O vulto estava se aproximando cautelosamente. Eu já estava com a minha faca apontada para ele, eu falei sério quando falei que primeiro atiraria, e depois faria perguntas. Estávamos em uma terra perigoso, e sutil. Não poderíamos nos arriscar.

         -Calma, eu veio em paz – falou uma voz masculina, saindo das sombras, e revelando um cara muito lindo, um cabelo loiro cacheado, e os olhos mais azuis e puros que eu já tinha visto, ele tinha asas brancas, ele era um anjo.

         -Prove – eu falei, ajeitando a faca para jogá-la, não poderíamos arriscar, eu podia sentir que a cada vez mais que ele se aproximava o ar ficava mais pesado, e me dava mais sono.

         -Sou um anjo, não posso lhe fazer mal Sarah – ele falou parando em um ponto em que minha faca ficaria cravada em seu peito. Reconheci o que havia no ar, paz, e preocupação, aquele ar pesado, era dado pelos anjos, nós fantasmas, por assim dizendo sentíamos isso.

         -A mim quem sabe não, mas e aos meus amigos – eu falei mostrando os três adormecidos, Tiago, que parecia estar se segurando para não cair no sono, e Caled, que estava tão acesso quanto eu.

         -A minha aura não causa efeito em vocês? – ele perguntou para mim, e a Caled curioso. Tiago havia, se deitado, e praticamente desmaiado, ele foi sensato, poderia ter caído no chão e se machucado.

         -Não tanto quanto a eles – respondeu Caled – O que você quer Gabriel? Já ter me contando da profecia não foi tortura suficiente pra toda a eternidade? – Caled conhecia aquele anjo, e conhecia a profecia completa, o porquê eu não sabia, mas o que falou me deixou um pouco surpreso (ok, eu fiquei bem surpresa, ainda mais com o nome do anjo).

         -Você precisava saber – respondeu o anjo, notei que sua aura estava emitindo cada vez mais poder, o ar estava ficando cada vez mais pesado, mas eu não sentia os efeitos, eu era quase que imune. Ou talvez teimosa – Agora, Sarah tem esse direito, além de ter pessoas a procurando, pessoas bem barra pesada, seria melhor se ela viesse conosco, e é claro, vocês também.

         -Vai nos levar pra onde? – eu perguntei o olhando, eu não iria ir com ninguém, só se eu voltasse pra casa.

         -Vocês precisam fazer algo, antes de voltar, e depois a decisão de retornar ou não será de cada um – ele falou olhando para mim, e depois olhou para Caled – O seu tempo está acabando, não só aqui, mas lá em seu mundo também – Caled engoliu em seco e olhou para mim, havia algo que ele não tinha me contando.

         -Eu sei disso – ele respondeu com a voz seca, como se não quisesse falar do assunto do meu lado – O que você quer, além de nos levar com vocês?

         -Quero contar a profecia para Sarah, e depois deixar que vocês tomem suas providências, mas não queria que os outros escutassem. O seu antigo líder teve sorte em nos ver – ele falou olhando para os outros, e depois para nós, os olhos dele eram bondosos, e pareciam me fitar com pena – Você quer saber a profecia Sarah D’Angelo? – eu olhei para Caled que deu ombros, a decisão era só minha, ele não podia se intrometer. E eu precisava saber sobre essa profecia.

         -Quero – eu falei com a voz firme e olhei para Gabriel que sorriu e se aproximou. Eu abaixei á minha faca, mas não a larguei no chão, eu estava em alerta. Gabriel tocou em minha testa com a mão direita, e então eu ouvi. A profecia.

         “Poderosa e diferente, essa alma, terá a escolha difícil de salvar uma vida, ou viver com a alma que ama para todo sempre, essa decisão mudará o mundo, uma o mal reinará, e as sombras cairão, e o outro, tudo continuará como está, cada um sendo cada um, e a vida seguindo como ela é. A decisão que ela irá tomar, nenhum anjo preverá”.

         Eu vi imagens minhas e de Caled, e ouvi uma frase, que me deu um arrepio, talvez eu não devesse tê-la ouvido, já que a profecia que eu ouvi, só falava de mim, mas a frase foi essa:

         “O tempo dele está acabando, ou você o deixa ir e vai junto, sem lembrar de nada do que viveram, ou os dois ficam aqui, juntos para todo o sempre”.

         Abri meus olhos, e Gabriel se afastou. Caled veio até mim e me abraçou, foi só aí que eu notei que eu estava chorando e tremendo. Eu amava Caled, e não suportaria perdê-lo, e eu não entendi a mensagem, mas eu sabia que tinha haver com ele. Eu beijei Caled, e ele correspondeu, eu beijei desesperadamente, como se ele fosse sumir, e assim que nos separamos, eu já estava mais calma. Gabriel ainda estava ali e nos olhava.

         -O amor humano... – ele suspirou e deu uma risada angelical, Caled sorriu envergonhado, e eu devo ter ficado muito vermelha, ser vista beijando alguém por um anjo, era algo estranho – Bem, pombinhos, a decisão é de vocês, não estão obrigados a nada, e se vocês estiverem de acordo, acharam os anjos na igreja dessa cidade.

         Gabriel fez uma mesura para nós, educadamente, e saiu voando, desaparecendo de vista, com um clarão prateado.

         O sol estava nascendo assim que Gabriel se foi, e eu ainda estava bem acordada, e Caled não tinha sono. Nós dois nos sentamos mais longe dos nossos amigos, na grama, e ficamos vendo o nascer do sol.

         -O que você acha, vamos ou não vamos com eles? – perguntei para Caled, que me abraçou, e eu recostei minha cabeça em seu peito.

         -Acho que é a melhor opção, falamos, com os outros assim que acordarem, eles vão dormir por um tempo – Caled falou dando uma espiada nos quatro dorminhocos.

         -Certo, eu também acho que devemos ir com eles, antes que a nossa situação, fique feia – eu falei e sorri para Caled tristemente, que piscou para mim, e me beijou.

         Ficamos nos beijando, trocando selinhos, e palavras sem sentindo, até ficarmos com sono, e sem perceber, nós deitamos abraçados, e adormecemos.