antes de abrir a porta e dar espaço para Kayla passar. Fechou a porta sem muita delicadeza e se virou para Kayla, de braços cruzados.

- Então... O que é?

- Eu... – Kayla baixou os olhos, encarando as mãos – Eu vou embora do Maryon.

- Bom para você.

- Não estou fazendo isso por covardia, se é o que esta pensando...

- Não estou pensando em nada.

  Kayla engoliu seco antes de falar. Queria acabar com aquela agonia logo.

- Eu estou grávida. Descobri ontem. Vou para a casa da minha mãe, na Califórnia.

  Alison estava petrificada, encarando Kayla de um jeito estranho.

- Como assim, grávida? Oh, meu Deus. Ele... – Alison evitou pronunciar o nome de Heath – Ele já sabe?

- Não. E nem vai saber. Não quero mais problemas.

  As duas se entreolharam. Alison de repente queria abraçar Kayla, que parecia tão perdida e frágil, mas o orgulho a impedia, dizendo que Kayla não merecia nenhum tipo de apoio depois do que fez. Mas o amor que Alison sentia pela ex melhor amiga não diminuíra nem um pouco. Kayla era sua melhor amiga desde o ginásio, do tipo quase irmãs. Era difícil dar as costas para um problemão daquele.

- Ok – foi tudo o que Alison conseguiu verbalizar.

  Kayla assentiu e se aproximou da porta.

- Adeus, Alison.

- Adeus – sussurrou Alison, fechando a porta com lágrimas nos olhos.

*

  Noah chegou ao dormitório se sentindo ainda meio nervosa. O coração parecia não querer voltar aos batimentos normais, ainda sem conseguir acreditar no que tinha acabado de acontecer. Cam tinha, tecnicamente, se declarado para ela e ela ficou feito uma idiota tentando justificar seu medo estúpido. Qual era o problema dela?

  Nikki estava deitada na cama dela, ainda vestindo roupa de treino.

- Tudo bem? – perguntou Noah.

- Sim – Nikki respondeu, ainda de olhos fechados – Droga. Não acredito que faltam só dois dias.

- Vai ser tão ruim assim?

- Você não tem idéia. Minha mãe vira outra pessoa na frente de gente influente e paparazzis – reclamou – E ainda tem o... – Nikki não completou.

- O que?

- Esquece. E aí? Como foi seu dia?

  Noah lembrou-se de Cam e sentiu palpitações no estômago.

- Nada de mais – gaguejou – Cam veio falar comigo depois da aula de Francês.

- Hm – Nikki sorriu – E o que ele falou?

  Com uma careta, Noah se sentou do lado de Nikki, encarando os próprios pés.

- Ele disse que gostava de mim – sussurrou.

- O quê? – Nikki sorriu.

- Ele... Bem... Disse que gostava de mim.

- Oh, meu Deus – Nikki gritou, pulando – Mas isso é ótimo! E o que você disse pra ele?

- Bom. Eu... disse que gostava dele também. O que não é mentira. Cam é bem legal. Mas... Disse que não estava pronta para começar nada e que não queria ir rápido demais.

- Sério?

- É. Mas ele não deve ter entendido, porque me beijou. De novo – Noah sussurrou, como se contasse um segredo de estado.

- Noah, Noah, Noah – Nikki deu tapinhas em seu ombro – Isso significa que Cam está muito a fim de você! Sua sortuda! Você conseguiu fisgar o inglês mais gostoso depois de Robert Pattinson e Tom Sturridge.

- Não quero fisgar ninguém. Só quero um ano letivo normal.

- E porque esse não pode ser um?

- Não sei, eu... – Noah gaguejava – Eu ainda estou me sentindo nervosa, Nikki. Eu...

  Nikki matou a charada.

- Está com medo? – ela perguntou, baixinho. Noah apenas assentiu, aliviada por não ter que assumir isso em voz alta. Talvez Nikki entendesse o que ela sentia, afinal, Nikki era sem dúvida, uma das garotas mais espertas e experientes nessa área afetiva que ela já havia conhecido. Talvez Nikki pudesse ajudá-la.

- Noah... Longe de mim, querer forçar você a alguma coisa, mas você devia dar uma chance para si mesma e tentar. Sério. Sei que não é fácil. Mas tenta. Se não, ele vai acabar achando outra garota. Sinto em te falar isso, mas...

  Noah ficou em pânico em pensar naquela hipótese. Se ela resolvesse se dar uma chance e quando chegasse em Cam para avisá-lo, ele dissesse a ela que ele estava saindo com uma garota da sua aula de Economia?

  Mas não era tão fácil assim. Não era só olhar no espelho e dizer “você não vai ter mais medo de se apaixonar”, finalizar com um abracadabra e pronto.

- Eu vou tentar – Noah disse.

- Se precisar de ajuda, eu estou aqui.

- Obrigada, Nikki – as duas se abraçaram – Eu queria ver as coisas como você. Fáceis, descomplicadas.

- Um dia você verá. Acredite.